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Comunicação para Divulgadores Científicos

Quanto eu cobro pelo meu trabalho de divulgação científica?

foto de duas caixas feitas de tricô, de cores diferentes, uma escrita "pro" e outra "contra" em cima.

Quanto eu cobro pelo meu trabalho de divulgação científica? Um passo a passo sobre como precificar o trabalho de divulgação científica (e cobrar por ele)!

Primeiramente, vou começar esse texto pontuando aquilo que é defesa constante desta divulgadora científica: a necessidade urgente da profissionalização da área e a importância da criação de possibilidades, sistemas e políticas que ajudem a divulgação científica a ser menos voluntária. Essa é uma característica observada desde 2020, quando defendi meu mestrado.

Entendemos que a vida acadêmica exige do cientista uma série de atividades e compromissos que ocupam todo o seu tempo. Além disso, mesmo com a consciência da importância da divulgação científica para a ciência, para a sociedade e para sua instituição de ensino e pesquisa, em muitas ocasiões o cientista o faz de forma voluntária, sem o apoio de colegas, da instituição em que trabalha. Mais do que isso, a divulgação científica é feita, em geral, sem retorno financeiro ou acadêmico. Mesmo que existam iniciativas de motivação e valorização da divulgação científica, insistimos na urgência de políticas institucionais que garantam ao pesquisador que sua dedicação a essa atividade seja contabilizada em sua carreira.

(Página 49 da minha dissertação)

Mas não foi uma impressão só minha! Nas pesquisas do Leonardo Oliveira e da Raphaela Velho, essa característica também apareceu. E com a pandemia e o crescimento de diversos perfis e canais, a necessidade de profissionalização se tornou ainda mais urgente.

Quando a oportunidade certa aparece, saber quanto cobrar pelo seu trabalho faz parte desse profissionalismo, uma vez que essa cobrança não se trata de um valor simbólico, mas ela precisa cobrir os seus custos e necessidades.

Seguindo então o formato de lista, vamos pontuar o passo a passo para você, divulgador científico, estar preparado quanto a oportunidade surgir:

Passo a Passo sobre como precificar meu trabalho

1 – Ta tudo bem cobrar pelo seu trabalho!

O fato de você ter começado e continuado o trabalho de divulgação científica por gostar e entender sua importância, usando seu tempo livre, recursos próprios e dedicação sem a perspectiva de receber retorno por isso, não significa que você não deva cobrar, ok? É isso mesmo, e na dúvida, leia de novo!

Assim, o fato de você receber pelo seu trabalho não o desqualifica e nem diminui sua importância, mérito ou credibilidade.

    2 – Mas, prestar atenção de onde vem o dinheiro é importante, sim!

    E essa é uma decisão que vem de encontro com as políticas de trabalho que você já precisa ter definido. Se você ainda não pensou sobre o assunto, essa postagem pode te ajudar nisso!

    Ao receber propostas de instituições que tem como atividade política ou posicionamentos que vão de encontro com a sua política e ética, enquanto profissional, será preciso tomar decisões importantes.

    Aceitar implica em:

    • Receber haters, opiniões, retaliação e descontentamento de seu público e parceiros;
    • Sua credibilidade fragilizada quando se posicionar em assuntos polêmicos e delicados;
    • Mas, ter seus boletos pagos.

    Rejeitar implica em:

    • Continuar com dificuldades financeiras;
    • Continuar procurando outras formas de subsistência da atividade;
    • Mas não entrar em conflito com seus posicionamentos pessoais e do canal, quanto à temáticas sensíveis em termos políticos e éticos

    3 – Entender como funciona essa atividade em sua vida

    Outro ponto comum a divulgadores que realizam divulgação científica como voluntário está na dificuldade de perceber o quanto essa atividade custa para ele. E essa tarefa não é simples, uma vez que não se trata apenas de dinheiro, mas sobre o quanto de qualidade de vida esse divulgador possui.

    E para fazer essa conta precisamos pensar:

    A – Quanto custa sua vida?

    Coloque em uma planilha o quanto de gasto mensal você possui, não esquecendo de nenhum gasto. Ou seja, nessa planilha é preciso incluir ABSOLUTAMENTE TUDO.

    Comece pelos gastos ‘visíveis’ que são os de manutenção da vida, como: aluguel, transporte, alimentação, saúde, vestuário, etc. Depois inclua os gastos ‘invisíveis’ que são aqueles que não percebemos, como: impostos, gastos com saídas e mimos a si mesma, imprevistos, etc.

    B- De quanto tempo você precisa para executar a atividade de divulgação científica?

    Quando pedimos para medir esse tempo, é preciso incluir o processo completo. Neste caso, é comum também que o divulgador científico não considere algumas atividades secundárias como parte do trabalho.

    Exemplos disso são: Tempo gasto com o estudo do assunto a ser abordado, entrevista e consulta a colegas, manutenção e custeio de equipamentos, divulgação do material pronto, resposta a comentários e demandas com jornalistas e palestras acadêmicas sobre o assunto. Esse tempo também precisa ser contabilizado.

    4 – Fazer a conta!

    1º Entenda quanto custa cada hora da sua vida

    A partir da planilha de custo de vida, explicada no item A deste texto, você terá um valor aproximado de quanto, ao mês, precisa receber para pagar todas as suas contas. A próxima conta que precisará fazer será de quantas horas ao mês você precisa trabalhar para pagar seus gastos. Agora, divida a quantidade de horas pelo valor necessário para viver! Exemplo (completamente hipotético e irreal, mas com números simples de entender!):

    Se eu preciso de R$ 100,00 ao mês para viver e trabalho 30 horas no mês para receber esse valor. Cada hora custa: R$ 3,3333.

    100/30: 3,3333

    2º E como isso se aplica a divulgação científica?

    Usando o exemplo acima, consideremos que você precise de 10 horas para executar uma atividade de divulgação científica e a sua hora custa R$ 3,3333, o valor do custo da sua atividade é de: R$ 33,33.

    3,33 x 10: 33,33

    5 – E esse é o valor que vou cobrar?

    Depende! Com esse passo a passo você chegou a um resultado sobre o quanto custa a atividade na sua vida, mas isso não significa que esse valor deva ser cobrado a risca.

    É preciso pensar que existem outros pontos a serem levados em consideração:

    Quando cobrar a mais?

    • Considere que imprevistos acontecem, ter uma poupança para isso é de suma importância;
    • Alguns valores podem sofrer mudança, como: gasolina, passagem de avião, alimentação, etc;
    • Geração de caixa para o investimento em atividades que trazem outros retornos, como: visibilidade, abertura de novas possibilidades, felicidade;
    • O contratante permite essa cobrança.

    Quando cobrar o valor a risca ou não cobrar?

    • Quando o contratante não permite essa cobrança;
    • Quando esta atividade trouxer visibilidade, abertura de novas possibilidades e/ou felicidade.

    6 – Ser voluntário não é um problema desde que:

    Não estou dizendo que você não deve ter trabalhos de divulgação científica voluntários. Eu mesma faço alguns! O que insisto nesta postagem é a importância desta atividade ser consciente e escolhida por você e não imposta por colegas que entendem a profissão como algo voluntário e, dessa forma, não investiram tempo para a captação de recurso para este fim.

    O valor do tempo gasto com este voluntariado deve ser encarada como portfólio, isto significa que essa atividade deve te trazer retorno de alguma forma, e mesmo assim, ela não pode te obrigar a passar por dificuldades.

    7 – Outras formas de cobrar

    É importante lembrar que existem outras áreas da comunicação que já estão nessa luta pela profissionalização há algum tempo e tem conquistado espaços bem significativos.

    Uma delas é a aplicação de uma tabela única de preços de trabalhos freelancers e modelos de contratos, nós da divulgação científica podemos utilizar desses recursos quando fizermos trabalhos similares:

    No Jornalismo

    O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo publica tabelas de preços reajustadas sempre em 1º de julho (data-base de três segmentos da categoria: jornais e revistas da Capital, jornais e revistas do interior e litoral e assessoria de imprensa)

    Os valores constantes desta Tabela de Referência, definidos conforme aprovação de cada segmento, são aqueles considerados suficientes para que o profissional jornalista viva dignamente do seu trabalho e dizem respeito a tarefas básicas.

    Abaixo destaco algumas das tabelas e modelos publicados pelo Sindicato – Os valores expressos na tabela pressupõem uma única edição ou veiculação.

    Na Publicidade e Propaganda

    O Sindicato das Agências de Propaganda do Estado de São Paulo publica a cada triênio a atualização da tabela de valores dos serviços realizados pelas agências de publicidade e propaganda.

    A partir da página 26 é possível observar os valores para Produção e Serviços Digitais

    Destaque para a página 31 em que o SinaproSP indica valores para trabalho por hora:

    Tabela em verde e laranja de valores referenciais do valor cobrado por hora para cada atividade de serviços de publicidade e propaganda do SinaproSP
    Tabela de valores referenciais do valor cobrado por hora para cada atividade de serviços de publicidade e propaganda do SinaproSP

    Empresas de trabalho Freelancer

    Outra opção bem conhecida para quem faz trabalho freelancer é a famosa calculadora virtual de precificação. Na internet é possível encontrar centenas de opções desse tipo de calculadora, mas por aqui, vou deixar como opção a calculadora da Workana que se trata de uma plataforma de trabalho freelance e remoto da América Latina.

    A calculadora da Workana ajuda a entender qual é o valor que o freelancer deve cobrar a cada serviço e esse serviço pode nos ajudar a entender quanto eu cobro pelo meu trabalho de divulgação científica.

    A remuneração mensal projetada pelo freelancer, seus custos estruturais (aluguel, internet, telefone, material de trabalho, softwares, serviços terceirizados e impostos) e tempo disponível são as informações necessárias para o cálculo da hora de trabalho. Após o cálculo, a ferramenta também mostra valores médios cobrados por freelancers cadastrados na plataforma.

    Citação da Workana feita em matéria para a Revista Exame
    Quadro em azul e branco que demonstra como a calculadora aparenta, com link para acesso

    Para finalizar esse texto

    Quero reforçar que a divulgação científica pode sim ser voluntária, mas a decisão sobre quando, como e de que forma deve ser uma decisão do divulgador científico e não do possível contratante! E entender o quanto esse trabalho custa a você te ajudará a delimitar melhor quando aceitar ou não aceitar determinados trabalhos.

    Referências

    COSTA, Leonardo Oliveira da (2022) Divulgação científica e educação nas redes sociais digitais em tempos de COVID-19 Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Física Gleb Wataghin, Campinas, SP.

    MARIOSA MOREIRA CARNEIRO, Erica (2020) Perfil dos blogueiros/divulgadores de Ciência no Portal Blogs de Ciência da Unicamp, Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, SP.

    VELHO, Raphaela Martins Guedes de Azevedo (2019) O papel dos vídeos de ciência na divulgação científica: o caso do projeto ScienceVlogs Brasil. 2019, Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, SP.

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