Como os médicos lidam com a morte de seus pacientes?

Lidar com a morte não é fácil para ninguém. Mas como fazem os médicos que são treinados para salvar vidas e, eventualmente, perdem seus pacientes? Artigo publicado na última edição da Revista de Medicina da USP (v.96, no.2, 2017) traz relatos de nove médicos sobre o processo de morte. Segundo os autores, com o avanço científico e tecnológico melhoram o diagnóstico, as possibilidades de tratamento e prevenção, mas por outro lado, “pode trazer uma maior sensação de fracasso quando o paciente morre”.

Fruto de uma pesquisa de iniciação científica na Universidade Mogi das Cruzes, o estudo procurou entender se os médicos dispõem de técnicas, durante sua formação, para lidar com a morte, e como fazem para enfrentar a morte que também causa estresse emocional nos profissionais.

Os médicos entrevistados pertencem a especialidades que lidam mais frequentemente com a morte, entre eles cirurgiões, socorristas, cardiologistas e intensivistas (ue atuam na UTI). O questionário semi-estruturado baseou-se em três blocos: formação e aprendizados para lidar com a morte; relação com a profissão e os pacientes, e atividades com a função de renovar as energias e lidar com o estresse emocional.

Os participantes da pesquisa têm formações e tempos de formação distintos, mas todos atuam no Alto Tietê (SP), em hospitais públicos ou privados, e são formados por instituições paulistas.

Relação médico-paciente

 

“The Doctor” (1891), de Sir Luke Fildes (1844-1927), museu Tate Modern, Londres. Imagem: CC-BY-NC-ND

“O cotidiano de profissionais revela que quanto mais intenso o vínculo com o paciente maior o sentimento de impotência e a inevitabilidade da morte desperta sentimentos de fracasso como se a morte tivesse sobrepujado a dedicação de toda a equipe”, relata Jacqueline Tamada, autora principal e estudante de medicina da Universidade de Mogi das Cruzes (SP), e co-autores do artigo. O envolvimento com pacientes (sobretudo os de tratamentos mais longos ou terminais), a perda inesperada ou a morte de jovens trazem maior dificuldade para os médicos lidarem com a perda.

Cinco dos médicos entrevistados disseram que não receberam qualquer preparo em sua formacão para lidar com a morte, mas aprenderam com a prática. Os demais relatam uma formação conquistada de acordo com seu interesse e não necessariamente do currículo formal, como terapia, leitura de livros e cursos para lidar com cuidados paliativos, por exemplo. Os autores e médicos apontam a necessidade de reformular o currículo de medicina para inclusão de um melhor preparo, com enfoque durante a residência, quando se dá a prática com os pacientes e aperfeiçoamento da técnica.

A busca por atividades para renovar as energias se mostrou chave para lidar com o estresse emocional e físico dos médicos. “Pelo posicionamento dos profissionais, entendeu-se que a presença de válvulas de escape é imprescindível para liberar um pouco da tensão/preocupação criada pelo trabalho, evitando grande estresse e sobrecargas emocionais”, concluem os autores. Muitos relataram ter hobbies, ou buscar apoio na religião ou na família e nos amigos.

“A manutenção da integridade da relação médico-paciente, principalmente nestes casos em que há morte e sofrimento, é fortificada quando o profissional privilegia o doente sobre sua doença, minimizando sua dor como um todo e focando o tratamento na pessoa mais do que na doença”, enfatizam os pesquisadores.

Apesar do estudo trazer baixo número de entrevistas ele chama atenção para o fato de que é preciso cuidar da saúde do paciente, mas também da saúde de médicos e profissionais da saúde que lidam em seu dia a dia com a morte e precisam manter a humanidade e a qualidade na relação médico-paciente.

 

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