Conselho da vovó

Certo dia me causou espanto perceber, conversando com amigos, a quantidade deles que simplesmente não come – ou come pouquíssimo – vegetais na forma de verduras e legumes. Parece inacreditável, mas tem muita gente que baseia sua alimentação diária em arroz (branco, claro), uma carne e um acompanhamento (batata-frita, por exemplo). Sentiram falta do feijão? É, eu também. Mas conheço várias pessoas que não o consomem, sobretudo jovens. E a salada, os vegetais cozidos e grãos integrais? Isso parece passar longe de muitas mesas brasileiras.

Não foi nenhuma surpresa, portanto, quando li, neste artigo, que minha percepção pessoal refletia a situação de boa parte da população brasileira. O artigo traz uma compilação de trabalhos que avaliaram a alimentação dos brasileiros, e uma boa parte deles identificou um consumo bastante baixo de frutas, legumes e verduras, em favor de um bem maior de carnes e gorduras saturadas.

Mas, será que não há problema nenhum em ignorar esses componentes em nossa dieta? Será que essa carência nutricional não pode fazer falta em algum momento da vida?

Por isso, chegou a hora de dar razão a todas as mães que obrigam seus filhos a comerem verduras, frutas e legumes. Vamos ver quais os efeitos de não consumirmos as plantas que deveríamos.

Vegetais protegem de doenças

É difícil encontrar uma avó, mãe ou tia que nunca tenha falado aos seus parentes mais jovens a famosa frase “coma verdura que faz bem pra saúde; se você não comer, pode ficar doente”. Quando crianças, frequentemente ignoramos solenemente esse conselho. Agora, no entanto, o que parecia uma chatice dos mais velhos, vem sendo demonstrado pela ciência. Um ótimo trabalho, publicado em 2012 por um grupo de pesquisadores alemães, fez um levantamento de muitos estudos científicos que buscaram responder qual a influência do consumo de frutas, legumes e verduras (vamos chamá-los de FLV, ok?) na prevalência ou não de várias doenças crônicas. Os pesquisadores encontraram que há evidências bastante convincentes de que o aumento no consumo de FLV está diretamente ligado à diminuição no risco de hipertensão, doença coronariana e derrame. Do mesmo modo, há uma real possibilidade de que o consumo de FLV diminua o risco de câncer de uma maneira geral, e é possível que previna osteoporose, demência, artrite e problemas oculares, entre outras condições.

 

Vale a pena gastar um pouco de tempo (e dinheiro) aqui! Crédito: muammerokumus

Por que os vegetais fazem bem à saúde?

Vegetais possuem diversos tipos de compostos e nutrientes que só eles fornecem em quantidades consideráveis. Vale a pena ressaltar as fibras, que são substâncias que não são digeridas pelo nosso organismo e assim ajudam na formação de nosso bolo fecal e melhora do trânsito intestinal. Mais que isso: servem de alimento para as bactérias boas que vivem em nosso intestino e nos ajudam a obter muitos nutrientes daquilo que comemos. Além delas, há os fitoquímicos, compostos com propriedades funcionais agindo como antioxidantes ou anti-inflamatórios, por exemplo. Vitaminas, como a C e a A, e minerais, dos quais não podemos prescindir, estão também presentes nas FLV.

Muitos destes alimentos são considerados alimentos funcionais (leia sobre eles aqui). Vale a pena conhecê-los melhor e tirar deles o maior benefício.

Por isso, escute aquele sábio conselho e faça o possível para manter em seu prato e no de seus filhos uma quantidade considerável (alguns nutricionistas mencionam que metade do prato é uma boa medida) de vegetais frescos e cozidos e com a maior variedade possível. A saúde – hoje e no futuro – agradece.

 

 

Crédito da imagem de capa: Tomás Fano

Sobre Gustavo 29 Artigos
Cientista de Alimentos e Mestre na mesma área. Especialista em Jornalismo Científico pelo LABJOR/UNICAMP, dedicando-se a atividades de divulgação científica.

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