Faça infográficos perfeitos para área de biomed

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Mind the Graph

Aqui vai uma dica preciosa para quem quer fazer uma ciência mais bonita, mais descolada e mais design. E mais fácil e rápida de ser entendida também:

USE INFOGRÁFICOS!!!

Use nas apresentações, nos posteres em congressos, nas aulas, na tese e nos seus artigos científicos também. Economize o tempo das pessoas em entender e deixe o mundo mais bonito.

Se você é da área de biomédicas tenho uma dica melhor ainda: uma ferramenta online que tem todas as ilustrações e templates que você precisa. É a Mind the Graph. Uma startup 100% nacional com uma qualidade excelente, vários templates e milhares de ilustrações altamente personalizáveis. Troque cores, estilos e formatos das células, por exemplo.

O banco de imagens não pára de crescer, e aqui eu selecionei as que eu achei mais  interessantes.

Cientista em pose like a boss

like a boss science
Yeah, science!

Giardia, um clássico das aulas de biologia

Pesquise no google por PAREIDOLIA
Pesquise no google por PAREIDOLIA

CUIDADO! Isso é uma prensa!

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Ei! Isso tá gelado!

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Olha o passarinho… er… quer dizer…

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Faça uma história em quadrinho

Usar cocaína causa euforia e poderes mediúnicos

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=ukJyP5np9fg” title=”Tutorial%20on%20how%20to%20create%20infographics%20for%20Life%20Science%20and%20Health.”]

 

Disclaimer: Eu já comi churrasco na casa do sócio do Mind the Graph, ou seja, sou seu amigo. E também escrevo para o blog da empresa. Se agora você desconfiou de mim, entre lá e dê uma olhada para tirar a prova.

Achei um otimista da ciência brasileira: Stevens Rehen

Nessa crise é difícil ser otimista com a ciência brasileira. Mas eu achei um e ele não está no governo!
Para ele, a ciência no Brasil não é das melhores porque somos uma nação nova, mas vai melhorar.
Stevens Rehen é um pesquisador reconhecido, faz minicérebros e investe boa parte do seu tempo em divulgação científica.

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=ET8l_VKD5ZQ”]
Tudo sobre ele aqui: http://stevensrehen.blog.uol.com.br/
No twitter: @stevensrehen
No facebook: https://www.facebook.com/stevens.rehen

Citado no episódio:

https://www.youtube.com/user/nerdologia

https://www.youtube.com/user/minutosp…

Fraude científica: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/n…

Burocracia na pesquisa científica gerando empregos

Bureaucracy by ItsK
Bureaucracy by ItsK

A pesquisadora Lygia Pereira da Veiga desabafou bonito no facebook:

E querem saber? EU NÃO AGUENTO MAIS!!!! ANVISA, DEIXE EU FAZER MINHA PESQUISA!!!

Células-tronco congeladas em gelo seco, enviadas para uma colaboração com Harvard (eu disse HARVARD!!!) estão há 10 dias no aeroporto, paradas pela ANVISA, que só falta pedir um documento com o nome de solteira da mãe pra liberar o material. Pô, é muito difícil fazer um cadastro de pesquisadores e facilitar a entrada para eles?

É como ela disse: rola uma pressão absurda do governo e da sociedade para o Brasil melhorar a produção científica e inovação. Mas como fazer isso se quem está afim de fazer só toma porrada por falta de estrutura no país?

É isso mesmo Lygia, tem que rodar a baiana! Enquanto o projeto de lei do Romário para facilitar a importação de insumos pra pesquisa não sai, vamos ficar nesse limbo da ciência, fazer o quê?

Mas veja pelo lado positivo: uma das exigências da anvisa é essa:

“Obs: Orientamos ao preencher a declaração, evitar termos muito técnicos ou nomes de difícil entendimento para facilitar a compreensão.”

Opa, olha aí uma oportunidade para os pós-graduandos formados sem emprego: tradutor de termos técnicos científicos para burocratas aduaneiros!

Pois é, para fazer ciência no Brasil você tem que considerar que o copo está metade cheio.

O hamburguer não é de vaca, mas o molho sim!

Viu essas notícias de carne feita em laboratório?

No Estadão

O produto, que está sendo chamado de ‘Frankenburger’, é feito a partir de 3 mil pequenas tiras de carne cultivada a partir de células-tronco.

(…)O processo de fabricação de carne artificial começa com a retirada de  células estaminais do músculo de uma vaca. As células são incubadas em caldo nutriente e se multiplicam várias vezes, criando um tecido adesivo com a consistência de um ovo cozido.(…)

A notícia fala que agora a técnica vai ajudar a “reduzir a quantidade de áreas verdes, ração animal e combustível na produção de carne bovina.Cada quilo de carne exige 10 quilos de ração e óleo vegetal, mas a carne cultivada só precisa de dois”.

Olha, sei não hein. É que o caldo nutriente pra fazer as células crescerem (sim, células precisam comer também) é feito quase sempre de soro BOVINO, geralmente ou de fetos ou de bezerros. Isso é muito caro hoje em dia, e é comprado em empresas estrangeiras pra uso nos laboratórios. Antigamente os cientistas tinham que fazer o soro no próprio lab. Como? Cozinhando um monte de carne em panelões por um tempão até fazer um caldo de carne, que era fervido mais e engarrafado para usar nas células. Imagina o cheiro disso!

Viu só, pra fazer o hamburguer com células você ainda precisa de vaquinhas. Na verdade de suco de vaquinhas, que é o soro.

Algumas comidas de célula (o nome certo é meios de cultura), não usam soro bovino, mas são mais caros ainda! Eles são totalmente sintéticos e custam uma fortuna justamente porque dão muito trabalho e gastam muito mais energia pra fazer. Será que isso entrou nessa conta da sustentabilidade da carne in vitro ou o pesquisador achou um método novo de dar de comer para as células? Temos que averiguar.

Cultivar rins, corações e outras partes em laboratórios eu acho bacana, mas bifes pra proteger o ambiente parece balela. Melhor comer um hamburguer de soja.

Pesquisas mais importantes em câncer: as malignas células-tronco, o genoma e a imunologia.

Cancer novidades

Nesta semana a famosa revista Nature Medicine lançou um número com foco em câncer, e mostra o resultado de uma pesquisa que perguntou aos pesquisadores da área de câncer quais os trabalhos mais importantes dos últimos dois anos (2008-2010) [está em inglês mas tem conteúdo livre]. É importante saber o que esse pessoal acha importante porque essas pesquisas, mesmo que bem básicas ainda e na sua maioria longe de se tornarem tratamentos para uso da população, vão moldar o futuro do combate a essa doença.

Veja aqui os temas mais quentes na opinião dos pesquisadores.

  • Células-tronco de câncer – Já a algum tempo se sabe que apenas algumas células de um tumor têm a capacidade de se multiplicar. Isso é uma faca de dois gumes: ruim porque, mesmo que se mate muitas células e o tumor reduza de tamanho, se alguma ou mesmo uma só dessas células sobrarem elas podem formar o tumor novamente; mas também é bom porque reduz o nosso alvo, afinal só precisamos matar essas células-tronco do câncer.

A pergunta então é “quantas e como são estas células?”, e foi justamente um trabalho nessa área que recebeu mais citações na pesquisa entre os especialistas. Antes se achava que as células-tronco seriam apenas 0,1% das células de um tumor, mas Elsa Quintana e colaboradores descobriram que em tumores sólidos, no caso um melanoma, 25% das células têm capacidade de formar um tumor. Assim parece que o número é bem maior do que se pensava e varia em tipos de tumor e mesmo de um indivíduo para outro.

  • O genoma do câncer – A ideia não é nova: “já que o câncer acontece por causa do acúmulo de defeitos no DNA das células, vamos sequenciar e ver o que mudou”. O que acontece é que isso é muito caro e os resultados demoram a aparecer. Hoje em dia as técnicas de sequenciamento estão melhorando e vários alvos terapêuticos já foram encontrados, como genes e fatores de risco como o cigarro que aumentam as chances de gerar um tumor. Mesmo assim essa abordagem divide opiniões de especialistas.
  • Corrigindo os erros – Algumas tentativas de tratamento que chegaram a ser testadas em humanos mostraram resultados não esperados (BRAF e PARP). Até mesmo drogas que funcionaram em cultura de células e em animais, quando passam para humanos acabam tendo o efeito contrário do desejado. Estudar os porquês disto tem trazido informações interessantes, e não impedem que os testes em humanos continuem e se aperfeiçoem. Por isso é interessante até mesmo gerar resistência a células tumorais in vitro para entender como superá-la.
  • Imunologia e microambiente – Usar anticorpos específicos contra tumores é uma terapia já muito usada, mas o que ainda não se sabe muito é como o ambiente do tumor  e o sistema imune do doente realmente interagem com o tumor e como suas células, afetam essas células tumorais. Trabalhos nesta área também foram muito citados na pesquisa, e esta área parece estar adquirindo a visibilidde que merece.

Infelizmente a grande maioria das pesquisas apontadas pelos estudiosos estão em estágio muito experimental e longe de aplicação. Imagino que isto acontece porque leva-se muito tempo para levar idéias novas para testes em humanos, fazendo com que quando algo chega ao humano já não é tão novidade e novas descobertas chamam mais a atenção dos pesquisadores. Possivel também que poucos pesquisadores clinicos (clínico = em humanos) tenham respondido a pesquisa e tenha prevalecido a opnião dos pesquisadores básicos. De qualquer forma é por aí que caminhará a ciência e a medicina do câncer.

 

Vi na Nature Medicine – A close look at cancer

Dieta da Proteína: rápida para emagrecer… e para te dar um ataque cardíaco.

As doenças cardiovasculares continuam sendo a causa dominante de mortalidade em todo o mundo, e complicações relacionadas à obesidade despertaram grande interesse em relação às dietas, incluindo dietas com baixas quantidades de carboidrato que, geralmente, são ricas em proteínas e gorduras.
Atkins diet.gifA Dieta de Atkins
Nesse cenário, o Dr. Robert Atkins, que faleceu em 2003, ainda é o rei das dietas de baixos carboidratos, num reinado que começou há quase 35 anos. Segundo Atkins, seguindo a dieta você remove toxinas das suas células, estabiliza o açúcar sangüíneo, livra-se da fadiga, irritabilidade, depressão, dores de cabeça e dores nas articulações.
Ele acreditava que se o consumo de carboidratos fosse reduzido drasticamente, o corpo seria forçado a usar o acúmulo de gordura extra para ter energia.
Eu sempre tive problemas em relação à essa dieta, mas nunca havia procurado maiores informação a respeito. Algumas coisas que eu já tinha como claras eram: apesar de parecer altamente eficiente, não há magia metabólica na dieta de Atkins, afinal, a perda de peso é inevitável quando se cortam categorias de alimentos importantes. Outro ponto importante é: como essa dieta não fornece o suficiente da fonte preferencial de energia pro corpo, os carboidratos, ele começa a decompor os próprios músculos para ter energia, ou seja, ele consome a SUA proteína.
Os efeitos colaterais dessa dieta podem incluir fadiga, náusea, dores de cabeça, constipação e mau hálito. Assim, muito do emagrecimento das primeiras semanas é o resultado de uma perda não saudável de tecido muscular e água, o que é péssimo em termos de saúde.
Além disso, prá quem quer perder peso rápido e ao mesmo tempo trocar massa (gordura por músculo) fazendo musculação, a dieta de Atkins é um tremendo tiro no pé, visto que você estará comprometendo massa magra (afinal, músculo é proteína) enquanto emagrece. Esse fator, e outras curiosidades relacionadas à dieta e treinamento físico serão abordados em alguns textos que publicarei num futuro próximo, então passemos adiante.
Não é porque é dieta, que é saudável!
ResearchBlogging.orgFiquei muito interessado quando vi um estudo tratando dos efeitos dessa dieta em modelos de arteroesclerose, o entupimento dos vasos sanguíneos que leva ao infarto. Os camundongos desse modelo são animais knockout, ou seja, não contém um gene específico. Nesse caso, o gene que codifica uma proteína chamada Apolipoproteína E, reconhecidamente importante no metabolismo de lipoproteínas. A ApoE também está intimamente relacionada a doenças cardiovasculares, e há novos indícios de relação com a doença de Alzheimer.
Os camundongos foram mantidos em dietas com baixo conteúdo de carboidratos e alto conteúdo de proteínas (LCHP), e comparados a animais mantidos ou na dieta padrão (SC), ou na dieta ocidental (WD, que contém quantidades semelhantes de gorduras e colesterol em relação à dieta LCHP). Os exames e dados foram coletados em 6 e 12 semanas.
Os camundongos da dieta LCHP desenvolveram mais focos de aterosclerose arterial, e tiveram menor habilidade de geração de novos vasos sanguíneos em resposta à isquemia (danos por falta de nutrientes/oxigênio, etc.) do tecido vascular. A imagem abaixo mostra os focos de ateroesclerose em vermelho, e fica fácil de perceber que a dieta LCHP foi realmente a mais prejucidial entre as três.
atkins1.JPG

Imagem mostrando os focos de ateroesclerose em vermelho


Ainda, a dieta LCHP reduziu de modo significativo o número de células endoteliais progenitoras (EPCs), que são marcadoras da capacidade de regeneração vascular, presentes na medula óssea e no sangue periféfico.
Em conjunto, esses dados demonstram que, em modelos animais, a dieta LCHP tem efeitos vasculares adversos que não são detectados por marcadores séricos e que macronutrientes não-lipídicos podem modular as células progenitoras endoteliais e a patofisiologia.
Eu já tinha restrições em relação a esse tipo de dieta, e agora, com esses dados, acho que é questão de tempo até os nutrólogos e nutricionistas abandonarem sua prescrição.
tofu-basil.jpgO que fazer? Há alternativa similar à Dieta de Atkins?
Existe uma alternativa à dieta de Atkins que chamam de Eco-Atkins, e consiste em usar proteína vegetal, que não teria os efeitos vistos na pesquisa que discuti no texto. O problema é: a fonte de proteína vegetal mais difundida é a soja, e, no caso dos homens, eu aconselharia bastante cuidado na quantidade que ingerem. O ideal é não abusar da soja para não correr o risco de desenvolver alguns “efeitos colaterais” indesejáveis.
Mas isso é assunto prá outro texto, fiquem curiosos até lá 😉
Para ler mais sobre a Dieta de Atkins, recomendo esse ótimo texto da HowStuffWorks, em português.
Para conhecer a Eco-Atkins, recomendo esse texto que saiu no UOL Ciência & Saúde.
Foo, S., Heller, E., Wykrzykowska, J., Sullivan, C., Manning-Tobin, J., Moore, K., Gerszten, R., & Rosenzweig, A. (2009). Vascular effects of a low-carbohydrate high-protein diet Proceedings of the National Academy of Sciences, 106 (36), 15418-15423 DOI: 10.1073/pnas.0907995106

Pneuzinhos revolucionando a Medicina?!

Como muito bem lembrado pelo Blog 80 Beats (Discover Magazine), o filme Clube da Luta foi bastante feliz em apontar que a gordura retirada na lipoaspiração era muito valiosa para virar lixo. Enquanto no filme os personagens (ou não) -> mini-spoiler 1 pegaram esse descarte biológico para fazer sabão (ou não) -> mini-spoiler 2, pesquisadores desenvolveram uma maneira de reprogramar essas células de gordura em células-tronco, num procedimento muito mais eficiente do que os métodos atuais de produção de células-tronco induzidas, chamadas iPS.

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Bob tinha “bitch tits” cheias de candidatas a iPS!

O que são as iPS?
Essas células são um tipo de célula-tronco de caráter pluripotente (ou seja, que têm capacidade de dar origem a praticamente qualquer tipo celular do nosso organismo). As iPS são produzidas de modo artificial a partir de células não-pluripotentes (geralmente adultas), pela indução da expressão de genes específicos.

Quando essa indução é bem-sucedida, a célula adulta “regride” a um estado de menor diferenciação (ou especialização) celular, o que dá à mesma características de células-tronco. Acredita-se que as iPS sejam idênticas em muitos aspectos às células-tronco pluripotentes naturais, como as células-tronco embrionárias, por exemplo. Quem quiser ler um pouco mais sobre essas células, pode clicar AQUI.

Por esse motivo, a revista Science escolheu a produção de iPS como o grande avanço científico do ano de 2008. Se realmente pudermos confiar no potencial e segurança das iPS, pode ser que toda a discussão que envolve a utilização das células-tronco embrionárias não seja mais necessária. Imaginem o que uma tecnologia dessas pode significar para os estudos de biologia molecular, e futuramente para a medicina…

Pneuzinhos são ruins? Prá nossa saúde sim, para conseguirmos células-tronco induzidas, não!
ResearchBlogging.orgA obtenção de células-tronco por reprogramação de células adultas mais famosa consiste na transformação de células da pele em iPS. Apesar de o procedimento ter sido de extrema importância por inaugurar essa nova técnica, continua bastante ineficiente, demorando aproximadamente 1 mês para que, de cada 10000 células induzidas, uma realmente se transforme em uma iPS. Por isso, muitos grupos de pesquisa encontram-se na busca por tecidos que possam ser transformados em iPS de modo mais rápido e fácil.

O trabalho utilizando células de gordura para a produção de células-tronco induzidas foi publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (em Inglês, o artigo está aberto para download). Os cientistas prepararam as células do tecido adiposo (gordura) provenientes de material de lipoaspiração doado por pacientes do Dr. Michael Longaker, cirurgião plástico da Universidade de Stanford, sendo que cada paciente doou um volume entre 1 e 3 litros de gordura.

As células do tecido adiposo foram preparadas e reprogramadas em apenas duas semanas, sendo que somente o processo de reprogramação de células da pele demora 4 semanas. Ainda, o procedimento utilizando as células do tecido adiposo demonstrou uma eficiência 20 vezes superior à conversão das células da pele!

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Crescimento das células transformadas em iPS (marcadas em verde)


Em entrevista à Nature News, Ron Evans, fisiologista molecular do Salk Institute em La Jolla, California, disse que as células do tecido adiposo são “até o momento o tipo celular com maior eficiência e eficácia descrito para a geração de iPS”.

Outro aspecto bastante importante do estudo publicado na PNAS é que os pesquisadores usaram um protocolo de preparo das células diferente do padrão, em que não foi utilizada a chamada “feeder layer”, que consiste em uma camada de células de camundongos responsável por fornecer algumas moléculas que a pouca quantidade de células extraídas dos tecidos para indução não é capaz de fabricar.

O fato de se conseguir iPS num ambiente livre dessas células “mantenedoras” é de grande valia, pois as “feeder layer” impossibilitam qualquer chance de se utilizar outras iPS em tratamentos clínicos, devido ao perigo de se obter uma contaminação com produtos das células de camundongos.

Engraçado nós vermos um estudo assim nos tempos de hoje. Ao mesmo tempo em que existe uma grande “cultura ao corpo” que extrapola os limites da saúde e promove a campanha de que “toda a gordura é ruim”, vemos um artigo publicado numa das revistas científicas mais importantes da atualidade mostrando justamente o valor que o material que muitos lutam todos os dias para se livrar (as temidas gordurinhas) pode ser um dos grandes materiais para as pesquisas de ponta em diversas doenças e em seus respectivos tratamentos.

Claro que não estou discutindo as recomendações de saúde em relação ao excesso de gordura na constituição corporal, ou ainda à importância de termos hábitos saudáveis,
mas é impossível não ver um paradoxo um pouco cômico. De repente vemos um grande aliado surgindo de um dos maiores problemas em termos de saúde no mundo contemporâneo.

Sun, N., Panetta, N., Gupta, D., Wilson, K., Lee, A., Jia, F., Hu, S., Cherry, A., Robbins, R., Longaker, M., & Wu, J. (2009). Feeder-free derivation of induced pluripotent stem cells from adult human adipose stem cells Proceedings of the National Academy of Sciences DOI: 10.1073/pnas.0908450106

Artigos-fantasma na Alemanha e mortos vivos na Coréia

caça fantasmas.jpg
Deu na Nature: Virgem Maria, o bixo tá pegando este mês! Mais um caso de malandragem científica.
Dessa vez na Alemanha, em um dos maiores centros de pesquisa do país, o Centro de Pesquisa Colaborativa (SFB).
Desesseis de seus membros foram acusados de citar no relatório anual artigos publicados que não existem. Os pesquisadores se desculparam por enviar informações falsas.
Mas desculpas não pagam os 16,6 milhões de euros investidos desde 2000 para o projeto de estudo de florestas na Indinésia.
Não que a mentira invalide toda a pesquisa ou o investimento feito, mas nenhuma mentira vem sem motivo. E o motivo seria excesso de cobrança ou falta de resultados mesmo? Ainda não se sabe.
Enquanto isso na Coréia…
E depois do escândalo do pesquisador sulcoreano Woo Suk Hwang, que maquiou dados de sua pesquisa com clonagem de célula-tronco humanas, só agora que o governo da Coréia do Sul autorizou outra pesquisa nesta área de clonagem. Desde o escândalo em janeiro de 2006 que ninguém lá era autorizado a fazer este tipo de pesquisa.
Agora as células tronco renascem da sepultura coreana.
Tempo muito valioso foi perdido, afinal a área de terapia celular é a área mais competitiva da biologia atual, e a que está se expandindo mais rapidamente. Dois anos podem fazer muita diferença nesta corrida científica.

A fraqueza da ciência

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Cena do seriado CSI: investigação dos resultados científicos.

A má fé existe também no mundo científico. Nada de novo nesta afirmação, afinal todos sabemos que as pessoas têm o toque de rei Midas às avessas: sempre estragando no que elas põem a mão.

“Quase nove por cento dos 2.012 cientistas de 605 instituições
pesquisadas pelo Escritório de Integridade Científica (ORI, na sigla em
inglês), uma agência de monitoramento de pesquisas científicas nos EUA,
disseram ter testemunhado algum tipo de fraude ou conduta inadequada
nos últimos três anos. A agência estima que todo ano ocorram três
incidentes de fraude para cada 100 pesquisadores.”  – Saswato R. Das

Sim, a ciência pode errar. Mas fique claro que ela erra na sua prática, não na sua teoria. Afinal, sendo a ciência apenas um conjunto de métodos que busca sempre o que for estatisticamente relevante, não tem muito como estar errada nesta teoria.

Mas pra quem não sabe como isto funciona na prática da ciência vou dar um exemplo recente. Semanas atrás os autores de um artigo publicado na Nature em 2000 pediram retratação do artigo. Traduzindo: “Sabe aquele trabalho que a gente fez em 2000? Esquece. Finge que não aconteceu”.

A Fraude

O trabalho liderado pelo sulcoreano Hyun Chul Lee consistia em um tratamento para a diabetes tipo 1, doença em que o sistema imune do corpo acaba destruindo as células produtoras de insulina. O tratamento seria feito pela introdução de um gene da insulina, usando um vírus (terapia gênica), em algumas células que passariam a produzir a insulina. Isto tudo em ratos e camundongos, mas com grandes esperanças de funcionar em humanos.

Muito interessante, com resultados claros de melhora, mas ninguém mais conseguiu repetir o resultado. Nem mesmo os próprios autores, que pressionados, pediram a retratação do artigo. Praticamente um atestado de fraude.

A faculdade sulcoreana Yonsei, responsável pelo laboratório, abriu investigação e acabou pedindo a retratação, já que constatou duplicação de figuras e não encontrou o gene usado no trabalho. Foram analisados cadernos de anotações e teses relacionadas ao trabalho. E é aqui que aparece a maior fraqueza da pesquisa científica: maquiagem de dados.

Afinal, se toda pesquisa é inédita e ninguém sabe o resultado que terá, se um pesquisador traquinas inventar um resultado, editar uma figura, mudar uma tabela, como saberemos que se trata de farsa?

Mais casos de fraude:

detetive cientifico.JPG

O mais famoso foi o da fusão a frio: Em 1989 dois físicos químicos anunciam o sonho da humanidade, a fusão a frio, que seria um modo de fazer energia quase ilimitada e limpa. Provou-se manipulação de dados entre outras imposturas científicas.

Células-tronco humanas clonadas: o caso do sulcoreano Woo Suk Hwang ficou famoso a alguns anos por estar na moda. Alegou ter clonado células-tronco humanas, coisa que se tentava fazer a algum tempo já. Provou-se que além de maquiar dados ele ainda usou óvulos humanos doados por membros de seu grupo de pesquisa. Isso incorre em problemas éticos, pois não há como saber se a orientada do professor não foi forçada a doar os óvulos.

Onde surge a verdade

Mas aqui, na fraqueza, surge também a força da ciência. Porque se um resultado aparece isolado e não pode ser reproduzido, este é o fim da linha para ele. Pode até render uma publicação na Nature, mas nunca vai se tornar um tratamento, uma tecnologia, ou algo a ser utilizado e lembrado realmente.

Existe este auto-controle científico, o que não justifica o aparecimento de fraudes. Afinal grande parte das pesquisas é feita com dinheiro público. No caso das fraudes das células-tronco e da fusão a frio, milhões foram investidos. Claro que uma minoria das pesquisas, mesmo as bem feitas, realmente dá um resultado positivo e relevante, afinal é como dizem, em pesquisa 90% do tempo é para 10% dos resultados. Agora, perder dinheiro com pesquisas falsas e enviesadas para a glória de um país ou pesquisador é algo inaceitável.


Como controlar?

Alguns controles são feitos. Algumas publicações, como Science e principalmente o The Journal of Cell Biology passam as imagens que recebem dos autores para publicação por uma análise, como exemplificada nesta imagem abaixo do trabalho de Hwang.

celula tronco farsa.gif

Legenda da imagem: Acima está a imagem original enviada e publicada, que representaria diferentes culturas de células. Abaixo um pequeno ajuste no photoshop revela qua as duas imagens do meio são iguais e foram repetidas.

A Nature usa o método de amostragem, escolhendo um trabalho por edição para o pente fino. Os críticos deste método preferem chamá-lo de roleta russa.

A mesma Science ficou traumatizada com o caso Huang e após deliberações adotou uma rotina de dar atenção maior a trabalhos “arriscados”. Seria uma classificação pelo nível de impacto popular de cada trabalho, presença de resultados contra-intuitivos ou inesperados, ou que tocam questões políticas controversas. Estes seriam os que passariam por um escrutínio maior.

Ideal seria devassar ao máximo todos os trabalhos, mas parece ser algo impraticável.

Quanto mais travas de segurança houver, desde que não atravanquem o pesquisador com burocracia, melhor investido será o nosso dinheiro.

Quanto à construção do conhecimento científico podemos ficar tranqüilos, os charlatões sempre terão seus castelos de carta derrubados pelos tijolos dos fatos, cedo ou tarde.

Células reprogramadas: a promessa nascida em 2008

Saiu na revista Science a eleição do “breakthrough of the Year”, ou seja, a coisa que estourou a boca do balão no ano que passou.

E as células pluripotentes induzidas foram as escolhidas.

A técnica é simples: Pega-se uma célula adulta (da pele por exemplo), ativa-se 3 ou 4 genes nela e esta célula se comportará com uma células embrionária. Podendo dar origem a outros tipos celulares como células cardíacas e neurônios.

No futuro elas poderão tudo e muito mais do que se planejava fazer com as células-tronco embrionárias.

Aqui um videozinho da Science falando da história toda e um texto comentando. Aviso: está em inglês, e na página da Science, por isso não sei se você terá acesso. Caso não consiga, eu tentei.