O jornal El País Brasil publicou uma entrevista com Marcelo Medeiros, professor de sociologia da UnB (Universidade de Brasília) e pesquisador do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), sobre o artigo publicado pela revista brasileira Ciência & Saúde Coletiva (vol.20, n.4, 2015), o qual é coautor com Pedro Herculano Ferreira e Fábio de Castro.
O tema é sobre a trajetória de desigualdade de renda no Brasil no contexto internacional e brasileiro, além de discutir o artigo que evidencia que a desigualdade no país é mais alta do que se imaginava e se manteve estável entre 2006 e 2012.
“Indiscutivelmente, houve diminuição da pobreza, entre 2006 e 2012. Não há dúvida nenhuma de que houve diminuição da desigualdade entre os grupos mais pobres da população. Só que não foi suficiente para mexer a distribuição inteira pela magnitude em que a renda é concentrada nos mais ricos. O que importa na verdade é o comportamento deles em relação ao resto. O comportamento da pobreza acaba não tendo impacto na desigualdade, tamanha é a concentração de renda nos mais ricos. O comportamento da riqueza é muito mais importante do que o da pobreza. Não há dúvida de que houve melhora, em termos absolutos, para uma grande massa da população. O que não houve foi diminuição da desigualdade. Também houve melhora dos mais ricos tão grande que impediu a queda da desigualdade”, comenta Medeiros em entrevista.
Marcelo Medeiros já concedeu entrevista ao “Divulga Ciência” para discutir seu artigo publicado na Brazilian Political Science Review (v. 9 n. 2, 2015). Leia mais em: Qual é a contribuição do Estado para o aumento da desigualdade social?
Confira abaixo trecho da entrevista do El País.
Artigo:
MEDEIROS, Marcelo; SOUZA, Pedro Herculano Guimarães Ferreira de and CASTRO, Fábio Ávila de. A estabilidade da desigualdade de renda no Brasil, 2006 a 2012: estimativa com dados do imposto de renda e pesquisas domiciliares. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2015, vol.20, n.4, pp. 971-986. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232015000400971&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1413-8123. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015204.00362014.
Medeiros: “A desigualdade do Brasil é disfuncional para a democracia”
“O economista e sociólogo Marcelo Medeiros gosta de ser didático nas explicações. Foge o quanto pode da polarização política da moda para falar de um assunto delicado: a trajetória dos índices de desigualdade no Brasil, especialmente na última década. Professor de sociologia da Universidade de Brasília e pesquisador do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), subordinado ao Governo Federal, Medeiros tem longo percurso de estudo do tema. Mais recentemente, abriu caminho no Brasil, junto com orientandos que ele prefere chamar de colegas, para o estudo da disparidade de renda com base nos dados do imposto de renda, tal qual o economista francês Thomas Piketty.
Na entrevista, ele comenta um trabalho conjunto com Pedro Ferreira de Souza e Fabio Castro que apontou a estabilidade da desigualdade entre 2006 e 2012, usando a metodologia que combina cifras do imposto de renda e pesquisas domiciliares. A pesquisa não foi divulgada pelo IPEA durante as eleições presidenciais —uma das narrativas principais do Governo é sobre a queda da pobreza e da desigualdade no período. Foi uma pequena crise na instituição e o veto à pesquisa foi parar na representação do PSDB que acusa Dilma Rousseff de ter “abusado do poder político” durante a disputa eleitoral. O ação ainda está em curso. “Eu pedi demissão do cargo que eu ocupava, em uma coordenação de estudos do IPEA. Foi um pedido simbólico, porque acho que o IPEA tem o dever de fornecer continuamente informação ao público sobre os resultados dos estudos que produz para a sociedade”, ele resume. Na conversa, ele fala ainda com entusiasmo do trabalho de Souza, que produziu série inédita da desigualdade entre 1927 e 2013 no Brasil, e diz que uma reforma tributária é “imperiosa” se o Brasil quer levar a sério seu futuro.”
Leia entrevista na íntegra em El País Brasil.
Ouça no programa Oxigênio (Labjor/Unicamp) Marcelo Medeiros discutindo o artigo “State Transfers, Taxes and Income Inequality in Brazil”.
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