
Depois de um 2024 que será lembrado como um marco histórico (infelizmente, pelos motivos errados), como o mais quente já registrado, com temperaturas 1,6°C acima dos níveis pré-industriais, e mais de 30,8 milhões de hectares queimados no Brasil, uma área maior que a da Itália, segundo o MapBiomas, chegamos a 2025 com um teste de fé e esperança na humanidade.
Foram 41 dias a mais de calor extremo e ainda não nos recuperamos dos traumas dos eventos extremos, como incêndios florestais sem precedentes no Brasil e no Canadá, secas severas na Amazônia e no Pantanal, além de ciclones e enchentes devastadoras em diversas partes do mundo. E 2025 mal começou e vimos os incêndios florestais em Los Angeles, segunda cidade mais populosa dos Estados Unidos, demonstrando que até regiões ricas e bem preparadas enfrentam desafios extremos.

Considerado o incêndio mais devastador da história da cidade, ele destruiu marcos icônicos, deixou 1,5 milhão de residências sem energia e resultou em ao menos 11 mortes. Enquanto Trump criticou a gestão estadual e apontou falta de recursos, o governador Gavin Newsom destacou a gravidade da crise e a necessidade de adaptação, afirmando que “não há mais temporadas de incêndios, é o ano todo na Califórnia”.
Segundo a WWA (World Weather Attribution), 26 de 29 eventos climáticos analisados em 2024 foram intensificados pelas emissões humanas de gases de efeito estufa.
No Brasil, a seca severa e as queimadas destruíram 29 milhões de hectares, afetando comunidades ribeirinhas e indígenas e causando prejuízos de R$ 2,7 bilhões ao setor agrícola. Globalmente, os desastres climáticos resultaram em perdas econômicas de US$ 310 bilhões.
Mesmo com a gravidade da situação, avanços concretos na governança climática global foram limitados. A reunião da ONU sobre poluição plástica terminou sem um tratado, adiado para 2025, e a COP29 em Baku revelou um cenário de negociações paralisadas por interesses divergentes.
Oportunidades e mais desafios em 2025
A realização da COP30 em Belém representa uma oportunidade única para que o Brasil assuma um papel de liderança na agenda climática. É essencial que o país aproveite o momento para fortalecer ações voltadas à preservação da Amazônia e ao combate às emissões, mobilizando esforços globais para a justiça climática.
A transição energética deve ser a prioridade. Investimentos em energia renovável cresceram globalmente em 2024, com avanços em mercados emergentes e na Europa. No entanto, o setor de transporte e uso da terra ainda carecem de políticas mais representativas para reduzir suas emissões. Para 2025, os países precisam intensificar seus compromissos e adotar soluções que integrem tecnologia, governança e participação comunitária.
Na contramão, o ano já começou com um pacote anticlima do não tão novo presidente dos EUA. Negacionista declarado, Trump retorna à presidência com a promessa de q2ue não vai poupar esforços para impulsionar a exploração de combustíveis fósseis e já anunciou a saída do Acordo de Paris.
Depois de um 2024 de lições amargas, o futuro da agenda climática depende de uma mudança estrutural, que exige não apenas a redução de emissões, mas também a implementação de estratégias de adaptação e mitigação que protejam as populações mais vulneráveis. Em 2025, temos a responsabilidade de transformar o aprendizado em ação, estabelecendo um compromisso inegociável com a sobrevivência de nosso planeta e da humanidade como espécie, mesmo que a fé e a esperança estejam abaladas.
Fontes:
World Weather Attribution (WWA). (2024). Relatório sobre eventos climáticos extremos e influência das mudanças climáticas. Disponível em: https://www.worldweatherattribution.org
Copernicus Climate Change Service. (2024). Global Climate Highlights. Disponível em: https://climate.copernicus.eu/global-climate-highlights-2024
Capital Reset. (2025). Trump toma posse com pacote anticlimático. Disponível em: https://capitalreset.uol.com.br/clima/trump-toma-posse-com-pacote-anticlimatico
MapBiomas. (2025, 22 de janeiro). Área queimada no Brasil cresce 79% em 2024 e supera os 30 milhões de hectares. Disponível em: https://brasil.mapbiomas.org/2025/01/22/area-queimada-no-brasil-cresce-79-em-2024-e-supera-os-30-milhoes-de-hectares/
INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). (2024). Relatório do Programa Queimadas: Dados atualizados 2024. Disponível em: http://queimadas.dgi.inpe.br
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Jaqueline Nichi é jornalista e cientista social, pesquisadora de pós-doutorado no Programa USP Cidades Globais (IEA/USP) e doutora em Ambiente e Sociedade pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM-UNICAMP). Sua área de pesquisa é centrada nas dimensões sociais e políticas das mudanças climáticas, adaptação e planejamento urbano e governança climática multinível.
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