O Brasil tem a maior carga tributária do mundo?

Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo. Fonte: https://impostometro.com.br/Noticias/Interna?idNoticia=657

Por Victor Augusto Ferraz Young

No Brasil, nos mais variados meios de comunicação, assim como em conversas informais, quando o assunto é economia, algumas frases sempre se repetem: “No Brasil, paga-se muito imposto!”; “O Brasil tem a maior carga tributária do mundo!”; ou “Se não fosse o tamanho da carga tributária, o Brasil já teria se tornado um país desenvolvido!”. Estariam estes diagnósticos corretos? Baseiam-se em dados econômicos concretos? Neste texto, pretendemos verificar estas afirmações, discutir de um modo geral a questão do peso dos tributos sobre a nossa sociedade e responder com algumas informações a estas perguntas.

A princípio, temos que ter claro que a maioria dos tributos (também chamados de impostos) correspondem a um valor que se subtrai da renda gerada no país a partir do processo produtivo, ou seja, uma parte da renda gerada com a produção de todos os bens e serviços produzidos em nosso território será sempre retida pelo governo no sentido de custear a infraestrutura estatal e a oferta de bens e serviços públicos. Para esta discussão, utilizaremos com frequência o conceito de carga tributária, isto é, o percentual correspondente ao valor dos impostos cobrados em relação ao valor do PIB a preços de mercado (% de carga tributária sobre o PIB) [1]. Também usaremos o conceito de base de incidência de impostos que é, grosso modo, um certo percentual que se cobra sobre determinada renda ou valor de atividade econômica. Para fundamentarmos nossa análise, nos utilizaremos de tabelas e gráficos produzidos pelo Centro de Estudos Brasil Século XXI que se baseiam em dados e informações de instituições oficiais.

A carga tributária brasileira é a mais alta do mundo?

Para responder a esta primeira pergunta, podemos dizer que a carga tributária bruta, no Brasil, entre 2002 e 2019, esteve em média em 32,7% do PIB (os valores para cada ano estão na tabela abaixo, na coluna CTB. Se descontarmos os valores referentes aos repasses desses impostos por parte do governo para a Previdência, Assistência Social, Subsídios e Juros da Dívida Pública, teríamos um valor ainda menor conforme as linhas azul e vermelha do gráfico que se segue).

Sabendo, portanto, que o valor da carga tributária no Brasil gira em torno de 33% do PIB, podemos considerar isso um valor alto ou baixo? Uma forma plausível de se fazer essa avaliação é comparando o Brasil com outros países que tenham uma economia de tamanho parecido[2]. Vejamos então, no gráfico seguinte, a carga tributária de outros 27 países desenvolvidos e em desenvolvimento que fazem parte da OCDE mais a média de todos os países dessa mesma organização (OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento. Organismo constituído predominantemente por países ricos).

Podemos verificar que, no ano de 2018, entre os 28 países mais a média da OCDE, o Brasil está na 18ª posição em termos de carga tributária, estando, por exemplo, mais de 10% abaixo da carga mais alta, registrada na França no patamar de 46,1% sobre o PIB. Se dividirmos este apanhado de nações em duas partes, o Brasil se encontra entre os países com a menor carga tributária em relação a outra metade que tem a carga maior ou igual a 35%. Os Estados Unidos, que é sempre mencionado por comentarista econômicos, registraram uma carga menor, de 24,3% sobre o PIB. Todavia, a economia norte-americana é 15 vezes maior do que a economia brasileira, fornecendo, portanto, uma base maior para a arrecadação de impostos[3]. A Alemanha e a Itália, que também têm economias maiores do que a do Brasil, registram cargas tributárias de 38,2% e 42,1% respectivamente. Neste conjunto, apenas 9 países tem uma carga tributária menor do que 33%. Os países ricos e em desenvolvimento que fazem parte da OCDE registram em média 34% de carga tributária sobre o PIB. Nossa primeira conclusão, portanto, é a de que a carga tributária brasileira não é a mais elevada do mundo. Ela não está sequer entre as mais altas, considerando um conjunto significativo de economias próximas a do Brasil. Outra constatação é a de que, entre os países desenvolvidos, se estes não têm uma carga tributária parecida com a brasileira, usualmente têm um percentual tributário bem maior. A única exceção neste caso, seriam os EUA, país que, contando com 24,4% de carga tributária, tem uma arrecadação de impostos maior do que qualquer um dos outros países aqui considerados. Podemos afirmar, dessa maneira, que a carga tributária brasileira não é a mais baixa, mas definitivamente não é a mais alta.

Os brasileiros pagam muitos impostos?

Esta outra questão se refere à sensação de que no Brasil, os preços dos bens e serviços seriam muito altos em função de uma carga tributária muito alta. Seria esta uma sensação real? Sim e não. Podemos dizer que no Brasil, tudo depende de como cada indivíduo obtém sua renda e de como a utiliza depois que a recebeu. Se, por um lado, tudo o que um cidadão recebe é gasto por ele no consumo de bens e serviços, como é o caso dos indivíduos que fazem parte de classes sociais de renda média e baixa, então os impostos para estes incidem com maior peso. Por outro lado, se o gasto realizado com bens e serviços não é pouco, mas é comparativamente pequeno em relação ao total da renda recebida, então os impostos são sentidos com intensidade muito menor, ou seja, no Brasil, a maior parte dos impostos são cobrados sobre o consumo e não sobre a renda recebida ou sobre a propriedade privada. Assim, as classes sociais que não utilizam toda a sua renda para o consumo tendem a pagar uma proporção menor de impostos em relação a sua renda. Esta renda que não é utilizada para consumo é usualmente aplicada em outras atividades rentáveis que tendem a não sofrer o mesmo impacto tributário que o consumo. Grosso modo, no Brasil, os contribuintes pagam mais impostos sobre o consumo do que sobre eventuais rendimentos de sua poupança[4]. O resultado é o de que a carga tributária que recai sobre uma parcela social mais abastada acaba sendo relativamente menor do que aquela que recai sobre a parcela social mais humilde.

Para que esta afirmação fique mais clara, primeiramente iremos separar os impostos cobrados no Brasil da seguinte maneira:

  • Imposto sobre a Renda de Capital (juros, lucros, dividendos, aluguéis, etc.): IR; IOF; etc.
  • Imposto sobre a Renda do Trabalho (salários e rendimentos autônomos): IR.
  • Impostos sobre o consumo de bens e serviços: IPI; ICMS; ISSQN; PIS; COFINS; etc.
  • Impostos sobre propriedade: IPTU; IPVA; ITR; ITBI; etc.

Em segundo lugar, definiremos dois indivíduos hipotéticos que se encontram, cada um, em um extremo da pirâmide social.

  • João é um indivíduo sem muitas posses que no Brasil ganha um salário mínimo (R$1.212,00 no ano de 2022), e deverá, em grande medida, utilizar praticamente todo seu salário para o sustento próprio e o de sua família. Em função do valor de sua renda João paga pouco, ou praticamente nada, de imposto sobre a renda do trabalho (IRPF)[5]. Os impostos sobre os seus ganhos recairão, dessa maneira, predominantemente sobre os bens e serviços que consome.
  • Antônio, por outro lado, recebe rendimentos de capital provenientes de lucros, de aplicações financeiras e do aluguel de propriedades que possui. Sendo o montante de sua renda mensal elevado, somente uma parte pequena de toda a renda se destina ao consumo pessoal e o de sua família. Antônio paga, assim, relativamente menos impostos sobre consumo e mais impostos sobre rendas de capital e sobre rendas de propriedade.

Vejamos então, na tabela a seguir, como os impostos tendem a incidir sobre a renda destes dois indivíduos no caso do Brasil[6]:

Conforme a tabela, os impostos incidem com mais força sobre o destino da renda (a compra de bens e serviços) do que sobre as origens das rendas. Em 2019, os impostos sobre consumo incidiram, em média, em 43,3% sobre o valor dos bens e serviços, tendo sido esta incidência ainda maior em anos anteriores. De outra maneira, mesmo que a incidência do imposto de renda chegue a 27,73% para os trabalhadores que recebem as melhores remunerações, a incidência sobre as rendas de capital e aplicações financeiras foi de 22,45% para estas, de 4,82% sobre a propriedade e de 1,7% sobre as transações financeiras. Podemos constatar preliminarmente que a incidência de impostos sobre a renda, os salários, a propriedade e as transações financeiras é, em todas elas, muito menor do que sobre o consumo de bens e serviços.

Grosso modo, para João e toda a população que depende totalmente do salário e gasta todo ele em consumo, a tributação é alta. Para Antônio e as famílias que dependem de rendimentos de suas posses em termos de propriedades, de capital e de aplicações financeiras – consumindo bens e serviços com parte proporcionalmente muito menor de sua renda total – a tributação só em termos de incidência é quase a metade.

Nossa segunda constatação é a de que parcelas mais humildes da sociedade entregam ao fisco uma parte maior de sua renda total do que parcelas sociais de renda mais elevada.

Se não fosse o tamanho da carga tributária, o Brasil já teria se tornado um país desenvolvido?

Verifiquemos então esta última questão. Podendo já afirmar que a carga tributária brasileira está longe de ser das mais altas do mundo, podemos verificar como se distribui a carga no Brasil comparando esta aos países desenvolvidos. Analisemos os gráficos a seguir:

No gráfico acima, referente a 2017, podemos verificar que em termos de carga tributária o Brasil impõe um peso de 14,3% do PIB sobre a sociedade no que se refere ao consumo de bens e serviços. Entre os 32 países analisados, verificamos que a carga tributária brasileira sobre o consumo de bens e serviços é uma das mais altas do mundo, ficando atrás apenas de Hungria, Grécia e Dinamarca. Quatro pontos percentuais a mais do que a média dos países que compõem a OCDE.

Neste outro gráfico acima, também em 2017, a carga tributária brasileira sobre os rendimentos do salário (incluindo recolhimento previdenciário) está entre os países que menos oneram as remunerações, estando 1% abaixo dos países da OCDE e com pelo menos a metade do percentual do primeiro colocado, a França.

A carga de tributos cobrados em relação ao conjunto renda, lucros e ganhos de capital, no Brasil em 2017, conforme este outro dado acima, é, por outro lado, uma das mais baixas (7%) frente aos outros 32 países da comparação. Junto com Chile, Polônia, Hungria e Eslovênia, a carga tributária brasileira é de apenas 7% sobre esses rendimentos, estando quatro pontos percentuais abaixo da média da OCDE.

Quanto aos tributos cobrados sobre a propriedade, novamente o Brasil está entre os países que impões relativamente menos impostos sobre a propriedade privada de seus contribuintes, ou seja, de acordo com o gráfico acima, a carga é de 1,5% do PIB. Esta é maior do que a da República Eslováquia (0,4%) – a mais baixa carga tributária neste quesito -, mas é bem menor do que a da França, que impõe uma carga de 4,4% do PIB em impostos sobre propriedade.

O que se confirma novamente é que, no Brasil, os impostos recaem com muito mais peso sobre o consumo de bens e serviços do que sobre a origem das rendas em geral. Na comparação com os chamados países desenvolvidos que compõem a OCED, o Brasil faz exatamente o inverso, ou seja, cobra mais impostos dos mais pobres e menos impostos dos mais ricos. Isso perpetua a má distribuição de renda existente no país e impede uma expansão do consumo que poderia dinamizar a economia.

Dessa forma, talvez não seja a carga tributária total sobre o PIB, mas a distribuição desta entre as camadas sociais o que perpetue no Brasil a concentração de renda e, tendo como consequência a manutenção da desigualdade social e do subdesenvolvimento econômico.

Conclusão

Nossa análise buscou fazer uma aproximação geral do quadro de tributação no Brasil. Para isso, fizemos uma comparação desse panorama brasileiro com países desenvolvidos e em desenvolvimento. Utilizamos como parâmetro a carga tributária percentual sobre o PIB e a base de incidência dos impostos. Esta análise poderia ser ainda mais profunda, mostrando diferenças entre cada faixa de renda, o que tornaria este texto muito extenso para nossos propósitos[7]. Com o que levantamos, contudo, já podemos responder com segurança que a carga tributária brasileira, na atualidade, depois de comparada com 27 países da OCDE, está abaixo da média destes e abaixo da média de todos países da OCDE em conjunto. A incidência, todavia, é a que parece ser a grande injustiça do sistema tributário brasileiro, comparando-a com outros países. Em função da forma como os tributos são cobrados no Brasil, famílias de renda mais baixa pagam um montante muito elevado de impostos, enquanto as de renda mais elevada pagam um montante relativo muito menor. Conforme nosso exemplo, a injustiça se faz presente e se perpetua com o fato de que João, de baixa renda e de poucas posses, paga muito imposto sobre o que ganha, enquanto que Antônio, de renda alta e de muitas posses, paga relativamente muito menos sobre aquilo que recebe. Este infortúnio é, a nosso ver, um dos elementos que atrapalham nosso pleno desenvolvimento social e econômico.

Referências

Para o acesso aos dados utilizados neste texto, ver:

https://www.altosestudosbrasilxxi.org.br/vinte-e-cinco-anos-de-economia-brasileira-1995-2020/

[1] O PIB corresponde a soma do valor de todos os bens e serviços finais produzidos dentro de uma economia nacional no período de um ano. Geralmente, os meios de informação utilizam o conceito de PIB a preços de mercado, tendo em conta que no valor do PIB estão inclusos os impostos e descontados os subsídios concedidos pelo governo.

[2] Em 2019, o Brasil estava posicionado como o 12ª PIB mundial em termos de dólares depois dos EUA, China, Japão, Alemanha, Reino Unido, Índia, França, Itália, Canadá, Coreia do Sul e Rússia. Ver: World Economic Outlook Database. International Monetary Fund. Outubro de 2019.

[3] Também não podemos deixar de mencionar que os Estados Unidos são os emissores do dólar, moeda reserva de valor internacional. Podem, dessa maneira, cobrir seus gastos governamentais com um endividamento crescente sem que isso provoque maiores prejuízos a sua economia.

[4] O conceito econômico de poupança refere-se a parte da renda das famílias que não é gasta no consumo de bens e serviços. A teoria econômica dominante considera que a maior parte da poupança das famílias é usualmente emprestada aos agentes financeiros na forma de compra de papéis financeiros em troca de rendimentos futuros na forma de juros. Não podemos, portanto, confundir poupança com caderneta de poupança que é apenas um tipo de aplicação financeira.

[5] Dependendo da faixa de salarial, o trabalhador brasileiro é isento do pagamento de imposto de renda de pessoa física (IRPF) ou paga alíquotas que sobem conforme se eleva o valor de sua renda. Ver: https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/orientacao-tributaria/tributos/irpf-imposto-de-renda-pessoa-fisica#c-lculo-anual-do-irpf.

[6] Salientamos que o conceito, base de incidência, que mostra o percentual de imposto incidente sobre uma renda especificada é diferente do conceito de carga tributária sobre o PIB, que se refere ao valor total arrecadado de determinado imposto em relação ao valor total do PIB.

[7] Não fizemos uma abordagem mais profunda sobre isenções sobre aplicações financeiras, por exemplo. Tal análise pode expor as diferenças que existem entre grandes aplicadores e pequenos aplicadores.

18 Comentários

  1. Péssima comparação. Comparar com os países do OCDE. Gostaria de ver esta comparação com países similares (faixa de renda, padrão de vida e serviços públicos). A carga tributária do Brasil é muito alta para o serviço fornecido pelo estado.

    • Prezado Renato, muitos países da OCDE tem o valor do PIB semelhante ao do Brasil. Sugiro rever os gráficos que apresentei e confirmar, se quiser, no site do Banco Mundial esta informação (https://data.worldbank.org/). Muitos destes mesmos Estados – alguns deles menores, outros maiores, em termos de produto, território e população – prestam diversos serviços que podem ser melhores ou piores que no Brasil. Em alguns deles, o Estado sequer sustenta uma rede hospitalar pública, como acontece no Brasil. Considerando tais critérios, temos, portanto, uma base de comparação bastante aceitável. Dada o julgamento que fez sobre o nosso artigo, suponho que domine o assunto e possa nos escrever e ajudar com as informações comparativas de que dispõe.

      • Falando em número absolutos, essa análise até tem sentido. Mas você estaria satisfeito em pagar por um serviço que mal têm ou tem insuficiente? A sensação é que pagou muito caro pelo “produto” que foi entregue. Saúde, infraestrutura, serviços públicos precários pra pagar um imposto de 33% sobre o que o país produz? Pergunte pra qualquer um se prefere pagar 44% de imposto e ter o retorno que a Suécia entrega, ou pagar 33% e ter de retorno o que o Brasil entrega? Pode escolher qualquer um desses países que está com a carga tributária acima do Brasil, sempre a escolha será o outro país. E pra tirar uma prova ainda maior, pergunte também pra um Sueco ou qualquer outro morador de um pais que está acima do brasil na lista? No geral, o brasil não será a escolha deles.

        • Olá Davi! Agradeço seus comentários. No artigo, mostro que a carga tributária não é a maior do mundo como muitas vezes se afirma vulgarmente nos mais diversos canais de comunicação. Informo também como se distribui essa carga dentro da sociedade, ou seja, de forma regressiva. Para fazer uma análise mais profunda quanto ao bem estar, seriam necessários mais dados e mais análise. O volume de tributos (recursos) a disposição do Estado para fazer o que deve, por exemplo, depende, grosso modo, da renda dividida pela população (que é igual ao PIB per capita). É da renda que saem os impostos que são os recursos do Estado. Utilizando como modelo uma região desenvolvida, da forma como você fez, a União Europeia, por exemplo, tem um PIB/capita de US$45.500 e uma área de 4,233 milhões Km2. O Brasil, por seu turno, tem uma renda per capita de US$16.800 (menos da metade) e uma área de 8,510 milhões km2 (o dobro) para proteger e manter. Só nesse ponto, o Estado brasileiro é muito mais limitado financeiramente e tem muito mais espaço para dar manutenção do que um conjunto menor de países europeus desenvolvidos. Alguns países europeus são ainda mais ricos, como a Suécia, e outros menos como a Grécia. Suponho que, com mais recursos, se possa fazer mais pela população. A qualidade dos bens e serviços prestados pelo Estado brasileiro não deve ser esquecida, mas, neste caso, achar um exemplo parecido com o Brasil é difícil. Se encontrar um Estado, ou região centralizada, que tenha à disposição o mesmo volume de recursos por habitante e por km2, por favor, nos envie a informação que ficaremos imensamente agradecidos e poderemos fazer uma análise.

  2. Parabéns pelo artigo, Victor. Foi muito elucidativo. É possível relacionar diretamente o poder de compra do cidadão com o PIB? Caso não, embora tenhamos um PIB significativo, nosso poder de compra diminuiu em função da inflação. Deste modo, seria um agravante a mais na análise da nossa carga tributária? Obrigado desde já.

    • Olá Adilson! Sobre sua pergunta, grosso modo, quanto maior é o PIB, maior é a renda da população do país. Quando o PIB cresce a renda também cresce na mesma proporção. Contudo, é muito importante a forma como esta renda é distribuida, ou seja, quanto cada um ganha pelo seu trabalho e uso dos recursos de que dispõe. No caso brasileiro, alguns ganham muito e outros ganham muito pouco. Assim a inflação, que é a perda do poder de compra dos rendimentos, atinge com mais força os mais pobres do que os mais ricos.

  3. A dissonância cognitiva entre a objetividade de dados e a interpretação que deles se faz, sempre causa polêmica, e por isso, existem questionamentos como os que se vê. Você pode comentar se faz algum sentido comparação entre a carga tributária ‘per capita’ entre os diversos países? Não necessariamente em %, mas em $, ou seja, quanto $ cada habitante dos países contribui para a arrecadação e, portanto, pode contar de retorno. Talvez algumas pessoas possam se convencer de que US$ 15k por habitante, nos USA, possam se traduzir em mais e melhores serviços, do que US$ 4k por habitante, no Brasil; mesmo que a carga tributária por lá seja 24% e por aqui 33%. Obrigado.

  4. opa! você apresentou muitos números, mas o que sentimos como brasileiros é que somos estorquidos, literalmente roubados, o valor do custo de vida é muito elevado, boa parte devido aos impostos e encargos trabalhistas, e qualquer pessoa que ganha até 100,000 deveria ser isento , simples assim.
    pois pagamos sobre o que consumimos e sobre o que produzimos essa carga toda impede o pequeno de crescer e não a quantia que os ricos pagam… se você acha que 27% é uma taxa justa, então provável que nunca pagou imposto, essa conversa que tem que aumentar a taxa pros ricos é balela, o que tem que ser feito é aumentar o limite pra isenção de imposto, isso sim teria efeito imediato e real para os pobres e classe média que são os que sofrem…ok

    • Estimado Sandro, eu também gostaria que os entraves para se chegar ao bem estar geral da sociedade brasileira tivessem uma solução simples. Gostaria até que o problema fosse tão simples como você diz.
      Como forma de ampliarmos nossa visão, neste link (https://www.heritage.org/index/explore?view=by-variables), podemos ver os países com menor carga tributária do mundo (ver: tax burden % GDP). Coloquei abaixo os 30 primeiros da lista. Veremos que a maior parte desses países ou são ricos em petróleo, ou são paraísos fiscais ou são muito pobres. Sobre os países ricos e desenvolvidos, já mostrei os dados. Assim, não se trata de estar a favor disso ou daquilo, trata-se de verificarmos um fato que faz parte de nossa realidade empírica. Como cada Estado deve proceder, seria uma discussão muito mais longa, complexa em que, mesmo entre economistas, é difícil de se chegar a um consenso.

      País/Carga tributária
      United Arab Emirates 1.0
      Iraq 1.4
      Kuwait 1.4
      The Gambia 10.8
      Russia 11.0
      Niger 11.1
      Laos 11.4
      Madagascar 11.4
      Pakistan 11.4
      Gabon 11.5
      Tanzania 11.7
      Papua New Guinea 11.8
      Uganda 11.8
      Liberia 12.0
      Malaysia 12.0
      Botswana 12.1
      São Tomé and Príncipe 12.5
      Zimbabwe 12.6
      Burundi 12.9
      Côte d’Ivoire 13.1
      Guatemala 13.1
      Singapore 13.2
      Belarus 13.3
      Chad 13.3
      Dominican Republic 13.5
      Paraguay 13.9
      Philippines 14.0
      Ghana 14.1
      Mali 14.1

  5. Ola, achei interessante o seu estudo sobre a carga tributaria. Que parecem contraditórias com outras análises, ex Um estudo realizado pelo IBPT mostra que os brasileiros precisam trabalhar quase metade de um ano apenas para pagar impostos. Considerando a renda média do brasileiro em 2021 (R$2.789,00), esse ano serão necessários 149 dias de trabalho para cobrir os impostos. Outro ponto é que vc não disse na conclusão que os mais ricos pagam menos que os mais pobres, sim, concordo, mas cobrar os mais ricos, não foi uma solução que surtiu efeito onde foi implementada, ex frança e argentina. Fora que o Brasil está nos primeiros lugares do ranking do pais que menos o imposto é revertido para a população. Parabéns pelo artigo, foi muito interessante ler.

    • Olá Alan! Muito obrigado por seus comentários. O fato de que a estrutura tributária brasileira acaba por onerar mais as classes média e baixa, além das pequenas e médias empresas faz com que o sistema seja injusto, já que uns pagam mais do que outros. Além disso, o sistema atual dificulta o aumento no consumo e o desenvolvimento de empresas que geram muitos empregos. Para se propor uma reforma adequada, seria necessário analisar cenários, nos aprofundando em dados para depois disso fazermos comparações com outros países. Vou pensar nisso para um próximo artigo.

  6. Eu, sou leiga pra entrar mais profundamente nessa discussão, mas sei que o pobre paga mais imposto e nem sempre recebe em benefícios, dado a fome que assola o Brasil. Os ricos deveriam contribuir mais.Ex: Hospitais particulares não pagam imposto. por quê?

    • Olá Ana! Concordo com suas colocações. Sobre sua pergunta, talvez um especialista em legislação tributária possa ajudar mais do que eu. Posso dizer que existem certos benefícios fiscais para hospitais particulares que os obriga a atender pacientes do SUS. Se isso funciona bem, infelizmente não sei informar com o devido fundamento. Abraços.

  7. Victor, parabéns pelo artigo. Além da amplitude e fundamentação da análise apresentada, apenas pelos comentários dos leitores já dá para perceber o êxito de seu trabalho em provocar questionamentos e reflexões sobre um assunto tão desafiador.

  8. Oi, Victor.
    Primeiro queria parabenizar pela discussão baseada em fatos. Vejo as pessoas com muitas opiniões, mas sem argumentos que sustentem sua visão. Isso se agrava com o que vemos de matérias que apenas apelam ao emocional da massa e que no fundo não possuem um único argumento sólido. No período de pandemia e de país polarizado, esse comportamento midiático só se agravou.
    Queria fazer um comentário sobre a conclusão final. Você pode até concluir que empresariado tem uma carga tributária menor, mas isso não vale para a classe média/alta assalariada que acaba tendo uma alíquota de IRPF maior que a classe baixa.
    De qualquer forma, não sei se esse deveria ser o cerne da questão. Seria totalmente compreensível haver uma taxação menor de empresários, pois empregam a população. Como estratégia, isso faz total sentido.
    Acho que o ponto que seria interessante trazemos para discussão é o valor médio per capta que o brasileiro paga pelos serviços públicos.
    Temos que analisar o serviço público como uma instituição de fornecimento de serviços ao cidadão sem lucro e sem taxação, ou seja, apenas de custos diretos e indiretos do serviço.
    Quanto pagamos mensalmente por esse custo? Essas valores estão condizentes com o valor entregue dos mesmos serviços em instituições privadas? E se olharmos contra o custo e não contra o preço final em instituições privadas?
    Acho que toda a análise por PIB só ajuda a apaziguar a discussão sem de fato abordar o problema que é a destinação desses valores.
    Ando em busca para encontrar pessoas com vontade de debater temas com racionalidade. E novamente queria reforçar minha parabenização pelo artigo, apesar das minha críticas que visam trazer mais lentes sobre o tema.

    • Olá Pedro! Muito obrigado pelos comentários. Críticas como as suas são muito bem vindas. Suas questões sobre a justiça e a adequação tributária, assim como sobre os serviços a serem prestados pelo Estado são muito importantes e não pudemos abordá-las com profundidade ainda. São assuntos que merecem mais atenção com base em informações para podermos melhorar nosso julgamento. Em outras respostas a comentários sobre este post, busquei trazer mais alguma informação, mas sei que ainda não é suficiente. Nossa equipe deve se reunir e irei chamar a atenção no sentido de elaborarmos mais posts sobre esse assunto. Novamente, obrigado!

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