Space Economy (II)

Por: Leonardo Dias Nunes

Introdução

Neste artigo são apresentados os dados que integram o relatório The space economy in figures – responding to global challenges (2023) [1] e os desenvolvimentos tecnológicos relacionados à space economy que atualmente dinamizam novas áreas empresariais.

Destaca-se à leitora e ao leitor do Blog Sobre Economia que esses artigos são introdutórios e não apreendem todo o campo de pesquisa que compreende a space economy. Entretanto, ressalta-se que o tema vem recebendo visibilidade na mídia [2], na academia [3], nas instituições multilaterais [4] e nos setores empresariais. Alguns de seus defensores argumentam que a exploração espacial é uma forma de resolver os atuais problemas da humanidade [5]. Será que essa afirmação é verdadeira? Ainda não se tem condições de responder a essa pergunta. Entretanto, diante do aumento da importância social destinada ao tema, foi escolhido dele se aproximar, mesmo cientes da existência de limites de contextualização, explicação e aprofundamento.

Antes, relembra-se cinco argumentos apresentados no primeiro artigo sobre a Space Economy. Primeiro, as transformações econômicas e sociais advindas das tecnologias mais complexas são sempre um material rico para a criação de tendências, perspectivas e ficções [6].

Os outros argumentos listados estão de acordo com o livro Space economy: the new frontier for development, escrito pela astrofísica italiana Simonetta Di Pippo [7]. Assim, o segundo argumento apresentado está relacionado com a afirmação da autora de que esse setor será a base de um novo boom no desenvolvimento da economia global e sua democratização irá melhorar as condições de vida no planeta Terra. O terceiro apontou para a possibilidade da espécie humana se transformar em uma espécie multiplanetária que extrairá minerais da Lua, desenvolvendo a economia lunar e trazendo efeitos positivos para a economia capitalista global. O quarto mostrou que existem diferenças entre a old space economy e a new space economy. Enquanto a old space economy tinha suas atividades desenvolvidas por instituições de pesquisa governamentais, a new space economy relaciona-se com empresas privadas que estão transformando os negócios no setor. O quinto, por fim, relaciona a space economy com a transformação digital que ocorre em todas as partes do mundo e com as mega constelações de satélites que auxiliarão na implementação da conectividade de todos os humanos adultos à internet e no funcionamento dos sistemas autônomos.

I. Space Economy em números

O relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)The space economy in figures – responding to global challenges (2023) apresenta dados sobre a dimensão do setor. Ao listá-los, busca-se conhecer um pouco mais esse setor que atualmente contribui para lidar com muitos desafios globais. Entretanto, de acordo com o relatório, contribuições adicionais precisam ser feitas por parte dos setores público e privado para que as tecnologias espaciais continuem a auxiliar na resolução desses desafios.

* O relatório continua afirmando que todos os assuntos relacionados com a digitalização da sociedade, as tensões geopolíticas entre diferentes Estados nacionais, as infraestruturas críticas nacionais, a pandemia de Covid-19 e a mudança climática recebem o auxílio das tecnologias espaciais no que tange ao monitoramento e à tomada de decisão.

* Ao observar o problema desta perspectiva, a relevância social da space economy aumenta, mesmo que esse setor da economia represente US$ 75 bilhões de dólares em 2022, ou seja, apenas 0,1% do PIB das economias da OCDE. Assim, a space economy se consolida cada vez mais como sendo um setor extremamente estratégico.

* Desde 1957, quase 100 países foram capazes de colocar satélites em órbita, 23 países estão buscando projetos de lançadores nacionais e 11 países estão desenvolvendo os chamados spaceports, local destinado para o lançamento e o recebimento de naves espaciais.

* Até o ano de 2022, existiam aproximadamente 6.700 satélites operacionais em órbita, duas vezes mais do que existia em 2020. Dentro desse universo, os satélites comerciais representavam 78,6% do total em operação, os governamentais 10,2%, os militares 8,8% e os civis 2,4%.

* No que tange à nacionalidade dos satélites operacionais em órbita, 67,4% pertencem aos Estados Unidos, 8,8% à China, 8,4% ao Reino Unido, 2,6% à Rússia, 1,3% ao Japão e 0,9% à Índia. De acordo com esses índices, observa-se o alto grau de concentração do setor e seu reduzido número de participantes.

* Para o ano de 2022, as estimativas selecionadas do orçamento espacial dos governos mostram os Estados Unidos em primeiro lugar, com quase 0,25% do PIB, seguido pela França, com aproximadamente 0,1%. Apesar do reduzido percentual do PIB destinado à space economy, os governos continuam sendo importantes investidores do setor.

* Por fim, destaca-se que o crescimento da space economy foi lento, 1,6% ao ano entre 2012 e 2019, e que as estimativas realizadas de que esse setor se transformaria em uma economia de um trilhão de dólares em 2040 não ocorrerão. Por isso, o relatório enfatiza a necessidade da manutenção do financiamento estatal desse setor.

II. Space Economy: os novos negócios

Contemporaneamente, existem inúmeras análises sobre a space economy que criam cenários utópicos e distópicos. Nessa seção, são apresentadas apenas as análises da space economy que focam nas possibilidades dos novos negócios que surgem com o desenvolvimento desse setor.

A análise está centrada no relatório Frontiers: space: five big ideas shapping tomorrow’s off-word economy, realizado pela Wired Consulting juntamente com a HSBC-Global Private Banking e publicada na revista Wired. Ao longo desta seção, busca-se sintetizar os principais argumentos contidos nos cinco artigos do relatório.

O primeiro artigo, Why ‘living off the land’ will be crucial to the dawning era of space exploration, apresenta a necessidade de serem buscados recursos no espaço para as atividades que lá são realizadas. A busca pela exploração de recursos espaciais foi iniciada devido à constatação de que, para cada quilo de material que chega na Lua ou em Marte, cerca de sete quilos e meio até onze quilos são lançados da terra. Diante destes números, as agências espaciais dos Estados Unidos e da China estão com projetos para realizar missões espaciais cujo objetivo é avaliar a viabilidade de coletar o gelo existente nas regiões polares da Lua. Se essa coleta for viável, a água encontrada será usada para o consumo humano e também será decomposta, criando ar respirável e combustíveis com base em oxigênio líquido e hidrogênio líquido.

O segundo artigo, Satellites can now show businesses what the human eye can’t see, apresenta os satélites de radar de abertura sintética [8] que não possuem lentes, mas antenas de rádio. Essa tecnologia possibilita a realização de imagens com qualidade durante a noite e em dias nublados.

O terceiro artigo, Are space-based solar farms the future of clean energy?, apresenta a viabilidade da coleta de energia solar no espaço e da irradiação desse poder energético para a Terra. Nos idos de 1941, Isaac Asimov escreveu uma história de ficção científica intitulada Reason, e nela os seres humanos faziam essa transferência energética. Contemporaneamente, pesquisadores afirmam que a energia solar baseada no espaço pode ser técnica e economicamente viável.

O quarto artigo, How celestial ‘gas stations’ could unlock the space economy, afirma que, ao serem lançados em órbita, os satélites possuem a totalidade de combustível para realizar seu posicionamento correto, suas manobras e mudanças em sua órbita. Entretanto, quando o combustível acaba, mesmo que o satélite ainda tenha condições de ser usado, é decretado o seu fim. Por isso, é valiosa a possibilidade de reabastecer satélites e, consequentemente, estender sua vida útil [9].

O quinto e último artigo, Space junk is a huge problem. It’s also a business opportunity, trata do lixo e do congestionamento espacial. Diante do aumento dos detritos espaciais, especialistas afirmam que é necessário cuidar do meio ambiente espacial e fazer o mesmo que está sendo feito no planeta Terra: reutilizar, reaproveitar e reciclar materiais para reduzir os danos causados pela ação humana [10].

Os artigos publicados na revista Wired apresentam os novos negócios que estão sendo criados com as tecnologias espaciais que fundamentam a space economy. Neles, pesquisadores da National Aeronautics and Space Administration (NASA), da European Space Agency (ESA-Solaris) e profissionais de alta qualificação do setor privado apresentam suas perspectivas otimistas para o setor. Tais perspectivas podem ser traduzidas como sendo as mais novas promessas do progresso capitalista com base na space economy.

III. Considerações finais

Nesse artigo foram apresentados dados referentes à dimensão da space economy de acordo com o relatório da OCDE e os desenvolvimentos tecnológicos que impulsionam os negócios desse setor de acordo com relatório publicado pela HSBC-Wired. Além disso, foram recuperados os principais argumentos do livro Space economy. As três referências em análise apresentam argumentos otimistas em relação às consequências da expansão do desenvolvimento capitalista no espaço. Afinal, diante das atuais crises existentes no mundo contemporâneo, argumenta-se que o desenvolvimento da space economy pode auxiliar no monitoramento e na gestão das infraestruturas críticas e, talvez, trazer recursos do espaço para a Terra.

Para concluir, reitera-se que as descrições e reflexões desse artigo ainda se encontram em um estágio inicial. Por um lado, a space economy é um campo de estudos que pode ser comparado a uma galáxia composta por conhecimentos consolidados por décadas. Por outro, as críticas às consequências do desenvolvimento capitalista desse setor formam uma outra galáxia. Assim, diante das dimensões desse campo de estudos, esse introdutório artigo buscou mostrar uma reduzida parte da space economy. No próximo artigo desta série serão apresentadas as críticas ao atual desenvolvimento capitalista no espaço.

Créditos da imagem que ilustra o artigo: rawpixel.com

Notas

[1] OECD (2023), The Space Economy in Figures: Responding to Global Challenges, OECD Publishing, Paris, https://doi.org/10.1787/fa5494aa-en.

[2] Uma evidência desse destaque pode ser apreendida no 2nd Anual Space Economy Summit 2024 organizado pela revista The Economist. Acesse a página do evento aqui.

[3] Universidades e instituições multilaterais estão oferecendo cursos voltados para a área empresarial e eventos sobre space economy. Apresenta-se três desses cursos aqui, aqui e aqui.

[4] O site da United Nations Office for Outer Space Affairs (UNOOSA) pode ser acessado aqui. O site da Agência Espacial Brasileira (AEB) pode ser acessado aqui.

[5] Uma afirmação sobre esse tema pode ser encontrada aqui. Sobre as crises do capitalismo contemporâneo, ver o artigo Uma teia em construção: leituras sobre a crise capitalista.

[6] Sobre esse tema, ver: PINTO, Á. V. O conceito de tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. v. I.

[7] DI PIPPO, S. Space economy: the new frontier for development. Milano: Bocconi University Press, 2023.

[8] O termo inglês é Synthetic aperture radar (SAR) e mais informações sobre o tema podem ser encontradas aqui.

[9] Mas informações sobre o tema podem ser encontradas aqui.

[10] Mais informações sobre o tema podem ser encontradas aqui.

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