Perspectivas (nada positivas) para a agenda climática em 2025

Visão noturna do incêndio florestal na Califórnia em janeiro de 2025. Foto de Soly Moses, Pexels.

Depois de um 2024 que será lembrado como um marco histórico (infelizmente, pelos motivos errados), como o mais quente já registrado, com temperaturas 1,6°C acima dos níveis pré-industriais, e mais de 30,8 milhões de hectares queimados no Brasil, uma área maior que a da Itália, segundo o MapBiomas, chegamos a 2025 com um teste de fé e esperança na humanidade.

Foram 41 dias a mais de calor extremo e ainda não nos recuperamos dos traumas dos eventos extremos, como incêndios florestais sem precedentes no Brasil e no Canadá, secas severas na Amazônia e no Pantanal, além de ciclones e enchentes devastadoras em diversas partes do mundo. E 2025 mal começou e vimos os incêndios florestais em Los Angeles, segunda cidade mais populosa dos Estados Unidos, demonstrando que até regiões ricas e bem preparadas enfrentam desafios extremos.

O ano de 2024 foi o mais quente já registrado, ultrapassando os 1,5°C acima dos níveis pré-industriais (1850-1900), conforme os dados do ERA5 (1940-2024) fornecidos pelo Programa Copernicus e ECMWF.

Considerado o incêndio mais devastador da história da cidade, ele destruiu marcos icônicos, deixou 1,5 milhão de residências sem energia e resultou em ao menos 11 mortes. Enquanto Trump criticou a gestão estadual e apontou falta de recursos, o governador Gavin Newsom destacou a gravidade da crise e a necessidade de adaptação, afirmando que “não há mais temporadas de incêndios, é o ano todo na Califórnia”.

Segundo a WWA (World Weather Attribution), 26 de 29 eventos climáticos analisados em 2024 foram intensificados pelas emissões humanas de gases de efeito estufa​.

No Brasil, a seca severa e as queimadas destruíram 29 milhões de hectares, afetando comunidades ribeirinhas e indígenas e causando prejuízos de R$ 2,7 bilhões ao setor agrícola. Globalmente, os desastres climáticos resultaram em perdas econômicas de US$ 310 bilhões​.

Mesmo com a gravidade da situação, avanços concretos na governança climática global foram limitados. A reunião da ONU sobre poluição plástica terminou sem um tratado, adiado para 2025, e a COP29 em Baku revelou um cenário de negociações paralisadas por interesses divergentes.

Oportunidades e mais desafios em 2025

A realização da COP30 em Belém representa uma oportunidade única para que o Brasil assuma um papel de liderança na agenda climática. É essencial que o país aproveite o momento para fortalecer ações voltadas à preservação da Amazônia e ao combate às emissões, mobilizando esforços globais para a justiça climática.

A transição energética deve ser a prioridade. Investimentos em energia renovável cresceram globalmente em 2024, com avanços em mercados emergentes e na Europa. No entanto, o setor de transporte e uso da terra ainda carecem de políticas mais representativas para reduzir suas emissões. Para 2025, os países precisam intensificar seus compromissos e adotar soluções que integrem tecnologia, governança e participação comunitária.

Na contramão, o ano já começou com um pacote anticlima do não tão novo presidente dos EUA. Negacionista declarado, Trump retorna à presidência com a promessa de q2ue  não vai poupar esforços para impulsionar a exploração de combustíveis fósseis e já anunciou a saída do Acordo de Paris.

Depois de um 2024 de lições amargas, o futuro da agenda climática depende de uma mudança estrutural, que exige não apenas a redução de emissões, mas também a implementação de estratégias de adaptação e mitigação que protejam as populações mais vulneráveis. Em 2025, temos a responsabilidade de transformar o aprendizado em ação, estabelecendo um compromisso inegociável com a sobrevivência de nosso planeta e da humanidade como espécie, mesmo que a fé e a esperança estejam abaladas.

Fontes:

World Weather Attribution (WWA). (2024). Relatório sobre eventos climáticos extremos e influência das mudanças climáticas. Disponível em: https://www.worldweatherattribution.org

Copernicus Climate Change Service. (2024). Global Climate Highlights. Disponível em: https://climate.copernicus.eu/global-climate-highlights-2024

Capital Reset. (2025). Trump toma posse com pacote anticlimático. Disponível em: https://capitalreset.uol.com.br/clima/trump-toma-posse-com-pacote-anticlimatico

MapBiomas. (2025, 22 de janeiro). Área queimada no Brasil cresce 79% em 2024 e supera os 30 milhões de hectares. Disponível em: https://brasil.mapbiomas.org/2025/01/22/area-queimada-no-brasil-cresce-79-em-2024-e-supera-os-30-milhoes-de-hectares/

INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). (2024). Relatório do Programa Queimadas: Dados atualizados 2024. Disponível em: http://queimadas.dgi.inpe.br

____________________________________________________________________________

Jaqueline Nichi é jornalista e cientista social, pesquisadora de pós-doutorado no Programa USP Cidades Globais (IEA/USP) e doutora em Ambiente e Sociedade pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM-UNICAMP). Sua área de pesquisa é centrada nas dimensões sociais e políticas das mudanças climáticas, adaptação e planejamento urbano e governança climática multinível.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*