O cenário de crise orçamentária da ciência brasileira tem chamado instituições de pesquisa a reinventarem suas formas de atuação e modernizarem seus discursos institucionais.
Por Natália Flores
O CNPq também embarcou nessa demanda por reinvenção e contratou, em 2018, quatro profissionais de comunicação para desenvolver produtos e estratégias de divulgação da agência e das pesquisas financiadas pela agência no âmbito do Programa de Divulgação e Disseminação Científica (PPDC/CNPq).
Ouvindo os relatos de experiência das jornalistas Ísis Nóbile Diniz e da Ana Paula Freire Artaxo, que trabalharam no PPDC, no Social Media Week em São Paulo nessa última semana, não pude deixar de me fazer a seguinte pergunta: quanto se investe em divulgação científica nas instituições de pesquisa brasileiras?
Antes de refletir sobre essa questão, vou dar um pequeno panorama do trabalho feito por essas jornalistas. A Ísis foi contratada pelo PPDC para desenvolver ações nas mídias sociais do CNPq, atendendo ao desafio de criar e fortalecer os vínculos do órgão com públicos mais jovens e com tomadores de decisão. Vindo de uma longa experiência no jornalismo impresso, a Ana Paula assumiu a tarefa de produzir newsletters e uma revista segmentada com reportagens de fôlego sobre as pesquisas financiadas pelo CNPq. Ambas as jornalistas cumpriram as demandas com maestria. Em poucos meses, o CNPq angariou um alcance orgânico de 35 mil seguidores no Instagram, 20 mil no Facebook e 10 mil no Twitter, que já continha 60 mil seguidores.
A divulgação científica tem vivido momentos de euforia nos últimos anos, provocados principalmente pela demanda da ciência e da comunidade científica brasileira de angariar apoio social e de se defender frente aos cortes sucessivos de orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), feitos desde 2015. No entanto, o que quero colocar em discussão aqui é em que medida o reconhecimento da importância da divulgação científica se traduz em apoio institucional e material. Será que a DC e o marketing científico, que fortalece as marcas das instituições, passam a ser vistos como estratégicos a ponto de mobilizarem recursos e financiamento?
O espaço da divulgação científica no CNPq
Se formos olhar para o exemplo do CNPq, a resposta é sim e não. A decisão da agência de promover um edital específico para a produção de conteúdo de disseminação e divulgação científica é louvável. Mostra que há uma preocupação desses agentes em incentivar novos talentos na divulgação científica e, ao mesmo tempo, em fortalecer a sua marca institucional e em atingir novos públicos. Dialogar com jovens, atraindo-os para carreiras científicas é estratégico para o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). Dialogar com tomadores de decisão, responsáveis por definir os rumos de investimentos em C&T no país e por delinear tantas outras políticas públicas que poderiam ser embasadas em ciência, também.
No entanto, alguns pontos me fazem acreditar que o olhar estratégico para a divulgação científica é algo extremamente recente em órgãos como o CNPq. Um se refere ao fato da criação de um programa para realizar essa tarefa por profissionais de comunicação ter acontecido somente em 2018. É verdade que o CNPq apoia atividades de divulgação científica pelo menos desde 2003, quando foi criado o Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do MCTI. Entre 2005 e 2013 foram lançados seis editais de Difusão e Popularização da Ciência em parceria com esse departamento, além do apoio à Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), Olimpíadas Científicas e outras Feiras e Mostras de Ciência. No entanto, o Programa de Divulgação e Disseminação Científica (PDDC) se diferencia destes outros editais por abrir espaço para profissionais especializados da área da comunicação atuarem estrategicamente na disseminação e divulgação da ciência financiada pelo órgão.
O segundo ponto que quero levantar diz respeito ao fato do PDDC ter sido um edital pontual, com duração de apenas um ano. Não sei se o plano era de que os profissionais de comunicação dessem um ponta pé inicial, criando formatos inovadores de divulgação científica nas redes sociais, no rádio e outros veículos que pudessems ser seguidos pela equipe de Comunicação Social do CNPq ou se a ideia era de se investir na abertura regular de editais no mesmo escopo do programa. De qualquer forma, meu palpite é de que a crise orçamentária do MCTIC também afetou o planejamento da continuidade desse projeto. A revista produzida pela Ana Paula Freire Artaxo, por exemplo, ainda não tem data para ser publicada.
Entendo que a ciência tem passado por momentos difíceis no Brasil, o que, de certa forma, torna o investimento em divulgação científica algo supérfluo. Se já está difícil para a pesquisa brasileira manter seus recursos, como justificar um aumento de investimento em divulgação científica? No entanto, também entendo que a divulgação científica e a comunicação merecem um espaço importante e estratégico dentro das instituições, também em momentos de crise. Por essa razão, fico torcendo para que iniciativas como o PPDC/Cnpq se multipliquem e cumpram o seu papel: de incentivar uma cultura voltada à divulgação de ciência em nossas instituições.
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Palestra completa – jornalistas Ísis Nóbile Diniz e da Ana Paula Freire Artaxo, que trabalharam no PPDC, no Social Media Week em São Paulo: https://www.slideshare.net/IsisRosaNbileDiniz/cnpq-quase-sem-presena-nas-redes-sociais-como-conseguiu-projeo-da-cincia-em-meses
Referências
http://cnpq.br/programa-de-divulgacao-e-disseminacao-cientifica/