Ortodoxia x Heterodoxia (Pílula – 14)

Obra “The call of the sea in 1747” (1920), de J. L. G. Ferris (com alterações).

Colaboradores envolvidos: Fernanda Fernandes (coordenação), Equipe EPMAC (colaboração técnica), Profa. Dra. Patrícia Andrade (colaboração em conteúdo).

Essa pílula é para quem gosta de um debate!

O campo da economia, como toda ciência, é composto por conceitos e termos próprios que muitas vezes não são compreendidos ou são utilizados de formas equivocadas. Ao introduzir noções básicas do universo econômico, procuramos preservar formas democráticas de pensar, discutir e deliberar. No entanto, para além dos conceitos e termos, há diferentes correntes teóricas em que serão pautadas as decisões econômicas. Hoje falaremos sobre as duas linhas mais gerais da teoria econômica.

Em quase todas as pílulas realizadas, foi salientada a falta de consenso dos economistas sobre os impactos das políticas econômicas, pois existem distintas correntes teóricas de pensamento. De maneira resumida, é possível subdividir as teorias em 2 linhas gerais: a ortodoxia e heterodoxia. No primeiro caso, parte-se da escola de pensamento clássica onde os indivíduos e organizações tomam suas decisões baseados em expectativas que são racionais, buscando maximizar a sua satisfação. Nesse sentido, é predominante a defesa do livre mercado, que se equilibraria automaticamente, desde que não ocorram interferências externas. Já a corrente heterodoxa faz uma contraposição aos ortodoxos ao criticar a tendência de equilíbrio dos mercados, salientando que as tomadas de decisão nem sempre são racionais e que há a necessidade de intervenção na economia – especialmente em momentos de crise. Com isso, diferentes propostas de políticas são realizadas em cada uma dessas vertentes que até hoje influenciam as ações tomadas tanto nos mercados quanto nos governos.

Fonte/Para saber mais:

https://www.boletimeconomico.com.br/economia-heterodoxa-e-ortodoxa-o-que-voce-precisa-saber/#:~:text=Podemos%20ent%C3%A3o%20falar%20sobre%20o,o%20que%20%C3%A9%20mais%20popular.&text=Por%20outro%20lado%2C%20a%20economia,%2C%20p%C3%B3s%2Dkeynesiana%20e%20austr%C3%ADaca.

3 Comentários

  1. Vale ressaltar que nem sempre ortodoxos vão acreditar que não deva existir intervenções como em momentos advindos de crise. Os Novo Keynesianos por exemplo acreditam em interferências nas políticas fiscais e monetárias. Também vale ressaltar que também nem sempre liberais ortodoxos são contra interferências, como foi o caso de Friedman que defendeu política monetária à fiscal já na década de 70.
    Outra importante lembrança é que também nem sempre os heterodoxos são a favor da interferência do Estado, como é o caso dos Austríacos, que são considerados pela ortodoxia como uma corrente libertária da heterodoxia.
    Em síntese, a ortodoxia se revela como o senso comum da maior parte dos economistas, enquanto a heterodoxia se resume a crenças que nem sempre são comuns. Lembrando que pode haver discussões e diferenças entre escolas heterodoxas e até mesmo na ortodoxia, como é o exemplo da emblemática disputa entre Novo Clássicos e Novo Keynesianos.

  2. Na medicina existe Ortopedia x Heteropedia. A escola crítica heteropédica surgiu como um contraponto ao mainstrem médico, discordando das interpretações clássicas: a Heteropedia é diferente porque ela é crítica. 

    Heteropedistas publicam no Essays on Marxist Traumatology e o Journal of Political Medicine, ambos  peer reviwed  por médicos cubanos do programa mais médicos.

    Os heteropedistas denunciam o uso acrítico da química-farmacêutica na cura das doenças, voltando-se para leitura dos autores clássicos, Galeno e Hipócrates.

    Quando num hospital, o heteropedista não verifica pulso e respiração dos pacientes, não procura hemorragias, nem faz nada que considere muito mainstream. Examina é a subjetividade do paciente no seu sócio-entorno, enquanto sujeito do trauma. Pois o considera socialmente dado.

    Por exemplo: se um ciclista foi vitimado por atropelamento, o heteropedista fará uma crítica à falta de ciclovias na cidade, denunciando o conflito de classes entre os que vão de bicicleta vis-a-vis os que vão de carro. Disserta citando autores clássicos para embasar o seu prisma. Escreve receitas longas, várias páginas, onde inclui referências bibliográficas aos médicos Che Guevara e Salvador Allende.

    ps: Devido a sua elevada consciência de classe o heteropedista não atende pacientes que estejam sangrando sangue azul

    • Estimado Humberto! Obrigado por seus comentários.

      Devo salientar que o uso de prefixos em diferentes contextos (e disciplinas do conhecimento científico) não levam a uma mesma interpretação da realidade. O seu post induz o leitor a considerar que a heterodoxia econômica partiria dos mesmos pressupostos utilizados por uma certa heterodoxia medicinal que, até o seu post, eu desconhecia. Haveria, portanto, um falso silogismo no seu comentário a este post. Exemplo: Rex é um cachorro marrom. Totó é cachorro, então Totó é marrom. Como sabemos, um cachorro pode ter outras cores. É muito arriscado fazer este tipo de silogismo e acertar o resultado.
      Seria um erro interpretar a heterodoxia econômica da mesma forma que se interpreta a heterodoxia medicinal.
      As pílulas de economia foram publicações feitas para instigar os leitores a buscar mais conhecimento em economia. Sugiro, dessa forma, leituras para a compreensão mais profunda das correntes de pensamento econômico. Cito abaixo uma referência que é utilizada por praticamente todas escolas de economia, seja ortodoxa, seja heterodoxa. Se quiser se aprofundar ainda mais, leia as referências que o próprio livro dá. São clássicas. Você verá que há muitas formas de se ver a economia e poderá fazer comentários com mais desenvoltura.
      O importante é ver que há mais cores do que marrom para a pelagem dos cachorros, porém há algumas que não existem.

      Referência indicada:
      HUNT, E. K. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

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