De volta para o futuro?

Em 2009 escrevi sobre um post baseado no artigo “When Zombies Attack!: Mathematical Modelling of an Outbreak of Zombie Infection”, de Philip Munz, Ioan Hudea, Joe Imad e Robert J, Smith? (sim, com ponto de interrogação, long history).

O post é uma galhofa que trata de todo o apelo que os zumbis têm na cultura pop e descreve, brevemente, o desenvolvimento de um modelo matemático relacionado a uma epidemia de comedores de cérebros.

Eis que, hoje, vejo no blog Meio de Cultura que o Samir publicou um texto que trata exatamente do mesmo tema. Peço 2 minutos da vida de vocês para clicarem nos 2 links abaixo, pois algumas similaridades chegam a ser assustadoras:

Como sei que o Samir é gente boa, responsável e consciente, acreditei quando ele disse que não conhecia o meu texto (aliás, ele jurou, hummm…). Eu particularmente prefiro a hipótese de que ele tenha lido o texto, não se lembre e tenha ficado com a ideia em stand by, o que me leva a uma única conclusão:
piao+inception.jpg (320×265)
Entendedores entenderão.
Brincadeiras à parte, faço questão de recomendar o texto do Samir, que está bem melhor que o meu e terá  Parte 2 em breve!

Blogagem coletiva Fim do Mundo

É o fim do mundo!!! (parte 1) — Ou: Sobreviveremos a uma epidemia zumbi?” faz parte da blogagem coletiva 2012: O Último Carnaval? promovida pelo SBBr! Você tem um blog de ciência e quer participar? Acesse esse link e descubra como!
PS pro Samir e demais sciblings: Palhaço Hard, desligando.

 

Cientistas derrubam a Lei da Gravidade! NOT!

Uau, ficaram sabendo que existem religiosos questionando a Lei da Gravidade e buscando o ensino do princípio da “Queda Inteligente” nas escolas dos EUA! Pois é!

Calma, eu não enlouqueci. Explico: quem pensa que o costume de encaminhar “notícias”, “revelações” e “polêmicas” sem nem ao menos se dar ao trabalho de verificar a veracidade do conteúdo é exclusivo de gente com pouco estudo, desfavorecida e blablabla, engana-se. O causo abaixo chegou ao Rafael e a mim por um amigo em comum, com a mensagem:

“Biólogos: mensagem que está circulando na lista de e-mails da graduação em CURSO X da USP. Nem li, mas se interessar… Abraço”

"Santo Google, mais uma piada levada a sério!"

O e-mail encaminhava uma mensagem indignada de um dos alunos. Uma descoberta que, sem dúvida, agitaria todos que ensinam Ciências. Leiam por si próprios:

http://www.theonion.com/articles/evangelical-scientists-refute-gravity-with-new-int,1778/

Cara, só pode ser piada…. Não basta a disputa entre o ensino do evolucionismo X criacionismo, agora alguns religiosos norte-americanos (sempre eles) questionam também a lei da gravidade!!! Palhaçada….

Traduzo um trechinho para os preguiçosos que não quiserem ler tudo em inglês, ou simplesmente traduzir tudo com algum tradutor:

“Vamos dar uma olhada nas evidências,” disse pesquisador sênior do ECFR (Centro Evangélico para o Raciocínio baseado na Fé), Gregory Lunsden. “Em Mateus, 15:14, Jesus disse, ‘se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova.’ Ele não diz nada sobre a gravidade fazer eles caírem – apenas que eles cairão. Então, em Jó 5:7, nós lemos, ‘Mas o homem nasce para a tribulação, como as faíscas se levantam para voar.’ Se a gravidade puxa tudo para baixo, por que as faíscas voam para cima com grande certeza? Isso claramente indica que uma inteligência consciente governa tudo que cai.”

Dá para acreditar nesses caras???”

Minha pronta resposta para a tal mensagem foi “Não, gente, não dá.” Desse modo, logo parti em busca da notícia original para tirar essa história bizarra a limpo.

Óbvio, me deparei com mais um belo exemplo de como muita gente perde tempo – e talvez cérebro – simplesmente confiando em qualquer coisa disponível na internet. Existe um passo a passo básico para filtrar bobagens como essa e não pagar mico, como vocês lerão a seguir. Além disso, sugiro que aproveitem essas dicas em qualquer leitura, conversa ou aula daqui em diante. Pensamento crítico, crianças, só não é melhor que canja de galinha =)

Primeiro: encontrar a fonte original. Nesse caso específico só essa ação que não vai tomar mais do que 5 minutos do seu precioso tempo já resolve qualquer dúvida. O artigo encaminhado como “polêmico”, “absurdo” e “inimaginável” foi publicado pelo The Onion. Case closed, next!

“Ué, peraí, e daí? Nunca ouvi falar!”

Não tem problema, o titio explica: o The Onion é famoso por criar sátiras de notícias reais ou simplesmente inventar conteúdo absurdo sobre assuntos importantes. No caso, uma sátira que aplicação semelhante à maluquice do Desing Inteligente para explicar a Lei da Gravidade. E pensar que alguém levou essa notícia a sério, tsc tsc.

Segundo: descobrir a data de publicação e encontrar a mesma notícia veiculada em outros portais, jornais, blogs etc. O artigo em questão é de 2005 e todas as notícias semelhantes são meras reproduções da nota original do The Onion. Preciso falar mais? Como algo que teria tanto impacto e geraria tanta discussão só foi destacado por UM veículo de comunicação? E porque ficou ao léu por tantos anos?

Geralmente, a resposta para as duas perguntas é: você está diante de uma mentira/bobagem/piada. Simples assim.

Para quem ainda duvida, outro link de 2005 que encontrei sobre o tema é da Ciência List e pode ser acessado em http://br.groups.yahoo.com/group/ciencialist/message/49892. Lógico, menos de 1 dia depois da mensagem inicial a discussão entrou em uníssono: piada piada piada.

"Tantas informações, e agora?!" Sem drama, bom senso e paciência resolvem essas questões. Usem-nos!

Resumão: normalmente descobrir se a “grande notícia polêmica” que chegou a você é real ou não dificilmente tomará mais do que 10 minutos do seu tempo.

Se você acha que é muito tempo para perder com isso, a solução é simples: não a encaminhe. Assim você poupa o seu tempo e de todos que a receberiam.

Ah, e o meu. Especialmente o meu.

189 motivos para comer ervilhas!

Se você entrou na página inicial do Google hoje, reparou em algo estranho: ERVILHAS!
gregormendel11-hp.jpg
Sim, é uma homenagem aos 189 anos de um dos nomes mais importantes da Genética, Mendel!
MendelPeaSoup.jpg
Um feliz aniversário ao papai (ou tatatatataravô, se quiser dar o devido respeito aos 189 anos) da Genética!
Quer mais? http://www.ciensinando.com.br/2011/07/189-aniversario-de-mendel/
Não achei o cartoon original, mas a imagem veio de http://eebweb.arizona.edu/courses/ecol320/Mendel%27sPeaSoupSmall.jpg

Êsso non ecziste!

imagemjcmel.jpgPretendia deixar esse texto para segunda-feira, mas prefiro não perder o timing de um dos assuntos quentes dos últimos dias.

Desde semana passada a notícia de uma imagem de Jesus
Cristo na Zona Leste de São Paulo que supostamente verte lágrimas de mel começou a atrair vários fiéis querendo ver o fenômeno de perto.

Todo esse movimento fez com que a Igreja se manifestasse sobre o caso: a Arquidiocese de São Paulo quer submeter a imagem a análises
científicas por especialistas, pois segundo Juarez Pedro de Castro,
padre e secretário de Comunicação da
arquidiocese, “O fenômeno somente será
atribuído a uma causa sobrenatural se não houver nenhum efeito da
natureza que o explique.”

O primeiro veículo a publicar a matéria foi o jornal Agora São Paulo.
Procurado pelo veículo que gostaria de saber sobre a
possível explicação química desse fenômeno acontecer, afirmei: “é
impossível”. Abaixo segue minha declaração na matéria assinada
pela repórter Fernanda Barbosa.

Especialistas afirmam que é impossível que uma imagem
verta mel. No entanto, dizem que o fenômeno poderia ser explicado pela
ciência se o líquido fosse água. O professor de ciências e doutorando da Unifesp Gabriel Cunha diz que
a condensação do vapor d’água faria com que o líquido aparecesse na
imagem.
“Poderia haver água devido à diferença de temperatura
entre a imagem [fria] e o vapor d’água [quente] presente no ar. Mas
isso não ocorreria com mel ou óleo.”

As estátuas que choram são velhas conhecidas dos fiéis – e céticos – e supostamente vertem lágrimas por meios sobrenaturais. Geralmente o líquido aparenta ser sangue, óleo ou líquidos perfumados. No entanto, apesar de atraírem muitos fiéis como em Sapopemba, a maioria dos casos são descartados pelos níveis mais altos da Igreja ou desmarcarados como fraudes por análises técnicas.

Até hoje existem alguns poucos casos de imagens aceitos oficialmente pela Igreja, como aconteceu na Sicília em 1949.

Já as fraudes são muitas, como na Itália em 1995: o próprio bispo local afirmou ter visto uma estátua de Madonna chorar lágrimas de sangue. A análise do material, no entanto, mostrou que o sangue tinha origem masculina e o dono da imagem se recusou a fazer um exame de DNA (que surpresa).

Em 2008, também na Itália, Vincenzo Di Constanzo foi julgado por fraudar uma dessas imagens: as lágrimas de sangue de sua estátua da Virgem Maria foram analisadas e o resultado mostrou que o sangue da estátua era dele mesmo.

Também expliquei aos repórteres do Agora São Paulo que os casos de
imagens que choram normalmente começam e terminam do mesmo jeito: a
notícia se espalha e, se atrair muita atenção, o material é coletado e
enviado para análise. Depois disso temos dois cenários: a análise tem
“resultados inconclusivos” ou simplesmente não se fala mais no assunto, o
que descartam a veracidade do fenômeno cientificamente.

Agora adivinha o que a dona da casa em que está a imagem disse sobre enviar a mesma para análise?

“Ninguém tira [a peça] daqui”, alegando temer que a imagem seja extraviada. “Se quiserem, que venham e façam os exames aqui em casa mesmo.”

Parece que teremos mais um exemplo dos casos em que depois de um tempo
não se ouve mais falar a respeito…

Fontes: Agora São Paulo / Terra.com.br

Foto de Ale Vianna da Futura Press

Papai Noel ameaçado de extinção?!

Convicções à parte, vou seguir uma das tradições natalinas, e escrever uma cartinha com meus pedidos.

Mas, ao contrário do esperado, minha cartinha – o texto de hoje – não é para o o bom velhinho. É para o Sr. Nathan Grills, um especialista em Saúde Pública da Universidade Monash (Austrália) que aproveitou o final de ano para aparecer na mídia.

santa-claus.jpg

Como ele conseguiu isso? Publicando um artigo no periódico British Medical Journal fazendo críticas ao… Papai Noel.

É, ao Papai Noel. A patrulha do ‘politicamente correto’ quer fazer mais uma vítima e, do jeito que as coisas andam, logo mais o mundo perde toda a pouca graça que ainda tem. Já começaram a assassinar as fábulas e canções infantis, mas esse pessoal não vai se satisfazer nunca.

Para Grills, o bom velhinho representa um péssimo exemplo para as crianças retardadas e imbecis do nosso mundo. E eu digo ‘crianças retardadas e imbecis’, porque só fazendo essa premissa para acompanhar o raciocínio desse australiano idiota. Vejam alguns exemplos de incentivos ruins do bom velhinho e as ‘soluções’ propostas por essa pessoa iluminada que é o Sr. Grills:

  • Direção irresponsável/alcoolismo: a tradição anglo-saxã de deixar um copo de brandy ou vinho do Porto para ajudar o Papai Noel em sua viagem noturna (por causa do frio) pode levar as crianças à noção de não haver problema em beber e dirigir, e, a longo prazo, aumentar as chances de as mesmas desenvolverem alcoolismo. Além disso, ele argumenta que Papai Noel nunca foi visto usando CINTO DE SEGURANÇA, e que, para conseguir entregar todos os presentes na noite de Natal, tem que ignorar todas as leis de trânsito (especialmente os limites de velocidade).
  • Obesidade/sedentarismo: deixar biscoitos, tortinhas ou um copo de leite para o coitado Noel. Grills propõe que ele receba o mesmo lanche que a Rudolph (aquela rena de nariz vermelho, que parece o Maradona fuuuuuuuuuuuuu), de cenouras e aipo. Prá piorar, para melhorar a ‘imagem sedentária’ que ele passa viajando de trenó, sugere também que ele tenha um modo de locomoção mais ativo, entregando os presentes de bicicleta, ou à pé.
  • Esportes radicais: aqui ele lista exemplos como “surfe de telhado” e “salto na chaminé”, o que aumentaria os riscos de as crianças se acidentarem, tentando imitar as peripécias do Papai Noel. Realmente, será que esse cara tem família?
  • Disseminação de doenças: agora ele extrapola, afirmando que as pessoas que trabalham durante as festas vestidas de Papai Noel possam ser vetores de doenças infecciosas, e propõe a realização de mais exames médicos, e melhor monitoramento dos mesmos.
  • Finalizando essa ‘pérola de Natal’ que Grills criou, ele conclui que “há decepcionante falta de pesquisas rigorosas sobre o efeito do Papai Noel na saúde pública”, e acredita que mais pesquisas habilitariam as ‘autoridades’ a agir para regular as atividades do Papai Noel. Esse cara não é demais? Depois de uma frase dessas, quem é o retardado? As crianças, os pais, ou Nathan Grills?

    Eu já escolhi a minha resposta… e vocês?

    Aliás, só prá terminar meu recadinho pro Sr. Grills: se vocês conseguirem estragar mais essa parte da minha infância, espero, de coração, que a cena (com ‘C’, viu, Sasha?) seguinte nos jornais seja essa aqui:

    guntohead-284x300.jpg

E, claro, um ótimo Natal para todos!