Texto de Pedro Leal, Lavínia Schwantes, Peterson Kepps e Ana Arnt
É OURO DO BRASIL!!!!
Durante essa semana, Rebeca Andrade, nossa menina de ouro, se tornou a maior medalhista olímpica da história brasileira. Com a conquista da medalha de ouro no solo no último dia 5 de agosto, a ginasta já soma 6 medalhas em olimpíadas, sendo duas de ouro, três de prata e uma de bronze. Que venham muito mais conquistas para Rebeca e para a nossa ginástica!!! Viva o esporte brasileiro!!!
Para além do esporte, como essa conquista representa o povo e a cultura brasileira nas olimpíadas? É sobre esta e outras questões que iremos refletir neste pequeno texto.
ÓCULOS DE PESQUISADOR NA GINÁSTICA?
Quem se insere na pesquisa acadêmica como eu, como dizem nossas orientadoras, a partir de um determinado momento fica difícil tirar os “óculos de pesquisador”. Até em grandes eventos esportivos como as Olimpíadas e nas comemorações de medalha, então, mais ainda! Dessa vez, os meus óculos acabaram focando na música escolhida pela Rebeca para a apresentação do solo. Para quem perdeu, a apresentação completa está disponível aqui:
DAIANE DOS SANTOS 🤝 REBECA ANDRADE
Assim como Daiane dos Santos no Mundial de Ginástica de 2003, Rebeca trouxe para o palco mundial uma apresentação repleta de brasilidade. Se antes Daiane trouxe o samba, 20 anos depois Rebeca traz o funk.
O que nos chama atenção é que, no decorrer da história, ambos os ritmos sofreram com o movimento de desvalorização da cultura marginal brasileira. O samba nos anos 20 era criminalizado, assim como o funk veio a ser criticado desde os anos 90, passando inclusive por projetos de lei que tentavam também criminalizar o estilo. Em reportagem a BBC compara esses dois movimentos:
PÓS-ESTRUTURALISMO NAS OLIMPÍADAS
Enquanto brasileiros e pesquisadores, entendemos que tais ritmos marginalizados pela sociedade e, que começam a ganhar espaço na mídia, na arte ou até mesmo no esporte, atualmente, podem ser vistos por novas configurações sociais. A partir daí, podem ser pensados por outras perspectivas, como por exemplo ao estado que muitos estudiosos chamam de uma condição “Pós-estruturalista”.
“O pós-estruturalismo é um conjunto de experimentos acerca de textos, ideias e conceitos que mostram como os limites do conhecimento podem ser atravessados e revertidos em relações subversivas.” WILLIAMS, 2012, p.35
A partir dessa afirmativa, podemos refletir sobre este movimento e em como esse os pós-estruturalistas questionam os limites do conhecimento ou aqueles conhecimentos e saberes considerados padrões, já consolidados. Nesse sentido, trazer à tona ritmos, conhecimentos ou culturas antes marginalizadas ou criminalizadas, pode ser entendido como um ato de subversividade.
Assim, voltando ao palco das olimpíadas, os estilos musicais que já sofreram tanto preconceito foram destacados tanto por Daiane dos Santos quanto por Rebeca Andrade. Cada uma em edições olímpicas diferentes, põe em voga o que podemos chamar, aos olhos da pesquisa em Ciências humanas, de uma perspectiva da pós-modernidade. O que encontra, assim, rupturas para trabalhar e resistir às as práticas hegemônicas e aos regimes de verdade já estabelecidos.
BRASILIDADES E RESISTÊNCIAS
Viva a ginástica e o esporte brasileiro!!! No fim das contas, todas essas reflexões teóricas nos levam a uma conclusão: estamos no século XXI! É o século da pluralidade! Não existe mais a possibilidade de ignorarmos os múltiplos conhecimentos, os saberes populares, as diversas culturas e inclusive as manifestações artísticas que antes eram criminalizadas e marginalizadas. Além da medalha de ouro, nossas ginastas nos enchem de orgulho e são um exemplo de representatividade da cultura brasileira!!
Para saber mais…
BBC (Julho, 2017). Projeto de lei de criminalização do funk repete história do samba, da capoeira e do rap
GE (Julho, 2024). Brasileirinho de Daiane do Santos viraliza após conquista da ginástica: “Como não ganhou?
GE (Agosto, 2024). Quantas medalhas tem Rebeca Andrade nas Olimpíadas?
O Dia (Agosto, 2024). Rebeca Andrade fatura ouro no solo e se isola como maior medalhista brasileira na história
WILLIANS, James. Pós-estruturalismo. Petrópolis: Vozes, 2013.
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