Alimentos Irradiados.

Um assunto ainda controverso entre a população e que muitas vezes causa estranheza ou mesmo assusta uma parte das pessoas é a conservação de alimentos pela esterilização via irradiação. O processo consiste em expor o alimento a uma fonte de radiação ionizante (raios x, raios gama, feixes de elétrons). Das fontes possíveis, a mais utilizada é o Cobalto 60 (Co-60). Deste modo, a despeito de uma ideia errônea que tem certo alcance entre a população, o alimento não se torna radioativo ou emissor de radiação. A única alteração física que ocorre é um aumento temporário da temperatura do alimento durante o processo.

simboloirradiados

No Brasil, o uso da tecnologia ainda é baixo, principalmente em virtude das características dos procedimentos, que são caros e demandantes de infraestrutura especializada. Além disso, a aceitação da tecnologia ainda não é predominante em nosso país. Entretanto, a irradiação tem sido crescentemente utilizada, principalmente nos EUA e alguns países da Europa. Entre os principais alimentos irradiados estão carne de porco, raízes e especiarias, frutas e hortaliças, tubérculos, arroz e farinhas.

As vantagens do processo são, basicamente:

A eliminação de micro-organismos patogênicos, como bactérias potencialmente prejudiciais à saúde, a exemplo de Salmonella sp. e Campylobacter sp. – presentes em carnes -, vírus, parasitos (nematoides e protozoários, por exemplo) ou fungos produtores de micotoxinas;

Eliminação de micro-organismos deterioradores, principalmente fungos, em alimentos de origem vegetal, e bactérias, em alimentos de origem animal;

Morte ou esterilização de insetos e/ou ovos eventualmente presentes, a exemplo das pragas (gorgulhos, carunchos, etc.) de armazenamento em grãos e farináceos;

Retardamento da senescência (envelhecimento) de frutas e hortaliças e do brotamento de tubérculos e raízes, pela inativação ou destruição de enzimas responsáveis pelo processo de maturação e das estruturas de emissão de brotos.

Alia-se a isto, o fato de os alimentos poderem ser esterilizados já dentro da embalagem, quando esta permitir a passagem da radiação, o que minimiza a possibilidade de recontaminação. Todos esses efeitos acabam propiciando um aumento na vida de prateleira do alimento de 3 à 4 vezes.

Então não existe nenhum problema relativo à tecnologia? Não se pode ser tão taxativo quanto a isso. As técnicas de irradiação realmente causam a perda de alguns nutrientes, como vitaminas, em alguns alimentos. Estas perdas são, no entanto, similares às causadas por outros métodos de conservação, como esterilização comercial ou pasteurização. A produção de radicais livres também pode ocorrer no processo, mas isso também é notado em métodos tradicionais, assim como em alguns procedimentos de cocção de alimentos.

Os problemas que merecem ser destacados seriam de ordem produtiva – para ser viável economicamente a irradiação necessita de grandes montantes do produto específico, o que favoreceria monoculturas e grandes propriedades -, e ambiental, devido principalmente à destinação dos equipamentos e dos rejeitos radioativos decorrentes do processo (problema que ocorre também com as plantas produtoras de energia nuclear) e aos aspectos de segurança que rondam a polêmica questão nuclear.

Sobre Gustavo 29 Artigos
Cientista de Alimentos e Mestre na mesma área. Especialista em Jornalismo Científico pelo LABJOR/UNICAMP, dedicando-se a atividades de divulgação científica.

7 Comentários

  1. As pessoas contaminadas no evento do Césio em Goiânia, Brasil, tornaram-se contaminantes; sobrevem-nos o entendimento que, os produtos expostos à radiação por cobalto possam ser contaminantes.

    • Olá, Aguinaldo!

      Esta é uma questão que gera dúvida em muitas pessoas.
      Na realidade, são situações diferentes. No caso de Goiânia, as pessoas entraram em contato direto com a fonte emissora de radiação, o césio-137, ao romperem o núcleo da máquina de raios-x. A substância adere à região da pele em que entra em contato e, por isso, a pessoa contaminada se torna emissora de radiação.
      Já no caso da irradiação de alimentos, não há contato direto do alimento com a substância radiativa (cobalto ou mesmo césio). O alimento apenas recebe uma dose controlada de radiação liberada por esta substância. Deste modo, o alimento não se torna radiativo, do mesmo modo que os pacientes não se tornam radiativos ao passarem por uma sessão de radioterapia, por exemplo.

      Obrigado pelo comentário!

  2. E como podemos passar para as pessoas que essa dose de radiação no alimento não trás danos futuros ( doenças ) já que a dose é minima ?.
    És que fica a pergunta , os produtos ( alimentos ) irradiados podem prejudicar na saúde física ou mental de uma pessoa ? qual efeito e perda dos nutrientes nos alimentos ?

    • Olá, Jean!

      A irradiação de alimentos é um processo considerado seguro, desde que sejam respeitados os procedimentos corretos - o que recebe fiscalização.
      Os trabalhos científicos mostram que a radiação remanescente nos alimentos é muito baixa e não produz efeitos nocivos à nossa saúde. Quanto à perda de nutrientes, ela existe, assim como também existe em processos diversos de processamento e conservação de alimentos, como cocção ou pasteurização, por exemplo. O resultado disso, é uma porcentagem ligeiramente menor de alguns nutrientes após a irradiação, o que tampouco causa danos à saúde.
      Por fim, para conscientizar as pessoas de que a irradiação é segura, devemos utilizar das informações científicas disponíveis, como as que procurei trazer aqui neste post.

      Muito obrigado pelo comentário!

      Um abraço!

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