um desafio dantesco: inda há muito que descer

se você ainda não sabe do que se trata essa série de posts [um desafio dantesco], aceite o desafio de ler esse post… e esse aqui também.

‘Paremos um pouco na descida’, propôs Virgilio, ‘pois convém acostumar o olfato ao mau cheiro. Assim não sofremos tantos seus maus efeitos’. Disse-lhe eu: ‘Então, mestre, faz com que o tempo da espera não fique sem proveito’. ” (Canto XI). E nesse meio tempo ficamos parados ali, criando coragem pra retomar nossa leitura… enquanto ocupávamos nosso tempo com atividades acadêmicas. E aos poucos cada um foi iniciando a continuação da jornada… em ritmos diferentes, cada um ao seu tempo.

Inda há muito que descer” (Canto XI), eu sabia disso, mas tive realmente muita preguiça de continuar esse desafio… “A trilha pela qual descíamos era tão rude, tão desprovida de encantos, que a todo olhar causaria assombro” (Canto XII). A sensação que eu tinha à medida que eu ia lendo os cantos é que a história vai se repetindo… repetindo… e a preguiça vem surgindo… surgindo… E acho que assim me lembrei do por quê ter desistido de ler a comédia há 10 anos…

E assim, cada vez mais, eu descreveria essa minha leitura desse livro com a seguinte passagem: “quando adentramos uma floresta de tal modo espessa que por trilha alguma era cortada. Sua fronde não era verde, mas escura; não eram lisos seus ramos, e sim, nodosos, e deles pendiam, em lugar de frutos, farpas venenosas. ” (Canto XIII). Sério… não está fácil, não está sendo prazeroso…

Já que : “Baixamos então àquele solo coberto de pedras que cediam ao peso de meus pés, carga a que não estavam acostumadas” (Canto XII), e como eu não tenho mais escapatória (ainda que por orgulho). Sobre o orgulho, em relação a mim, diz: “Ele vive. E a mim incumbe mostrar-lhe o vale maldito. Necessidade, e não prazer, move-o” (Canto XII). E assim, com a tentativa de tornar essa jornada mais fácil (ou palpável, ou agradável, ou menos torturante – ainda não sei qual palavra descreveria melhor), adquiri duas adaptações em quadrinhos…

A primeira, de autoria do designer gráfico americano Seymour Chwast e publicada pela Quadrinhos na Cia., é uma releitura um tanto livre da obra de Dante… ainda estou meio assustado e tentando me acostumar com o estilho que me apareceu nas primeiras páginas que li.

A segunda, que ainda não comecei a ler e só folheei, é de autoria de Piero e Giuseppe Bagnariol e foi publicado pela editora Peirópolis. Essa edição parece seguir uma linha mais clássica e estou, de verdade apostando mais nela do que na outra.

Enquanto Virgílio e Dante são confrontados pelo centauro Quíron: “Perceberam que o que vem por último afunda as pedras sobre as quais pisa? O mesmo não ocorre com os pés dos mortos” (Canto XII); Virgílio responde: “Não é ele um condenado, nem eu sou um perdido” (Canto XII). Eu chego a conclusão que talvez eu esteja, no momento, perdido e condenado…

Ó cupidez cega! Fúria desumana, que durante a curta existência a muitos desgoverna, conduz para sempre à perdição! ” (Canto XII) “Assim falou enquanto caminhávamos” (Canto XX) “E se foi pelo vau, discretamente” (Canto XII) deixando um “até o mês que vem, quando volto com os cantos XXI a XXX”.

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Algumas citações que me marcaram muito (por motivos pessoais, e que justamente por isso não entraram no texto) e que eu gostaria de compartilhar com vocês seguem abaixo:

“Por que me feres? Não possuis um mínimo de piedade?” / “A piedade me paralisa”. (Canto XIII)

“Por que devo com minha dor resgatar tua culpa?”(Canto XIII)

“Eu quis gritar ‘acorde-me com teus braços!’, porém a voz não me saiu.” (Canto XVII)

“Melhor aproveita quem põe mais atenção ao que lhe narram”. (Canto XV)

“Feliz de ti, se com tamanha franqueza e sempre expões teu pensamento. Com isso, grande fama hás de granjear. Mas, pedimos-te, quando voltares a mirar as estrelas, deixando este lugar horrendo, e jubiloso puderes dizer ‘eu estive lá de fato!’, não permitas que nossos nomes sejam esquecidos no mundo dos vivos!” (Canto XVI)

“Como liberto de opressivo peso, fugiu de nós mais rápido que uma flecha.” (Canto XVII)

“Eu te responderei com má vontade. Cedo ao som desse falar gentil que à memória me trouxe a felicidade antiga.” (Canto XVIII)

2 thoughts on “um desafio dantesco: inda há muito que descer

  • 4 de abril de 2013 em 08:39
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    Queridíssimo, duas coisas:

    1. amei! (principalmente o relato da “dor”’/“desprazer" que te acomete à leitura e à coragem de continuar: wooooooooooowwwww 🙂 )

    2. ao "Melhor aproveita quem põe mais atenção ao que lhe narram”. (Canto XV)”. Né?

    To atrasada na leitura este mês!!!!!!!!

    beijos

    Resposta
  • 4 de abril de 2013 em 15:27
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    Deixei pra ler agora, depois de ter feito minha parte, e vi que partilhamos do mesmo sentimento de cansaço e preguiça em continuar a leitura rsrs. Mas vamos em frente. Rumo ao fundo do Inferno. ( e coragem, que já me falaram que o purgatório e o paraíso é mais chato de ler rsrs)

    Resposta

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