O que andei vendo no Netflix em maio

Disputas para todos os gostos: Homem contra Inteligência Artificial, a concorrência entre PCs, surfistas versus uma tempestade ártica e carros envenenados na pista com super-esportivos.

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AlphaGo [90 min. | 2017] — Contas brancas e pretas que se alternam sobre um tabuleiro de madeira quadriculado. Essa é a essência do Go, um milenar jogo oriental, praticado por pessoas de todas as idades. Simples mas ao mesmo tempo complexo, o objetivo do Go é criar uma corrente de peças da mesma cor ao redor de uma área vazia do tabuleiro. Simultaneamente, é preciso bloquear as pedras do adversário. Quando são completamente cercadas, as contas inimigas podem ser capturadas e tiradas do tabuleiro. Ganha quem fizer mais pontos, sendo que a pontuação é determinada pela área dominada por cada jogador. O que torna o Go mais complexo do que o xadrez, por exemplo, é que o número de movimentos possíveis é astronomicamente maior: tão grande quanto o número de átomos no Universo! Como no xadrez, os jogadores são ranqueados num sistema de vários níveis, chamados de dan.

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Dirigido por Greg Kohs, este documentário registra a jornada de dois jogadores profissionais de Go — Fan Hui (campeão europeu de Go, 2º. dan) e Se-dol Lee (campeão mundial de Go, 9º. dan) — em disputas contra o Alpha Go — um programa de Inteligência Artificial neural representado por Demis Hassabis (CEO da DeepMind e ex-enxadrista infantil) e Aja Huang (programador-chefe do Alpha Go). Desenvolvido ao longo de 20 anos, o Alpha Go foi exposto a centenas de milhares de partidas e treinou consigo mesmo inúmeras vezes antes de poder enfrentar um jogador humano profissional. No primeiro evento, o chinês radicado na França Hui perde de lavada mas, apesar de ser duramente criticado pelos pares, teve seus esforços reconhecidos e passou a atuar como conselheiro da equipe por trás do Alpha Go. O desafio seguinte foi botar a máquina diante de um jogador de nível muito mais elevado: o escolhido foi o sul-coreano Se-dol Lee, vecedor de 18 campeonatos mundiais. Concentrado justamente na série de melhor de cinco entre Lee e a IA, o documentário também explica o básico do jogo e mostra a intensa cobertura midiática em torno do evento — comparável a uma Copa do Mundo para os 80 milhões de jogadores de Go, a maioria da Coreia, China e Japão. Transmitidas ao vivo pela internet e TV, as partidas são analisadas tanto por comentaristas e jogadores profissionais quanto pelos programadores e engenheiros do Alpha Go. Além disso, as possibilidades abertas por essa disputa — não vou revelar o resultado para não anular os momentos de tensão tão bem mostrados pelo filme — são explicadas e comentadas por profissionais tão diversos quanto jornalistas de tecnologia, professores de ciência da computação, de estudos culturais do Oriente, de filosofia, professores especializados no jogo e jogadores de Go.

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Silicon Cowboys [76 min. | 2016] — Quando foi a última vez que você reparou na marca do seu computador ou laptop na hora de comprá-lo? Quando os PCs chegaram às lojas, no começo dos anos 1980, escolher pela marca era importante por dois motivos: 1) havia centenas ou milhares de fabricantes e 2) só a IBM prestava. Corporação gigantesca, com uma história que remontava ao início do século, a IBM ditava os rumos da indústria da informática e estava acostumada com esse tipo de controle. Hoje, porém, a big blue, como era conhecida, virou coisa de museu. O que aconteceu foi o surgimento de uma fabricante de computadores no Texas: a Compaq, fundada por três ex-funcionários da Texas Instruments, outra empresa da velha guarda da computação. Rod Canion  — que passou a juventude se entretendo com um velho Ford 1953 que usava para fuçar na mecânica e participar de rachas: “Não existiam videogames, aquilo era o meu computador”—, Bill Murto e Jim Harris criaram duas ideias revolucionárias, mas que hoje são lugar-comum: portabilidade e compatibilidade. O resultado veio em 1983, com o lançamento de um PC portátil (com 12 kg, mas portátil) e compatível com os softwares PC da IBM. A gigante da informática demorou a reagir mas revidou lançando seu próprio portátil. O IBM portátil, porém, revelou ser um fiasco: sua compatibilidade com os programas do PC desktop era incompleta. Nem softwares da própria IBM rodavam direito nos dois sistemas.

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Enquanto isso, as vendas da Compaq explodiam com comercias estrelando John Cleese e eventos de lançamento com David Copperfield. Em seus cinco primeiros anos, a Compaq expandiu sua linha de produtos (inclusive com desktops), criou uma cultura corporativa descolada como as de futuras empresas como Google e Facebook e alcançou um US$ 1 bilhão em vendas. O céu de brigadeiro, porém, não durou pra sempre: dentro e fora dos tribunais, a IBM agiu para derrubar a concorrência. Para lutar contra a gigante de três letras, a Compaq associou-se com a Microsoft, a Intel e outros fabricantes de computadores para criar um padrão de hardware e software que primava pela compatibilidade. Apesar do sucesso na luta contra a IBM, a Compaq se viu em maus lençóis no começo dos anos 1990, sendo forçada por seus acionistas a demitir seu trio de fundadores. Engolida pelo ambiente aberto que ajudou a criar (e que tornou marcas de computador irrelevantes), a Compaq acabaria se fundindo com a HP em 2002. Dirigido por Jason Cohen e com entrevistas realizadas com Canion, Murto, Harris, além dos primeiros investidores e funcionários, jornalistas de tecnologia, historiadores, professores universitários, o pessoal da IBM e o roteirista de Halt & Catch Fire (série inspirada na trajetória da Compaq), este documentário é ricamente ilustrado por trechos de noticiários e programas de TV sobre computadores dos anos 1980, propagandas e paralelos com o Vale do Silício contemporâneo. Se você consegue abrir os mesmos aplicativos no PC, no notebook e no celular hoje em dia, agradeça ao pessoal da Compaq dos anos 1980.

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Under an Arctic Sky [40 min. | 2017] — Muito sol, muita areia, muitas ondas. Paraísos de surfistas — como Bali, Havaí e Califórnia — costumam ter esses três elementos. Para alguns surfistas, porém, as praias ensolaradas já não têm graça. Por mais improvável que pareça, a Islândia é a nova fronteira do surfe. Desbravadas por Doc Renneker e Steve Hawk (editor da Surfer Magazine) nos anos 90, as ondas islandesas são o destino de um grupo formado por Sam Hammer (Nova Jérsei), Justin Quintal (Flórida), Timmy Reyes e Chris Burkard (Califórnia) com apoio dos surfistas Heidar Logi, Elli Thor Magnusson e Ingo Olsen (Islândia). Dirigindo em estradas sob risco de avalanche para enfrentar o mar ártico em pleno inverno — quando o sol só aparece entre as 11h e as 15h — em temperaturas de até 12º.C negativos os surfistas árticos até pegam alguns tubos de águas congelantes mas não conseguem alcançar as ondas fora de escala do mar alto. O motivo? Uma tempestade colossal, a pior da Islândia em 25 anos, que acabou obrigando-os a passar 3 dias enfurnados numa cabana de emergência — isolados do mundo e sem eletricidade. No entanto, as condições do inverno islandês também podem mudar rapidamente para melhor. O resultado é algo tão surreal quanto pegar umas ondas sob as ondulações luminosas da aurora boreal. Embora seja curto e com personagens movidos a café, energéticos e Coca-Cola, este documentário (dirigido por Burkard, que também é fotógrafo) não tem o ritmo alucinante que associamos a esportes radicais como o surfe no gelo. Quem determina o ritmo, afinal, é a Mãe Natureza. O único deslize está na legenda, que substitui um entusiasmado Holy Shit! por um inacreditável Que droga!

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Reality show

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Mais um exemplo de como o título traduzido (mesmo sendo brega) pode ser melhor que o original.

Carangas x Carrões  [2018 | 1 temporada | ~ 45 min. por ep.] — O nome é brega mas a premissa é tão simples quanto divertida — o que é mais rápido: um carro velho reformado e turbinado no fundo do quintal ou um um super-esportivo importado por centenas de milhares de dólares? Se fosse apenas isso, cada episódio teria poucos minutos, mas tem mais: as histórias dos homens (e mulheres) por trás de cada máquina. Os personagens apresentados são mais heterogêneos do que se pensa, o que mostra a diversidade dentro da subcultura de drag races (ou arrancadas, em bom português). No primeiro episódio, por exemplo, o piloto de um hot rod é um cadeirante que montou seu veículo quase sozinho enquanto uma picape antiga fica nas mãos de uma moça que é filha de um dublê automotivo. Mais previsível é a turma dos super-carros: geralmente homens brancos e ricos cuja maior dificuldade na vida foi a perda do animal de estimação. Uma vez apresentados, acompanhamos uma semana de preparação dos carros e seus pilotos. Os riscos não são esquecidos: são frequentes as menções de acidentes fatais envolvendo famosos como Paul Walker e anônimos como o melhor amigo de um dos competidores. Mas mesmo sem qualquer prêmio além da própria reputação, quando as três carangas se alinham ao lado de um carrão para uma arrancada de quarto de milha em aeroportos desativados dos EUA, qualquer coisa pode acontecer.

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