Ameaças às escolas, violência e as mensagens nas redes

Imagem com as perguntas: Recebeu mensagem ou viu conteúdos sobre ameaças às escolas nas redes sociais? Vamos falar sobre estas informações e algumas formas de buscar confirmações com segurança?

Os últimos 20 dias têm sido de notícias que são difíceis de abordarmos em um projeto de divulgação científica que possui, como princípio, analisar com cautela suas pautas, especialmente quando se trata de violência ou ameaças violentas. Como professora há quase vinte anos e defensora do espaço escolarizado público, afirmo que não há palavras para descrever tanta tristeza como os acontecimentos recentes.

Dizer que a escola vem sendo alvo de ataques há tempos, embora verdadeiro, parece irrisório frente à vivência de morte de colegas, crianças e ameaças que fazem jovens, crianças e docentes estarem em estado de pânico constante.

Na segunda-feira, dia 10 de abril, em todos os grupos de telegram e whatsapp, eu e demais colegas da equipe do Blogs Unicamp, fomos tomados por mensagens de pedidos de confirmação dos boatos de ameaças que chegavam em grupos de familiares com filhos em idade escolar. Já na terça-feira, dia 11 de abril, recebemos nova enxurrada de mensagens, perguntando sobre novas ameaças e boatos de ataques em escolas aqui de Campinas e outras regiões do Brasil.

Assim, como de costume, fomos buscar informações para compreender melhor o que estava acontecendo, antes de responder com qualquer fala mais assertiva. Há muito desencontro de informações e, certamente, um estado constante de alerta que não pode ser desconsiderado. É absolutamente compreensível que mães e pais sintam-se acuados, mesmo que analisem as mensagens recebidas e desconfiem da veracidade das informações. Pois, estamos falando de ameaças destinadas a seus filhos em um espaço institucional que consideramos seguro. Mas também é fundamental que compreendamos que cuidado é, às vezes, não agir com impulsividade.

Cuidados necessários ao receber mensagens ou ver ameaças em redes sociais

Nós sabemos que analisar se mensagens são ou não verdadeiras não é algo simples. A desinformação anda de braços dados com a mobilização de afetos – raiva, medo, tristeza incluem-se nesta lista.

Se por um lado grande parte destes avisos e ameaças podem ser alardeamentos aleatórios, com o intuito de medos generalizados por todo o país, por outro lado resta sempre um “e se” em nossas sensações. E sabemos disso e, por isto mesmo, não nos apressamos para trazer qualquer debate para vocês. Todavia, mais do que apenas falar se precisamos ou não adotar posturas específicas, trazemos parte do conteúdo veiculado por Letícia Oliveira, jornalista que participou da Equipe de Transição e monitora grupos extremistas nas redes sociais:

O fio completo pode ser visto abaixo:

Além disso, vamos dar uma olhada em alguns prints que recebemos em grupos (todos com a devida anonimização e autorização de quem enviou), para pensarmos um pouco sobre as mensagens.

É relevante lembrar que mensagens como estas, sem qualquer indicação de autoria, região, data que possa ser verificada NÃO DEVE SER REPASSADA.

  • Ah, Ana, mas nem como alerta?
  • Nem como alerta…

Nós sabemos que sempre fica um questionamento, uma “pulga atrás da orelha”, nos dizendo “e se esta for verdade”? Assim, sabemos que é MUITO DIFÍCIL lidar com mensagens que nos remetem ao medo com amigos, colegas de trabalho e familiares. Ademais, neste caso, em que as ameaças são vinculadas à infância, os nossos piores pesadelos vêm à tona.

DE MODO ALGUM ESTAMOS PEDINDO PARA NEGLIGENCIAR CUIDADOS COM PESSOAS PRÓXIMAS.

Nosso alerta, com estes exemplos de mensagens, em conjunto com a mensagem anterior, da Letícia, é de não espalhar alarmismos que assustam, sobressaltam, deixam pessoas em pânico sem que saibamos o que está acontecendo e de onde vem estas informações.

Cuidar também é ajudar a não espalhar pânico, nem fomentar ações impensadas e irresponsáveis com desinformação. A desinformação se alimenta, reiteramos, de nossos afetos. E, mais importante que isso, todos nós estamos suscetíveis a cair em desinformação e espalhar mensagens assim por impulso, medo, raiva, intenção de zelo com pessoas que são importantes para nós!

Por isso, é fundamental que tenhamos calma e cautela antes de encaminhar qualquer mensagem por impulso.

Como lidar com mensagens recebidas?

No dia 10 de abril, o Governo Federal criou um canal de denúncias sobre ameaças a escolas que pode ser acessado aqui

O Ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou também que se reuniu com representantes de redes sociais e plataformas virtuais, a fim de tomar providências no que tange a perfis que divulgam conteúdos com ameaças, violência ou apologia à violência contra escolas. Dessa maneira, Flávio Dino vem debatendo a temática nos últimos dias em diversas instâncias, inclusive apontando que as plataformas não estão acima da Constituição Federal, sendo necessário que os termos de uso das redes sejam coerentes à lei.

Redes sociais

Recentemente temos visto modificações significativas na rede social Twitter, que tem gerado questionamentos sobre se vale (ou não) a pena permanecer com perfis ativos por lá. Isto se deve às mudanças de regras e crescente quantidade de perfis extremistas, desinformativos e que pregam a liberdade de expressão como ferramenta e base para oprimir, espalhar discurso de ódio, pregar violência contra minorias.

Além disso, Mellanie Fontes-Dutra e Isaac schrarstzhaupt, colegas de Divulgação Científica na Rede Análise, comentaram alguns destes apontamentos em reportagem jornalística no Matinal

No dia 11 de abril, após a repercussão de que o Twitter não considerava uma quebra de regras nos termos de uso da rede, nas análises de perfis que veicularam violência contra crianças e adolescentes (incluindo postagens contendo imagens com armas e ameaças), rapidamente inúmeros perfis acusaram a rede de ser conivente com massacres infantis. Rapidamente o “assuntos do momento” emergiu com os dizeres TWITTER SUPPORTS MASSACRES e TWITTER APOIA MASSACRES.

Finalmente…

Por fim, é fundamental que, em momentos de tensão crescente, tenhamos cuidado com canais e perfis de redes sociais que divulgam conteúdos alarmistas também. Além disso, neste momento, reiteramos (e reiteraremos quantas vezes forem necessárias), cuidado com as fontes de informação e condições de verificação de informações que tu recebes e que tu compartilhas.

Para saber mais

CANAL DE DENÚNCIAS DO GOVERNO FEDERAL

BRASIL Relatório da Equipe de Transição (2022) O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental

Portal Imprensa (2023) Veículos de comunicação adotam novos protocolos de cobertura de ataques a escolas

Referências e Jornais

DEBORD, G (2000) Sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto.

DEBORD, G (1997) A Sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo, Rio de Janeiro: Contraponto.

GRANCHI, GIULIA (2023) Os fatores que contribuem para ataques em escolas, segundo especialistas

LARROSA, Jorge (2002) Notas sobre a experiência e o saber da experiência, Revista Brasileira de Educação.

LAZER, David MJ et al (2018) The science of fake news Science, v359, n6380, p1094-1096.

MEDINA, Tiago (2023) Mudanças no Twitter ameaçam futuro da rede para divulgação científica

MORAES, ALC (2016) Cultura da imagem e sociedade do espetáculo. São Paulo: UNI, 2016

MORI, Letícia, LEMOS, Vinícius (2023) A idolatria a autores de ataques a escolas que circula livremente em redes sociais

MORI, L, LEMOS, V (2023) Ataque a escolas: os boatos no WhatsApp que criam pânico entre pais e alunos

OLIVEIRA, Ingrid (2023) Twitter choca Flavio Dino ao permitir apologia a assassinos na rede social

PIMENTEL, Carolina (2023) Dino exige de redes sociais retirada de mensagens de ameaça a escolas

SCHURIG, Sofia (2023) Sem moderação, Twitter tolera conteúdo explícito de apoio a massacres escolares

SILVA, Camila (2023) Em meio a ataques em escolas, Dino endurece exigências às redes sociais

Outros textos do Blogs Unicamp:

A ética na comunicação!

A Sociedade do Espetáculo e a individualização do ódio

O ódio como engajamento

Corrigindo boatos de forma estratégica

Combatendo o pensamento conspiracionista com ciência

Vocês sabem o que é “Clickbait”?

Fazer Divulgação Científica sobre pandemia em uma sociedade do espetáculo

NORMOSE (2022) Manual para NUNCA mais ser enganado! As 6 leis contra estupidez

Sugerimos também:

Sobre Ana Arnt 55 Artigos
Bióloga, Mestre e Doutora em Educação. Professora do Departamento de Genética, Evolução, Microbiologia e Imunologia, do Instituto de Biologia (DGEMI/IB) da UNICAMP e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PECIM). Pesquisa e da aula sobre História, Filosofia e Educação em Ciências, e é uma voraz interessada em cultura, poesia, fotografia, música, ficção científica e... ciência! ;-)

4 Comentários

  1. Sou mãe de uma estudante da Unicamp de Limeira.Estamos preocupados. Moramos em outro estado e receber a notícia de que poderia ter um ataque no campus foi aterrorizante.Conto com a verdade de vocês.

  2. Sou mãe de uma estudante da Unicamp de Limeira.Estamos preocupados. Moramos em outro estado e receber a notícia de que poderia ter um ataque no campus foi aterrorizante.Conto com a verdade de vocês.

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