Galileo, não me faz te pegar nojo

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Calma, calma, calma. Essa sexta-feira tá meio conturbada pra mim. Primeiro li que só agora confirmaram que muito provavelmente foi mesmo o meteoro que provocou a extinção dos dinossauros. Mas só agora?! E eu achando que tava tudo certo…

E segundo é que um dos papais da ciência moderna, Galileu Galilei, que afirmou que a Terra é que girava em torno do Sol, fez isso APESAR DAS SUAS OBSERVAÇÕES NÃO LEVAREM A ESSA CONCLUSÃO! Ou seja, ele acreditava no sistema copernicano e decidiu que era o melhor sabe-deus-o-porque.

Souberam disso porque um cara foi atrás de outras pessoas que usavam telescópios da época, e um deles, Simon Marius, tinha uma conclusão muito mais consistente com as observações feitas usando as limitadas lunetas da época (que deixavam as estrelas muito mais próximas do que seriam). E essa conclusão mais bem embasada para a época reforça idéia da Terra parada e o resto girando em volta.

Por que um cara inteligente como o Galileo arriscou o pescoço por uma ideologia não totalmente embasada em dados é um mistério. Vai ver ele tinha outros dados ou idéias que não ficaram registradas. Isto mostra como a ciência é imparcial, mas os homens que a fazem não são. Sempre é preciso martelar muito as hipóteses e dar tempo ao tempo.

Paradoxalmente temos que, sempre muito desconfiados, confiar na ciência. 

Via NatureNews

G. I. Joe: O que esses caras têm contra a ciência?!

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Rachel Nichols, a Scarlet de G.I. JOE

Se você caiu aqui buscando imagens das protagonistas do filme, Rachel Nichols e Sienna Miller, saiba que infelizmente nem elas salvam o filme G. I. Joe. Cheio de clichês, aliás TODOS os clichês: monólogo do vilão; o clichê mexicano “eres mi hermano!?!?”; a caminhada em slow-motion no final; o bobão querendo ficar com a gata que se faz de difícil; e por aí vai.

g i joe erro snakeeyes.jpgComo o filme é ruim pra diabo, não vou ter medo de ficar avisando de spoilers. Como não tem história mesmo, você não estará perdendo nada.
Por isso digo que o filme é ruim, e não pelo que virá a seguir.
Afinal não sou BIOCHATO a ponto de censurar científicamente a obra de artistas (se é que estes enlatados americanos podem ser chamados de arte). E não sou eu que sou chato não.

Mas o filme que provocou primeiro. Só vou analisar a situação.
Bom, fica claro que o vilão de tudo é a ciência. E ela é a origem de todo o mal do filme. Por isso exijo direito de resposta

O que esses caras têm contra a ciência?!

A primeira bordoada foi quando uma das gostosas personagens que é um gênio intelectualóide está sendo xavecada pelo bobão que é guiado só por instintos (clichê).
Daí ela me lança a pérola, “emoções não são baseadas em ciência. Se puder provar ou quantificar alguma coisa que exista? Mas pra mim elas não existem.”(video com esta parte aqui)

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COMO ASSIM?!?!?! Alguém fala pra ela estudar neurociência e psicologia, por favor!!! Ou ela acha que as emoções vêm de onde? Tem muita pesquisa científica seríssima em cima deste tema, descobrindo que sentimentos como amor, fome, decepção, sede e outras têm padrões bem definidos no cérebro. Podemos estudar as emoções sim.

Outra coisa – adivinhe quem é o vilão? O cientista, claro! Um maldito e deformado cientista. Um cara estranho que faz umas coisas que ninguém entende. E daí vem o poder dele. E ainda tem uma parte do filme em que ele lança outra pérola – “a ciência exige sacrifício”. Mas não sacrifício humano!!! Fora que o cara está fazendo tudo para os seus fins próprios pessoais.

Dizem que as pessoas temem o que não conhecem. Será que os cientistas ainda estão tão longe da realidade das pessoas assim? Ou será que o cinema só cansou de usar políticos, terroristas e extraterrestres como vilões?

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Sienna Miller, a Baronesa de G.I. Joe

Nanotecnologia – o açoite do mal

No filme
Tudo gira em torno de uma arma que nada mais é que um bando de nanorobôs comedores de metal controlados remotamente. Esta mesma tecnologia serve para controlar a mente de pessoas, torná-las mais fortes, mais ágeis, sem dor, e imunes a venenos.

Idéia nada original no cinema. Que me lembre isto existe desde Viagem Insólita, quando reduzem um piloto e sua nave a ponto de injetá-la em uma pessoa, permitindo tratamento direto de doenças (Coincidência – é com o mesmo Denis Quaid que é o general do filme GIJoe).

As nanomáquinas também aparecem no Exterminador do Futuro 2. Sim, aquilo não é metal líquido, mas sim nanorobôs que se comportam como flúido. (É isso mesmo ou estou misturando referências?)

Na realidade
As máquinas, por menores que estejam ficando, não chegaram e nem sei se chegarão ao tamanho sonhado do filme, o tamanho de uma célula, por exemplo. O problema é o circuito eletrônico, que entenderia o comando de um controle-remoto. Estes são difíceis de serem tão miniaturisados.

Mas nanomáquinas já vem sendo utilizadas, não feitas de engrenagens de metal, mas sim de proteínas ou DNA. Hoje em dia é possível esculpir moléculas, e moldá-las para fazer um trabalho específico, e algo que faz um trabalho é a definição de máquina. Veja origamis e baús de DNA aqui.

Agora, nanorobôs controlarem a mente das pessoas eu achei meio pesado demais. O pessoal que está mais a frente deste movimento de interação cérebro-máquina, como o brazuca Miguel Nicolelis, têm uma expectativa de fazer próteses mecânicas funcionarem sob comando do cérebro em 10 anos. E são os otimistas. Ou seja, anos de esforço só para entender como o cérebro faz um braço se mover. Agora imaginem o tempo que levaria para entender o comportamento humano! E depois ainda aprender a controlá-lo!
É, isto não vai rolar tão cedo.

Uma coisa que aparece e é bacana é a roupa aceleradora, que é a mesma idéia do que uns japoneses estão fazendo. Desenvolvendo um traje, ou exoesqueleto, para ampliar as capacidade de nossos frágeis corpos, como aumentando a força ou mesmo ajudando paraplégicos a andar

Enfim, paro por aqui, porque o resto é o de sempre – Tiros, explosões e lock´n load

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Atualizando o Twitter com o “movimento” dos neurônios.

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Ache o erro na frase da matéria da Folha:
Segundo o jornal “The Daily Telegraph”, o sistema trabalha por monitoramento eletroencefalográfico (ou EEG), que consiste na atividade elétrica perceptível no couro cabeludo, realizada pelos movimentos dos neurônios dentro do cérebro.

Movimento?! Dos neurônios?! Taí uma coisa que eu nunca vi.

Poxa, acho que vou mudar o foco deste blog e me dedicar SÓ ao “observatório da imprensa científica”. É muito material…

Revista Veja quebra o côco científico mas não arrebenta a sapucaia

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Essa doeu na gente! Esta capa é velha mas representa a dor que sentimos.

Confesso que tenho uma certa tendência de ver um assunto sempre pelo outro lado e tentar defendê-lo, o famoso “advogado do diabo”. Mas acho que este tipo de atitude é saudável para qualquer discussão se usado com moderação.

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A bola da vez é a revista Veja e suas escorregadas científicas desta semana. Uma das críticas é a de plágio sem citar a fonte da reportagem de capa “Genética não é espelho”. Clique aqui para entender.

Outra crítica, com relação à reportagem na sequência da já referida, traz um erro muito crasso, um gráfico mostrando pontes de hidrogênio, que só têm função estrutural, como genes. E o pior não é isso, mas sim a carta de resposta a uma crítica enviada à revista:

“Por não ser uma revista científica, VEJA pode sim representar os genes como bolinhas. Cometeríamos erro se tivéssemos trocado os genes pelo DNA ou coisas do gênero.(…)” Veja a história e a figura no Brontossauros em Meu Jardim.

Plágio e erro gráfico/conceitual sem retratação não têm desculpa, concordo plenamente. Mas afirmar que a reportagem toda é um lixo acho que já é um exagero.

Alguns pontos positivos:
-A reportagem de capa, fala de epigenética e da ação do ambiente sobre os genes e características (fenótipos) das pessoas. É uma idéia difícil de se ver na imprensa, que está cheia de determinismo genético com seus “gene da violência”, “gene do câncer de mama”, gene disso, gene daquilo. Esta é uma das poucas reportagens que eu vejo que abordam a importância do ambiente diretamente sobre a expressão dos genes.

-Trouxe um glossário para explicar o que é genoma, DNA, RNA, micro-RNA e epigenética.

-Explicou também como funcionam os estudos com gêmeos, importantíssimos quando se quer ver os pesos da genética e do ambiente.

-Falou até da importância e do mistério que é o desenvolvimento de um organismo, desde o zigoto até o nascimento, que é realmente uma das fronteiras mais importantes de nosso conhecimento.

Como disse, estou sendo advogado do diabo. Não simpatizo com a Veja em muitos aspectos, principalmente nos científicos. Fica aqui o contra-ponto e a sugestão de passar as matérias científicas por um consultor científico. Aposto que custará menos que estas manchas na reputação da revista.