Quer estudar neuro? Pergunte como

brain_by_podajmidlon.jpgVeja, o título deste post é uma pergunta, por isso você não encontra-rá a resposta definitiva aqui.
Segue email que mandei para meu amigos “neuróticos”, anunciando minha intenção de começar seriamente a estudar neuro. Este é um antigo sonho e agora acho que está na hora de começar.
Mas começar por onde? A área é gigante. Bom, este era outro motivo para mandar o email. Veja abaixo e opine.

Este email é um pedido de ajuda. Por isso fique a vontade para não responder caso não tenha tempo. Mas qualquer dica será de grande valia.
É chegada a hora de me aventurar muito seriamente no estudo das neurociências (meu antigo sonho).
Ainda não vou trabalhar com isto, quero apenas começar a estudar a área.
Por isso gostaria de pedir uma ajuda na sistematização deste embasamento.
Por onde começar é a grande questão. Separar as áreas já não é fácil. O que temos?
Neuroanatomia
Neurofisiologia
Bio mol aplicada na área
Neuropsicologia
Comportamento animal
…?
Tendo as áreas, por onde começar?
Tenho muito interesse em tomada de decisão e também na modulação molecular do comportamento. Como proceder para embasar melhor estes dois objetivos ao final? Alguma dessas áreas pode ser ignorada?
Livros-texto do tipo compêndio para me guiar: vale a pena ou melhor buscar livros mais específiocs e aplicados?
P. Ex.: Cem Bilhões de Neurônios, do Lent, é bom? Não é muito basicão? Há outros melhores?
O Kandel é o melhor mesmo?
Leituras adicionais (para reforçar cada área específica):
Dentro de cada área há livros interessantes, como por exemplo “Por que Zebras não Tem Úlcera”, do Sapolsky, “Erro de Descartes”, “Tabula Rasa”, do Steven Pinker, os do Oliver Sacks… E quando estiver estudando cada área devo ler quais livros?
Bom, era isso. Desculpe o brainstorm de perguntas (literalmente “brain-” ), mas a sua ajuda será muito importante para esta minha nova e determinante fase de aprendizagem.
Muito obrigado

The_Brain_by_soliton.jpgClaro que isto também foi um tipo de estudo ou sondagem, coisas que a minha cabeça de cientista não deixa de fazer, para saber quem responderia, o que responderiam, que livros indicariam, e lincar isto com a personalidade e área de estudo de cada um que respondesse.
Tenho muita sorte de ter amigos inteligentes, informados, solícitos, enfim, fantásticos. Muitas foram as respostas e ajudaram muito.
Tudo que eu quero é otimizar o meu tempo para o estudo, que será autodidático, por isso a preocupação de como organizar tudo na ordem que pareça mais lógica PARA MIM. Mas cada um entra com a sua dica pessoal, claro.
Os amigos que trabalham com comportamento de macacos mandaram material de etologia e neuro em primatas, a psiquiatra indicou as áreas médicas ou clínicas, psicólogo indicando psicologia cognitiva e estatística, e por aí vai. Sempre se puxa a brasa para a própria sardinha.
E ainda bem, afinal isso significa que o pessoal estuda o que gosta e se anima em chamar os outros para a própria área (ou estão usando a tática da piscina gelada: quem tá dentro diz que está uma delícia, só pra fazer quem tá fora pular e se ferrar).
Mas apesar da diversidade algumas coisas apareceram bastante:
Cada um tem um jeito de estudar, e eu preferi começar do micro pro macro, da molecular e fisiologia e ir subindo para a cognição e comportamento, mas o caminho inverso é uma opção muito válida.
O livro “Princípios de Neurociência”, do Kandel parece ser a bíblia mesmo. Mais fisiológico, mas a base é essa mesmo. Partindo daí a coisa vai variar dependendo do interesse pessoal. Para estudar mais como pensamos, aprendemos e nos comportamos, o “Neurosciência Cognitiva” do Gazzaniga parece interessante. Por isso neste momento decidi por começar por eles (eu vou ler as versões em inglês por serem mais atuais eeu ter conseguido os arquivos pdf, mas os links eu achei melhor pôr os em portugês). E não vai ser fácil, porque são dois gigantes, pelo conteúdo e pelo tamanho.
Por isso a partir de agora o blog pode passar por um processo de NEURIZAÇÃO dos temas, além de uma diminuição no ritmo de postagem. Fazer o que, eu não sou como muitos gênios e bots que consegue fazer tudo ao mesmo tempo.

Pombas de mochila

pomba mochila gps.JPGVejam se não é a coisa mais fôfa! Ou pelo menos o mais próximo de fôfo que um bicho nojento como uma pomba pode ser.
Uma pomba de mochila e fazendo pose!

Mas pra que raios pesquisadores puseram mochilas em pombas? É que as mochilas levam um aparelinho de GPS, e assim eles podem rastrear a dinâmica das pombas enquanto elas voam em bandos.

Isso tudo pra responder perguntas intrigantes (mesmo que pra gente pareçam inúteis): porquê um bando de pombos muda de direção de repente? E porquê ele de repente pára e pousa ao mesmo tempo no mesmo lugar? Ou mesmo sem motivo aparente ele levanta vôo?

Esse estudo mostrou que existe uma hierarquia, e os integrantes do bando seguem o mestre. Mas essa dinâmica é complexa, com trocas de liderança durante o vôo e etc.

Mostrou também que os pombos que seguem não fazem isso por reflexo, mas ponderam e escollhem seguir o lider do momento. Isso porque a resposta na mudança de direção não é tão rápida como se fosse por reflexo, parece que rola uma pensadinha antes de mudar.

Outra coisa que essa sim me intrigou: Os animais menos graduados no grupo ficam sempre pra trás e a direita do líder, e parece que isto tem a ver com o cérebro dos pombos que, parecido com o nosso, tem o lado direito responsável pelas relações sociais. Como o lado direito do cérebro “vê” pelo olho esquerdo (também trocado como o nosso), os pombos menos ranqueados preferem ver os chefes como olho que está mais atento a sinais sociais. Que loucura!

Vi no Science Now

ResearchBlogging.org

Nagy M, Akos Z, Biro D, & Vicsek T (2010). Hierarchical group dynamics in pigeon flocks. Nature, 464 (7290), 890-3 PMID: 20376149

Mal-humorados são mais inteligentes

al bundy.jpgO ícone do mal-humor Al Bundy dizendo “Arrumem um cérebro, iNdiotas”

Olha, não tô com saco pra escrever. Tudo dá errado, estou cercado de idiotas e o mundo é uma droga!

Escrevo para aliviar a tensão, e não para ensinar esta turba ignóbil que me lê.
Só informo que descobriram que o mau-humor deixa as pessoas mais inteligentes, melhorando a capacidade de julgar os outros (entre mais ou menos idiotas) , e também aumentando a memória, o que os tornaria mais prudentes (nunca confie nos idiotas).

Por outro lado, as florzinhas felizes seriam mais criativas. RÁ, que lindinhos (idiotas).

“Nossa pesquisa sugere que a tristeza melhora as estratégias para processar a informação em situações difíceis”, é o que diz Joseph Forgas, da Universidade de Nova Gales do Sul, em Sydney.
 
Forgas ressaltou que as pessoas com um estado de ânimo mais decaído possuem maior capacidade de argumentar suas opiniões por escrito, pelo que concluiu que “não é bom estar sempre de bom humor”.

Ah e o que esse cara sabe? Primeiro que esta última frase eu não entendi: “pelo que concluiu que não é bom estar sempre de bom humor”. Acabou de falar que é bom pra tudo e conclui que não é bom? Má escrita essa frase hein.

Segundo que a notícia eu vi na Folha e na Veja, que compraram da EFE + Reuters, citando um programa de rádio da BBC, citando a revista Australasian Science que não é uma revista científica, como foi dito, mas sim uma revista SOBRE ciência, o que é bem diferente.

Ou seja, mais um telefone sem-fio jornalístico, o que me deixa muito fulo da vida. -Aliás, parabéns para os jornalistas neste seu dia. Fica aqui esta homenagem.

E para o azar das frutinhas felizes que se acham mais criativas que as pessoas que carregam suas nuvens negras sobre a cabeça, saibam que se os mau-humorados forem loucos eles também podem ser mais criativos:

Isto porque uma proteína ligada ao desenvolvimento do cérebro, quando tem uma alteração, aumenta o risco de esquizofrenia. Mas em algumas pessoas ela pode estar aumentando a criatividade! (veja aqui)

Prefiro ser um mal-humorado louco, então.

Olhos: as “janelas da alma” ou uma das portas de entrada da nossa memória?

ResearchBlogging.org
Os movimentos dos olhos podem revelar algumas memórias de uma pessoa, mesmo que ela não consiga! O estudo, publicado na revista Neuron, demostra que a atividade do hipocampo pode predizer movimentos de nossos olhos que revelam memória de certos eventos mesmo quando os participantes do estudo erram as perguntas dos testes!
Em um teste de memória, os movimentos dos olhos dos participantes apontaram para as respostas corretas, mesmo quando o voluntário errou a pergunta. Esses movimentos corresponderam à atividade do hipocampo, um importante centro de aprendizado e memória do nosso cérebro, e sugerem que esses movimentos podem revelar memórias inconscientes ativadas via hipocampo.
Para alguns neurocientistas, o hipocampo está envolvido somente nas memórias conscientes ou memórias declarativas, que são as memórias relacionadas a pessoas, fatos ou eventos específicos. Pessoas que tiveram seu hipocampo danificado não são capazes de formar ou recordar essas memórias declarativas, mas pacientes amnésicos podem aprender novas habilidades que requerem memórias de procedimento (inconscientes), como andar de bicicleta, por exemplo.
_44354991_dplan-getty416.jpgO novo estudo sugere que o hipocampo está envolvido em memórias de relações que uma pessoa não recobra conscientemente. Os voluntários da pesquisa foram submetidos à fMRI (a ressonância magnética funcional, que acostumamos a ver quando assistimos Dr. House), enquanto observavam imagens de rostos numa paisagem. Após apresentarem aproximadamente 50 pares de imagens de faces/paisagens, os pesquisadores mostraram aos voluntários a imagem de uma das paisagens apresentadas, seguido de 3 faces diferentes, e questionaram qual era o rosto correspondente à paisagem apresentada.
Quando a imagem da paisagem foi mostrada, houve aumento da atividade no hipocampo dos voluntários, sendo que entre 500 e 750 milisegundos depois disso os movimentos oculares se direcionaram a uma das três faces apresentadas. Quando o hipocampo ficou mais ativo, os olhos se direcionaram mais à face correta, assim como uma menor atividade do hipocampo resultou nos olhos se direcionando a uma das faces erradas.
Mesmo quando os participantes escolheram uma resposta incorreta, a análise da atividade do hipocampo previu corretamente se os olhos se fixariam na face correta. No entanto, a comunicação entre o hipocampo e o córtex pré-frontal – a região executora do cérebro – foi reduzida em comparação aos testes em que os voluntários fizeram a escolha correta. Esse resultado pode significar que o hipocampo e o córtex pré-frontal devem se comunicar de modo apropriado para que uma pessoa tenha sua memória funcionando corretamente.
EyeExperiment.JPG

Clique na imagem do experimento para aumentar o desenho!


Para os autores do estudo, esse achado é uma pista de que algo além do hipocampo é necessário para se fazer uma memória consciente. Mesmo que você não se lembre de ter aprendido determinada relação entre dois objetos, seu hipocampo e olhos podem ter alguns restos daquela informação, tempos depois.
HAN_094.jpgApesar de não se saber se essa análise revela memórias conscientes ou inconscientes, os movimentos oculares podem ser utilizados para se entender o quanto pacientes com esquizofrenia ou demência se lembram. Pessoas com tais desordens podem lembrar mais do que são capazes de comunicar às outras pessoas, segundo os próprios pesquisadores que publicaram esse estudo.
Outra coisa bastante interessante é uma possível aplicação desse tipo de análise para aprendermos mais a respeito da memória de animais, e também de crianças que ainda são muito novas para falar.
Ainda há uma expectativa de que a análise desses movimentos oculares seja utilizada para se determinar a precisão do depoimento de determinada testemunha, ou então revelar memórias de pessoas que não estão conscientes em relação fatos específicos, ou simplesmente preferem não adimitir que têm consciência sobre o fato.
Será que vem um novo tipo de polígrafo por aí?
Kumaran, D., & Wagner, A. (2009). It’s In My Eyes, but It Doesn’t Look that Way to Me Neuron, 63 (5), 561-563 DOI: 10.1016/j.neuron.2009.08.027
Imagens: Getty Images

O fim do mundo não será em 2012. Será em 2019

profecia maia fim do mundo.jpgNada de fim do mundo Maia em 2012, ou na virada do século novamente. Nada de Nostradamus ou São Malaquias. Nada de borra de café, tarot ou Oráculo de Delphi. Nada de pólos da Terra se invertendo ou meteoros e planetas assassinos como o Hercólobus. Isso é coisa do passado. O novo futuro é 2019. Aqui o mundo como conhecemos irá acabar.
Em uma revelação feita a mim cheguei a este ano cabalístico. Mas o profeta não sou eu, sou apenas um mensageiro. Os verdadeiros profetas são os gurus científicos de nosso tempo.
Eu apenas percebi os padrões e o significado de suas previsões. Tudo se encaixa perfeitamente. Todos eles prevêem que suas idéias terão aplicação prática para daqui o mesmo tempo: 10 anos!

  • O guru criador de vidas Craig Venter, o paladino solitário da biologia atual, do alto de suas empresas ele vislumbra o futuro da biologia sintética: criar vida e editá-la como bem entender. Com seu cajado, em dez anos fará brotar combustível refinado de algas em biorreatores e que capturam o carbono do ar. Pode ser o fim dos problemas energéticos. Um admirável mundo novo.
  • Levanta-te e andaMiguel Nicolelis, o Antônio Conselheiro de Natal, traz consigo o conhecimento de terras estrangeiras para desenvolver a interação mente-máquina, e assim, permitir que membros paralisados possuam próteses que entendam os comandos do cérebro para se movimentar. É um milagre.
  • De 2019 não passarásGordon Moore, o verdadeiro profeta. Previu, com boa precisão, toda revolução tecnológica gerada pela computação ao nos dar a Lei. A Lei de Moore diz “a cada ano, a capacidade de processamento do microprocessador – o chip – irá dobrar, e também os preços despencarão. Palavra de Moore”. Dito e feito. Mas o limite chegará em 2019. Moore fez nova previsão: que em dez anos atingir-se-á o limite atômico da miniaturização. Mas nem tudo está perdido, pois poderemos desenvolver maneiras mais otimizadas e criativas de usar os miniprocessadores do futuro.

Pode não ser o fim, e os maias têm que estar errados para passarmos de 2012 e chegarmos lá em 2019. Mas uma coisa é certa: cada vez que damos um passo o mundo sai do lugar, e um novo mundo é o fim do mundo velho.
Paraquedistas1.jpg* Este texto faz parte da Blogagem Coletiva Caça-paraquedista (conheça mais sobre essa iniciativa aqui). Se você entrou aqui pelo Google, seja bem-vindo e aproveite para conhecer um pouco mais sobre o blog e ciência!
Blogagem coletiva Fim do Mundo
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Assombração, demônio ou Ciência? A Paralisia do Sono: quando seus pesadelos se tornam “realidade”.

Você está dormindo em sua cama… de repente, acorda, mas, para sua surpresa, não consegue se mexer… “o que está acontecendo?” você pensa, enquanto olha para seu corpo, imóvel na escuridão do seu quarto.

Enquanto isso acontece, você nota algo diferente. Então percebe: não está sozinho.

Pior, uma presença com forma humana esmaga seu peito. E ela é má.

Você acordou no mundo dos sonhos, e não há nada que possa fazer a respeito.

John_Henry_Fuseli_-_The_Nightmare.JPG

The Nightmare, por John Henri Fuseli

A cena acima é assustadora e adaptei de um excelente artigo que acabei de ler na revista Wired. Não foi retirada de algum script de filme de terror, trata-se da descrição padrão de uma condição médica real: a Paralisia do Sono.

Vocês devem estar se perguntando porque eu, um biólogo molecular, resolvi escrever sobre um tema completamente fora de qualquer coisa que eu já tenha estudado, certo?

Simples, essa cena exata aconteceu comigo alguns anos atrás e esse fenômeno estranho acontece com uma porcentagem estimada de 50% da população pelo menos uma vez na vida. No meu caso acabei acordando uma das pessoas que dividia a casa comigo com meus gritos, depois que a paralisia passou (história real).

Não sabia o que tinha acontecido e não consegui dormir em seguida. Por MUITO tempo aquilo ficou na minha cabeça (o fato aconteceu na metade de 2004), mas resolvi deixar para lá até dar de cara com o artigo que mencionei e arrepiar ao ler a descrição que adaptei no começo desse post.

O que é?
A Paralisia do Sono é caracterizada por uma paralisia temporária do corpo imediatamente após o despertar ou, com menos freqüência, imediatamente antes de adormecer. Também é conhecida como Atonia REM por estar diretamente relacionada à paralisia que ocorre como uma parte natural do nosso sono REM, a fase do sono em que ocorrem nossos sonhos mais vívidos. Durante esta fase os olhos movem-se rapidamente (em Inglês, rapid eye movement) e a atividade cerebral é similar àquela que se passa nas horas em que se está acordado.

Como é sabido, nosso cérebro paralisa os músculos durante essa fase do sono para prevenir possíveis lesões pelo fato de algumas partes do corpo poderem se mover durante o sonho (principalmente ao sonharmos que estamos caindo ou quando damos uma porrada na parede). Quando acordamos subitamente o cérebro pode “não perceber” e o estado de paralisia não é desativado.

O resultado vocês já devem prever: a pessoa fica consciente mas incapaz de se mover. Para piorar o cenário de desespero esse estado pode ser acompanhado pelas chamadas alucinações hipnagógicas, que envolvem imagens e sons, características dessa condição.

Alguns cientistas acreditam que este fenômeno está por trás de muitos relatos de abduções alienígenas e encontros com fantasmas (tenho certeza que vai ter muita gente reclamando nos comentários).

Os sintomas (adaptado da Wikipedia)
Paralisia: ocorre pouco antes da pessoa adormecer ou imediatamente após despertar. A pessoa não consegue mover nenhuma parte do corpo, nem falar (no meu caso eu gritava, gritava e não saía som algum da minha boca), e tem apenas um controle mínimo sobre os olhos e a respiração.

Alucinações: Imagens e sons que aparecem durante a paralisia. A pessoa pode pensar que existe uma presença atrás dela ou ouvir sons estranhos. As alucinações parecem-se muito com sonhos, possivelmente fazendo a pessoa pensar que ainda está sonhando. Algumas pessoas relatam também sentirem um peso no peito, como se alguém ou algum objeto pesado estivesse pressionando-o.

Estes sintomas podem durar de alguns poucos segundos até vários minutos (comigo foram uns 2 minutos, mas pareceu uma eternidade) e podem ser considerados assustadores para algumas pessoas (não tenham dúvida disso, eu fiquei aterrorizado de verdade).

Pouco se sabe sobre a fisiologia da paralisia do sono. Já foi sugerido que ela esteja relacionada à inibição pós-sináptica de neurônios motores na ponte do tronco cerebral. Particularmente, níveis baixos de melatonina podem interromper a despolarização em atividade nos nervos, a qual previne o estímulo dos músculos.

Alguns estudos sugerem que existem vários fatores que aumentam a probabilidade da ocorrência de paralisia do sono e de alucinação. Eles incluem:

  • Dormir de barriga para cima;
  • Agenda de sono irregular; cochilos; privação de sono;
  • Stress elevado;
  • Mudanças súbitas no ambiente ou na vida de alguém;
  • Um sonho lúcido que imediatamente precede o episódio; a indução consciente da paralisia do sono também é uma técnica comum para entrar em um estado de sonho lúcido;
  • Sono induzido através de medicamentos, como anti-histamínicos
  • Uso recente de drogas alucinógenas (essa era fácil de imaginar que estaria na lista)

PS: se eu respondesse essa lista na época, só não me encaixaria nos dois últimos itens. E eu ainda ficava imaginando os motivos de eu ter passado por essa péssima experiência…

Referências Culturais

pisadeira.jpgExistem diversas manifestações culturais em muitos países diferentes que tratam do fenômeno da paralisia do sono, havendo até uma representação em nosso folclore, uma criatura chamada Pisadeira.
Na cultura Hmong, é descrita uma experiência chamada dab tsogou ou “demônio apertador”. Frequentemente, a vítima afirma enxergar uma figura pequena, não maior que uma criança, sentando em sua cabeça ou peito.
No Vietnã, chama-se ma de, que significa “segurado por um fantasma”, sendo que muitas pessoas acreditam que fantasmas entram no corpo das pessoas, causando a paralisia.
Na China, são as guǐ yā shēn ou guǐ yā chuáng (por favor, não me perguntem como pronuncia), o que pode ser traduzido literalmente como “corpo pressionado por um fantasma” ou “cama pressionada por um fantasma”.
Na cultura japonesa, a paralisia do sono é conhecida como kanashibari, que significa literalmente “atado ao metal”.
Na cultura popular húngara é chamada lidércnyomás (“lidérc pressionante”) e pode ser atribuída a um número de entidades sobrenaturais como aparições, bruxas ou fadas.

Quem tiver maior interesse nesse fenômeno, sugiro a leitura de um excelente artigo de revisão que saiu no periódico The Psychologist agora em Agosto.

Alguns de vocês podem estar se perguntando algo como “O que fazer se acontecer comigo?”, visto que quem escreve esse artigo já passou pela situação descrita, e talvez possa falar algo para ajudar.

Minha resposta? Tentem ficar calmos, e torçam para acabar logo. De verdade.


Alguém mais passou por essa experiência? Compartilhe nos comentários!

P#ta m’rda, vocês precisam ler essa p#rr@!!!

ResearchBlogging.orgÉ oficial: podem reclamar à vontade, eu NUNCA mais deixo de falar palavrão! E ph.od@-se quem achar ruim!!!

O hábito de falar palavrões está enraizado no comportamento humano. A prática desse tipo de linguagem é algo tão profundo em nossa consciência que descobriu-se que está associada ao sistema límbico, nossa região mais “animal” ou instintiva e responsável pelo controle das emoções.

Para informações gerais sobre xingamentos recomendo os ótimos artigos “A Ciência do Palavrão”, da Super Interessante e “How Swearing Works”, do HowStuffWorks (em Inglês).

calvin.jpgRecentemente foi constatado mais um aspecto bastante interessante sobre o “modo Dercy Gonçalves” de comunicação. Um estudo publicado na revista NeuroReport demonstrou que falar palavrões pode ajudar a diminuir a sensação de dor física (conteúdo para assinantes em Inglês). O teste foi realizado com 64 voluntários que precisaram colocar suas mãos em baldes de água cheios de gelo, enquanto falavam um palavrão escolhido por eles. Em seguida o teste foi repetido mas em vez de dizer palavrões deveriam escolher uma palavra normalmente usada para descrever uma mesa (p#rr@, também né?!). Enquanto falavam palavrões os voluntários suportaram a dor por 40 segundos a mais, em média. A sensação de dor também foi menor quando os voluntários encarnavam a Dercy.

Os pesquisadores também monitoraram o batimento cardíaco dos voluntários durante a experiência, que se mostrou mais acelerado quando eles falavam palavrões. Acredita-se que o aumento do ritmo de batimentos cardíacos pode indicar um aumento da agressividade, que, por sua vez, diminuiria a sensação de dor. Para os cientistas, no passado isso teria sido útil para que nossos ancestrais, em situação de risco, suportassem mais a dor para fugir ou lutar contra um possível agressor.

Bambu.pngO que está claro é que o uso de palavrões provoca uma resposta física, além do já conhecido “alívio” psicológico que um bom “vai prá p#ta que te pariu” proporciona. Isso pode explicar por que a prática de falar palavrões esteve presente no passado, está presente hoje, e com certeza estará presente no futuro.

Partindo para uma aplicação no campo corporativo, um estudo sobre estilos de liderança demonstrou que o uso de palavrões e outras expressões “tabus” elevou o “espírito de equipe” dos empregados analisados. O professor de gerenciamento Yeruda Beruch, responsável por este estudo, acredita que o uso desse tipo de linguagem serve ao propósito de criação e manutenção de solidariedade entre os membros de uma equipe, e também como um mecanismo para suportar cargas maiores de stress (que pode ser encarado como um tipo de dor também, dependendo do tamanho do problema que estiver rolando no escritório).

Claro, o pesquisador alerta para o equilíbrio no uso da linguagem “inadequada”, prá não se perder o controle da situação, e o ambiente de trabalho virar uma mesa de boteco.

Como sempre, a dica é a mesma: faz bem? Parece que faz, mas use com moderação, prá não jogar m#rd@ no ventilador, seus p#$&s!!!

Palavrao.jpg

Ah, o bambu? Enfia no teu…

ps: Se essa técnica de gerenciamento de stress no ambiente corporativo não funcionar, você pode sempre aliviar a vontade de matar o seu chefe AQUI!

Baruch, Y., & Jenkins, S. (2007). Swearing at work and permissive leadership culture: When anti-social becomes social and incivility is acceptable Leadership & Organization Development Journal, 28 (6), 492-507 DOI: 10.1108/01437730710780958

Stephens, R., Atkins, J., & Kingston, A. (2009). Swearing as a response to pain NeuroReport, 20 (12), 1056-1060 DOI: 10.1097/WNR.0b013e32832e64b1

Site exercita o cérebro

Há vários sites que contêm jogos que parecem aumentar seu desempenho cerebral. Mas o mais bem feito se chama Lumosity. Todo em flash e com jogos bem pertinentes.
Os jogos são divididos em categorias: resolução de problemas, velocidade, memória, atenção e flexibilidade.
Vários desses jogos são usados realmente em experimentos científicos. Alguns para medir tempo de resposta e outros foram realizados por chimpanzés muito mais satisfatoriamente que por nós humanos, mostrando que eles possuem uma memória visual superior a nossa. Este site Lumosity tem o mesmo jogo deste estudo e que aparece no vídeo abaixo.

Veja aqui o estudo do vídeo
Há ainda este outro site, Brain Metrix também interessante para treinamento do cérebro.
E aqui há uma compilação de dez outros sites-academias.
E mesmo que não exercite, são bem divertidos. Mas cuidado, são extremamente viciantes!
Então, ao trabalho!

Robô com neurônios

TheLivingRobot_HS.jpg

Neurônios mesmo! Celulinhas sobre silício. É o que o pesquisador Kevin Warwick está desenvolvendo.
As células de rato foram espalhadas em cima um arranjo de eletrodos, e após 20 minutos já estavam formando conexões. “Esta é uma resposta inata dos neurônios”, disse Warwick, “eles tentam se ligar e se comunicar”.

Cultivando as células mais uma semana, já foi possível fazê-las responder a estímulos elétricos. Aí é que puseram este “cérebro” num robozinho com duas rodinhas e sensores.
Esta conversa entre os neurônios e os sensores é que comandam o comportamento do robô, que pode desviar de obstáculos.

Ele começou batendo muito a cabeça, mas depois de algumas semanas as ligações dos neurônios se fortaleceram e o desempenho melhorou. Pode-se dizer que ele aprendeu.

Vi na SEED

O Robô e o Fantasma na Máquina

ghost.jpg
A notícia do robô da Honda que pode ser controlado pelo pensamento fez bastante barulho na mídia e nas mesas de boteco. Mas por quê?

Porque a maioria das pessoas ainda acredita, mesmo que inconscientemente, na separação entre mente e corpo, o chamado dualismo. Afinal, como a carne pode pensar? Um evento tão complexo e abstrato como o pensamento não pode ser simplesmente cerebral, celular, enfim, material.

O fantasma na máquina

Existe para os dualistas o que se chama fantasma na máquina (ghost in the shell, em inglês), sendo o corpo a máquina, e a mente um fantasma, algo imaterial que habita e controla o corpo.

Mas quanto mais nos aprofundamos no funcionamento cerebral, mais percebemos a ligação e a causação entre comportamento e corpo. Afastando assim o fantasma da máquina e tornando cada vez mais distante o dualismo. Afinal, se simples remédios ou danos ao cérebro podem alterar a personalidade das pessoas, este fantasma parece não mandar muita coisa.

Do que é feito o pensamento

Não sabemos exatamente como o pensamento é formado. Mas sabemos do que é feito: Padrão de ativação de neurônios. Sim existe um padrão. E ao monitorar este padrão podemos saber ou “ler” o que se passa na cabeça do indivíduo.

Exemplo: Mostrando para as pessoas desenhos básicos, como uma flor ou uma estrela, pode-se monitorar a atividade dos neurônios, e percebe-se que sempre que é mostrada a estrela, o mesmo grupo de neurônios se ativa. E mostrando a flor o padrão é outro. Depois de treinar um computador desta maneira, flor igual padrão X e estrela igual padrão Y, o computador pode descobrir para qual das duas um indivíduo está olhando simplesmente analisando a atividade dos neurônios. Esta pesquisa já foi feita, mas me perdoe por eu não ter achado agora para por o link aqui.

O princípio desta pesquisa é o mesmo para o robô da Honda e também para as pesquisas do professor Nicolelis, que fez um macaquinho mover um braço mecânico e até um robô andar com o pensamento.

Interessante notar que para a máquina-robô nosso pensamento é realmente o fantasma controlador, assim descobrimos que para os robôs o dualismo existe!

O fantasma de Matrix

Expulsando o fantasma da máquina nos deparamos com outras assombrações. Se conseguirmos ler totalmente a mente das pessoas, como fica nossa privacidade? E o fantasma de Matrix (que faz 10 anos em 2009, e que aliás foi muito inspirado num mangá chamado justamente Ghost in the Shell) está muito presente. Afinal, se pudermos mapear o pensamento, será que poderemos induzi-lo, criando realidades virtuais perfeitas e mesmo controle mental? Se isso acontecer, como distinguir realidade de realidade virtual?

Antes de mais nada, é importante dizer que este tipo de tecnologia não tem nem previsão para se realizar. Nicolelis acha que implantes robóticos controlados pela mente podem estar sendo testados em 10 anos. Mas esta é a parte fácil. Saber o que uma pessoa está pensando é um salto maior, e controlar isto maior ainda, claro.

Por isso não temos pressa para decidir sobre a questão ética deste tipo de pesquisa, mas um dia nós certamente nos depararemos com ela.

Mais no Chi vó, non pó e no Xis Xis