Precisa Tomar uma Decisão Importante? Escolha Bem o Seu Cardápio!

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“Passei uma noite em claro e tenho coisas importantes para decidir. O que fazer?” Muita gente não sabe, mas o nosso estado fisiológico influencia muito as nossas preferências e decisões. Em outras palavras, quando estamos com fome, raiva, sede, sono ou sentindo dor, temos preferências e escolhas diferenciadas (mesmo que as escolhas não tenham nada haver com o que causou a nossa mudança fisiológica). O exemplo mais conhecido desse efeito é o fato de sermos mais impulsivos, por exemplo, quando estamos com fome e ou com raiva. Algumas pesquisas mostram, por exemplo, que pessoas que vão às compras com fome acabam comprando coisas que realmente não precisam, compram produtos de qualidade inferior e acabam se arrependendo das escolhas anteriores. E vale a pena lembrar: não estou falando apenas de sair com fome para comprar comida. A fome aumenta a impulsividade na compra de qualquer coisa, até mesmo roupas.

Mas de onde vem essa influência? O que tem haver a fome (e essas outras alterações físicas tais como sede, dor, raiva, etc.) com o nosso comportamento na hora de decidir alguma coisa? A resposta está na compreensão de como o cérebro funciona. Os componentes básicos do cérebro — os neurônios — se comunicam uns com os outros atráves do que chamamos de neurotransmissores. Os neurotransmissores são moléculas químicas que são enviadas de um neurônio ao outro. A depender do tipo de informação que se quer transmitir, diferentes neurotransmissores são lançados de um neurônio para o outro. Eles são responsáveis não só pela transmissão de informações, mas também são responsáveis pela regulação (controle) de algumas reações do nosso corpo: por exemplo, ansiedade, fome, sono, etc.

A serotonina é um exemplo de um neurotransmissor. Várias pesquisas mostram que a serotonima está diretamente involvida no controle da impulsividade, controle cognitivo e até mesmo agressividade. Altas dosagens de serotonina aumentam a capacidade de controle cognitivo e diminuem a impulsividade. Em contrapartida, baixas doses dessa molécula estão relacionadas com aumento do comportamento impulsivo, ou seja, a inabilidade de controlar algumas decisões e respostas.

A serotonina é sintetizada a partir do amino-ácido conhecido como triptofano. Triptofano pode ser encontrado em vários alimentos, tais como leite, iogurte desnatado e nozes (dica nutricional: pessoas com quadros de ansiedade, insônia e ou princípio de depressão devem ingerir alimentos ricos em triptofano juntamente com alimentos ricos em carboidratos. O carboidrato tem a capacidade de aumentar a concentração relativa de triptofano, e consequentemente, aumenta a produção de serotonina, que por sua vez vai atuar na melhoria do controle cognitivo e tomada de decisões: menos ansiedade).

Bom, dito tudo isso, podemos pensar o seguinte: se precisamos tomar uma decisão e não queremos ser impulsivos, a ingestão de alimentos ricos em triptofano e carboidrato pode nos auxiliar na ponderação de todas as possibilidades na hora de tomar uma decisão. Em outras palavras: será que o consumo de alimentos ricos em triptofano e carboidratos diminui a impulsividade de pessoas consideradas cronicamente impulsivas? Vale ressaltar que impulsividade em si não é um comportamento ruim. O valor do comportamento impulsivo deve ser julgado contextualmente. Ele pode ser ruim, por exemplo, quando você compra alguma coisa que não vai conseguir pagar depois, ou quando você diz ou faz alguma coisa ruim para alguém que ama e depois se arrepende. Mas pode ser algo positivo quando você está desenvolvendo uma tarefa que requer agilidade e rapidez na sua resposta (no trânsito, por exemplo).

Arul Mishra e Himanshu Mishra, dois pesquisadores da Escola de Negócios da Universidade de Utah nos Estados Unidos investigaram essa questão. Eles estavam interessados em saber se a ingestão de triptofano (para a sintetização de serotonina) influencia na inibição (ou não) do comportamento impulsivo. Explicando o experimento de uma maneira bem simples: um grupo de participantes bebeu um líquido com triptofano enquanto um outro grupo bebeu um líquido sem triptofano. Após beber os líquidos, os participantes fizeram duas tarefas: uma que media a capacidade de “segurar” uma resposta (não responder à certos estímulos) e uma que media a capacidade de escolher entre duas opções (uma delas claramente impulsiva).

Os resultados foram interessantes: os participantes que beberam o líquido com triptofano mostraram menos impulsividade (tanto na tarefa de “segurar” uma resposta, quanto na tarefa de decidir entre duas opções). Já os participantes que não beberam o triptofano demonstraram um algo grau de impulsividade nas duas tarefas. Vale lembrar que os grupos não sabiam que estavam ingerindo (ou não) o triptofano. Eles nem sequer sabiam que o objetivo do experimento era esse.

Duas lições devem ser tiradas da leitura dessa postagem:

1) saber que nosso estado físico (fome, raiva, sede sono, etc.) tem impacto direto nas nossas decisões e atitudes. Decidir alguma coisa importante na sua vida depois de uma noite mal dormida pode não ser uma boa idéia. Você pode acabar se arrependendo da sua decisão (e arrependimento causa uma serie de outros problemas).

2) aquilo que você come pode sim influenciar diretamente no seu processo de tomada de decisão e no controle das suas atividades cognitivas. Fique atento, afinal de contas, você é aquilo que você come! 🙂

Referência:
Mishra, Arul, & Mishra, Himanshu (2010). We Are What We Consume: The Influence of Food Consumption on Impulsive Choice Journal of Marketing Research, XLVII, 1129-1137 Other: 1547-7193

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Por que Fazemos Sexo?

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Viver com uma outra pessoa é complicado. Ter uma relação afetiva madura é difícil. Ter uma vida sexual harmoniosa é mais complicado ainda. Vários casais sofrem com questões relacioandas à vida sexual. As vezes um quer, mas o outro não quer. Hoje ela está com dor de cabeça. Ontem ele estava cansado e dormiu. Como diz a psicóloga Silvana Martani, após um dia corrido de preocupações e trabalhos, homens e mulheres não conseguem encarar a atividade sexual como algo prazeroso — o que algumas pessoas chamam de preguiça sexual. Um outro problema comum é a falta de apetite sexual que alguns casais enfretam com o passar dos anos de casados. Quanto mais tempo junto, menos se quer a outra pessoa. É por esse motivo que a Internet está cheia de dicas de como “apimentar” a vida sexual de casais casados e/ou juntos a muito tempo. A idéia básica é: a rotina é a principal inimiga de uma vida sexual ativa.

Muita gente acredita que esses problemas na vida sexual ocorrem por que homens e mulheres vêem sexo de maneira diferente. Para os homens sexo é a busca do prazer físico. Não precisa ter amor. Se a mulher é bonita e a oportunidade surge, essa é a hora de fazer sexo. Já as mulheres são mais ligadas às facetas emotivas e afetivas da relação sexual. Desde que o homem lhe transmita confiança e seja uma pessoa com quem ela sente um afeto e carinho muito grande, essa á a hora de fazer amor. No final das contas, a pergunta real que devemos nos fazer é: por que fazemos sexo? Quais são os motivos que realmente nos levam a fazer sexo?

Durante muito tempo, psicólogos achavam que os motivos eram poucos e psicologicamente simples. Não tem nada de muito complicado não: as pessoas fazem sexo para (1) fins reprodutivos, (2) sentir prazer e (3) aliviar a tensão sexual. No entanto, o ser humano é uma máquina altamente complexa. Somos complicados. Parece muito contra-intuitivo dizer que as razões que motivam o ser humano a se engajar em atividades sexuais sejam simples e poucas. Por esse motivo, alguns psicólogos começaram a sugerir que essas motivações eram mais variadas e psicologiacamente mais complexas.

Os pesquisadores Cindy Meston e David Buss, ambos do Departamento de Psicologia da Universidade do Texas em Austin, investigaram, em um estudo super interessante, as razões que motivam o ser humano a fazer sexo. Foram dois estudos simples, mas com implicações importantes para a discussão sobre a qualidade da vida sexual de casais em geral.

No primeiro estudo, os pesquisadores simplesmente pediram aos participantes (em torno de 440 pessoas) para listar todos os motivos que o levaram a fazer sexo com alguém. Eles podiam listar quantos motivos desejassem. Um total de 715 motivos foram coletados. Após uma triagem para exclusão de motivos parecidos e/ou idênticos, um total de 237 motivos distintos foram encontrados. Mesmo sem nenhum tratamento estatístico, o estudo incial já mostrou resultados interessantes. Os motivos foram os mais variados possíveis. Desde de motivos simples como “faço sexo por que é bom”, ou “faço sexo quando me sinto atraído(a) pela outra pessoa”, até motivos mais estranhos como “faço sexo pra me sentir perto de Deus” ou “faço sexo para transmitir DST para outras pessoas”.

No segundo estudo, os pesquisadores estavam interessados em investigar as diferenças entre homens e mulheres no que diz respeito aos motivos que os levam a fazer sexo. Basicamente eles mostraram os 237 motivos listados no primeiro estudo para um grupo de 1500 pessoas e essas pessoas tinham que responder, em uma escala de 1 a 5, o nível de concordância com cada um dos motivos. O interessante foi que os pesquisadores mostraram que, dos 10 motivos mais frequentes, 8 foram compartilhados por homens e mulheres. Em outras palavras, homens e mulheres elegeram os mesmos motivos de uma maneira geral. E mais interessante ainda: a grande maioria desses motivos eram de base física (“fiz por que estava excitado(a)”, “queria ter prazer físico” ou “me senti atraído pela outra pessoa”). Mesmo mulheres — consideradas pelo senso comum menos carnais e mais emotivas — listaram objetivos como esses, como sendo os grandes motivadores da atividade sexual.

Após essas primeiras constatações, os pesquisadores realizaram uma série de análises estatísticas (Factor Analysis e PCA) e agruparam os 237 motivos em sub-grupos e categorias. Essas outras análises — que não vou entrar em detalhes aqui — revelaram uma complexidade psicológica nas razões que motivam a atividade sexual. Por exemplo, o estudo mostrou que um motivo que pode ser visto pela população geral como sendo raro (“ficar próximo de Deus” ou “queria machucar a outra pessoa”) são psicologicamente importantes para as pessoas que os escolheram.

Quando as diferenças entre homens e mulheres foram analisadas de maneira mais sistemática, Cindy e David encontraram o que alguns pesquisadores já haviam antecipado: as motivações femininas são mais ligadas à emoção (“fiz para mostrar que amo meu parceiro”) e elas preferem atividades sexuais com parceiros fixos (namorados ou marido). Já os homens escolheram motivações mais carnais e não mostraram preferência por relações duradouras.

Vale ressaltar que  o prazer físico foi motivo válido tanto para os homens quanto para as mulheres. No entanto, para as mulheres o prazer físico deve ser necessariamente acompanhado de afeto e relacionamento duradouro, ao passo que para o homem, o fator afeto e relacionamento duradouro não faz tanta diferença.

Mais uma vez, a mensagem que fica é: devemos buscar conhecer as motivações — cognitivas ou não —  que impulsionam nossas ações (e as ações de nossos parceiros). A vida a dois já não é fácil. A não compreensão do que motiva as ações do seu(sua) parceiro(a) pode complicar ainda mais a relação.

A outra dica que fica é: dor de cabeça não convence mais! 🙂

Referência:

Meston, C., & Buss, D. (2007). Why Humans Have Sex Archives of Sexual Behavior, 36 (4), 477-507 DOI: 10.1007/s10508-007-9175-2

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Arrependimento e Desapontamento: O Que Acontece Quando Nossas Expectativas São Violadas?

ResearchBlogging.org Gosto muito de assistir ao programa Daily Show with Jon Stewart. O convidado do último dia 27 de foi, nada mais, nada menos que o ilustre presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Aqueles que têm acompanhado o cenário político norte-americano nos últimos dois anos está certamente notando que o nível de frustração com o trabalho feito pelo presidente dos Estados Unidos é alto. As pessoas estão desapontadas. Algumas até mesmo arrependidas de ter votado nele. Elas esperavam mais do presidente.

Frustração, arrependimento e desapontamento são sentimentos negativos que fazem parte do nosso dia-a-dia. Todo mundo tem um conhecido ou conhecida que já confessou estar arrependido(a) por ter feito alguma coisa (alguns se arrependem por NÃO terem feito alguma coisa). Certamente todos conhecem alguém que disse estar desapontado com a atitude de alguém — chefe, amigo ou até mesmo namorado(a). O que causa arrependimento e desapontamento? São sentimentos iguais? Quais as consequências que esses sentimentos têm no nosso dia-a-dia? Como eles afetam nosso convívio com outras pessoas?

Esses sentimentos têm a ver com tomada de decisões. Quando tomamos uma decisão que se mostra errada em retrospecto, ou quando as nossas expectativas não são alcançadas, arrependimento ou desapontamento surgem. Apesar de parecerem a mesma coisa, esses dois sentimentos são bem diferentes e têm consequências distintas para nossa vida. Vamos tentar entender essa diferença.

Toda decisão que tomamos envolve um nível de incerteza. Uma maneira de lidar com esse nível de incerteza é criar expectativas com relação a resultados possíveis. Essas expectativas nos ajudam no processo de tomada de decisão e, consequentemente, têm uma influência muito grande em nossas ações. Agimos de acordo com nossas expectativas. Isso acontece no ambiente de trabalho (você confia em alguém para executar um certo trabalho, pois têm a expectativa de que o trabalho será bem feito), no ambiente social (você cria certas expectativas com relação a como seus amigos agiriam em certas situações) e obviamente no ambiente amoroso (sempre começamos um relacionamento criando expectativas com relação ao futuro do relacionamento).

Sentimentos negativos, tais como arrependimento e desapontamento, surgem quando nossas expectativas são violadas. Quando o resultado de uma decisão é pior do que aquilo que esperávamos, temos a emergência de emoções e sentimentos negativos. Basicamente, existem duas maneiras em que nossas expectativas são violadas. A primeira é quando descobrimos que a opção que escolhemos é pior que a opção que não escolhemos. Em outras palavras, criamos a expectativa de que a opção A é a melhor e no final das contas, a opção B seria a melhor. Quando isso acontece, sentimos arrependimento. A segunda é quando o resultado real é pior do que o resultado que esperávamos. Tínhamos uma expectativa com relação ao resultado X e esse resultado é qualitativamente pior. Nesse segundo caso, sentimos desapontamento (frustração).

O que diferencia esses dois sentimentos é o que os psicólogos chamam de “self-agency“. Uma maneira bem crua de traduzir essa idéia é: self-agency é noção de responsabilidade. Arrependimento ocorre quando temos uma noção de que somos responsáveis pela decisão e pelo resultado negativo dessa decisão. Por outro lado, desapontamento surge quando não temos esse sentimento de responsabilidade, ou seja, o resultado negativo é causado por algum fator que claramente não está no nosso controle. Mesmo não tendo controle, nossa expectativa é violada e consequentemente sentimos essa emoção negativa.

Quais são as consequências de sentimentos tais como arrependimento e desapontamento. Pesquisas na área de Psicologia Social têm mostrado que as pessoas têm diferentes atitudes a depender do sentimento que possuem em determinado momento. Pessoas arrependidas possuem uma tendência maior à “tentar consertar” o que houve de errado (devido à noção de responsabilidade envolvida na origem desse sentimento). Já o desapontamento está relacionado com sentimento de impotência. Geralmente as pessoas não tentam consertar o que houve de errado. As atitudes mais comumente ligadas ao sentimento de desapontamento são fuga e uma enorme carga de desmotivação. Pessoas desapontadas desistem dos problemas e são menos resilientes. Pessoas desapontadas ficam menos aventureiras e se arriscam menos. A apatia é um dos principais sinais de desapontamento.

A pergunta que não se cala é: como evitar sentir arrependimento e desapontamento? Uma estratégia infalível é você evitar tomar decisões. Apesar de ser uma estratégia tosca, ela garante que sentirá menos arrependimento e menos desapontamento com as coisas. No entanto, as pesquisas mostram que a longo prazo, aversão a tomada de decisões tem consequências devastadoras. Existe uma gama grande de pesquisas que mostram as melhores estratégias para evitar que esses sentimentos apareçam. É uma literatura grande e complexa (impossível de discutir aqui), mas, em termos gerais, o que essas pesquisas mostram é que (1) a tomada de decisão deve ser feita de maneira mais informada possível. Dessa forma, o nível de incerteza cai e consequentemente a probabilidade de um resultado negativo também cai, e (2) evitar decisões que envolvam um risco muito alto. Mesmo que você não seja responsável pelo resultado negativo (no caso de uma decisão arriscada), o sentimento de desapontamento pode surgir e deixá-lo apático e desmotivado.

Entender e conhecer mais sobre os sentimentos que guiam nossas ações é importante. Arrependimento e desapontamento existem e têm consequências sérias para o convívio social, político e pessoal. Espero que não tenha se arrependido de ler o Cognando hoje! 🙂

Referência:
Zeelenberg, M., van Dijk, W., Manstead, A., & de Pligt, J. (2000). On bad decisions and disconfirmed expectancies: The psychology of regret and disappointment Cognition & Emotion, 14 (4), 521-541 DOI: 10.1080/026999300402781

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Send in the Clowns: O Triunfo da Ignorância no Brasil.

ResearchBlogging.orgMais um período de eleições presidenciais no Brasil. Infelizmente, apesar de um primeiro turno de eleições bem movimentado, com a presença de dois canditados fortes (Dilma e Serra) e uma clara promessa para as eleições de 2014 (Marina Silva), o destaque das eleições foi outro: São Paulo elege, com mais de 1 milhão de votos, um palhaço analfabeto para Deputado Federal.

Tiririca, como é conhecido o mais novo representante de São Paulo no Congresso Nacional, não tem conhecimento algum sobre os problemas que afetam o Brasil. Ele não sabe o nome do presidente do partido em que concorreu nas eleições, não têm uma proposta concreta para atuação no Congresso, e sequer entende o processo de distribuição de cadeiras no Congresso Nacional. No entanto, a ignorância de Tiririca com relação a esses fatos não me surpreende. De fato, o que mais poderíamos esperar de uma figura como ele?

De um ponto de vista cognitivo, no entanto, fico curioso. Em particular, o que chamou minha atenção foi (1) como pode um candidato como o Tiririca demonstrar tanta confiança e segurança durante o que ele chamou de “campanha política”? e (2) como pode essa confiança e segurança convencer mais de um milhão de pessoas de que Tiririca é sim uma boa escolha para o Congresso Nacional? Em outras palavras, fiquei sim intrigado com a confiança e segurança do Tiririca (e das pessoas) diante de tanta ignorância política.

A única tentativa de explicação que me vem à mente tem haver com um conceito cunhado em 2002 pelos psicólogos Frank Keil e Leo Rosenblit, conhecido como, “Illusion of Explanatory Depth“. O que esse conceito quer dizer é basicamente o seguinte: as pessoas geralmente tendem a “achar” que sabem como certas coisas funcionam, mas simplesmente não conseguem “explicar” esse funcionamento quando pedimos uma explicação. Por exemplo, muita gente diz que sabe como um relógio funciona. No entanto, essas mesmas pessoas não conseguem explicar, de fato, o funcionamento de um relógio.

Tiririca parece “achar” que seu jeito engraçado e descontraído (na minha opinião: seu jeito apelativo) é a melhor solução para os problemas que a política brasileira enfrenta hoje. É uma atitude que demonstra uma clara ilusão de que conhece o funcionamento da complexa rede que caracteriza os problemas que afetam o nosso país. O mesmo, na minha opinião, acontece com as pessoas que votaram nele. Mesmo aqueles que votaram para “protestar”. De novo, essa atitude demonstra um conhecimento ilusório sobre o funcionamento do sistema político e da democracia no Brasil.

Mas e o por quê dessa segurança e confiança? Por que Tiririca e os mais de 1 milhão de eleitores que votaram nele não percebem (reconhecem) a própria ignorância e falta de conhecimento? A Psicologia Cognitiva também oferece uma possível explicação para esse fato. Em 1999, Justin Kruger e David Dunning, ambos da Universidade de Cornell nos Estados Unidos, publicaram um estudo interessante sobre como pessoas que apresentam dificuldade em reconhecer a própria ignorância apresentam também um alto grau de confiança nelas mesmas. Basicamente, os pesquisadores investigaram o desempenho de várias pessoas em várias áreas distintas (humor, raciocínio lógico, habilidade gramatical, etc.). Eles também pediram às pessoas que dessem uma estimativa de como eles achavam que se sairiam nas tarefas. Em outras palavras, é como se eu pedisse a você que fizesse um teste de português e, assim que você terminasse o teste, eu te perguntasse: “como acha que se saiu no teste?”

Como resultado, os pesquisadores encontraram que as pessoas que tiveram o pior desempenho nas tarefas propostas foram as que acharam que se sairam melhor. E mais interessante ainda: essas pessoas apresentaram uma grande dificuldade em apontar os itens e as áreas que elas achavam que teriam mais dificuldade, ou seja, essas pessoas simplesmente não sabiam reconhecer as próprias limitações e falta de conhecimento.

O que os autores sugerem (e eu concordo) é que o conhecimento necessário para ter um bom desempenho em alguma tarefa é o mesmo conhecimento necessário para julgar a própria competência. Falando de uma maneira mais simplificada: se você não entende o suficiente sobre alguma coisa, é difícil para você avaliar como seria seu desempenho nessa coisa. Se não entende nada de política, é difícil avaliar objetivamente como seria seu desempenho na política.

Geralmente utilizamos a confiança e segurança que alguém nos passa como uma medida precisa da competência que essa pessoa tem. O que o estudo sugere, no entanto, é que confiança e segurança podem não ser boas medidas para competência (engraçado como isso se aplica também à campanha política do candidato à presidência José Serra. Mas isso é uma outra história).

Apesar da tentativa de compreender, sob um ponto de vista cognitivo, o por quê do sucesso de Tiririca nas eleições de 2010, o fato de que um palhaço, analfabeto e apelativo consegue ocupar um cargo tão importante no sistema político brasileiro ainda é assustador. A democracia brasileira se demonstra mais uma vez vazia e muito pouco funcional. A eleição de Tiririca para Deputado Federal, depois de uma campanha altamente desrespeitosa, só me faz pensar em uma coisa: Macaco Tião não foi eleito prefeito do Rio de Janeiro em 1988, não por que era um chimpanze, mas sim por que não sabia contar piada.

Referência:

Kruger J, & Dunning D (1999). Unskilled and unaware of it: how difficulties in recognizing one’s own incompetence lead to inflated self-assessments. Journal of personality and social psychology, 77 (6), 1121-34 PMID: 10626367

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Uma Boa Vida Sexual Pode Garantir Um Bom Relacionamento.

ResearchBlogging.orgEm algumas postagens anteriores, eu falei um pouco sobre ciúmes e traições: problemas que acabam e desfazem uma vida a dois. O que causa isso? O que causa o desmoronamento de um casal? Um ponto que, apesar de pouco discutido — principalmente pelos casais — e que não pode faltar é sexo. Fazer sexo (ou fazer amor como alguns preferem) faz parte da experiência humana e, todos concordam, é parte importante no bem-estar de um relacionamento amoroso maduro.

Infelizmente, em psicologia são poucas as áreas que abordam questões sobre sexo e sexualidade de forma direta e franca. A área que mais ativamente pesquisa e investiga questões ligadas à sexualidade é a Psicologia Evolucionista. No entanto, a visão dessa área é ainda muito restrita e, de uma forma geral, não aborda a questão de uma maneira relevante ao dia-a-dia das pessoas. Ela tenta explicar certos comportamentos, mas grande parte dos problemas enfrentados por casais não são abordados de maneira satisfatória. Pelo menos ela não parece abordar a questão sob um ponto de vista social.

De uma maneira bem sucinta (e até mesmo injusta), a Psicologia Evolucionista foca no aspecto reprodutivo do ato sexual. Homens procuram mulheres que oferecem uma maior probabilidade de concepção. Em outras palavras, homens tentam maximizar as chances de uma concepção (reprodução) de sucesso. Daí a busca por mulheres saudáveis e atraentes. Como a concepção é um processo interno, pode existir o que os psicólogos evolucionistas chamam de “incerteza da paternidade”. Assim, mulheres buscam os melhores genes para seus filhos e ao mesmo tempo, busca uma fonte segura de suporte ao produto da reprodução (o filho). Por isso a busca por homens mais responsáveis e maduros.

No entanto, isso não pode ser toda a história. Sabemos que casais fazem sexo mesmo depois que já têm filhos (a parte reprodutiva já está feita). E mais ainda. Sabemos que casais fazem sexo pelo simples prazer que o ato proporciona. Geralmente, os casais mais felizes são aqueles que têm uma vida sexual boa e saudável. Uma vida sexual saudável e feliz se caracteriza pela preocupação que um tem em se satisfazer e, ao mesmo tempo, satisfazer o outro. A visão reducionista da Psicologia Evolucionista é, em parte, responsável pela idéia do senso-comum de que homens só pensam em sexo (no ato) e que mulheres são mais amorosas e procuram algo mais profundo e duradouro após o ato sexual.

Um estudo interessante, publicado em 2008, procura mostrar evidência de que, na verdade, homens que apresentam uma vida sexual boa com a esposa têm uma maior probabilidade de (1) agir mais positivamente no relacionamento e, mais importante, (2) tendem a agir com mais carinho e amor com relação à esposa. Em outras palavras, o efeito de uma boa vida sexual vai além da cama.
Para investigar essa questão, os pesquisadores aplicaram nos participantes uma dose de oxitocina (em um outro grupo foi aplicada uma dose de placebo). Oxitocina é um hormônio produzido pelo hipotálamo, principalmente, durante o orgasmo tanto feminino quanto masculino. Muito pesquisadores consideram a oxitocina o hormônio do amor.
Após a injeção da dose de oxitocina (ou placebo), os homens que participaram do estudo fizeram uma tarefa de reconhecimento de palavras. Nessa tarefa, eles deveriam identificar várias palavras, positivas e negativas, relacionadas à sexo, relacionamentos amorosos e emoções. Em psicologia, esses testes de reconhecimento medem o nível de acesso cognitivo à certos conceitos. Sabemos também que, quanto mais fácil o acesso a certos conceitos, maior a influência desses conceitos em nossas ações. Por exemplo, se temos um acesso mais fácil a conceitos relacionados à violência, teremos uma tendência maior a agir com violência. Se temos acesso mais fácil a conceitos relacionados ao nosso bem-estar, tendemos à praticar ações mais voltadas para o nosso bem-estar.
O estudo mostrou que a oxitocina faciliou o acesso dos homens às palavras positivas relacionadas a sexo e a relacionamentos. O mesmo não aconteceu com o grupo que ingeriu placebo, o que sugere que o responsável por essa facilitação foi mesmo a oxitocina. Em outras palavras, o estudo sugere que essa substância, liberada durante o orgasmo, influencia homens a pensar mais positivamente sobre o ato sexual (o que facilita ações e atitudes positivas com relação ao ato sexual) e mais positivamente sobre o relacionamento (o que facilita ações positivas com relação ao convívio não-sexual com a parceira).
A mensagem que fica é importante: é necessário reconhecer que sexo é sim importante para o bem-estar e bom andamento da vida de um casal. Ele não somente é prazeroso, como fortalece os laços de amor e companherismo de um casal. Sexo vai muito além de um simples ato de reprodução. E mais ainda: pensar e assumir que homens apenas sentem prazer “durante” o ato e nada mais além disso é, de fato, uma ignorância que pode, na verdade, enfraquecer os laços de companherismo que unem o casal. Às vezes, uma das causas dos problemas abordados em postagens anteriores é uma vida sexual pouco saudável e egoísta. Para que um casal tenha um bom e forte relacionamento extra-sexual é preciso saber e reconhecer o real papel que o ato sexual desempenha no relacionamento como um todo. Fica aí uma dica para pensar!
Referência:

Unkelbach C, Guastella AJ, & Forgas JP (2008). Oxytocin selectively facilitates recognition of positive sex and relationship words. Psychological science : a journal of the American Psychological Society / APS, 19 (11), 1092-4 PMID: 19076479

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Terminar ou Perdoar? Veja Como Homens e Mulheres Agem Quando Descobrem Que Foram Traídos.

ResearchBlogging.orgO que você faria se descobrisse que está sendo traído? Vamos ser mais específico: o que você faria se descobrisse que seu namorado está sexualmente envolvido com uma outra garota? Ou se descobrisse que sua namorada está emocionalmente envolvida com outro rapaz? Infidelidade — seja ela sexual ou emocional — é um problema enfrentado por muitos casais. Quando uma pessoa descobre a infidelidade do parceiro(a), ela deve enfrentar e tomar uma importante decisão: perdoar ou terminar o relacionamento?

De acordo com a teoria evolucionista, homens e mulheres enfrentaram pressões diferentes ao longo da história no que diz respeito à infidelidade. E por isso, homens e mulheres tendem a agir de maneira distinta quando descobrem a infidelidade do parceiro.

Todd Shackelford (Florida Atlantic University), David Buss (University of Texas at Austin) e Kevin Bennett (University of New Mexico) investigaram essas diferenças em um estudo publicado em 2001. Esses pesquisadores exploraram a idéia de que (1) homens tendem a achar mais difícil perdoar traições sexuais do que traições emocionais e (2) homens tendem a terminar o relacionamento depois de uma traição. Mulheres, ao contrário, tendem a perdoar mais traições sexuais do que traições emocionais.

No estudo, os pesquisadores apresentaram o seguinte dilema aos participantes:

Pense em um relacionamento sério que já teve no passado, que tem atualmente ou que pretende ter no futuro. Imagine que você descubra que a pessoa com quem está tendo o relacionamento está seriamente envolvida com outra pessoa. Para cada uma das perguntas, circule apenas uma resposta (A) ou (B):

O que te deixaria com mais raiva?
(A) Imaginar seu parceiro(a) tendo relação sexual com a outra pessoa.
(B) Imaginar seu parceiro(a) apaixonado (emocionalmente envolvido) com a outra pessoa.

Para esse dilema, os pesquisadores encontraram que mulheres ficam com muito mais raiva de traíções emocionais (imaginando o parceiro emocionalmente envolvido com outra pessoa) do que traições sexuais. Homens, ao contrário, ficam muito mais balançados com a parceira mantendo relações sexuais com outro homem do que qualquer tipo de envolvimento emocional. Daqui a pouco explico por que isso acontece.

O outro dilema apresentado pelos pesquisadores foi:

Pense em um relacionamento sério que já teve no passado, que tem atualmente ou que pretende ter no futuro. Imagine que você descubra que a pessoa com quem está tendo o relacionamento está seriamente envolvida com outra pessoa. Para cada uma das perguntas, circule apenas uma resposta (A) ou (B):
O que você acha mais difícil de perdoar?
(A) Saber que seu parceiro(a) manteve relação sexual com a outra pessoa.
(B) Saber que seu parceiro está apaixonado(a) pela outra pessoa.

O que te faria terminar o seu relacionamento com o seu parceiro(a)?
(A) Saber que seu parceiro(a) manteve relação sexual com a outra pessoa.
(B) Saber que seu parceiro está apaixonado(a) pela outra pessoa.

O mesmo padrão de resultado apareceu aqui. Homens acham mais difícil perdoar traição sexual do que traição emocional. E homens tendem a terminar o relacionamento quando o tipo de traição é sexual. As mulheres apresentaram comportamento oposto: acham mais difícil perdoar parceiros que se envolveram emocionalmente com outra mulher e tendem a terminar o relacionamento quando esse é o tipo de traição que descobrem.

A pergunta é: por que mulheres e homens agem dessa diferentemente a depender do tipo de traição? A explicação evolucionista é a seguinte: durante a evolução da espécie humana, tanto homens quanto mulheres enfrentaram os custos de uma infidelidade. Para o homem, ter uma mulher infiél significava que ele poderia estar investindo suas fontes de energia em um filho que não é dele. E como filhos são resultados de atos sexuais, para o homem, a mulher manter relações sexuais com outros homens era um risco muito maior do que o envolvimento emocional da mulher com outro homem (o que não resulta necessariamente em reprodução).

Já para a mulher, um envolvimento emocional do parceiro significa que a fonte de compromentimento e investimento para cuidar do filho está ameaçada. É como se a fonte de comprometimento e investimento estivesse agora sendo direcionada à um outro produto da reprodução.

Para a Psicologia Evolucionista, essas características da evolução desenvolveram mecanismos cognitivos que moldam, até hoje, o comportamento de homens e mulheres no que diz respeito ao seu comportamento sexual e amoroso. Socialmente homens são conhecidos como mais “sexualmente” direcionados, ao passo que mulheres são mais “emocionalmente” envolvidas em relacionamentos. Parte dessas características é “explicada” pela Psicologia Evolucionista.

No final das contas, não fique supreso se o seu parceiro(a) agir de uma forma diferente do que você agiria, caso a infidelidade venha à tona. A culpa não é totalmente dele(a), mas também dos seus ancestrais.

Referência:

Shackelford, T., Buss, D., & Bennett, K. (2002). Forgiveness or breakup: Sex differences in responses to a partner’s infidelity Cognition & Emotion, 16 (2), 299-307 DOI: 10.1080/02699930143000202

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“Não Quero Pensar Sobre Isso”. Evitar Pensamentos Tem Efeito Contrário.

ResearchBlogging.orgNunca gostei muito de ler livros de auto-ajuda. Por vários motivos. São altamente “positivos” (e.g. Psicologia Positiva) o que, na minha opinião, muitas vezes “mascara” a realidade do problema. No entanto, uma das minhas principais críticas é: muitas vezes esses livros espalham “conselhos” e práticas altamente infundadas em termos científicos. Em outras palavras, eles sugerem atitudes que simplesmente não têm relação alguma com o problema que pretende resolver.

Um dia desses, me perguntaram como fazer para evitar certos pensamentos. Que técnicas utilizar para evitar que pensemos nas coisas que não queremos pensar? A pessoa que me fez essa pergunta, disse que leu em um livro de auto-ajuda que, se alguém deseja evitar certos comportamentos, ela deve “ativamente” evitar pensar sobre coisas relacionadas a esse comportamento. Segundo o livro, se alguém deseja perder peso, essa pessoa deve evitar pensar em chocolates, pudins e tortas de morango com cobertura de chantilly.

Intuitivamente, isso parece ser uma ótima estratégia. No entanto, a ciência está aí justamente para nos mostrar que nem sempre o que parece ser “uma ótima estratégia” é na verdade “uma ótima estratégia”. Para ser ainda mais exato, pesquisas na área de Psicologia Cognitiva têm mostrado, desde a década de 80, que essa técnica de “supressão” de pensamento para evitar comportamentos relacionados é completamente errada. Evitar certos pensamentos, na verdade, causa o efeito contrário: ele aumenta seus pensamentos sobre aquilo que você não quer pensar e, principalmente, aumenta o comportamento que deseja evitar. O conselho do livro de auto-ajuda está errado e te ensina a “piorar” sua situação.

Um estudo publicado recentemente (Setembro/2010) no periódico Psychological Science mostrou esse efeito em fumantes. De acordo com o livro de auto-ajuda, se alguém deseja parar de fumar, esse alguém deveria simplesmente evitar (suprimir) pensamentos relacionados a cigarros. Será que funciona? Vamos ver o que o estudo mostrou.

O estudo ocorreu durante três semanas. Na Semana 1, os pesquisadores anotaram a quantidade de cigarros fumados por dia por cada participante. Eles também mediram o nível de estresse de cada participante. Na Semana 2, metade dos participantes foram instruídos a evitar pensamentos sobre cigarros e/ou fumar. Eles deveriam ativamente suprimir todo e qualquer pensamento sobre cigarros. A outra metade foi instruída a “expressar” todo e qualquer pensamento sobre cigarros. Os autores anotaram a quantidade de cigarros fumados por dia e o nível de estresse de cada participante. Na Semana 3, assim como na Semana 1, os pesquisadores apenas anotaram a quantidade de cigarros fumados por dia e o nível de estresse de cada participante.

Os resultados são bem interessantes. Primeiramente, o mais importante: os participantes que foram instruídos a evitar pensamentos sobre cigarros fumaram significativamente mais cigarros na Semana 3 em comparação às Semanas 1 e 2. Eles fumaram mais que os participantes que expressaram os pensamentos sobre cigarros. Já esses últimos fumaram virtualmente o mesmo tanto de cigarros nas Semanas 1, 2 e 3.

Duas coisas interessantes ocorreram: (1) durante a Semana 2, os participantes que evitaram pensamentos sobre cigarros fumaram significativamente menos cigarros do que os participantes que expressaram os pensamentos e (2) os participantes que evitaram os pensamentos sobre cigarro mostraram um nível de estresse significativamente alto durante a segunda semana. O fato de os participantes que evitaram os pensamentos terem fumado menos durante a Semana 2 pode explicar a sensação que temos de que “evitar pensamentos, evita atitudes”. A curto-prazo, evitar os pensamentos sobre cigarro, de fato, parece ter influenciado na diminuição da quantidade de cigarros fumados durante a semana de supressão dos pensamentos. No entanto, o efeito se reverteu totalmente na Semana 3, e esses participantes fumaram muito mais do que fumaram nas Semanas 1 e 2.

Apesar de terem fumado menos durante a Semana 2, os participantes que evitaram pensamentos sobre cigarros apresentaram um nível de estresse significativamente alto. O mesmo não ocorreu com o grupo que expressou os pensamentos sobre cigarros. Pode ser que a tarefa mental de ativamente evitar/suprimir certos pensamentos, na verdade, atua como um fator que agrega ao seu nível de estresse (resultado natural de uma sobre-carga cognitiva).

Os autores ainda fizeram outras análises relevantes, mostrando, por exemplo, que a supressão de pensamentos sobre cigarros está diretamente correlacionada com o insucesso na tentativa de parar de fumar, ou seja, quanto mais se evita pensar sobre cigarros, menos se consegue parar de fumar.

De uma maneira geral, o estudo demostra que “evitar pensamentos” para “evitar comportamentos” pode, na verdade, ter o efeito contrário — apesar do efeito desejado em um curto espaço de tempo. A mensagem que fica é: se deseja controlar ações indesejadas (e.g. vícios) já sabe que não deve tentar “não pensar” sobre a ação indesejável. A outra mensagem é: seja mais crítico quando estiver lendo um livro de auto-ajuda — principalmente se esse livro traz conselhos que parecem “intuitivamente” corretos.

Referência:

Erskine JA, Georgiou GJ, & Kvavilashvili L (2010). I suppress, therefore I smoke: effects of thought suppression on smoking behavior. Psychological science : a journal of the American Psychological Society / APS, 21 (9), 1225-30 PMID: 20660892

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Viés Atencional e Comportamento Suicída: Como Saber Quando Será a Próxima Tentativa?

ResearchBlogging.orgImagine que você gastou 5 minutos para ligar seu computador, acessar o seu site de busca favorito e clicar no link do “Cognando” para ler a postagem de hoje. Nesse tempo, pelo menos 8 pessoas cometeram suicído em alguma parte do mundo. Suicídio é hoje a maior causa de mortes entre a população norte-americana. Só no Brasil, a estimativa é de que 24 pessoas tentam suicídio por dia. O comportamento suicída é um transtorno mental que merece nossa atenção especial.

O alto índice de suicídios resulta, em certa medida, da falta de exatidão e confiabilidade dos testes que avaliam as condições mentais, biológicas e psicológicas de pacientes considerados de risco. Basicamente, a maioria dos testes depende (1) do relato do próprio paciente, que na maioria das vezes, nega a existência de qualquer tipo de pensamento e/ou comportamento suicída, e (2) das condições cognitivas do paciente: muitas vezes os pacientes não se encontram em condições cognitivas propícias para a realização de tal relato. Isso compromente a confiabilidade e exatidão das medidas. É importante e necessário ter medidas mais objetivas.

O Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos tem investido bastante tempo e dinheiro em pesquisas que buscam encontrar uma base mais objetiva para os testes que avaliam os marcadores mentais, comportamentais e biológicos associados à transtornos mentais. A parte biológica da pesquisa já está bem avançada. Já se sabe hoje, por exemplo, que mutações genéticas e o mal funcionamento dos neurotransmissores (partículas químicas responsáveis pela transmissão de informação de um neurônio para o outro) influenciam o devenvolvimento de traços psicológicos tais como impulsividade e comportamento suicída. No entanto, são poucas as evidências comportamentais que predizem, de maneira objetiva e acurada, a incidência de transtornos mentais e, consequentemente, comportamento suicída.

Um estudo recente realizado na Escola de Medicina de Harvard (e publicado no Journal of Abnormal Psychology em Março de 2010) propõe uma forma interessante de compreender, medir e prever a incidência de tentativas de suicídio. Os autores (Christine Cha, Sadia Najmi, Jennifer Park, Christine Finn e Matthew Nock) propuseram que pessoas com intenção de cometer suicídio possuem um viés atencional (objetivo e mensurável) em relação a palavras e termos relacionados a suicídio. Além disso, eles propuseram que esse viés atencional serve como indicador que prevê/prediz comportamentos suicídas futuros. Mas afinal de contas, o que é esse tal de viés atencional?

Viés atencional é a alocação seletiva de recursos atencionais em direção à um aspecto específico de um estímulo. Em palavras mais simples: viés atencional tem haver com como selecionamos “em que” prestamos atenção. Quando você vê um cachorro na rua, por exemplo, sua atenção pode se voltar para a cauda, a forma como o cachorro se locomove, a cor do pêlo, etc. O que determina o locus da sua atenção é o que caracteriza o viés atencional.

Teorias cognitivas que buscam explicar transtornos emocionais (e.g., transtorno do humor, agressividade, obsessividade, ciúme doentio, etc.) acreditam que as pessoas com esses transtornos desenvolvem um viés atencional (implícito) para aspectos relacionados ao transtorno propriamente dito. Um exemplo pra ficar mais claro: você já notou que pessoas depressivas tendem a prestar mais atenção (alocar os recursos atencionais) em aspectos tristes e depressivos do ambiente? Isso por que pessoas depressivas têm acesso à processos mentais relacionados à depressão mais facilitado (o caminho para chegar à pensamentos depressivos é mais curto para as pessoas depressivas). Elas reconhecem mais rapidamente, por exemplo, palavras com valência negativa (e.g., tristeza, solidão, etc.) do que palavras com valência positiva (e.g., alegria, felicidade, etc.). Em outras palavras, pessoas tristes alocam a atenção em coisas tristes ao passo que pessoas alocam a atenção em coisas felizes.

Os pesquisadores desse estudo propuseram que pessoas suicídas possuem um viés atencional em relação a aspectos relacionados à suicídio (da mesma forma que pessoas depressivas possuem viés atencional para aspectos depressivos). Para testar essa hipótese, os pesquisadores utilizaram uma versão modificada do teste de Stroop. O teste de Stroop é aquele famoso teste em que você vê o nome de uma cor (e.g., VERMELHO) escrito de outra cor (e.g., AZUL) e sua tarefa é dizer o nome da cor e não LER o que está escrito (clique aqui para ver um exemplo do teste de Stroop).

Na versão modificada do teste de Stroop utilizada pelos pesquisadores, o paciente via uma lista de palavras (1) relacionadas com suicídio (morte, funeral, suicídio, etc), (2) relacionadas com pensamentos negativos — não necessariamente suicídas (tristeza, rejeição, burrice, etc.) ou (3) palavras neturas (museu, carro, borracha). As palavras eram apresentadas de cores diferentes. A tarefa do paciente era dizer a cor da palavra. Os pesquisadores acreditavam que os pacientes com história de comportamento suicída demorariam mais tempo (maior latência) para nomear as cores das palavras relacionadas com suicídio. Por que isso? Acredita-se que, devido ao estado emocional e mental do paciente suicída, a relevância das palavras relacionadas a suicídio é bem maior para ele, de forma que, implicitamente, o paciente aloca a atenção na semântica da palavra (lembre-se que o acesso ao significado da palavra está, de alguma maneira, facilitado para esse paciente) e, consequentemente, essa alocação interfere no tempo que ele leva para nomear a cor.

Com efeito, os pesquisadores encontraram exatamente esse padrão de comportamento nos resultados. Os pacientes com história de tentativas de suicídio apresentaram um viés atencional maior (medido através da latência para responder ao estímulo) do que os pacientes sem história de comportamento suicída. Além disso, o viés atencional foi maior para pacientes com tentativa de suicídio recente.

O mais interessante do estudo, no entanto, foi o fato de que a medida do viés atencional serviu como um preditor confiável para tentativas futuras de suicídio. Os pacientes que participaram do estudo foram procurados seis meses depois da realização do estudo. Os pacientes com viés atencional maior foram os pacientes que voltaram a tentar suicídio seis meses após o estudo. Além do mais, o viés atencional foi um preditor confiável mesmo após o controle de outros transtornos mentais, tais como o transtorno do humor. O estudo mostrou que o viés atencional pode sim ser utilizado como um marcador comportamental confiável para acessar a tendência a cometer suicídio em paciente clinicamente de risco.

O mais importante disso tudo é entender as bases cognitivas, mentais e psicológicas que estão envolvidas em comportamentos suicídas. É preciso compreender essas bases não só para a prevenção e tentativa de diminuição do alto índice de suicídios por ano, mas também para saber como ajudar e apoiar as pessoas do nosso convívio que possuem esse tipo de transtorno. Fica aí a dica!

Referência:

Cha, C., Najmi, S., Park, J., Finn, C., & Nock, M. (2010). Attentional bias toward suicide-related stimuli predicts suicidal behavior. Journal of Abnormal Psychology, 119 (3), 616-622 DOI: 10.1037/a0019710

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The Miseries of Idleness: Pessoas Ocupadas são mais Felizes

ResearchBlogging.org Desde que entrei para a universidade, lido com um problema que acredito ser comum no meio acadêmico: estou sempre ocupado. Não tenho muito tempo livre para as atividades extra-acadêmicas. Algumas pessoas do meu círculo de convívio dizem que o problema é que eu não sei dizer “não”. Sempre aceito as propostas que me são oferecidas. Se me ligam e me pedem para revisar um manuscrito, eu aceito. Se me pedem um parecer, eu aceito. Se me pedem auxílio estatístico e metodológico, eu aceito. Chegam a me dizer que esse tanto de trabalho pode causar estresse e infelicidade. Será que é isso mesmo?

Um grupo de pesquisadores da Escola de Administração e Negócios da Universidade de Chicago, juntamente com um grupo de pesquisadores da Escola de Administração da Universidade de Shangai publicaram recentemente (Julho/2010), um estudo que sugere o seguinte:

(1) nós seres humanos não gostamos de ficar à toa. O sentimento causado pela ociosidade é ruim, e se pudermos escolher, e tivermos uma justificativa — mesmo que ruim — escolheremos ficar ocupados.

(2) pessoas ocupadas são mais felizes que pessoas ociosas. E isso é verdade mesmo que a ocupação seja obrigatória.

Para testar essas duas hipóteses, foram recrutados 98 participantes. Os pesquisadores disseram aos participantes que eles iriam participar de uma pesquisa confidencial sobre a universidade em que eles estudavam. A pesquisa consistia de dois questionários. Após terminar o primeiro questionário, o pesquisador dizia ao participante que o segundo questionário ainda não estava pronto e que ele deveria aguardar 15 minutos até que o segundo questionário ficasse pronto. No entanto, ele deveria entregar o primeiro questionário em um local específico. Havia duas opções de local para a entrega do primeiro questionário. Um local próximo ao local onde o questionário foi respondido e um local mais afastado (uma caminhada de 12 a 15 minutos ida-e-volta).

Os participantes tinham a opção de entregar o questionário no local próximo e esperar o resto do tempo pelo segundo questionário (escolha pelo tempo ocioso) ou entregar o questionário no local mais afastado e esperar menos tempo pelo segundo questionário (escolha pelo tempo ocupado). Nos dois casos os participantes recebiam uma barra de chocolates como “agradecimento” pela entrega do questionário.

Para manipular o tipo de justificativa, os pesquisadores criaram duas condições: em uma delas, nas duas localidades (longe e perto) os participantes podiam escolher entre dois tipos de barra de chocolate (chocolate ao leite e chocolate puro). Na outra condição, cada localidade oferecia um tipo de chocolate específico (ou ao leite ou puro).

A idéia básica do experimento foi: na condição em que o mesmo chocolate é oferecido nas duas localidade, não há justificativa aparente para a escolher o local mais longe (se os dois locais oferecem o mesmo brinde, pra que caminhar até o local mais longe?). Já na condição em que chocolates diferentes são oferecidos pelas duas localidades, há uma justificativa (mesmo que pequena) para a escolha entre caminhar até o local mais longe, ou ficar e entregar o questionário no lugar mais próximo.

Após os 15 minutos, os participantes responderam a um questionário que perguntava “Como você se sentiu nos últimos 15 minutos”. Essa pergunta mediu o nível de satisfação dos participantes.

Os resultados confirmaram as duas hipóteses apresentadas anteriormente: os participantes que foram colocados na condição em que os locais diferentes ofereciam chocolates diferentes, preferiram ir ao local mais longe (independente da barra de chocolate que era oferecida lá). Em outras palavras, mesmo com uma justificativa pequena, as pessoas preferiram se ocupar a ficar esperando pelo segundo questionário. Os resultados confirmaram também a segunda hipótese: as pessoas que foram ao local mais longe demonstraram uma maior satisfação e felicidade. Mesmo os participantes que foram colocados na condição em que o brinde era o mesmo nos dois locais e que preferiram ir ao mais longe, demonstram uma maior satisfação e felicidade. Os resultados sugerem que pessoas ocupadas são de fato mais felizes.

No entanto, no nosso dia-a-dia, por muitas vezes nos ocupamos não por que escolhemos, mas sim por que somos obrigados. Temos obrigações financeiras, por exemplo, que nos obrigam a trabalhar e nos ocupar. Será que mesmo uma ocupação forçada nos faz mais felizes? O segundo experimento tentou responder exatamente essa pergunta.

O procedimento foi exatamente o mesmo do primeiro experimento, no entanto, eles não escolhiam o local da entrega e sim o pesquisador o fazia. Os resultados foram os mesmos: as pessoas forçadas a ir ao local mais afastado demonstraram uma maior felicidade quando comparadas com as pessoas que foram forçadas a ficar e esperar.

No geral, a pesquisa corrobora resultados de várias outras pesquisas na área de Psicologia Cognitiva que sugerem que (1) ociosidade é prejudicial para a sobrevivência, (2) nós seres humanos estamos em uma busca constante de significado, tentando justificar todas nossas ações e atitudes e, finalmente (3) o trabalho — uma forma de ocupação — traz benefícios diversos para o bem-estar do ser humano.

Agora, quando me falarem que não sei dizer “não”, vou apenas dizer que o que eu quero mesmo é ser feliz! 🙂

Referência:

Hsee CK, Yang AX, & Wang L (2010). Idleness aversion and the need for justifiable busyness. Psychological science : a journal of the American Psychological Society / APS, 21 (7), 926-30 PMID: 20548057

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Deus e o Acaso sob uma Perspectiva Cognitiva

ResearchBlogging.org“Nada na vida acontece por acaso”. Toda vez que algo me acontecia (um problema no trabalho, um resultado negativo de uma prova, etc.), minha mãe me dizia essa frase. Se era apenas para consolar, eu não sei, mas a verdade é que até mesmo a existência dessa frase não é por acaso.

Nós, seres humanos, não gostamos do acaso. Sentimentos de acaso, bagunça e caos são sentimentos aversivos. Sentimentos assim incomodam o nosso sistema cognitivo. O ser humano está o tempo todo (desde criança) buscando compreender e estabelecer relações causais entre as coisas que acontecem. Dizer que A ou B acontecem por acaso não satifaz nossa cognição.

Mas esses sentimentos existem. E como seres adaptativos, estamos sempre buscando lidar com eles. Uma das tentativas de lidar com os sentimentos causados pela idéia do acaso é a crença na existência de um Deus controlador, ou uma força espiritual superior que controla e coordena todos os acontecimentos e ações humanas. Em outras palavras, acreditar em um Deus controlador funciona como uma excelente ferramenta para combater o sentimento aversivo e incômodo causado pela idéia do acaso.

Essa hipótese foi testada experimentalmente por um grupo de pesquisadores da Universidade de Waterloo no Canadá. Aaron Kay, David Moscovitch e Kristin Laurin estavam interessados em saber se uma manipulação experimental (prime) destinada a eliciar sentimentos sobre o acaso também aumentaria a crença em fontes sobrenaturais de controle. Colocado de forma mais simples, a pergunta desses pesquisadores foi a seguinte: se fizermos com que as pessoas sintam que as coisas acontecem por acaso, será que isso aumenta a crença de que existe uma força sobrenatural (i.e., Deus) que tudo controla?

Para testar essa hipótese, os pesquisadores recrutaram pessoas para participarem de um estudo que supostamente investigaria “os efeitos de um suplemento medicinal nas percepções de cores”. Eles falaram com os participantes que eles tomariam uma pílula (suplemento medicinal) e depois fariam uma série de atividades de percepção de cores. No entanto, para metade dos participantes, os pesquisadores disseram que a pílula poderia causar um pequeno efeito colateral: ansiedade. Para a outra metade, os pesquisadores disseram que não haveria nenhum tipo de efeito colateral. Após tomar a pílula, os participantes deveriam responder a um questionário (supostamente não-relacionado com o experimento) enquanto esperavam o efeito da pílula acontencer.

O questionário (que na verdade era o experimento propriamente dito) consistia de um grupo de palavras que os participantes tinham que utilizar para formar frases. Para metade dos participantes, as palavras eram palavras relacionadas com a idéia do acaso (chance, caótico, sorte, desordem, etc.). Para a outra metade, as palavras não tinham essa conotação. Após executar essa tarefa, os participantes responderam a uma série de perguntas que acessavam a crença deles em Deus e outras forças espirituais.

A idéia básica do experimento era a seguinte: o grupo de pessoas que leu as palavras relacionadas à idéia do acaso ficariam “ansiosas” (sentimento causados pela idéia do acaso) e isso supostamente aumentaria a probabilidade de que essas pessoas acreditassem em Deus e outras forças sobrenaturais. No entanto, se essa ansiedade pudesse ser atribuída á uma outra fonte (a pílula, por exemplo), a crença em Deus e outras forças sobrenaturais seria menor. Em outras palavras, eles queriam saber se quando não sabemos a causa de algum acontecimento (o que elicia sentimentos do acaso), atribuímos causa à uma força espiritual/sobrenatural maior (Deus é a causa. Ele quis assim). Mas se sabemos das causas dos acontecimentos, essa atribuição não necessariamente acontece.

Os resultados que os pesquisadores encontraram foi exatamente esse: no geral, o grupo de pessoas que leu as palavras relacionadas à idéia do acaso tendeu mais a acreditar em Deus e forças sobrenaturais quando comparado com o grupo de pessoas que leu as palavras controle (não-relacionadas com a idéia do acaso). No entanto, esse efeito experimental desapareceu quando a causa da ansiedade poderia ser atribuída à pílula (o grupo que tomou a pílula e foram informados sobre o efeito colateral). Todas essas diferenças foram estatisticamente significativas.

O estudo sugere que a crença em fontes sobrenaturais de controle parece sim funcionar como uma defesa cognitiva ao sentimento aversivo causado pela idéia de que as coisas acontecem por acaso. É cada vez maior, em Psicologia Cognitiva, o número de pesquisas que busca compreender as bases cognitivas que permitem que os seres humanos lidem com as crenças no sobrenatural, com pensamentos e atitudes religiosas, com superstições e com a idéia de que existe uma força superior (Deus, por exemplo) que controla tudo e todos.

Esse estudo, de fato, contribui para esse corpo de pesquisa e, certamente, essa pesquisa não aconteceu por acaso. 🙂

Reference:

Kay AC, Moscovitch DA, & Laurin K (2010). Randomness, attributions of arousal, and belief in god. Psychological science : a journal of the American Psychological Society / APS, 21 (2), 216-8 PMID: 20424048

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