Mas sobre a ação da Natura com a Heineken e o Rock in Rio: a ação tem seu mérito sim, mas não tenho bem certeza se ambiental. O que mais me incomoda nela é a simplicidade com que parece que o problema foi resolvido. E na verdade não foi simples, nem o problema do plástico foi resolvido. O plástico do copo que você usou e virou tampa de perfume só foi adiado para ir para o aterro. O copo que saiu do festival de música e virou tampa de perfume para finalmente chegar no consumidor final fez um rolê considerável. Na breve existência desse plástico ele deve ter rodado mais que muito ser humano com o mesmo tempo de vida. Isso sem pensar no destino da tampa depois que o perfume acabar ou a tampa simplesmente quebrar, pois sim elas podem quebrar.
O mais engraçado é que o Rock in Rio e a Heineken simplesmente repassaram (provavelmente mediante pagamento) uma parte do problema de resíduo deles para a Natura. Ela assumiu o passivo para de fato resolver o problema do ciclo de vida do plástico do copo, que será, sei lá no fim, reciclar novamente a tampa do perfume ou mandá-lo para um aterro?
Me pergunto até que ponto somente adiar a ida de produtos plásticos para o aterro é algo válido, o aproveitamento desse material nunca é 100%. Deve ter a sua validade, mas pra mim não resolve o problema.
O mérito dessa ação está na parceria de um festival de música, uma empresa de bebidas e uma marca de beleza. Uma vez que são 3 grandes corporações, creio que conciliar todos esses interesses deve ser algo bastante complexo.
Mas do ponto de vista ambiental qual seria a melhor solução para o copo de plástico? Penso que usar copos de plástico não descartáveis no festival e permitir que as pessoas usem o mesmo copo várias vezes e os levem para casa e continuem usando-os. Mas um festival de música com milhares de pessoas é algo complexo que eu absolutamente não manjo nada. Só tô dando meus pitacos de velha blogueira de meio ambiente rabugenta.
De todo modo, bela tentativa Natura, Heineken e Rock in Rock. Continuem tentando, um dia a gente consegue, ou não.
Eu não tenho outra definição para o meu sentimento no momento: frustração, impotência, indignação.
Pra uma pessoa que está aqui há 11 anos falando de meio ambiente, sustentabilidade, lixo, novas formas de economia e etc isso é um tapa na cara. Mas a única coisa que eu posso fazer é manifestar esse sentimento, né? Pois bem, aqui está:
Cara @SamsungBrasil Em exatos 1 ano, 6 meses e 10 dias o celular Galaxy S7 Edge q eu comprei pifou. Está em coma desde o dia 04/06 e depois de passar por uma assistência técnica me disseram q o problema provavelmente deve custar até R$1200 p/ trocar a placa.
Isso sem contar os R$200 q terei q desembolsar tb por conta do tampo traseiro trincado. É justo um produto tão caro durar tão pouco? E simplesmente a manutenção não valer a pena?
Eu como ativista de meio ambiente, preocupada c/ os resíduos gerados nesse planeta pensei q o investimento tão alto num aparelho top de linha seria uma solução inteligente p/ gerar menos resíduos, mas vejo q não, essa lógica não funciona p/ o produto de vcs.
Ou talvez eu seja uma estúpida mesmo em querer comprar um produto de luxo e não querer bancar um novo a cada estação. Agora como deve agir uma pessoa preocupada c/ o impacto q deixa no planeta?
Desembolsar um valor maior do mesmo produto novo p/ evitar que mais resíduos sejam gerados ou simplesmente ignorar essa preocupação e comprar um produto novo?
E não, não me venha c/ o papo de descarte ecologicamente correto pois isso é balela. É a lógica do descarte aqui q estou tentando combater, a ideia de q se é reciclável ou vai ser reciclado tudo bem consumir mais.
É muito mais do que apenas mandar o produto p/ um destino melhor q o lixão. É sobre ser responsável pelo q se consome e como se consome.
Mas o meu caso deve ser um número irrelevante p/ vc, né @SamsungBrasil Afinal, qtos dos produtos de vcs dão problema como o meu depois de 1 ano e meio de uso? Quantas pessoas se dão ao trabalho de reclamar? Ficarei aqui c/ a minha frustação e indignação.
Obrigada, por não ser uma empresa melhor para o mundo. Só mais uma como tantas outras.
Saiu um estudo na Science of The Total Environment que mostra dados de monitoramento de lixo no assoalho oceânico dos mares do noroeste da Europa (mais precisamente mares em torno do Reino Unido). Esse estudo mostra dados do período de 1992-2017 com redes espalhadas pelos mares que coletam o lixo. Confesso que não li o artigo original inteiro, mas na reportagem que fala desse estudo no The Guardian eles apontam que há uma queda no número de sacolas plásticas encontradas nessas redes de monitoramento. A reportagem fala em aproximadamente 30% de queda a partir de 2010 em áreas próximas da Noruega e Alemanha até a nordeste da França e oeste da Irlanda.
Desde 2003 países como Irlanda e Dinamarca tem cobrado taxas sobre as sacolas plásticas. Será apenas coincidência que o número de sacolas plásticas no mar diminuiu desde então? Ou o fato de cobrar taxas sobre as sacolas fez com que as pessoas as usassem com mais parcimônia e consequentemente menos dessas sacolas foram parar nos mares? Eu não acho que isso é apenas coincidência e o próprio autor do paper, Thomas Maes, diz na reportagem: “Quanto menos sacolas usamos, menos nós descartamos, menos nós as colocamos no ambiente”.
Esse tipo de política funciona tanto que o governo do Reino Unido vem estudando a possibilidade de que essa taxa seja aplicada também às garrafas e latas.
Eu não faria um post só para contar isso, mas por conta de uma resposta de um twitt meu a essa reportagem eu tive que vir aqui e escrever, na verdade é quase que uma continuidade do meu último post quando achava covardia das empresas colocar no cidadão comum a responsabilidade de serem melhores.
Olá @clauchow! Cobrar pelas #sacolasplasticas não resolve a poluição nos oceanos e no meio ambiente em geral. O que resolve, de fato, é a conscientização e educação ambiental por toda a população em descartar corretamente os resíduos e reciclar os produtos plásticos.
— Recicle Suas Ideias (@recicleideias) April 6, 2018
Esse perfil que me respondeu não apenas empurra para o cidadão a responsabilidade de reciclar um produto como sem nenhum pudor estimula e incentiva o uso sem qualquer problema.
Então tá, a culpa é da população que não sabe reciclar. E você acha que estimular o consumo é que vai ensiná-las a cuidar do seu lixo, né?
Tá bom, indústria do plástico, por favor seja melhor do que empurrar a responsabilidade de reciclar o lixo para o consumidor. Ensinar as pessoas das 1001 utilidades do plástico (que é o que vocês propõem no perfil de vocês) é meio que chover no molhado, todo mundo já sabe das benesses e utilidades do plástico, isso num tem nada de novidade para ninguém. Isso também não colabora em nada com o problema do mal descarte do plástico.
Me conta, produtores de plástico, de todo plástico que vocês já produziram na vida, qual a porcentagem dele de fato foi reciclado? Já que a grande (e parece que única) solução que vocês apontam é o descarte correto dos resíduos. Tá vou ser legal, não precisa ser de todo o plástico já produzido na vida, pode ser a taxa de reciclagem dos últimos 5 anos.
Se o cidadão mora numa cidade que não tem reciclagem do lixo como ele faz? (realidade de 69.6% das cidades brasileiras) Você vai lá buscar as sacolinhas infinitas que ele pegou no supermercado para reciclá-las para ele? Ah, claro que não, afinal o cidadão que tem que ter conscientização. Então, caro cidadão a minha dica é: se a sua cidade não tem coleta seletiva de lixo, use menos sacolas plásticas, ok? O ambiente agradece e as tartarugas mandam um beijo!
Se todas as sacolas produzidas por vocês de fato virassem sacos de lixo e fossem para aterros sanitários, por que será que ainda tem tanta sacola plástica encontrada no estômago de tartaruga ou nas redes de monitoramento dos pesquisadores?
Cara indústria do plástico, não é continuando com os mesmos hábitos de consumo que vamos conseguir diminuir a poluição de plástico ou qualquer problema ambiental que temos. Conscientizar as pessoas sobre descarte do lixo é parte da solução, mas diminuir o consumo também é, uma coisa não elimina a outra. Aliás a diminuição do consumo resolve muitos problemas além da poluição dos mares, pode ter certeza.
Pelo visto o interesse de vocês não é ser uma indústria correta, preservar o meio ambiente ou conscientizar as pessoas a darem um destino correto para seus resíduos. O objetivo de vocês é que as pessoas continuem a usar sacolas plásticas sem nenhum pensamento crítico sobre o assunto, como foi durante muito tempo. Mas o meu consolo é que se o mundo está um lugar mais poluído, com menor biodiversidade e sujo, esse mundo não será usufruído só por mim, mas por vocês e seus descendentes também e saibam que vocês foram os grandes colaboradores dessa sujeira toda.
Acabei de voltar de férias e se teve uma coisa que me chamou muito a atenção nessa viagem foi o Festival de Filmes que estava rolando na praça da prefeitura de Viena. Não pela curadoria do festival, pela qualidade dos filmes ou por causa do local onde acontece. Pra falar a verdade eu nem vi nada do festival em si, o que eu vi foi a praça de alimentação (que é a parte gastronômica) que foi feita em frente ao local do evento.
São vários quiosques de comida e bebida de vários lugares do mundo, desde comida austríaca local, até de outras partes da Europa e do mundo. E por que esse festival gastronômico chamou a minha atenção já que esse não é um blog de turismo e cultura? Quando eu penso nesse tipo de feira gastronômica ou até qualquer praça de alimentação eu já penso em pratos, copos e talheres descatáveis e uma tonelada de lixo gerado sem nenhum tipo de tratamento ou destino adequado. Só que dessa vez eu fui surpreendida com pratos de porcelana, talheres de inox (ou qualquer outro material que o valha) e copos de vidros, apenas os guardanapos eram de papel.
É possível fazer um festival desse tipo numa cidade turística e grande como Viena sem gerar sacos, sacos e mais sacos de lixo repletos de materiais descartáveis? Sim! É! E o Festival de Filmes de Viena me mostrou isso.
O festival de filmes é o maior festival de cultura e comida da Europa, eles recebem por volta de 750 mil visitantes.
Clique na foto para ver o prato de porcelana e os copos de vidro! 😉
Ainda era cedo quando tirei essa foto e não estava tão cheio.
Uma visão geral do que é o festival de comida. Clique na foto para ver os copos de vidro.
A louça e os talheres são recolhidos pelos “garçons” e vão para essa estação. Aí eles retiram os restos de comida e enviam a louça para um local onde são lavados.
O transporte dos copos.
Meu prato de porcelana e meus talheres de inox! 😀
Agora eu me pergunto será que esse sistema é tão mais caro do que se vê por ai com os descartáveis? Apesar dos descartáveis não precisarem de limpeza eles também não vão sozinhos para o aterro.
Mas nem tudo é perfeição na cidade… No dia seguinte na estação de trem almocei numa praça de alimentação típica de shoppings em que talheres e pratos eram todos descartáveis e jogados numa mesma lata de lixo… 🙁
Então, de verdade, eu não sei o que escrever específicamente sobre a atual crise da água que o sudeste está passando. Tenho lido um monte de coisas, acompanhado vários movimentos e qualquer coisa que eu escreva me parecerá mais do mesmo e não precisamos disso (eu acho).
Foto: https://flic.kr/p/7kVnCH (CC BY-NC 2.0)
O que me assola é ver algumas soluções que as pessoas estão buscando para a crise. Hoje fui numa confeitaria que eu gosto muito e um dos motivos que gosto dessa confeitaria é que eles não usam talheres de plástico (o pratinho infelizmente é de plástico, descartável :/), eis que peço um pedaço de bolo, um capuccino e tudo me aparece na mesa com talheres de plástico! Na hora de pagar reclamei e obviamente ouvi a desculpa que era para economizar água… Acrescentei que não adianta economizar água e gerar mais lixo, a pessoa que ouviu concordou, mas não soube dizer mais nada. Ouvi também de uma amiga que uma hamburgueria adotou a mesma estratégia, usar talheres de plástico para economizar água. Para tudo! Estamos tentando resolver um problema (a falta de água) gerando outro problema (aumento da quantidade de lixo), será que é muito difícil de perceber?
Pensar em como lavar louça gastando menos água ninguém faz, né? E sabe qual o meu maior medo nessa história de usar descartável? Virar a regra. Com o “conforto” de não ter que lavar mais a louça, mesmo que a situação da água se normalize os restaurantes vão continuar usando descartáveis porque é “mais prático”. Ai, os otimistas de plantão vão me dizer: “Mas Claudia, os descartáveis podem ser reciclados.” Ok, podem, mas quantos de fato serão? Segundo essa pesquisa apenas 17% dos municípios brasileiros tem coleta seletiva, e só para constar isso não quer dizer que essa coleta seletiva seja regra para 100% do lixo. Você realmente acredita que o que pode ser reciclado é de fato reciclado? Nem preciso comentar, né?
Bom, mas se a falta de água for severa como espero que seja (sim estou sendo pessismita) posso me tranquilizar por que nem restaurante aberto para ir teremos! Só por favor, não use descartáveis em casa.
Semanas atrás falei da embalagem do meu creme que tinha um design sofrível, agora resolvi pesquisar sobre a política de resíduos sólidos pós consumo das principais marcas de cosméticos que eu conheço, que é o que nos sobra depois que o produto acaba. Os resíduos sólidos da cadeia produtiva podem até ser responsabilidade minha também como consumidora, mas pouco posso interferir nela. Resolvi ver o que as empresas falam de residuos sólidos sem eu precisar ler o relatório de sustentabilidade.
Fonte: https://flic.kr/p/e4PYUh
Nívea
A Nívea foi a primeira “vítima” por 2 motivos: 1- falei dela no post sobre o design ruim da embalagem e 2- apareceu um post patrocinado deles na TL do meu twitter, se eles estão pagando pra fazer propaganda em rede social, vamos ver se esse canal realmente funciona para conversar com o consumidor (mais um teste além do ambiental). Ai perguntei pelo twitter sobre a política de resíduos sólidos da Nivea e recebi esse link como resposta: http://www.nivea.com.br/Sobre-nos/beiersdorf/Responsabilidade-Ambiental
Bom, sobre o destino das embalagens pós consumo só li blablabla, nada concreto que me convence da real preocupação deles, um “apoiamos o projeto tal que se preocupa com esse assunto” e só. Ai perguntei no twitter novamente se eles sabiam qual a porcentagem de embalagem são recicladas, estou no aguardo da resposta.
Achei mais interessante pois eles têm metas estabelecidas sobre reciclar embalagens: “aumentar as taxas de reciclagem e recuperação, em média, em 5% até 2015 e em 15% até 2020 nos nossos 14 principais países” e apresentaram o seguinte dado: “Aumento de 7% nas taxas de reciclagem e recuperação em 2013, superior ao Índice de Reciclagem e Recuperação médio de 2010, registrado nos nossos 14 principais países.” Legal, mas o quanto desse 7% é no Brasil? E vamos combinar que 7% numa operação em 14 países é quase pífio.
O plano é bastante audacioso “Nossa Visão, anunciada em 2010, inclui: (…) Usar 100% de materiais renováveis ou reciclados em todos os produtos e embalagens. Depositar zero de consumo e resíduos de fabricação em aterros sanitários.” Mas não falam quando pretendem atingir a meta, ah, mas é a visão, não é uma meta, pode ser que nunca atinjam seja só um alvo a se atingir… Ainda tem um “saiba mais sobre a nossa visão de longo prazo”, mas não tem link nenhum redirecionando pra lá. Também não ficou claro pra mim se no consumo e resíduos de fabricação inclui embalagens pós consumo.
Descobri por acaso que eles tem um projeto com uma empresa chamada Wise Waste que criaram a partir de embalagens recicladas um display para um dos produtos deles em supermercados. Aliás o trabalho da Wise Waste é bem interessante, saiba mais aqui. Mas no site da empresa mesmo só tem aquelas metas megalomaníacas sem nada muito prático.
Natura
Mandei um twitt e não recebi resposta 2 dias depois, procurando no google achei vários links para os relatórios anuais da empresa 2009 (acho q seja pois só tinha dados até 2008), 2012, 2013. Não é o que que esperava achar, principalmente da Natura. As informações são vagas e sem nenhuma meta clara, no relatório de 2014 fala que “A Natura está elaborando um plano de logística reversa, que tem como principal objetivo estruturar um modelo de gestão capaz de transformar resíduos em oportunidades de novos negócios. Este plano tem previsão de lançamento ainda no ano de 2014.” Eu esperava mais da Natura, muito mais…
@naturanet qual a politica de reciclagem de embalagem de vcs?
Procurando no Google não achei NADA relevante. No site da empresa tem uma seção de responsabilidade social, nada sobre meio ambeinte. Falam de teste em animais, mas absolutamente NADA do ponto de vista ambiental e resíduos sólidos… Decepção monstra.
Conclusões
Escolhi essas empresas pois consumo produtos delas e como são empresas que fazem parte do business as usual esperava números sobre o assunto, só 1 me apresentou números concretos sobre a preocupação com a geração de resíduos e posterior descarte, as outras tratam o assunto de forma superficial, pelo menos aos olhos do consumidor leigo que resolve descobrir por si só o que as empresas fazem/pensam sobre o assunto. Uma delas até ignora o assunto. Ou simplesmente resolveu não contar pra ninguém o que faz sobre o assunto. Se alguma empresa dessas quiser entrar em contato comigo para esclarecer melhor suas preocupações sobre os temas resíduos sólidos pós consumo, logística reversa, etc estou super aberta para ouvir e saber mais, o importante mesmo é tornar pública suas práticas, o consumidor agradece, isso chama-se transparência. #ficaadica
A princípio pensei em ligar nos atendimentos ao consumidor de cada uma delas para perguntar sobre o assunto, mas esse processo é tão chato que eu desisti, mas talvez seja mais eficaz que esse post, mas se você quiser fazer isso segue o número dos telefones de cada uma das empresas, acho que pode surtir mais efeito e ainda dá pra testar o quanto elas dão de importância para a preocupação do consumidor.
Nivea – 0800-77-64-832
Unilever – 0800-707-7512
P&G – 0800 701 5515
Natura – 0800.115.566
Avon – 0800 7082866
Se alguém conhecer alguma empresa de bens de consumo não duráveis que nasceu pensando no ciclo completo de vida de seus produtos me avise, pois eu até hoje não vi nenhuma.