Chimica di Stradivari

Antonio Stradivari é conhecido como um dos mais renomados luthiers, particularmente por ter feito aqueles que são considerados os melhores violinos de todos os tempos. Estes instrumentos foram feitos entre 1665 e 1737 em Cremona, na Itália. Seu trabalho é considerado como sendo do apogeu da tradição Cremonesa na confecção de violinos. Stradivari era particularmente cuidadoso no acabamento de seus instrumentos, que chamou a atenção não somente de músicos e historiadores, mas também de químicos.
Trabalho publicado na revista Angewandte Chemie International Edition por grupo de pesquisadores franceses coordenados por Jean-Philipe Echard, do Laboratoire de recherche et de restauration, Musée de La Musique, na Cité de La Musique, foi a fundo na análise dos componentes do acabamento de 5 instrumentos feitos por Stradivari: quatro violinos e uma viola d’amore. Os instrumentos analisados são: um modelo comprido, sem nome, datado de aproximadamente 1692; um modelo Davidoff, de 1708; um modelo Provigny, de 1716; um modelo Sarasate, de 1724; e uma “viola d’amore” da época de 1720.

Os pesquisadores se utilizaram de técnicas analíticas extremamente sofisticadas para a análise do acabamento destes instrumentos, de maneira a minimizar a retirada de material (madeira e acabamento). A camada de verniz, por exemplo, foi analisada espacialmente por espectroscopia de radiação síncroton em um micro-infravermelho por transformadas de Fourier (SR-FTIR). A composição elementar de átomos inorgânicos do acabamento foi analisada por microscopia de varredura eletrônica catódica de emissão de campo com raios X de dispersão de energia (SEM-EDX). Tais técnicas não são destrutivas, ou seja, permitem a análise do acabamento sem que seja necessária a decomposição da amostra utilizada. Por fim, a mesma amostra foi analisada por cromatografia gasosa pirolítica acoplada à espectrometria de massas (PyGC-MS), de maneira a investigar a composição molecular específica de cada camada da amostra.
O verniz externo do modelo “Provigny” mostrou ser constituído de partículas vermelhas, contendo pigmentos do tipo antraquinonas. A comparação com vários padrões indicou maior similaridade com ácido carmínico, componente do carmim de cochonilhas, insetos do continente americano. As partículas do modelo “Provigny” também mostraram ser ricas em alumínio e oxigênio. Desta forma, os autores chegaram à conclusão que a camada de corante foi feita se depositando ácido carmínico em uma camada de óxido de alumínio hidratado, provavelmente AlK(SO4)2.12H2O. A fonte de carmim deve ter sido provavelmente a cochonilha Dactylopius coccus L., abundante à época na América Central (tais insetos vivem associados a cactos).

No caso do modelo Davidoff e da viola d’amore, estes instrumentos apresentaram uma camada de cor mais opaca. A camada de tinta apresentou alto teor de ferro e oxigênio, provavelmente na forma de hematita ( Fe2O3) e magnetita ( Fe3O4).
Tanto o modelo “Provigny” quanto a viola d’amore têm uma camada externa resinosa, a qual foi analisada por PyGC-MS. Os principais ácidos encontrados, ácido azelaico e subérico, confirmaram a natureza oleosa da resina, uma vez que estes ácidos resultam da oxidação de ácidos graxos insaturados. Os autores também identificaram diterpenos derivados da oxidação de compostos do tipo abietanos e pimaranos, considerados marcadores moleculares de resinas de árvores do gênero Pinaceae.
Os cinco instrumentos apresentaram uma estrutura de acabamento muito semelhante, apesar de terem sido confeccionados ao longo de três décadas. Stradivari aplicou primeiro um óleo secante para “selar” a madeira. Em seguida, aplicou uma camada de óleo resinoso com tinta. O modelo longo não apresentou qualquer pigmento. O modelo Sarasate mostrou ter sido tratado com o pigmento vermelho “vermillion”.

Os autores assinalam que Stradivari utilizou materiais disponíveis na sua época para o acabamento de seus instrumentos, e era um luthier extremamente cuidadoso, que dominava perfeitamente a arte da confecção de violinos.
O artigo de J.-P. Echard, L. Bertrand, A. von Bohlen, A.-S. Le Hô, C. Paris, L. Bellot-Gurlet, B. Soulier, A. Lattuati-Derieux, S. Thao, L. Robinet, B. Lavédrine, S. Vaiedelich, The Nature of the Extraordinary Finish of Stradivaris Instruments, está no prelo na revista Angew. Chem. Int. Ed. (DOI 10.1002/anie.200906553).

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