Divulgação científica é estratégia para visibilidade de revistas interdisciplinares

Por Kátia Kishi

Crédito: Gabriela Bortz
Crédito: Gabriela Bortz

O aumento de visibilidade internacional tem sido uma meta de muitos editores científicos e, para se atingir essa visibilidade nas revistas acadêmicas, a coleção de revistas SciELO Brasil definiu novos critérios de divulgação como importante estratégia, sendo que os periódicos devem produzir press releases (textos de comunicação liberados para a imprensa sobre as pesquisas publicadas), notícias, publicações em blogs e inserção nas demais redes sociais. A base indexadora também passou a adotar o Altimetric como ferramenta para calcular métricas alternativas dos artigos mais populares e comentados na internet e assim complementar outros índices tradicionais, como as citações, para se adequar às novas tecnologias.

Nesse contexto e com a atribuição de novos papéis para os periódicos, a divulgação científica esteve presente nos debates do “1º Workshop Internacional sobre os Desafios de Revistas Interdisciplinares”, organizado pela revista História, Ciência, Saúde – Manguinhos (HCSM) com o periódico inglês Journal of Latin American Studies (JLAS) e apoio da British Academy, no final do mês de junho no Rio de Janeiro.

O workshop trouxe experiências de revistas da área de humanidades como, por exemplo, da HCSM, na qual a editora Roberta Cerqueira comentou que após um evento e as exigências de divulgação estabelecidas pela base SciELO, a HCSM pleiteou um edital do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na categoria inovação para conseguir o financiamento e desenvolver perfis no Twitter e Facebook e dois blogs de divulgação da revista, sendo um em português e outro em inglês e espanhol, com conteúdos não espelhados, que atendem aos diferentes perfis de público.

Nelson Sanjad, editor adjunto da HCSM, justifica a ação ao comentar sobre a necessidade de uma equipe multidisciplinar na atualidade, pois “grandes revistas já possuem equipes próprias de divulgação. Possuem editores de divulgação, jornalistas, designers e uma série de outros profissionais que estão trabalhando na última etapa do processo editorial. É um momento que a revista está pronta e precisa ser divulgada, precisa sair a público, chamar atenção para um ou outro artigo ou para todos os artigos”. Nesse ponto, Cerqueira reconhece o privilégio da HCSM frente a outras revistas brasileiras, pois recebe atualmente incentivo da Fiocruz e CNPq para as ações de divulgação, com uma equipe maior e duas jornalistas especializadas responsáveis por cada blog.

De acordo com Cerqueira, os resultados de visibilidade das divulgações refletem no aumento de submissões na revista e de visibilidade dos artigos que recebem divulgação, com altos picos de acessos. Além de a revista passar a agregar mais valor social ao influenciar debates atuais e conquistar um público maior (não só de especialistas) que passa a reconhecer a importância do periódico na promoção da ciência. No entanto, a editora ressalta a importância de políticas internas claras da equipe para não se perder o escopo científico nas divulgações e manter a qualidade da revista, além do trabalho ser diário e contínuo para promover uma rede de pessoas influenciadoras que acompanhem e disseminem os conteúdos.

Um dos principais problemas apontados no debate foi sobre o financiamento para aumentar equipes tão enxutas. Sobre isso, Germana Barata, editora da revista Ciência & Cultura e do blog Ciência em Revista, recomenda que os periódicos não iniciem uma divulgação independente na qual não terão fôlego de sustentar, sendo mais aconselhável que a revista busque parcerias de coletivos e suas instituições para unir esforços, como publicações no blog SciELO em Perspectiva, ao invés de criar outro canal diário, estratégia permitida nos critérios da base indexadora no Brasil.

Saiba mais em: Editores discutem desafios na divulgação de revistas científicas em redes sociais

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