P#ta m’rda, vocês precisam ler essa p#rr@!!!

ResearchBlogging.orgÉ oficial: podem reclamar à vontade, eu NUNCA mais deixo de falar palavrão! E ph.od@-se quem achar ruim!!!

O hábito de falar palavrões está enraizado no comportamento humano. A prática desse tipo de linguagem é algo tão profundo em nossa consciência que descobriu-se que está associada ao sistema límbico, nossa região mais “animal” ou instintiva e responsável pelo controle das emoções.

Para informações gerais sobre xingamentos recomendo os ótimos artigos “A Ciência do Palavrão”, da Super Interessante e “How Swearing Works”, do HowStuffWorks (em Inglês).

calvin.jpgRecentemente foi constatado mais um aspecto bastante interessante sobre o “modo Dercy Gonçalves” de comunicação. Um estudo publicado na revista NeuroReport demonstrou que falar palavrões pode ajudar a diminuir a sensação de dor física (conteúdo para assinantes em Inglês). O teste foi realizado com 64 voluntários que precisaram colocar suas mãos em baldes de água cheios de gelo, enquanto falavam um palavrão escolhido por eles. Em seguida o teste foi repetido mas em vez de dizer palavrões deveriam escolher uma palavra normalmente usada para descrever uma mesa (p#rr@, também né?!). Enquanto falavam palavrões os voluntários suportaram a dor por 40 segundos a mais, em média. A sensação de dor também foi menor quando os voluntários encarnavam a Dercy.

Os pesquisadores também monitoraram o batimento cardíaco dos voluntários durante a experiência, que se mostrou mais acelerado quando eles falavam palavrões. Acredita-se que o aumento do ritmo de batimentos cardíacos pode indicar um aumento da agressividade, que, por sua vez, diminuiria a sensação de dor. Para os cientistas, no passado isso teria sido útil para que nossos ancestrais, em situação de risco, suportassem mais a dor para fugir ou lutar contra um possível agressor.

Bambu.pngO que está claro é que o uso de palavrões provoca uma resposta física, além do já conhecido “alívio” psicológico que um bom “vai prá p#ta que te pariu” proporciona. Isso pode explicar por que a prática de falar palavrões esteve presente no passado, está presente hoje, e com certeza estará presente no futuro.

Partindo para uma aplicação no campo corporativo, um estudo sobre estilos de liderança demonstrou que o uso de palavrões e outras expressões “tabus” elevou o “espírito de equipe” dos empregados analisados. O professor de gerenciamento Yeruda Beruch, responsável por este estudo, acredita que o uso desse tipo de linguagem serve ao propósito de criação e manutenção de solidariedade entre os membros de uma equipe, e também como um mecanismo para suportar cargas maiores de stress (que pode ser encarado como um tipo de dor também, dependendo do tamanho do problema que estiver rolando no escritório).

Claro, o pesquisador alerta para o equilíbrio no uso da linguagem “inadequada”, prá não se perder o controle da situação, e o ambiente de trabalho virar uma mesa de boteco.

Como sempre, a dica é a mesma: faz bem? Parece que faz, mas use com moderação, prá não jogar m#rd@ no ventilador, seus p#$&s!!!

Palavrao.jpg

Ah, o bambu? Enfia no teu…

ps: Se essa técnica de gerenciamento de stress no ambiente corporativo não funcionar, você pode sempre aliviar a vontade de matar o seu chefe AQUI!

Baruch, Y., & Jenkins, S. (2007). Swearing at work and permissive leadership culture: When anti-social becomes social and incivility is acceptable Leadership & Organization Development Journal, 28 (6), 492-507 DOI: 10.1108/01437730710780958

Stephens, R., Atkins, J., & Kingston, A. (2009). Swearing as a response to pain NeuroReport, 20 (12), 1056-1060 DOI: 10.1097/WNR.0b013e32832e64b1

Especial da Nature sobre os rumos do Jornalismo Científico

thegeneticcode.gifO portal da revista Nature organizou semana passada um suplemento especial sobre Jornalismo Científico devido à realização da 6a Conferência Mundial de Jornalistas de Ciência, que ocorreu entre 30 de Junho e 2 de Julho em Londres.
A Nature organiza esse suplemento especial também devido à grande expectativa em torno dessa carreira, que se atravessa um momento radical de mudança, sendo consenso que seu futuro ainda é incerto, apesar da certeza que os moldes tradicionais não são mais válidos. Em muitos veículos de comunicação as páginas de Ciências vêm sendo descontinuadas, ou suas equipes estão são reduzidas a números mínimos.
É fato que a Web vem causando muita dor de cabeça para as mídias de grande porte, particularmente em jornais, nos quais a circulação caiu em números consideráveis, e, em conseqüência, os anunciantes deixaram este meio em busca de “terrenos mais férteis”. Ainda, ao mesmo tempo em que muitos desses jornalistas perdem seus empregos, os remanescentes são incumbidos da criação de conteúdo para blogs, podcasts, vídeos online e outros ramos das chamadas novas mídias.
SciJournalism.JPG
No contraponto, é notório que não há escassez de informação científica na web. Um exemplo simples são as agências de fomento à pesquisa, que fazem cada vez mais anúncios sobre os projetos que financiam. Outro ponto, CLARO, é o crescente número de blogs de divulgação científica, em grande parte produzidos pelos próprios cientistas (vide o ScienceBlogs), que promovem um canal que muitas vezes compensa a falta de qualidade observada no que restou das Ciências nos grandes portais de mídia.
O suplemento oferece vários editoriais, pontos de vista alternativos, e considerações, principalmente, sobre o papel dos próprios cientistas na mídia atual, face as grandes transformações vistas por todos, que ainda apontam um horizonte incerto para os profissionais do jornalismo científico “tradicionais”.
Com certeza é leitura obrigatória para todos que se interessem por divulgação científica, e, mais ainda, para aqueles que decidiram (ou estão decidindo) fazer parte do nicho jornalístico.

Magia e crença no laboratório


Olhando esta imagem aqui em cima eu parei pra pensar se existe magia num laboratório. Não que ela exista, mas as vezes parece existir. Existe no como nós trabalhamos no lab. Muita coisa parte da fé. Nenhum ser humano já viu uma base de DNA, um A,T, C, ou G. Mas temos fitas de DNA desenhadas por todo o lado e trabalhamos com isso. Temos um tubo com DNA, e só o que se vê é a mais pura e clara água. Mas a máquina quantificadora nos diz: esta água contém 200 nanogramas de DNA por mL. Para cortar este DNA usamos enzimas que, pelo catálogo da empresa que a produz, irá cortar a dupla-fita no local exato. Montamos a reação e TCHA-NÂÂÂ… a mesma aguinha “sem nada dentro”. Mas quando adcionamos o reagente certo (brometo de etídio) vemos uma florescência. Algo brilha. É o DNA que prendeu o brometo. Pelo menos é o que me disseram…
Sempre vemos as coisas de forma indireta, pela máquina, pelo brilho, pela reação com outra coisa. Mesmo no dia a dia normal é assim. Mas no lab a coisa fica bem mais evidente. Esse é o “dia a dia”, fazer acontecer sem enxergar, ouvir ou tocar.
Mas a coisa não pode ficar na fé. O pesquisador que não sabe porque o DNA brilha quando adiciona-se o reagente brometo, esta sendo crente no protocolo. Acaba agindo cegamente. Tem acontecido muito hoje em dia. As pessoas que entram no lab não questionam o “porquê das coisas funcionarem assim”. Querem um kit pronto e acabou.
Isso pode indicar duas coisas preocupantes: falta de curiosidade e/ou falta de pensamento crítico. Sendo que nenhuma delas pode faltar num pesquisador, justamente por serem as PRINCIPAIS características de um cientista.

Doping cerebral

Muito tem se falado na mídia internacional sobre estimulantes cognitivos, os chamados nootrópicos, ou “smart drugs”. Seu uso sempre foi muito intenso entre estudantes de faculdade por muito tempo, e agora começam a migrar para outras realidades, onde são necessários longos períodos de intenso foco mental, se incluem aí laboratórios de pesquisa científica. Aqui um artigo recente no New York Times.
Até agora nenhum pesquisador teve sua bolsa revistada ou sua urina coletada, mas mesmo assim a preocupação que tem surgido sugere que uma moda de drogas para aumento da cognição tenha inicio em não muito tempo.

“Apesar dos potenciais efeitos colaterais, acadêmicos, músicos, executivos, estudantes e até profissonais de pôquer têm usado drogas para clarear suas mentes, melhorar sua concentração e controlar suas emoções.”-Baltimore Sun.

O problema está ficando tão sério que existe até uma organização anti-doping cerebral: World Anti-Brain Doping Authority, que ajuda federações a implementar testes de detecção destas drogas, mantém uma lista de substâncias proibidas para uso por acadêmicos e mantém também um código com regras anti-doping. Até mesmo o NIH (Instituto Nacional de Saúde dos EUA, principal órgão financiador de pesquisa de lá) irá adotar tais medidas em colaboração com a World Anti-Brain Doping Authority. Isso inclui testes anti-doping em pesquisadores financiados pelo instituto, tanto no ato da validação do pedido de verba, como a qualquer momento enquanto durar o projeto financiado.

Mas pensemos na diferença do doping esportivo e o intelectual, o que seria importante já que o primeiro parece estar servindo de base para lidar com o segundo. No esporte o que se busca é a paridade, a igualdade na competição. Numa atividade intelectual, a finalidade pode ser mais diversa e talvez mais justificável. Claro que em ocasiões competitivas como vestibulares e concursos o melhor a se fazer seria controlar o uso de drogas como se faz com atletas. Mas fora esta situação, ponderando-se os efeitos colaterais, não há porque impedir o uso de drogas por pesquisadores, músicos e executivos. Claro que todos devem ser alertados, e bem, com relação aos efeitos colaterais, mas onde não há competição cabe a cada um escolher até que limite quer levar seu corpo. Virar noites trabalhando uma vez que esteja empolgado com resultados de sua pesquisa pode ser uma justificativa, e tomar uma pílula para manter a atenção com poucos efeitos colaterais não parece mau negócio.

Poderíamos abrir precedentes e cair na discussão das drogas ilícitas, já que o argumento que usei aqui poderia justificar o uso de drogas como maconha ou extasy. O problema é que a sociedade quer se proteger dessas drogas que alteram em muito o estado de uma pessoa o que pode trazer riscos a outras pessoas. E ainda temos as “drogas” como cafeína e álcool, que vêem agindo como doping intelectual há séculos. Isto tudo só prova que a humanidade ainda não aprendeu a lidar com este assunto.
E logo mais proibirão café, música durante o trabalho e noites viradas no laboratório?

No caso dos cientistas o que está em jogo não é uma querela olímpica vã. Para desenvolver a Ciência, como a ferramenta que ela é para melhor entendermos o mundo, talvez valha tudo sim! Tudo que o pesquisador estiver disposto a fazer por livre e espontânea vontade, levando seu próprio corpo até onde lhe parecer melhor.

Via A Blog Around the Clock

Bebida diminui produção de pesquisadores

É do país mais beberrão do mundo que vem este estudo bombástico: o consumo de bebida alcoólica dos pesquisadores está relacionado com a quantidade e qualidade da sua produção científica. Quanto mais doses um pesquisador bebe por semana, menor será sua produção.

Este estudo foi realizado na República Tcheca talvez não por coincidência, afinal este é o país com maior consumo de cerveja do mundo. São 156,9 litros de cerveja por pessoa num ano.

Claro que não devemos ser alarmistas. O estudo é pequeno, foi realizado somente em um país, com pesquisadores de apenas um tema (evolução, ecologia e comportamento de aves). Mas ao comparar pesquisadores de diferentes regiões da Republica Tcheca, a famosa Bohemia, mais beberrona (200 litros por pessoa no ano), e a Moravia, mais moderada (35 litros), houve diferença significativa na produção destes pesquisadores.

Em estudos com estas abordagens sempre temos que ter cautela na interpretação. A bebida tem diferentes significados em cada cultura. Também o consumo é realizado de diferentes maneiras, pode ser um ato social ou solitário, pode ser bem ou mal visto pela sociedade. Assim também a ciência é realizada de maneiras diferentes. Não nos seus métodos (que se forem diferentes deixam de ser ciência), mas na sua dinâmica, financiamento, organização hierárquica, relação inter-pares, etc.

A quantidade e qualidade da produção científica são as principais medidas de sucesso de um pesquisador. Disso vai depender o status e o emprego do cientista. Saber que esses fatores sociais, comportamentais e psicológicos estão diretamente relacionados à sua produção é importante. E quem não é pesquisador precisa ter isto em mente também. Saber que a ciência é uma atividade humana como tantas outras, e está sempre sendo influenciada por esses fatores.

Tomas Grim – “A possible role of social activity to explain differences in publication output among ecologists” – Oikos, 2008

Aqui vai um brinde pra quem não liga pra esse tipo de pesquisa:

Carreira em Ciências Biológicas em ascensão?!

Ouvi dizer que uma pesquisa feita pela Folha indicou as carreiras em ascensão no Brasil. Qual não foi minha surpresa ao perceber que Ciências Biológicas foi citada!

Ciências biológicas compreenderia Biologia, Medicina, Ciências agrarias, Engenharia Florestal, etc… Provavelmente todas estas estão inclusas, porque só a boa e velha biologia não consegue segurar essa pressão. Afinal desde os anos da minha graduação, começada em 2000, a biologia é a “ciência do futuro”. O problema é que este futuro nunca chega. Os biólogos que estão sendo absorvidos pelo mercado são os que trabalham com Estudos de Impacto Ambiental na sua maioria. De resto sobram duas opções para o recém-formado: dar aulas ou pós-graduação.


Aulas não têm brotado como nos foi prometido pelo mercado. E a pós-graduação se torna uma opção para poucos que conseguem entrar em boas faculdades que possuam centros de pesquisa. Mesmo estes poucos pós-graduandos têm poucas garantias de absorção pelo mercado. Uma barreira que parece intransponível é a do final do doutorado. O que fazer depois? Realmente há pesquisa de ponta sendo realizada no país, mas há empresas de ponta para empregar este conhecimento e esta mão-de-obra extremamente especializada? O formado novamente se depara com a opção de dar aulas e com as promessas de absorção pelas várias faculdades particulares que abrem a todo instante no país. Mas histórias de doutores ou pós-doutores mandados embora de faculdades por serem qualificados demais têm me deixado um pouco descrente.

Agora, se as carreiras em Ciências Biológicas estão em ascensão deve ser mesmo por englobar várias disciplinas além da jovem e eternamente promissora Biologia.