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O Dilema das Redes e porque esse problema também é seu!

Apesar do tom catastrófico do documentário e da evidente culpabilização das redes sociais para problemas contemporâneos, o documentário Dilema das Redes traz questionamentos importantes sobre os problemas criados por uma vida conectada.

O documentário

O Dilema das Redes (The Social Dilemma) lançado pela Netflix em 9 de setembro de 2020, dirigido por Jeff Orlowski e escrito por Orlowski, Davis Coombe e Vickie Curtis, discute a tecnologia atual, a manipulação da informação pelo máximo de lucro e seus impactos na sociedade ao mesclar depoimentos de profissionais de empresas de tecnologia com a representação de um vida familiar.

Banner de Divulgação Netflix

Com um tom apocalíptico e até certo ponto vilanesco, o documentário tem como objetivo demonstrar que o lema muito difundido pelas empresas de tecnologia, “É gratuito e sempre será” estampado, inclusive, na página principal do Facebook, não é tão seguido assim!

Logo em sua chamada de capa o documentário aponta que aquilo que entendemos como consequências do uso das redes sociais, são na verdade um projeto pensado e elaborado para atrair a sua atenção indefinidamente e assim colher dados cada vez mais precisos e vendê-los a quem pagar mais.

Impossível largar o celular? Não é só com você. O apelo obsessivo das redes não é um efeito colateral: é um projeto

Já não é novidade que os algoritmos utilizados em redes sociais, buscadores, aplicativos, games, etc. foram criados com o objetivo de incentivar o usuário a permanecer conectado, o que o documentário ressalta é que as empresas de tecnologia fazem disso um modelo de negócio.

Como explica Justin Rosenstein – Ex engenheiro do Google e do Facebook e Cofundador do Asana

“Quando você pensa como algumas dessas empresas funcionam… Começa a fazer sentido. Elas possuem serviços de internet que nós achamos serem grátis, mas não são grátis, são pagos pelos anunciantes. Por que os anunciantes pagam essas empresas? Pagam em troca de mostrar suas propagandas para nós. Nós somos o produto! Nosso foco é o ‘produto’ sendo vendido para os anunciantes”.

E para manter o usuário conectado as empresas de tecnologia oferecem gatilhos emocionais, conexões e informações direcionadas, representada, no documentário, pela dinâmica familiar e avatares de algoritmos trabalhando.

A partir desses gatilhos e da manutenção da permanência do usuário as empresas de tecnologia coletam dados e devolvem um feed mais útil e agradável, além das propagandas direcionadas, pagas por anunciantes que estiverem dispostos a desembolsar a maior quantia em dinheiro, mas o que não percebemos e o documentário evidencia a todo momento, é que esse modelo de negócios acaba por direcionar e controlar as decisões e o comportamento dos usuários.

“Mas, isso é ser simplista. É a mudança gradual, leve e imperceptível no seu próprio comportamento e percepção que é o produto” Jaron Lanier – Criador da realidade virtual.

Trailer Oficial – Canal Netflix Youtube

As consequências disso

Outra produção obrigatória para entender o Dilema das Redes é o Privacidade Hackeada também da Netflix e lançado em Julho de 2019. Com a premissa de abordar os escândalos protagonizados pelo Facebook em março de 2019, em que a Cambridge Analytics coletou os dados de 87 milhões de usuários sem que fosse permitido, o documentário apresenta como a manipulação da informação pode influenciar e decidir questões importantes da sociedade, como eleições, políticas públicas e até genocídio.

Banner de Divulgação Netflix

Uma vez que “comportamentos são moldados” e, mais do que isso, são moldados por quem paga mais, as empresas de tecnologia constroem e inovam em uma série de recursos que traz uma constante sensação de bem estar ao usuário e portanto o mantém conectado.

Dessa forma, distanciando o usuário da vida real através de recursos emocionais e de constante aprovação e por consequência, tornando cada vez mais escasso informações adversas e contradições, diminuindo a oportunidade do usuário refletir e se aprofundar sobre um determinado assunto.  

Mais sobre isso:

Os dois documentários apresentam ainda outros problemas que merecem a atenção, tais como:

E por que esse problema também é seu?

Bom, culpar os algoritmos ou sair definitivamente das mídias sociais não garante a solução dos problemas da contemporaneidade. Mas podemos sim, exigir dessas grandes empresas responsabilidade social com a informação que é coletada e vendida.

Mais sobre isso: VIRGÍLIO ALMEIDA: “É NECESSÁRIO ESTUDAR AS QUESTÕES ÉTICAS ASSOCIADAS AOS ALGORITMOS”.

É preciso exigir que as empresas de tecnologia que decidem vender em sua plataforma anúncios que influenciam em decisões importantes, como política, discursos racistas, discursos anticientíficos ou xenofóbico, por exemplo, deve então, ser responsável pela informação, legalmente e criando mecanismos de dificultem a divulgação destes discursos e de Fake News.

Outras atitudes individuais também contribuem para que a mudança ocorra:

  • Denunciar e deixar de seguir canais com conteúdo enganoso;
  • Valorizar canais responsáveis e que fazem conteúdos éticos e bem embasados;
  • Não dar palco para polêmicas e discussões que não contribuem;
  • Desativar alertas das mídias sociais e deixar os aparelhos eletrônicos desligados ou fora de alcance para que sua atenção não seja constantemente chamada;
  • Procurar não postar tudo a todo tempo;
  • Não compartilhar nada sem checar a veracidade do fato (isso inclui comentar a notícia fora da internet).
Como identificar Notícias Falsas – https://pt.wikipedia.org/wiki/Not%C3%ADcia_falsa

Mais sobre isso: O que é “Fake News” e por que devo me preocupar com isso?

Já em um âmbito macro devemos exigir que os governos estabeleçam regras e legislação na atuação dessas empresas de tecnologia, assim como acontece com outras mídias como: games ou televisão, por exemplo.

“Acho que temos que aceitar que não tem problema as empresas focarem em ganhar dinheiro, o que não é legal, é quando não há regulamentação, nem regras e nem competição. As empresas estão agindo como se fossem governos reais. E quando elas dizem ´nós podemos nos regular´ isso é mentira, isso é ridículo” Sandy Parakilas – Ex gerente de operações do Facebook e ex gerente de produto do Uber.

Imagem de StockSnap por Pixabay

E para finalizar…

O Dilema das Redes traz à tona uma discussão que já faz (ou deveria fazer) parte da sociedade. É fundamental que cobremos das empresas de tecnologia seu posicionamento claro e responsável.

Continuar a apontar vilões e se recusar a assumir a responsabilidade social do uso das mídias sociais e da informação só contribui para que o problema aumente.

O documentário também deixa de fora outros questionamentos, por isso deixo como sugestão a discussão da Ninadhora que debate sobre pensamento crítico, preconceito e a falta de indicação de pesquisadores negros no documentário, além de indicar outros títulos importantes para quem quer saber mais sobre o assunto.

https://www.instagram.com/p/CFFTUr0JKqp/

Para saber ainda mais:

3 comentários
  1. Cesar Gomes

    Oi Erica. Ótimo seu texto.
    Também asisti ao Dilema das Redes e gostaria de tecer breves comentários:

    De novo pra mim, a Tecnologia Persuasiva que eu não sabia que existia.

    É preciso um debate urgente sobre o assunto. Principalmente pq não dá pra culpar o traficante por viciar o usuário. Aliás o documentário fala que os únicos negócios que chamam o cliente de usuário é o tráfico de drogas e as redes sociais.

    Pra mim o grande problema é a falta de regulamentação dessas empresas. Assim como o Uber se vende como empresa de tecnologia, mas é uma empresa de transporte e foge da legislação, as redes sociais são empresas de comunicação e precisam seguir as regulamentações do jornalismo e das empresas de comunicação. Isso inclui por exemplo "mostrar o outro lado" e ter um critério mínimo de publicação de informações factuais e ser responsabilizado por aquilo que pública.

    O jornalista André Rizeck acaba de ser condenado a pagar R$ 1,1 milhões por ter publicado em 2001 uma matéria acusando menores de tráfico de drogas. Foram condenados ele e a Revista Placar.

    Então quando alguém mente nas redes somente ela pode ser processada e não o Facebook que se isenta das acusações. Isso está naqueles termos que assinamos. Mudar isso é um começo. Temos força pra isso? Não sei.

    1. Erica Mariosa

      Concordo completamente.
      A falta de regulamentação e de chamar as coisas como elas realmente são dá abertura para que esses problemas (citados no documentário) cresçam.

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