O que de mais importante aconteceu na ciência mundial, pela revista Nature

É isso ae, fim de ano, todo mundo fazendo listas. Lista de presentes, de compras, de promessas para o ano novo e de lembranças do que já foi.
E no mundo científico é hora de fazer listas também.
O que de mais importante aconteceu na ciência mundial pela revista Nature:
LHC: ascenção e queda
O maior colisor de partículas do mundo, e talvez a maior obra do engenho humano, foi finalmente inaugurado. E nove dias depois a máquina de 5 bilhões de dólares quebrou. Mas a gente entende que falhas elétricas acontecem num monstro emaranhado de fios como esse.
Passa então de sucesso de 2008 para promessa de 2009.
Genoma pessoal atinge o mainstream
Mais dois genomas humanos completos foram divulgados. Um africano e um asiático tiveram seu DNA sequenciado. São agora 4 humanos no hall das pessoas sequenciadas. Além disto, o Personal Genome Project, que prentende sequenciar o genoma completo de 1000 pessoas, entregou seu primeiros dados em outubro.
Mas espere, se você ligar agora, empresas como a 23andMe podem sequenciar parter de seu genoma já relacionadas a algumas doenças. Basta enviar uma amostra de saliva e pagar a bagatela de 399 doletas.
Pouso da Phoenix em Marte
Em maio ela desceu e começou a cavar. Em agosto finalmente achou gêlo e um composto chamado perclorato. Agora a sonda Phoenix Mars Lander descança em paz no solo onde nós é que somos os alienígenas.
Obama vence, e a ciência com ele.
Muitas promessas vêm com o mandato do novo presidente dos EUA. Fim das restrições ao uso de células-tronco embrionárias; maior investimento em redução de gases e novas tecnologias limpas. Parece que será um bom ano mesmo, já que 4 cientistas já foram nomeados por Obama para participar do governo. Entre eles um nobel.
Biodiversidade Online
A “Encyclopedia of Life” (enciclopédia da vida) está no ar. Pelo menos com 30 mil espécies já online. A idéia do projeto é catalogar e disponibilizar informações sobre todas as espécies conhecidas até hoje. Neste ritmo, 90-95% já estarão na net até 2017.
Construção do primeiro genoma totalmente sintético.
Criou-se o primeiro genoma sintético, juntando 500 mil bases de DNA. Ficamos a poucos passos agora de construir o primeiro organismo artificial.
Caso Antraz foi encerrado trágicamente
O suicídio do principal suspeito do caso das cartas contendo a bactéria antrax fechou o caso. Bruce Irvins tinha acesso às bactérias justamente por trabalhar com elas em sua pesquisa. O FBI deu como solucionado, mas a Academia Nacional de Ciências americana quer ainda uma segunda opinião de uma junta independente.
Urso polar na lista de perigo de extinção.
O urso polar entrou na lista negra das espécies em perigo de extinção. Isso foi importante porque, além dele ser o xodó da criançada, foi o primeiro animal que tem como causa de possível extinção o aquecimento global.
Corrida espacial asiática.
A India chegou a lua com sua sonda Chandrayaan-1. A China entrou para o clube dos países que já fizeram caminhadas espaciais, junto apenas com EUA e Rússia. Até a Nigéria está mandando (não com tanto sucesso), sondas para o espaço, construidas em grande parte pela China.
É a “popularização” da corrida espacial para os países em desenvolvimento.
Toda atenção para o gêlo no Ártico
Não precisamos nem dizer que o aquecimento global foi uma das grandes pautas do ano. E um de seus termômetros é o gelo polar. No Ártico, a menor área da camada de gelo registrada em 2008 atingiu 4,52 milhões de quilômetros quadrados, número 9,4% maior que a de 2007 quando foi registrada a menor área de gelo desde o início das observações por satélites.
Olimpíadas de Pequim e a poluição do ar
“Olimpíada Verde” com aquela qualidade de ar péssima? Esta acabou sendo uma prioridade do governo chinês: reduzir a poluição do ar de sua capital. Não resolveu, mas baixou sim. No Índice de Poluição do Ar que vai até 500, Pequim estava abaixo de 100 em agosto. Como vai ficar depois dos jogos?
Crise financeira afeta a pesquisa

Institutos de financiamento importantes como o Wellcome Trust e Cold Spring Harbor Laboratory anunciaram sua primeira redução de bolsas em anos. Harvard e outras instituições não estão contratando, e empresas de biotecnologia se debatem para manter seus braços de pesquisa e desenvolvimento.

Células-tronco pluripotentes induzidas

Quando Yamanaka conseguiu induzir células adultas a se comportarem como células-tronco, um novo frisson surgiu nesta área de pesquisa. Agora, cientistas pelo mundo todo correm para desenvolver a técnica, transformando-a em tratamento a doenças e mais segura para uso em humanos.
– Vi na Nature

Fonte inesgotável de sangue a partir de células-tronco.

Notícia do New York Times: Cientistas usaram células-tronco embrionárias para produzir sangue – isto pode eventualmente levar à produção contínua de sangue O negativo, que é um tipo sanguineo difícil de achar e o mais versátil para uso pelos médicos.

O que o pesquisador Robert Lanza fez foi usar células-tronco de embriões e cultivá-los com um coquetel de drogas para forças as células a se transformarem em células produtoras de sangue. Se as células fonte forem A, as células sanguíneas serão A. Assim, querendo sangue O seria só usar como fonte células de embriões O.

E parece que a possibilidade de produção é grande, segundo Lanza.

O bom desta terapia é que a célula sanguínea não tem núcleo e só dura 4 messes em funcionamento em nosso corpo. Assim, os riscos para as pessoas que possam vir a receber estas células é menor.

É possível fazer este tipo de transformação celular usando a técnica nova que desdiferencia as células adultas. O que acabaria com o uso das polêmicas células embrionárias.

Como sempre se faz com pesquisas muito recentes, segue aqui o aviso de “VAMOS COM CALMA”. Parece bom, mas temos que esperar pesquisas que testem estas células de sangue em animais e depois em humanos. E isto vai levar um tempo.

Brasil é notícia na Nature

Olha aí que beleza, Brasil é notícia numa das revistas da Nature. E não falou de biocombustível, hein. Saiu na Nature Medicine. Nada muito interessante na verdade. Só falando da aprovação das pesquisas com células-tronco embrionárias, mas acho que isto mostra um certo interesse internacional pelo tema, principalmente quando está sendo tratado dentro de um país em desenvolvimento.
A votação apertada de 6 contra 5 pode pegar um pouco mal, mostrando um país dividido nestes assuntos biotecnológicos e éticos. Mas no artigo é citada uma pesquisa do Ibope dizendo que 75% dos brasileiros aprova totalmente as pesquisas com células-tronco. A pergunta é, esses brasileiros sabiam o que é célula-tronco embrionária?
Estas células seriam obtidas desta maneira retratada ao lado?

Células-tronco: o “caminho do meio” do ministro Direito.


Confesso que ao ver o pronunciamento do ministro Direito, uma ponta de esperança surgiu em mim. Afinal ele citou muita coisa sobre retirar células de embriões sem os inutilizar, ou usar embriões que páram de se dividir, caracterizando talvez o tão incerto termo “embriões inviáveis”, que consta na lei. Disse que já é feita extração de células de embriões para diagnóstico genético, onde se retira uma célula do embrião para detectar alguma doença hereditária grave. Mas esta técnica não garante a viabilidade do embrião. O risco envolvido é alto.
A outra alternativa seria usar embriões que pararam de se dividir, poderia ser uma boa opção, pois parece que há um bom número de células vivas nestes embriões. Mas em que condições estariam estes embriões? Se pararam é porque algo está errado com eles. Assim, seriam necessários muito mais embriões para se conseguir estudar o que se pretende. E no fim não teríamos certeza se aquelas células usadas se comportam como células-tronco normais. Muito esforço para nada.
Apesar de não ter falado nada que deixasse explícita a sua formação católica, Direito acabou mostrando um bom lado budista, ao tentar achar o “caminho do meio”, tão trabalhado pelo budismo. O que, dependendo da interpretação, pode ir de encontro com a fé católica, já que o próprio Jesus Cristo disse: “Sede frios ou quentes, os mornos serão vomitados”.
De qualquer forma parece não haver caminho do meio neste assunto. A lei foi aprovada. Aos trancos e barrancos mas foi. Estejamos atentos para que os medos levantados pela polêmica, como tráfico de embriões, ou descaso com material embrionário, não aconteçam mesmo, como prometem os cientistas.

Células-tronco embrionárias: mais do mesmo, mas com um pouquinho de Isabella.

Aqui a notícia:

Cientistas e juristas questionam pesquisas com células-tronco
Grupo divulgou um manifesto contra pesquisas com células-tronco embrionárias.
Tema está em discussão no STF; julgamento foi interrompido em março.

Não vi a declaração, mas os dois pontos ressaltados na reportagem são argumentos já exaustivamente debatidos: a vida começando na concepção (só que a questão não é com a vida, a questão é quando começa o “indivíduo”); e o direito dos pais sobre a vida dos embriões. Aqui o argumento ganha um novo fator apelativo, onde até a onipresente menina Isabella é citada como mau exemplo do poder de vida e morte que pais têm sobre os filhos. Grande argumento, que acaba caindo no anterior: e se um embrião não for considerado uma criança? Gente, vamos tentar não apelar, ok?

Resumindo, a notícia é esta: Nada de novo.

Veja o que já foi escrito sobre isto neste blog

Células-tronco embrionárias: o que acontece na Alemanha.

É sempre bom saber como essas questões são tratadas pelo mundo. Aqui um apanhado da situação das células embrionárias na Alemanha, pela agência de notícia Deutsche Welle

Bundestag (Câmara dos Deputados) autoriza cientistas alemães a trabalhar com linhas de células-tronco embrionárias mais novas e de melhor qualidade. Igreja Católica critica a decisão.

Alguns cientistas e políticos alemães consideram ultrapassada a lei que restringe o uso de células-tronco embrionárias na pesquisa científica, mas opositores de uma reforma da lei temem abuso de embriões humanos. (13.02.2008)

Em um gesto favorável aos pesquisadores alemães, o Conselho Nacional de Ética recomendou a flexibilização das restrições legais para que cientistas do país possam realizar pesquisas com células-tronco. (17.07.2007)

O que é feito da dignidade humana, na era da engenharia genética? É possível saber “demais”? A DW-WORLD conversou com Wolfgang van den Daele, do Conselho de Ética da Alemanha. (09.12.2005)

Deu na Nature: Testes clínicos com células-tronco embrionárias

do original “FDA to vet embryonic stem cells’ safety”, Nature

Testes pré-clínicos são as pesquisas que testam tratamentos em animais, e neste estágio as células-tronco embrionárias já mostram resultados muito promissores. Teste clínico é o que testa humanos, e neste estágio as pesquisas estão paradas no mundo todo por não ter havido ainda uma regulamentação satisfatória no quesito segurança do paciente. O FDA, órgão americano que controla o teste de tratamentos, é a referência para todo o mundo nestas questões, e ele está muito atento aos apelos das terapias com células-tronco.

Um encontro reuniu empresas, investidores e pesquisadores da área para discutir as preocupações do FDA quanto às células tronco. As maiores questões são quanto ao aparecimento de tumores e como detectar possíveis efeitos decorrentes da aplicação das células. Deste encontro não sairão aprovações para testes clínicos, ele apenas deixará mais clara as expectativas do FDA, importante para os investidores em biotecnologia saberem se será viável investir neste tipo de pesquisa.

Células-tronco: Críticas aos dois lados

Votação adiada, e não se sabe ao certo quem foi o vencedor parcial. Mas algumas análises dos argumentos podem ser feitas.

Gostaria de analisar dois argumentos bem sucintamente. Um a favor e outro contra o uso das células em questão.

A favor do uso – o advogado Luiz Roberto Barroso pede a liberação para que as pesquisas tragam esperança a quem tem urgência de tratamentos ainda inexistentes. Sinto informar, mas nem o mais otimista dos pesquisadores pode dar esperanças para quem já precisa de tratamento. Isto terá que esperar anos para se tornar realidade. Haverá muito o que se estudar e testar antes do tratamento ser disponibilizado, coisa que talvez esta geração não veja. Logo, urgência não é um bom argumento.

Contra o uso – argumento recorrente é o de que a célula inicial é um ser humano por ter todas as informações necessárias para a formação de um indivíduo. Caímos aqui na faceta mais controversa da biologia atual que é o determinismo. É como se todo indivíduo, seu físico e comportamento, dependessem exclusivamente da informação genética. A própria biologia do desenvolvimento é que traz os maiores exemplos de que o genoma é apenas parte de um processo muito mais complexo, onde o ambiente não age só ativando genes, mas determinando de forma mais independente e complexa as características do indivíduo.

Conforme o indivíduo se desenvolve, características surgem, ou emergem, de relações complexas. Ou seja, o indivíduo é produto de interações que se originam de outras interações anteriores. Se a questão for potencialidade, deveríamos nos revoltar pelo genocídio de espermatozóides na masturbação masculina (não estou exagerando, até isto já foi usado como argumento. Vide o blog do Marcelo Leite). É claro que isto é absurdo, mas a resposta da ciência para a pergunta “quando começa a vida” é apenas uma: 3,5 bilhões de anos atrás. Além disto qualquer resposta será de julgamento moral.

Para mais informações atualizadas, estou disponibilizando uma parte de meu netvibes especialmente para células-tronco, com vídeos, noticias e blogs.

Células-tronco: votação, bastidores e conspiração

Está chegando o grande dia da votação da lei de Biosegurança que vai autorizar ou não o uso de embriões para pesquisas. Claro que a mídia está atenta a isso. Aqui está uma reportagem do Bom Dia Brasil da Globo, que foi ao ar recentemente. Muitos cientistas já velhos conhecidos da mídia apareceram: Mayana Zatz e Luis Gowdak (por sinal esta parte foi gravada no laboratório em que trabalho no INCOR), por exemplo.
O que chama atenção é a presença de uma ilustre desconhecida para mim e meu colegas de laboratório: Dra. Lilian Piñero Eça. E chama mais atenção ainda por falar de maneira pejorativa sobre células-tronco embrionárias. Dizendo que se forem injetadas em pessoas para tratamento de doenças elas podem gerar rejeição e tumores.

Bem, isso é verdade, mas o fato é que ninguém pensa em simplesmente injetar células-tronco de um embrião numa pessoa como tratamento! O que se quer é estudar a biologia de células-tronco para, a partir deste conhecimento, se pensar em tratamentos.
Mas como uma cientista pode ter falado algo tão impreciso e tendencioso num momento de tomada de decisão tão delicado como este? Simples: ela não é uma cientista.

Existe uma ferramenta online muito interessante, se chama Plataforma Lattes, e é onde qualquer um pode achar o currículo de todos os pesquisadores brasileiros ou que trabalham aqui. Vejam o currículo da tal Lilian . Como ponderar se um pesquisador é bom ou não? A primeira coisa que se olha é o número de publicações em periódicos, das quais Lilian Piñero Eça não possui nenhuma!

Mas por que raios alguém entrevistaria uma pessoa sem formação apropriada? Dois motivos: 1-jornalistas não conhecem a plataforma Lattes, e 2- Lilian foi a pesquisadora responsável pela orientação da abertura da Ação Direta da Inconstitucionalidade da Lei da Biossegurança – ADIN, em maio de 2006 a pedido do procurador geral da República Dr. Claudio Fonteles. Ou seja, foi ela quem “orientou” cientificamente a proibição do uso de células-tronco embrionárias em 2006.

E como alguém sem peso científico algum pode ser orientadora científica de uma ação política tão importante? Veja esta matéria reveladora de Dário Ferreira em seu blog (as opiniões da referência não refletem inteiramete as minha opiniões). Conspiração? Estaria a Igreja trabalhando nos bastidores usando Lilian como testa-de-ferro? Afinal, é estranho alguém trabalhando com células-tronco receber tantas menções de religiosos,posar para foto na defesa de tese e até receber prêmios da CNBB (Congregação Nacional dos Bispos do Brasil), como vemos também em seu currículo.
Nada contra a Igreja tentar colocar seu posicionamento na questão e usar cientistas que apóiem sua visão, desde que este apoio seja às claras e eles sejam cientistas de verdade!

Seja lá como for o estrago, se houve, já está feito. Quarta-feira a lei será votada e será definitiva sua decisão.
Está aí a importância de se transpor o conhecimento científico para os não cientistas. Afinal muitos deles são jornalistas ou importantes tomadores de decisão, e eles têm uma influência direta na pesquisa como estamos vendo com o caso das células-tronco.