Alguma vez você, divulgador de ciências, já se perguntou se a empresa que você representa tem políticas, ações e práticas voltadas para a diversidade?
A relação do cientista com as empresas privadas, eram, normalmente, realizadas mediante a editais de financiamento de pesquisa ou contratos de prestação de serviços específicos, mas com o crescimento da divulgação científica, tem surgido novas formas de relacionamento contratual, como as “publis” em redes sociais, por exemplo.
Contudo, também é crescente as dúvidas sobre como essa relação da credibilidade científica, através da pessoa divulgadora de ciência, se dá com o mercado.
Neste texto vamos falar um pouco sobre a importância da divulgação científica se preocupar em conhecer as políticas, diretrizes e estratégias que as empresas adotam antes de comprometerem a sua credibilidade e vincularem sua imagem com a das empresas.
Mas, primeiro…
Como se trata do meu primeiro texto aqui no Mindflow, antes de começar o nosso papo, eu vou me apresentar:
Oi, eu sou a Danúbia, sou uma mulher cis gênero, 40+, negra de pele clara, Especialista em Diversidade e Inclusão e ESG, o foco do meu trabalho está em dar suporte para a implementação de programas de diversidade e inclusão, além da implementação de estratégias de ESG.
E é sobre esse tema, que hoje eu vim conversar com você. Afinal, a adoção do ESG (ASG em português – Ambiental, Social e Governança) pelas empresas, pode ser um bom indicativo de que há uma preocupação em implementar estratégias de diversidade e inclusão.
Mas o que é ESG?
ESG abrange um conjunto de práticas voltadas para a preservação do meio ambiente, responsabilidade com a sociedade e transparência empresarial. Em termos práticos, o ESG pretende demonstrar para a sociedade o quanto uma determinada corporação está buscando minimizar seus impactos.
O termo foi cunhado em 2004, em uma publicação do Pacto Global em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins. Na oportunidade, o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, fez a provocação a presidentes de grandes instituições financeiras sobre como integrar fatores ambientais, sociais e de governança no mercado de capitais.
O Pacto Global da ONU e o desenvolvimento sustentável – BNDES
Dentre as pautas requeridas pelo ESG, destaco:
Pautas ambientais do ESG
- Gestão correta de resíduos
- Redução na emissão de gases do efeito estufa
- Gestão hídrica sustentável
- Utilização de energia renováveis
Pautas sociais do ESG
- Acato aos direitos dos trabalhadores
- Participação em projetos sociais
- Preferência a fornecedores sustentáveis
- Promoção de diversidade e inclusão
Pautas de governança do ESG
- Relacionamento íntegro com clientes
- Atuação com ética de mercado
- Preocupação com desempenho socioambiental
Onde encontrar mais informações sobre o ESG:
- COMO SIGO AS PRÁTICAS ESG?
- O estudo A evolução do ESG no Brasil, produzido por Rede Brasil do Pacto Global e Stilingue.
Também é importante pontuar que os critérios de ESG estão totalmente relacionados com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Fonte da imagem: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
E você, Divulgador Científico, já tinha ouvido falar do ESG?
Para você, qual o significado e importância dessa sigla? Alguma vez você já observou se as marcas que se relacionam com você pessoal e profissionalmente adotam essas práticas?
Na postagem anterior a essa, aqui no Mindflow, a Erica Mariosa apresentou questionamentos sobre como precificar o trabalho de divulgação científica, e dentre as soluções possíveis, realizar palestras, ser porta-voz de uma empresa ou até realizar algumas publicidades nas redes sociais, podem vir a ser opções para rentabilizar o trabalho.
Dessa forma, entender como o possível patrocinador se posiciona frente a temas como esses abordados do ESG é de suma importância.
Como exemplo dessa relação entre o ESG, a diversidade e a credibilidade do divulgador de ciências trago outra discussão da Erica Mariosa: De qual internet falamos quando planejamos a Divulgação Científica?
Será que TODAS as pessoas têm acesso à internet para: trabalhar, estudar, se informar, se distrair, se comunicar?
Para continuarmos nosso papo, e responder esta pergunta, vou resgatar alguns dados apresentados no texto da Erica:
Segundo os dados do PNAD TIC – Internet Brasil 2021 a Internet chega a 90,0% dos domicílios do país em 2021, com alta de 6 pontos percentuais (p.p.) frente a 2019, quando 84,0% dos domicílios tinham acesso à grande rede.
Esse dado é de extrema relevância, uma vez que em 2021 a população esteve mais presente digitalmente devido às condições pandêmicas da época. Mas e o que tudo isso tem a ver quando falamos de pessoas, diversidade, inclusão?
Pensemos sobre empregabilidade
Após este período pandêmico observamos que a adoção de processos seletivos realizados totalmente em formato digital aumentaram. Muitas empresas, inclusive, adotam ferramentas de inteligência artificial para a seleção de seus candidatos.
- 4 em cada 10 empresas vão usar IA nas entrevistas em 2024
- Reconhecimento facial e racismo: quando a tecnologia atropela a ética
- Nina da Hora fala sobre como os algoritmos contribuem para o racismo nas ferramentas digitais
Outros dois pontos importantes de destacar são:
O aumento da oferta de Home Office, Vagas para home office cresceram, 496% em 2022, mostra pesquisa e o aumento do trabalho em plataformas digitais, IBGE: país tem 2,1 milhões de trabalhadores de plataformas digitais.
Ao pensarmos em diversidade, será que TODAS as pessoas têm acesso à internet?
Retomando os dados da postagem da Erica, e conforme a pesquisa do PNAD, percebemos que as pessoas acessam a internet de forma diferente.
Mas Danúbia, como essa discussão se relaciona comigo na divulgação científica?
Ao “emprestar” sua imagem, (de pessoa cientista e pessoa divulgadora de ciência que possui credibilidade adquirida pelos anos de dedicação ao conhecimento científico), a uma empresa, você comunica ao seu público, ou seja, aquele que te segue e confia em você que esta empresa também possui credibilidade e confiança.
Portanto, ao mencionar uma marca ou uma empresa em seus conteúdos de divulgação científica, você valida está empresa como confiável, e é justamente, por essa validação advinda da sua credibilidade que, se torna importante entender quais são as práticas adotadas por esta empresa em temas importantes como a diversidade e inclusão.
Será que você quer que sua imagem seja vinculada a uma empresa adota praticas anti racista, anti homofóbicas, anti transfóbicas, etc.
Retomando o exemplo acima sobre acesso à internet, é possível dizer que a empresa que você representa está dando as devidas oportunidades a TODAS as pessoas?
Esta empresa está acessando a todas as camadas populacionais, principalmente neste momento em que as empresas dedicam estratégias, serviços, funcionalidades ao ambiente digital e excluem a de força humana?
É importante destacar, neste contexto, que o recorte racial brasileiro em 2021 é o seguinte:
- Pessoas pretas e pardas continuam com menor acesso a emprego, educação, segurança e saneamento;
- Apenas 29% dos cargos gerenciais são ocupados por pessoas negras;
- 76% dos mais pobres são negros;
- 72,9% das pessoas desempregadas são negras.
Fonte: IBGE
É indiscutível que a tecnologia tem trazido inúmeros benefícios para a evolução da sociedade, mas não podemos concordar quando esses benefícios não alcancem a TODAS as pessoas da mesma forma, apenas perpetuando privilégios.
Para finalizar esse meu primeiro texto, deixo aqui uma reflexão da Neivia Justa no livro Diversidade e inclusão: e suas dimensões em um capítulo de sua autoria.
“Comunicação é a base de qualquer relação humana. Comunicamos o tempo todo. Tudo em nós comunica e impacta, positiva ou negativamente, as pessoas. Nossa comunicação tem o poder de atrair ou repelir, incluir ou excluir, inspirar ou entediar, conectar ou desconectar, engajar ou desengajar, mobilizar ou desmobilizar”.
Diversidade e Inclusão e suas dimensões, volume II, p. 143.
Referências:
Você pode encontrar as referências deste texto durante a leitura, em links sinalizados em azul.
A imagem de capa é da Clorofreela e seu acervo gratuito de PNGs gerado por IA
Nilton lúcio Julião
assunto rico e extremamente relevante e atual.
Parabéns pelo conteúdo.
Erica Mariosa Carneiro
Nilton,
Esta discussão é extremamente necessária quando pensamos no acesso de TODAS as pessoas! ✊🏾
Danubia
Rafael Falorio
Parabéns Danúbia.
Seu texto levantou questões que passam despercebidas à maioria. Mesmo sem saber o que era ESG, algumas práticas ambientais já estão sendo adotadas na minha área.
Obrigado pelo conteúdo.
Erica Mariosa Carneiro
Rafael,
Que bom que pude contribuir para que tenha o conhecimento sobre ESG e saber que algumas práticas ambientais já são adotadas pela sua área!
Danúbia