As Pessoas Entendem o Aquecimento Global?

Probleminha de lógica:

Para encher uma banheira é preciso tampar o ralo e abrir a torneira. Deve entrar mais água do que sair, certo? Se só diminuirmos o fluxo da torneira, a banheira pára de encher? Claro que não. A não ser que se abra o ralo. Mesmo assim, para a banheira não encher mais, a água que sai pelo ralo deve sair na mesma quantidade ou mais do que a que sai da torneira.

Tudo muito lógico até agora? Ok, próximo probleminha:

Imagine que a concentração de CO2 na atmosfera se comporta desta maneira mostrada no gráfico 1: CO2 sobe até o ano 2000 e vai estabiliza até 2100.

Gráfico 1

Agora, no gráfico 2 você tem a emissão de CO2 pelo homem até o ano 2000. “Net removal” é a remoção natural de CO2, ou seja, a quantidade que o ambiente consegue retirar da atmosfera pelos oceanos, plantas e microorganismos. Veja que o ponto de remoção em 2000 é bem menor que o nível de emissão no mesmo ano.

Gráfico 2
Gráfico 2

Para que ocorra a estabilização da quantidade de CO2 até 2100, como mostrado no gráfico 1, complete como deveria ser a linha da emissão humana do gráfico 2 até 2100.

Agora eu compliquei um pouco? Na verdade o problema é o mesmo. Mas a maioria esmagadora que responde esta pergunta erra feio. Num estudo realizado com alunos do MIT, 85% respondem como mostrado em vermelho nesta figura abaixo.

Ora, se as emissões, mesmo diminuindo, continuarem maiores do que o ponto de remoção, que é o ralo do CO2, a banheira atmosférica continua enchendo, e nunca estabilizará.
A resposta certa é a mostrada em laranja. Temos é que reduzir. E MUITO! E JÁ!

Gráfico 3
Gráfico 3

Mas infelizmente o que se vê hoje em dia é uma política de “vamos ver no que dá”. E esta pesquisa nos mostra que esta postura não se deve só à característica humana de só agir quando a água bate no traseiro, ou à falta de informação. Deve-se também a uma falha no pensamento lógico. Como corrigir isto?

Os indivíduos do MIT entrevistados têm formação científica muito maior do que a maioria dos políticos. Principalmente dos brasileiros. O que podemos esperar então das ações destas pessoas que decidem os rumos de nossa sociedade?

Alguém deve assumir esta responsabilidade de corrigir a forma de pensar do mundo. É isso mesmo, do mundo. O trabalho não é pouco. Não existe essa de “fazendo um trabalho de formiguinha a gente chega lá”. A escola talvez não tenha tempo para se adaptar. Acho que é tempo de nós, divulgadores de ciência, cientistas e quem mais se dispor, nos utilizarmos da mídia para mudarmos a atitude das pessoas em tempo hábil.

Vi na Science

Vitamina C para câncer: Bem ou mal?


Em biologia, e também na sua área médica, nada parece ser absoluto. Tudo depende do contexto.
Vitamina C pode prevenir câncer, mesmo os recorrentes de um câncer já tratado. Mas usado com drogas para tratamento de tumores já estabelecidos parece ter um efeito contrário. Ela protege o tumor das drogas usadas na quimioterapia, como imatinib, doxorubicina, cisplatina, entre outras das mais usadas no tratamento.
Ao menos em células cultivadas e em camundongos é o que acontece. A vitamina C protege as mitocôndrias das células de danos causados pelas drogas. Com a mitocôndria intacta, a célula não se mata como deveria.
Na pesquisa, foram usadas doses altas de vitamina C, mas nada que não possa ser comprado em uma farmácia ou nessas lojas de academias. Ou seja, nada que um hipocondríaco não possa já estar tomando.

Mais uma vez termino uma postagem dizendo: prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém (se bem que muita canja de galinha pode fazer mal sim). Antes de se entupir de vitamina C ou, no caso oposto, evitar até de passar perto de um limoeiro, é melhor esperar mais dados das pesquisas.
E enquanto esperamos, peça ao garçom um suquinho de laranja com acerola, por favor.
Vi no Nature news

Spore na Nat-Geo. Mentiras e omissões

A National Geografic não é mais a mesma…

Já falei sobre Spore, Spore + ciência e sobre Spore + SETI. Agora Spore + National Geografic.
Ligação mafiosa esta última. A National Geografic, famosa por seus documentários científicos, fez um programa sobre o tal jogo. Motivos óbvios, afinal o jogo clama ter toques científicos. Chama-se How to build a better being.
Fazer um documentário de total apologia ao jogo, dizendo ele ser cientificamente correto, já é um crime. Convidar cientistas para falar sobre evolução e não contar que isto vai aparecer num documentário/propaganda do Spore já é sacanagem!
Claro que depois de se verem nesse documentário os cientistas se revoltaram.
“Achei que era para um documentário sobre biologia evolucionista. Eles mencionaram o jogo só no meio da entrevista”, disse o paleontólogo Neil Shubin, que na edição do programa parece estar jogando Spore. “Eu não apoio nenhum videogame, muito menos um que diz falar sore evolução”, completa. O geneticista Cliff Tabin diz que nunca tinha ouvido falar do jogo até se ver no comercial do documentário. Imaginem a sensação.
Realmente no email enviado a ambos pela produção do programa não há menção ao jogo.
Não preciso nem dizer que a Eletronic Art, produtora do jogo, e a Nat-Geo têm um bom acordo. Afinal uma das edições do jogo vem com um DVD do filme.

Vi na Science
E mais: veja Robin Williams criando sua criatura! Hilário…

Cai o último “bom-selvagem”

“a maioria de nossos males é obra nossa e (…) os teríamos evitado quase todos conservando a maneira de viver simples, uniforme e solitária que nos era prescrita pela natureza” (ROUSSEAU apud LEOPOLDI , 2002, p. 160 ).

Hum, então nossa natureza é boa, e ao complicar o “viver simples” nos corrompemos… Quer dizer que populações mais simples, ou naturais, teriam menos traços malignos. Pena que se sabe hoje em dia que isso não é verdade. Gente é gente em qualquer lugar do mundo. Os antropólogos que o digam.
Índios podem ser perversos sim. Compartilhamos características básicas em todos os lugares. Diferentes culturas, com diferentes abordagens sim, mas sempre a maldade, e também a benevolência, estão presentes.
E nos animais? Eles sim são bonzinhos, não são?
Sinto informar, mas não são não. Nossos primos chimpanzés são bem agressivos. Matam não só pra comer, mas também por status e poder dentro do grupo.
Mas ainda existia uma esperança: os bonobos.
Bobobos, os últimos “bons-selvagens”
Os macacos mais aparentados com os humanos. Diferente do chimpanzé, este animal parecia para nós o ideal da sociedade “natural”. Pacíficos entre si e com o ambiente, calmos, formando uma sociedade matriarcal sem grandes diferenças de poderes entre os indivíduos.
O ideal do paz-e-amor dos anos 70 (inclusive pelo comportamento sexual sem restrições dos bonobos).
Mas observações recentes revelaram que eles não são tão pacíficos assim. Também caçam em bandos. Machos e fêmeas atacam macacos de espécies menores e os comem.
A última chance da idéia de Rousseau prevalecer e nos mostrar que a natureza do homem é boa, e que é a sociedade que o torna mal, parece estar indo por água abaixo. Afinal a própria sociedade também não é mais uma característica da nossa natureza primata?
“Chimpanzé é o c#&@%,. Meu nome é Zé Bonobo, p@%$!” "Chimpanzé é o c#&@%,. Meu nome é Zé Bonobo, p@%$!"[/caption]

Projeto Genoma Pessoal

Prof. Misha doa células para PGP
Prof. Misha doa células para PGP

Ao invés de querer seqüenciar todo o genoma de uma pessoa, que tal simplificar e seqüenciar só os trechos que vão virar realmente proteína? Essa parte representa só 1% do genoma, o que reduz o esforço em muito. Adicione a isto as informações médicas detalhadas sobre a tal pessoa. Faça isso com 100.000 pessoas e disponibilize para todos o mundo as informações. Este é o Projeto Genoma Pessoal (PGP), realizado pela Havard, que tem por objetivo ceder informações sobre a tecnologia de genoma pessoal de forma correta, responsável e efetiva.
Para começar foram recrutados 10 voluntários muito bem informados sobre a tecnologia, como o próprio idealizador do projeto, George Church (aqui num artigo da Wired, o diretor da 23andMe Esther Dyson, o lingüista Steven Pinker e o professor e blogueiro Misha Angrist.
Você também pode se voluntariar no site do projeto. Mas cuidado, afinal seu relato médico vai ficar online para o mundo todo, desde problemas cardíacos até frieiras no pé ou impotência. Afinal é um banco de dados onde vai ficar tudo armazenado e aberto para qualquer um fazer pesquisa. Inclusive alguém pode querer saber se pessoas com impotência têm mais da proteína X ou Y, coisas desse tipo.
O projeto tem como objetivo também seqüenciar o genoma inteiro destas pessoas. O que não vai demorar muito, já que o preço e a velocidade dos seqüenciamentos estão diminuindo vertiginosamente.
Como as pessoas, e o resto do mundo, reagirão tendo suas informações genômicas em mãos? É isto que todos queremos saber. E o PGP vai nos responder.
Vi no Genetic Future
Artigos do MIT Technology Review e do The New York Times
Artigos RNAm sobre o assunto

Cientistas podem dançar?

A pergunta não é se eles conseguem, mas sim se deveria ser permitido que o fizessem.
As festas de congressos científicos não me deixam mentir, na média os cientistas mandam muito mal no salão, desculpem falar. Mas já se foi o tempo dos estereótipos, hoje em dia é difícil classificar as pessoas tão facilmente. E talvez um cientista possa dar para um dançarino, ou reformulando esta frase de duplo sentido, possa dançar bem sim. E mais, montar uma dança sobre sua própria pesquisa!
Por isso prepare-se, aqui vai um resumo do que foi o primeiro concurso “Dance seu PhD”. As inscrições para o segundo se encerram hoje.
Vídeos e infos do concurso
Recomendo. O vencedor dançando uma caçada estilizada faz menção a sua pesquisa sobre como se trabalhava e distribuía a caça numa região do sul da África.
Um tango mostra a atração de uma galáxia mais pesada atraindo uma outra galáxia menor. Enfim, algumas coisas boas realmente.
Tirando coisas bizarras, como na categoria de Professores (haviam 3 categorias: graduandos, pós-graduandos e professores) em que um tiozão com a camisa do Tabajara Futebol Clube dança a música do pintinho amarelinho, representando sua pesquisa com galinhas. Só imagino como é ser orientado por um figura assim…
Leia mais também no Citrus: Dança dos cientistas: o Faustão compra a idéia?

MP3=música, MP4=vídeo,… MP10=pâncreas no celular


O Zé me respondeu uma questão muito interessante: MP3 eu sei o que é, MP4 também, mas MP5? E até que número os MP vão? Bem, aqui vão as respostas:

Partindo do MP3 – música
MP4 – Vídeo, mais anterior
MP5 – foto, mais anterior
MP6 – Celular, mais anterior
MP7 – GPS, mais anterior
MP8 – TV, mais anterior
MP9 – Camera de Mpixels, mais anterior
MP10 – expresso com grão moído, mais anterior
MP11 – expresso de grão inteiro, mais anterior
MP12 – Cappucino, mais anterior
MP13 – tudo que vc quiser, quantas vezes vc puder…… , mais anterior!

Ok, talvez ainda não tenha uma máquina de café no celular de ninguém, mas as possibilidades de agregamento de funções num aparelho só tendem sim ao infinito.
E funções importantes, como monitoramento do nível da glicemia para pessoas diabéticas.
Ele funcionaria como um pâncreas artificial. Um implante detectaria os níveis de glicose no corpo e liberaria a insulina de acordo com a necessidade. Tudo isso controlado por um aparelho externo, que poderia muito bem estar no celular.
Não é ficção, estudos estão sendo feitos e publicados . Pessoas com monitoramento contínuo de glicemia diminuem o número de picos de concentração de glicose pela metade comparando com os que fazem a tradicional picadinha no dedo. Ou seja, controlam melhor sua doença.
Mas enquanto isto não chega, podemos nos divertir com cerveja e pipoca no iPhone:

Sobrenome comum tem menos chance de sucesso

Brasão da familia Silva

Pessoas com sobrenome incomum têm mais sucesso, diz pesquisa

Folha
Pessoas com sobrenomes raros têm mais chance de obter sucesso na vida, afirma um estudo realizado por cientistas de três universidades espanholas.
Um dos autores do estudo, Ignacio Ortuño, que faz parte do Departamento de Economia da Universidade Carlos 3º de Madri, explica que, quanto mais raro é o sobrenome, mais aparece entre profissões de nível econômico superior.
Segundo Ortuño, a pesquisa reflete a falta de mobilidade social nas últimas gerações, já que, no século 19, as famílias com status social alto tendiam a utilizar sobrenomes pouco encontrados. O estudo acrescenta que os sobrenomes compostos formados por um freqüente e outro pouco comum também são maioria entre as famílias de nível socioeconômico alto.

Pô, e eu com o meu “Bento da Silva Soares” posso me aposentar então por “nomenclatura inadequada”?!
Ainda bem que não acredito em determinismos.

Nobel e IgNobel: É do Brasil!(?)

Pesquisador e pesquisado

Um deles a gente já garantiu, adivinhe qual? Claro que foi o IgNobel, o prêmio que laureia os trabalhos mais idiotas do mundo. E quem levou foi o tatu por bagunçar os sítios arqueológicos. Esse é o tema da pesquisa dos brasileiros Astolfo Mello Araújo e José Carlos Marcelino, ambos da USP.

Aliás eles se sentem honrados pois não há Nobel para arqueologia, então o primeiro IgNobel do Brasil é uma honra.

Mas e o Nobel mesmo? Corre na boca pequena (vi no Blog do Luis Nassif) que a chance é grande de sair este ano para um brasileiro.O pesquisador Miguel Nicolelis é famoso no mundo todo, por sua pesquisa em entender os padrões do nosso cérebro em funcionamento e fazer um computador entender esses padrões. Assim ele conseguiu que macacos movessem braços mecânicos e até um robô andar, usando apenas a “força do pensamento”.

A suspeita surgiu por Nicolelis ter feito uma palestra em Stocolmo (onde fica a fundação Nobel), numa conferência que só ocorre uma vez por ano e com apenas quatro palestrantes. E geralmente estes palestrantes ganham. Seria merecido

Fecharia com chave de ouro este ano de 2008 com tantos prêmios importantes para o Brasil, como o IgNobel do tatu, e o Darwin Awards com o padre dos balões

Links:

Blog do Nicolelis