um desafio dantesco: iniciei uma jornada infernal

Quando resolvi que iria iniciar esse desafio der ler a obra de Dante Alighieri, só havia a certeza de que “tinha me extraviado, perdi o bom caminho, a via correta no sentido da virtude” (Canto I). Muita coragem em meio a tantas outras prioridades assumir um compromisso sem nenhum outro tipo de retorno senão o pessoal. Quando enfim a coisa começou a ficar séria, e a Fabi e o Ander iniciaram a leitura e logo depois as postagens, juro que “sentia o coração apertado pelo temor e pela incerteza” (Canto I) se conseguiria ler ou não a obra.

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Não nego, palavras de apoio me foram muito importantes… “Tuas palavras acenderam em mim grande desejo de enfrentar a jornada; já não meço esforços para o objetivo que propuseste” (Canto II)… Não podia, porém, deixar-me estagnar na situação em que me encontrava, havia eu de encaixar nesses meus dias atarefados um tempinho para essa leitura… Era como se algo/alguém sussurasse ao pé do meu ouvido: “Mas apressemo-nos, que será longa a jornada” (Canto IV). Sim… Longa jornada, jornada sem volta, em cujo início, um portal ameaça de forma nada acolhedora: “Abandonai toda a esperança, ó vós que entrais!” (Canto III).

E assim rumei ao Segundo Círculo, cujo espaço é mais estreito, mas onde o poder da dor é mais profundo” (Canto V). Quase uma tortura em alguns momentos… Mesmo em prosa, é impossível não perceber o alto teor lírico que se encontra permeando os parágrafos do meu exemplar… E aos poucos “saímos do lugar sereno para o lugar tremente – e chegamos lá onde luz não brilha” (Canto IV). Não havia mais volta… mesmo contra meus próprios desejos (involuntários? inconscientes?) que insistiam que eu deveria abandonar esse desafio.. “E tu, criatura viva misturada aos mortos, vê se te afasta!” (Canto III).

A vontade de continuar, ver o que eu encontraria nesses 10 primeiros cantos… e nos outros 90 já havia se instalado e eu continuei… Nesse caminho “somos torturados com o castigo de ter nossos desejos para sempre frustrados” (Canto IV), mas por outro lado é um texto tão belo que a tortura se torna prazerosa… A vontade de estar ali acompanhando a jornada de Dante de forma mais próxima enche o peito e me instiga a imaginar o que aqueles rápidos diálogos e aqueles misteriosos personagens ainda nos escondem….

Tendo feito minha escolha, só resta aguardar pelo momento que alguém gritará pra mim – de uma forma silenciosa, para não desistir, me oferencendo ajuda e deixando meu coração mais leve: “Espera por mim, alça o espírito abatido, alimenta-o com a esperança de que não serás abandonado neste horrendo mundo” (Canto VIII). Assim fica mais fácil, sabendo que quando eu estiver emerso, mais profundamente do que deva, terei alguém para esticar a mão e me puxar de volta a realidade.

Vem tu sozinho; fique onde está o atrevido que penetrou neste reino. Que retorne, se puder, pela estrada que percorreu desavisadamente” (Canto VIII)… Posso ter sido um atrevido ao resolver penetrar nesse mundo dantesco… Mas não vou retonar pelo caminho trilhado, prefiro ser surpreendido… Assim como Dante e Virgílio, continuarei pelo caminho (que não é de tijolinhos amarelos), enfrentando os desafios todos que ainda insistirem em cruzar meu caminho.

Nos vemos novamente em breve (em abril), nos próximos 10 cantos (XI a XX) de “A Divina Comédia”…

3 thoughts on “um desafio dantesco: iniciei uma jornada infernal

  • 10 de março de 2013 em 18:46
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    Que lindo, Samir! Vc *atualizou* deglutiu incorporou o texto de Dante! 🙂
    Essa jornadas infernais são estranhas... E estranhamente me lembrei de uma outra minha, a pelos salões do manicômio de cegos do “Ensaio sobre a cegueira” do Saramago... Era tão duro pra mim aquilo, tão sofrido “estar” ali, que eu resolvi viras as páginas, descobrir afinal onde é que aquele bando de coitados iria sair afinal dali. Página 111! “O portão fora aberto de par em par.” Aí resolvi correr feito louca na leitura. Tinha de sair dali. Se não saísse rápido, ia largar o livro, não ia aguentar.
    E foi assim 🙂
    Eba! Mês que vem tem mais 🙂

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    • 10 de março de 2013 em 19:33
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      Ah Fabi... após essa gentil comparação Dante deve estar a revirar-se no túmulo (ou melhor seria falar em inferno, paraíso ou céu?).
      Tenho ainda alguns pontos a levantar sobre a obra... mas acho que ainda está cedo preu jogá-los ao vento...
      Em vários momentos identifiquei-me com Dante... daí surgiu a ideia de transformar minhas observações em uma narrativa em primeira pessoa pela obra de Dante. Obrigado pelos elogios, pelo "excelente" que vc mandou no twitter... E que venham os próximos 24 cantos do inferno.

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  • 13 de março de 2013 em 13:50
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    Só uma coisinha... Acho que o “excelente” foi do Ander, não meu!! 🙂
    Sei lá, de repente “extranhei”, “excelente” não é lá uma palavra muito minha... 🙂

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