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Desinformação

O que é “Fake News” e por que devo me preocupar com isso?

Carl Sagan, já em 1995, apresentava preocupações quanto à falta de compreensão da ciência e suas consequências. Em seu clássico livro “O Mundo Assombrado pelos Demônios: A Ciência Vista Como Uma Vela No Escuro”, o autor afirmou:

“Nós criamos uma civilização global em que os elementos mais cruciais – o transporte, as comunicações e toda as outras indústrias, a agricultura, a medicina, a educação, o entretenimento, a proteção ao meio ambiente e até a importante instituição democrática do voto – dependem profundamente da ciência e da tecnologia. Também criamos uma ordem em que quase ninguém compreende a ciência e a tecnologia. É uma receita para o desastre. Podemos escapar ilesos por algum tempo, porém mais cedo ou mais tarde essa mistura inflamável de ignorância e poder vai explodir na nossa cara.”

No fim do século XX e início do XXI as preocupações de Sagan tornaram-se uma realidade desconcertante. Vivemos uma era de desconfiança, na qual predomina a incerteza sobre a veracidade de informações científicas, da política e do jornalismo. A sociedade é inundada diariamente por informações duvidosas enviadas pelas redes sociais, as chamadas “fake news”. Muitos conceitos e informações já comprovados pela ciência e divulgados à população são questionados e debatidos com informações repletas de achismos, desconfiança e soluções milagrosas que muitas vezes colocam em risco a vida das pessoas.

Mas, afinal o que é “fake news” e por que devo me preocupar com isso  ? 

 

“Fake news” ou notícias falsas são informações distribuídas à população por qualquer tipo de mídia com a intenção de enganar o leitor, obter ganhos, difamar algo ou alguém  ou apenas para gerar humor. As vemos divulgadas muitas vezes com manchetes sensacionalistas ou exageradas com o simples intuito de provocar algum tipo de caos. Não podemos ignorar que as “fake news” não são invenções contemporâneas. Mas, com a rapidez do compartilhamento de informações, tornou-se comum recebermos diariamente informações duvidosas. Assim, o ato de apertar o botão “compartilhar” em qualquer rede social torna-se comum e cotidiano, mas também perigoso.

Como assim perigoso?

Pois é, na semana passada recebi, como em vários momentos recebo, uma sugestão para publicação no portal e redes sociais do Blogs de Ciência da Unicamp um release (material com todas as informações necessárias para que o profissional de comunicação publique o conteúdo). O título? “Adolescente de 14 anos diz que ficou grávida após tomar vacina contra gripe”. À primeira vista parecia até uma piada, mas infelizmente não era. 

A matéria explicava que a menina obteve complicações após tomar a vacina. A mãe a levou em um médico, Dr. Hersch, que constatou o fato: “Nos meus 26 anos de prática, nunca ouvi falar de alguém sendo engravidado por uma vacina, mas fiz algumas pesquisas e descobri que é mais comum do que a maioria das pessoas pensam”.  

Inconformada com a fala do médico e com a sugestão de publicação que recebi, procurei alguma referência que comprovasse a informação, algum estudo ou o contato do médico. Contudo, havia apenas, referências sobre um jornal americano (Texas – EUA), o World News Daily Report, ao clicar no link indicado me deparei com uma matéria completa, com este e outros casos ocorridos pelo mundo. Entretanto no final da página, o site disponibilizava a seguinte mensagem em preto e letras grandes:

“O World News Daily Report assume toda a responsabilidade pela natureza satírica dos seus artigos e pela natureza fictícia do seu conteúdo. Todos os personagens que aparecem nos artigos deste site – mesmo aqueles baseados em pessoas reais – são inteiramente fictícios e qualquer semelhança entre eles e qualquer pessoa, viva, morta ou morta-viva, é puramente um milagre.”

Como disse antes, em um primeiro momento a matéria pode até parecer engraçada! Mas devo insistir que esse tipo de matéria veiculada sem nenhum tipo de restrição contribui para problemas reais. Quer um exemplo? A queda de vacinação no Brasil.

Segundo dados divulgados pelo Unicef em conjunto com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em matéria do  O Globo  , até 2014 a cobertura da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) estava próxima a 100% no país, mas em apenas 4 anos cobertura caiu para 85%. A poliomielite, em 2015 cobria 95% da população, caindo para 78,5% em 2017. Já a tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche) caiu de 90% em 2015 para 78,2% em 2017.

O resultado dessa queda pode ser visto nos noticiários e em relatório do Ministério da Saúde, em 2018 foi registrado 10.163 casos de sarampo no Brasil e até Maio de 2019, mais 92 novos casos da doença foram registrados em todo território nacional. É importante lembrar que esses números contribuem para que o Brasil perca o título de área livre da doença concedido pelo Comitê Internacional de Especialistas da Organização Pan-americana da Saúde (Opas) em 2016. Para garanti-lo é preciso vacinar, no mínimo, 95% da população.

Diante disso, o Governo Federal decidiu, em setembro de 2018, iniciar uma campanha digital para combater boatos e mentiras sobre a vacinação. O objetivo é conscientizar a população da importância e segurança da vacina. Com isto, espera-se evitar que se agrave os casos de doenças já consideradas erradicadas no país.

Ao mesmo tempo que aproximam as pessoas, aplicativos de troca de mensagens e redes sociais fazem parte do cenário que impede a população de se proteger de doenças como febre amarela, gripe e sarampo. Boatos espalhados pelo WhatsApp, Twitter e Facebook, por exemplo, tem influenciado na queda do alcance das campanhas de vacinação no Brasil desde 2016, segundo o Ministério da Saúde. 

Na ação, imagens e vídeos trazem exemplos de mentiras que circulam na internet e convidam o cidadão a refletir sobre o conteúdo que compartilha nas redes – o material completo pode ser conferido aqui.

Ok! Mas, na prática, como faço para identificar uma “fake news”?

Ao receber uma informação é preciso, antes de mais nada, parar e analisar, antes de sair compartilhando! Na dúvida, siga essas 5 dicas:

  1. Considere quem te enviou e quais as fontes que a matéria cita, na dúvida clique e leia também o original;
  2. Não leia só o título, muitas vezes o título diz uma coisa e a matéria outra;
  3. Verifique se a matéria possui data, pode ser que a notícia seja antiga e esteja sendo compartilhada como informação nova;
  4. Pense se a matéria não pode ser irônica ou piada;
  5. Confira a informação em locais especializados como: Sites de checagem (Aos Fatos, Fato ou Fake, Comprova), canais oficiais e de especialistas nas áreas.

E para terminar, reitero! As “fake news” não são criadas de forma inocente. Sempre há algum objetivo por trás delas! Mais do que isso, ao compartilharmos as informações em nossos canais de comunicação, podemos estar influenciando a decisão de alguém. Isto é: sempre temos responsabilidade com o conteúdo que compartilhamos.

* Material produzido a partir da palestra realizada por Ana Arnt e eu no evento Conexão realizado na UFABC

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