Uma das características que compõem nossa condição de seres humanos é o onivorismo, ou seja, a capacidade de se alimentar de uma ampla gama de alimentos, oriundos de fontes animais, vegetais, fúngicas ou mesmo procarióticas. Ainda que discussões existam sobre a real necessidade ou mesmo viabilidade de o ser humano consumir carnes, ovos, leite etc, a comunidade científica tem certo grau de consenso em afirmar que alimentos de origem animal são fontes importantes de nutrientes, principalmente (mas não exclusivamente) no que diz respeito às proteínas. O comportamento naturalmente onívoro dos humanos é, portanto, um fato amplamente aceito. Essa característica é compartilhada por não muitos animais, o que faz de nossa espécie uma das que possuem maior variedade de opções de alimentos à sua disposição.
Tendo isso em mente, o escritor e jornalista Michael Pollan descreve em seu livro “O Dilema do Onívoro: uma história natural de quatro refeições” como as populações humanas vêm encarando o desafio de escolher entre o vasto leque de possibilidades alimentícias, e como isso interfere na formação das sociedades no decorrer do tempo. O livro problematiza o porquê de alguns tipos de alimentos serem produzidos em larga escala enquanto outros mal recebem atenção, a despeito de provirem de espécies mais produtivas, nutritivas ou sensorialmente favoráveis. As respostas estão muito além de suas características agronômicas e entram em domínios como a cultura, a economia, a política e tantos outros.
Pollan tece uma análise critica da agroindústria contemporânea, desde as técnicas de criação animal e cultivo agrícola até a industrialização massiva e excessiva dos produtos alimentícios. Em sua visão, interesses econômicos acabam influenciando artificialmente a demanda por certas [simple_tooltip content=’milho, soja, trigo, açúcar etc’]commodities[/simple_tooltip], o que direciona todo o sistema produtivo. Segundo o autor, esse direcionamento artificial da produção impulsiona todo um lucrativo mercado, que vai desde a indústria de alimentos até o marketing e as companhias farmacêuticas. Os resultados, segundo o autor, não poderiam ser piores, indo desde a crescente degradação ambiental até a epidemia de obesidade e doenças crônicas do mundo ocidental.
Diante do cenário traçado, Pollan propõe outros meios de produção e distribuição de alimentos e, principalmente, uma nova maneira de nos relacionarmos com a comida, tratando-a como algo realmente significativo e especial, envolto em aspectos culturais, ambientais, sociais e de identidade.
Título: O Dilema do Onívoro: uma história natural de quatro refeições (do original, The Omnivore’s Dilemma: a natural history of four meals).
Autor: Michael Pollan
Ano: 2006
Editora: Intrínseca
É a velha história da produção humana voltada ao acúmulo do capital e não ao seu próprio bem estar. Enquanto essa lógica invertida permanecer, diversos aspectos da vida humana continuarão degradados: saúde, alimentação, meio ambiente e por ai vai. E nisso precisamos que a ciência se descole dessa lógica e aponte as perversidades do sistema produtivo, tal qual como fez Michael Pollan. Agradeço a indicação.
Concordo André. Comentário preciso.