Na postagem anterior intitulada “Cloreto de vinila – explosão em forma de molécula?“, nós conversamos sobre a explosão que foi causada pelas más condições de transporte do cloreto de vinila em Ohio nos EUA. O composto é um câncerigeno já conhecido, e seu principal modo de ação em termos de causar câncer envolve sua ativação metabólica dentro da célula. 

Os produtos químicos que tem a capacidade de se ligar ao DNA e induzem mutações são conhecidos como mutagênicos. No entanto, ao considerar a interação química do cloreto de vinila com o DNA, é importante deixar claro desde já que o cloreto de vinila não se liga quimicamente ao DNA de maneira direta. Sendo assim, como o o cloreto de vinila desencadeia as reações que são capazes de modificar o DNA?  Vamos juntos conversar um pouquinho sobre isso nessa postagem do Blog Quimikinha!

Como o cloreto de vinila causa câncer?

Sabe-se que a exposição ao cloreto de vinila por ingestão, inalação ou contato com a pele pode levar à sua absorção pela corrente sanguínea, de onde é transportado para o fígado. O cloreto de vinila sofre metabolismo enzimático no fígado, principalmente pela enzima citocromo P450 2E1 (CYP2E1), para formar um intermediário chamado 2-cloro-oxirano ou óxido de cloroetileno, um epóxido tal apresentado na Figura 1. 

Figura 1. Mecanismo de mutagênese do DNA a partir do cloreto de vinila: uma vez que o cloreto de vinila é transportado para o fígado, a enzima citocromo P450 o converte no epóxido, que é altamente reativo com as bases no DNA (guanina, por exemplo) e, dessa maneira modifica o DNA levando a uma formação de "adutos de DNA".

A molécula cíclica formada a partir do cloreto de vinila contém um grupo epóxido (o anel cíclico altamente reativo que contem três átomos – 2 carbonos e um oxigênio) que pode se ligar facilmente às bases do DNA dentro da célula humana, resultando na formação de adutos de DNA. Esses compostos formados, por sua vez, podem causar as mutações no DNA que são responsáveis pelo desenvolvimento de câncer.

Para saber mais:

Guengerich, F. P., & Ghodke, P. P. (2021). Etheno adducts: from tRNA modifications to DNA adducts and back to miscoding ribonucleotides. Genes and Environment, 43(1), 24. https://doi.org/10.1186/s41021-021-00199-x


Gisele Silvestre

Atualmente, sou pesquisadora na área de inovação tecnológica no Laboratório Multiusuário de Química e Produtos Naturais sediado na Embrapa - CE (Postdoc). Doutora em Química pela Unicamp (2017). Bacharel em química pela Universidade Federal do Ceará (2011). Interessada na popularização da ciência, parcerias, trocas de conhecimentos científicos e culturais. Tenho como hobby o ato de "aprender" . O conhecimento sempre me surpreende e fascina. Minha missão é compartilhar conhecimento e descobertas científicas. Ciência para todos! Carpe Diem!

0 comentário

Deixe um comentário

Avatar placeholder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *