Rafaelle Souza

Professora de Física e Divulgadora Científica

Fonte: Arquivo pessoal

A Rafaelle é licenciada em Física, Especialista em Educação e Práticas Pedagógicas Interdisciplinares, Mestra em Ensino de Ciências e Matemática, Doutora em Ensino, Filosofia e História das Ciências com doutorado sanduíche na Espanha. Ela tem experiência na área de Física e Ensino de Física. É Professora de Física do Instituto Federal da Bahia e atualmente realiza pesquisas na área de Física Quântica e Educação Científica. Faz divulgação científica no Instagram @fisica_contextualizada e escreve num blog no qual escrevem matérias de divulgação de física.

A Rafaelle, gentilmente aceitou responder a nossa entrevista. A entrevista foi realizada por email.

1- Por que você escolheu cursar Física (bacharelado ou licenciatura)?

R- Já sonhei em ser médica, já quis ser dentista, já passei em provas de vestibulares para administração, engenharia elétrica e matemática, este último até comecei a cursar, mas tranquei. Já quis ser policial, passei em concurso público para guarda municipal de João Pessoa-PB e até passei na tão temida prova de TAF (Teste de Aptidão Física) – essa parte foi incrível porque para conseguir tive que deixar de ser sedentária (rsrs). Já quis ser empresária por influência dos meus pais que são comerciantes, mas acho que não seria tão paciente. E no meio de tantas coisas e opções, escolhi cursar Física e ser professora.

A Física, em minha opinião, é uma matéria encantadora e muito desafiadora; é uma das ciências mais antigas originada na antiguidade grega (só que essa é outra história). Ela abrange uma vasta área de estudo, desde a estrutura elementar da matéria até a evolução de todo o Universo. Os princípios físicos explicam uma grande quantidade de fenômenos do cotidiano, permitem compreender o funcionamento de máquinas e aparelhos que estão sempre presentes no dia-a-dia. E tudo isso me encantava.

Então, eu comecei a querer entender melhor os fenômenos da natureza e o mundo tecnológico em que vivemos; tinha aptidão para matemática, mas foi a Física que me cativou. 

2- Você teve dificuldade em encontrar uma faculdade que oferecesse o curso de Física?

R- Sou natural de Campina Grande-PB. Na época de escolha do curso, em 2007, havia duas possibilidades: licenciatura na UEPB ou bacharelado na UFCG. Coloquei como primeira opção a UEPB. Fui aprovada e cursei. Hoje na cidade há uma terceira opção, o IFPB que também oferta licenciatura em Física.

3- Quando você optou pela Física, o que você pensava que um(a) profissional formado(a) nesta área poderia fazer? A expectativa de aprendizado foi próxima à realidade?

R- Tudo o que eu tinha certeza era: licenciatura é para quem deseja ser professor/a. Não havia incentivos para as meninas optarem pelas ciências exatas e, na realidade, eu era desencorajada. Não havia a propagação da informação que o curso de física iria promover conhecimentos sólidos e atualizados em Física, gerando a capacidade de discutir problemas, buscar novas descobertas científicas e tecnológicas com constantes estímulos ao raciocínio lógico para compreender em profundidade tudo o que acontece à nossa volta. O que se comentava era que ‘física é curso de doido’. Só no decorrer do curso, tive noção das inúmeras possibilidades, dar aulas, fazer pesquisas, ajudar no desenvolvimento de produtos e serviços, atuar em áreas técnicas e tecnologias ou uma combinação. Em consequência, pude desenvolver uma perspectiva até então desconhecida sobre o curso de Física, tornando-me professora-pesquisadora com um perfil profissional investigativo.

4- Qual disciplina achou mais legal/interessante do curso? Qual foi a mais chata/não tão legal?

R- Obviamente, o estudo da física tem suas dificuldades. É muito abstrato, cheio de fórmulas, conceitos e teorias, além de não ser uma ciência isolada que se relaciona com a matemática e a química, por exemplo. Inicialmente, meu primeiro contato com o curso foi desafiador, embora gostasse previamente da área de ciências da natureza, atender o nível de exigência na graduação era complicado. Sempre estudei em escola pública e não tinha uma base conceitual sólida. Além disso, trabalhava 9h por dia e ia para as aulas no período noturno. Então, tinha outras questões que atrapalhavam meu desenvolvimento no curso. Sendo objetiva e respondendo a questão, as disciplinas de Cálculo I e II, bem como Física estatística foram as consideradas mais difíceis. Enquanto que física moderna e mecânica quântica foram as que mais gostei. 

5 Como é a sua rotina atuando ou estudando na Física? Se possível, descreva brevemente o que você faz.

R- Entender eletricidade, óptica, ondas mecânicas e sonoras, termodinâmica e outros tópicos da física se torna prazeroso quando se pode ter interatividade, seja a partir de fenômenos naturais, cotidiano ou atividade experimental. Era isso que mais me cativava na física, a possibilidade de associações com o cotidiano. Na escola, me desafiava a ter notas boas nas provas, enquanto na graduação pude explorar as possibilidades, principalmente nas aulas de laboratório. Com o passar do tempo, ingressei em projetos de pesquisa e daí percebi que o ato de ensinar física pode se tornar fascinante. Através de seu ensino, os alunos podem entender a diferença entre os conceitos de calor e temperatura, compreender as formas de transformação de energia. No mundo da tecnologia é possível fazer com que os alunos entendam, por exemplo, como ocorre a transmissão da TV digital ou como funcionam os modernos smartphones. Entre vários outros tópicos. É justamente essa visão que tento colocar em prática. Enquanto professora do ensino médio, busco mostrar como a física pode ser apaixonante e que não se reduz a resolução de listas de exercícios com aplicações matemáticas. 

6- Até o momento, qual foi a sua maior dificuldade e qual foi a sua maior satisfação com a carreira de Física?

R- Sempre escuto que a física é uma matéria difícil ou que a prova de física foi muito difícil. Muitos/as alunos/as, inclusive, quando revelam interesse pela disciplina estão preocupados/as com o Enem. Penso que isso seja decorrente de como se deu o primeiro contato com a disciplina. Embora os fenômenos físicos estejam presentes em nosso cotidiano, de muitas formas, os estudantes não desenvolveram essa perspectiva e ficam restritos ao contato sistemático que tiveram no 9º ano. A Física, por várias razões, acaba sendo apresentada, nesse contexto, como algo difícil, de pouco acesso e para poucos, apenas os gênios podem compreendê-la bem. Romper com essa situação é um grande desafio. Todavia, é muito satisfatório quando ao ministrar aulas contextualizadas envolvendo no ensino de Física conceito, contexto, aplicação, articulação com ferramentas matemáticas, incentivo a habilidades múltiplas, os estudantes se mostram motivados e instigados a aprender.

Então, quando comunico a ideia que sim, a física é difícil, mas também é uma matéria fascinante, pois chama a atenção por explicar os fenômenos da natureza, fenômenos esses que estão à nossa volta nos desafiam, intriga e desperta nossa curiosidade, e vejo a proatividade dos estudantes para o aprender é simplesmente impressionante e faz com que muitos, embora tenham tantas dificuldades, venham a se interessar pela disciplina. 

7- Durante ou após a graduação, quais as oportunidades de atuação que você identificou como Física?

R- Basicamente, comecei o curso meio que perdida no universo chamado graduação e só me encontrei quando comecei as atividades extracurriculares como projetos e grupos de pesquisa. Em decorrência dessas atividades comecei a dar aula e participar de iniciação científica e de docência; então me tornei professora. Talvez, meus primeiros alunos não saibam, mas fiz deles um laboratório vivo, porque se eles achavam a matéria difícil, para mim difícil mesmo era estar à frente da turma ministrando tal conteúdo e tendo que lidar com a timidez e nervosismo.

Além das experiências junto ao PIBIC e PIBID, participei de vários eventos, congressos, palestras e seminários. Visitei vários espaços de ciências. Aproveitei cada oportunidade possível. No último ano do curso já me interessava pelo mestrado. Cursei, simultaneamente, mestrado e especialização.  Esses cursos me renderam muitos aprendizados, o que me impulsionou a prestar seleção para doutorado. Uma vez no doutorado busquei também fazer um período de doutorado sanduíche, o que consegui e estudei por 6 meses na Espanha. Toda essa trajetória me permitiu se aprofundar conceitualmente na Física, equilibrando o fenômeno, a explicação e sua utilidade. O que tem refletido positivamente nas atuais pesquisas que desenvolvo.

8- Você saberia dizer a proporção aproximada de mulheres e de homens na sua turma?

R- A turma iniciou com 40 discentes. Éramos 8 mulheres. Três concluíram seguindo a matriz curricular proposta para 5 anos de curso. 

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Agradecimentos

Muito obrigada Rafaelle por nos ajudar a incentivar meninas e mulheres em carreiras STEM! Desejamos todo sucesso!