O chá é a bebida mais consumida no mundo, depois da água claro. E os mais conhecidos deles são o chá verde e o preto, ambos feitos da Camellia sinensis. Os benefícios do chá já foram até citados neste blog anteriormente, mas agora vamos ver exatamente o que é que faz o chá ser eficiente na prevenção do câncer (segundo um artigo de revisão publicado na revista Nature Reviews Câncer).
Uma das coisas que torna o chá verde interessante para estudo é que já se conhece todas as substâncias presentes em sua constituição.
Por exemplo, catequinas (uma família de polifenóis) são as principais substâncias presentes no chá. Elas neutralizam os radicais livres, que são grandes responsáveis por provocar danos ao DNA que podem começar o desenvolvimento de câncer.
Estudos realizados em animais, utilizando o chá verde ou suas catequinas purificadas, mostraram inibição da formação e crescimento de tumores em diferentes modelos animais, como pulmão, trato digestivo (boca, cólon intestino) e próstata.
Esta inibição está associada à diminuição da proliferação celular, aumento da morte celular (apoptose), e inibição da formação de novos vasos sanguíneos utilizados pelo tumor em crescimento para obtenção de nutrientes (angiogênese).
Claro que todos os estudos já feitos em animais tiveram diferentes abordagens de tratamento e diferentes focos de observação, mas de 147 trabalhos científicos publicados até dezembro de 2008, 133 descrevem uma melhora na prevenção e mesmo na inibição de tumores.
Além de antioxidante, a catequina EGCG do chá verde é uma substância que comprovadamente se liga a vários receptores e moléculas de sinalização da célula, que também podem estar ligadas à geração de tumores.
Os famosos flavonóides também estão presentes no chá e possuem efeito antioxidante, mas parece que as catequinas têm um papel mais importante na prevenção tumoral justamente por este efeito adicional de se ligar a outras proteínas.
Mas e em humanos?
Em humanos, alguns estudos de prevenção já vêm sendo feitos, e com resultados promissores.
Apesar destes estudos em laboratório, não há um estudo que deixe claro que pessoas que já vêm tomando chá verde têm menos câncer. Estes estudos chamados epidemiológicos não são muito controlados e mesmo pessoas que tomam chá podem ter rotinas totalmente diferentes umas das outras, como variação na quantidade de chá ingerido, algumas podendo ser fumantes outras não, consumo de álcool, etnia, entre outros fatores difíceis de serem analisados.
Mas os estudos que levam tudo isto em conta mostram sim uma relação entre consumo de chá e menor aparecimento de tumores.
Por exemplo, em um dos estudos, homens e mulheres que não fumavam e nem bebiam álcool, mas bebiam chá, apresentaram menor risco de adquirir câncer. Já fumantes que tomam chá não apresentam este menor risco.
Interessante observar que a composição do chá varia de acordo com o clima, modo de cultivo, variedade e idade da folha. Os diferentes métodos de produção também alteram a composição química das folhas secas.
Por isso melhores estudos epidemiológicos neste sentido devem ser realizados.
Quanto a gente deve tomar de chá afinal de contas?
Em dois trabalhos epidemiológicos que mostraram resultados positivos, foi relatado que consumir o chá de mais de 250 gramas de folhas secas por ano já foi o suficiente para aumentar a proteção. Isto daria de 2 a 3 xícaras de chá por dia. Nada exorbitante.
Efeitos colaterais e contra-indicações
Mas nem tudo são flores, afinal de contas o chá contém uma boa quantidade de cafeína, que pode ser um problema para hipertensos, gestantes e lactantes, já que a cafeína passa para o leite materno e pode ser prejudicial para o desenvolvimento do feto ou do bebê.
O consumo exagerado pode causar sintomas como taquicardia, náusea, dor de cabeça e problemas gastrointestinais.
Mas segundo profissionais de saúde, não ultrapassando 4 xícaras por dia não há problema. Mesmo porque uma xícara de café expresso deve conter bem mais cafeína q 4 xícaras de chá. E um pouco de cafeína também faz bem, tanto para evitar câncer quanto até mesmo para prevenir o Alzheimer.
Diferenças entre os chás verde, branco e preto
Todos vêm da mesma planta, o que muda é a forma de processamento das folhas após a colheita.
O chá verde tem as folhas aquecidas e secas, resultando na inativação de alguns componentes oxidativos e outras enzimas. Este processo permite a preservação da atividade dos polifenóis.
O chá preto tem as folhas maceradas e passam por um processo de fermentação, gerando substâncias como as teoflavinas que dão a cor vermelha ou alaranjada e o sabor característico do chá preto.
O chá branco é elaborado a partir do broto da Camellia sinensis e não passa por esse processo de aquecimento, assegurando uma concentração maior dos princípios ativos.
O chá Oolong também deriva da mesma planta, mas seus benefícios são menos evidentes. É feito apenas da parte tenra das folhas e passa por um processo rápido de fermentação. Este é o que mantém maiores concentrações das benéficas catequinas
Como preparar o chá
A receita para o chá não foi aprimorada em laboratório, mas é a receita tradicional que os asiáticos em geral usam e provavelmente a que foi usada pelas pessoas entrevistadas nos estudos que mostraram resultados.
- Esquente a água até que quase ferva e sem as folhas (um chá é uma infusão, não um cozimento de folhas)
- Coloque 2,5 gramas de folhas em 250 mL de água quente (uma colher de sopa rasa por xícara)
- Deixe tampado por 5 min.
Cada 2,5g em 250 mL de água contém de 620 a 880 mg de substâncias dissolvidas, sendo 1/3 de catequinas e 3 a 6% de cafeína
Como já foi dito, o tipo de chá e variações na preparação das folhas podem variar as características do chá.
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Yang, C., Wang, X., Lu, G., & Picinich, S. (2009). Cancer prevention by tea: animal studies, molecular mechanisms and human relevance Nature Reviews Cancer, 9 (6), 429-439 DOI: 10.1038/nrc2641