MICRO-OLIMPÍADAS 2012 – Vale (quase) tudo para sobreviver

Olá, leitor! Como você deve estar sabendo, estamos fazendo a cobertuda das micro-olimpíadas 2012!

A nota de hoje chega com um pouco de atraso. Alguns problemas foram observados durante a realização do vale-tudo que pelo jeito não vale tudo como muitos pensam.

Hoje aconteceram as semi-finais e a final da vale tudo. Quatro bactérias dignas do título vão disputar qual é a mais resistente e sobrevive por mais tempo.

A primeira semi-final ocorreu entre Deinococcus radiodurans e Pseudomonas aeruginosa. O deinicoco é uma bactéria capaz de sobreviver a doses elevadíssimas de radiação, mas na hora do “vamo vê”, ali no ringue, ele não era o competidor mais agressivo, meus queridos leitores… não, ele não é capaz de causar doenças em humanos, enquanto a Pseudomonas sim – e, sendo um patógeno oportunista, ela buscou explorar todas as fraquezas do seu adversário. A luta começou, Deinococcus não se mexe (gente, ele é imóvel!). Pseudomonas apesar de ter flagelos não consegue se mover pelo ringue até que seu treinador lhe envia um sinal (um auto-indutor) e a bacteria começa a produzir um surfactante que se espalha pelo chão. Ali, consegue se mover em direção ao deinococo. Pseudomonas se aproxima da bacteria que resiste à radiações mas não a toxinas. E, utilizando seu sistema secretor tipo IV, Pseudomonas vence a partida.

A segunda semi-final ocorreu entre Neisseria gonorrhoeae e Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA).Uma das disputas mais aguardadas da competição: de um lado, vestido todo de dourado pela produção do antioxidante estafiloxantina, o MRSA conhecido por ser praticamente impossível de ser nocauteado! Do outro lado a Neisseria que sendo capaz de sofrer variações antigênicas, torna-se dificílima de ser reconhecida e evade facilmente do sistema imunológico humano. Mal a luta começa, Neisseira dá um ganho de direta em MRSA, mas o pilus atingiu uma região “abaixo da cintura” do estafilococco. Neisseria acaba sendo desclassificada.

É meus amigos, a disputa pelo ouro acabou acontecendo entre os grandes rivais Pseudomonas e Staphylococcus. Os dois são conhecidos por serem arqui-inimigos em infecções crônicas! A luta começa e MRSA lança mão de um super-antígeno para recrutar o sistema imunológico contra Pseudomonas. A bacteria atacada não faz por menos e forma um biofilme! Ao invés de se abater Pseudomonas vai ficando cada vez mais forte – um exemplo de sinergia microbiana, meus caros! MRSA está em maus lençóis, e leva uma surra do coquetel de antimicrobianos que Pseudomonas lançou mão. Apesar de sua capacidade elevadíssima em adquirir resistência a antibióticos, o MRSA não foi páreo para Pseudomonas, que leva o ouro.

Se enganou quem pensa que foi assim que tudo terminou.

Entraram com recurso contra a Pseudomonas pelo uso dos auto-indutores. O comitê olímpico microbiano julgou como procedente a acusação e revogou a madelha de ouro conferida à Pseudômonas. O dopping por aqui não passa barato, pessoal!

Assim, a classificação final:

1º lugar – MRSA

2º lugar – Deinococcus

Desclassificados: Pseudomonas e Neisseria.

Lastimável ter que acompanhar essa baixaria que aconteceu hoje, né…?
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ResearchBlogging.org Merry Youle, Forest Rohwer, Apollo Stacy, Marvin Whiteley, Bradley C. Steel, Nicolas J. Delalez, Ashley L. Nord, Richard M. Berry, Judith P. Armitage, Sophien Kamoun, Saskia Hogenhout, Stephen P. Diggle, James Gurney, Eric J. G. Pollitt, Antje Boetius, & S. Craig Cary (2012). The Microbial Olympics Nature Reviews Microbiology, 10, 583-588

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