2010 – o ano em que faremos contato com a biodiversidade

Tive a oportunidade de estar presente à abertura oficial do Ano Internacional da Biodiversidade em Curitiba, dia 7 de janeiro. O tema não poderia ser mais apropriado, tendo em vista os debates sobre o aquecimento global e suas conseqüências de Copenhagen, em dezembro último. Se por um lado os interesses econômicos falam alto contra quaisquer medidas efetivas que minimizem os (ainda que supostos, ou potenciais) efeitos do aquecimento global, por outro lado, reportagem publicada hoje no jornal Folha de São Paulo on-line, diz que

Com 150 espécies extintas todo dia, 2010 discute biodiversidade – JULIANA MAYA, da Agência Brasil, em Brasília

Apesar de 2010 ser o Ano Internacional da Biodiversidade, não há muito o que comemorar. Pesquisadores estimam que 150 espécies sejam extintas todos os dias no mundo. Segundo o secretário da Convenção sobre a Diversidade Biológica da ONU, Oliver Hillel, o lançamento das atividades pelas Nações Unidas neste domingo (10), em Berlim, na Alemanha, e no Brasil, também na última semana, em Curitiba, servem para colocar o tema no foco das discussões. Ele reforça que, junto com a questão das mudanças climáticas, a perda da biodiversidade é o maior desafio para a humanidade atualmente. Por isso, durante este ano, serão promovidas atividades em todo o mundo para conscientizar a população.

“Estamos perdendo essa biodiversidade a uma taxa mil vezes maior do que a taxa normal na história da terra”, diz Hillel. “Então, de acordo com as previsões dos cientistas, até 2030 poderemos estar com 75% das espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção. Hoje esse número é de 36%.”

Hillel faz um alerta sobre a estimativa de que 150 espécies sejam extintas todos os dias no mundo. E lembra que, dos objetivos traçados por vários países em 2002, durante o lançamento da Convenção da Biodiversidade, poucos foram cumpridos.

“Um que foi cumprido e é bom, porque nos encoraja, é a proteção legal em unidades de conservação de 10% dos ecossistemas da terra. O Brasil, por exemplo, é um líder”, ressalta ele, explicando que o país estaria com 16% da terra em categorias de proteção, nas três esferas do governo. O mundo inteiro, em termos de ambiente terrestre, estaria com por volta de 12%.

O diretor do Departamento de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, afirma que, no Brasil, um calendário de eventos deverá ser divulgado nesta semana pelo ministério para debater o tema. “É importante neste ano ampliar a discussão com a sociedade pra refletir sobre a importância da biodiversidade”, salienta o diretor.

Nesta mesma linha, o jornal O Estado de São Paulo on-line trouxe outra notícia hoje.

Berlim – A chanceler alemã Angela Merkel fez um apelo aos países industrializados e às nações em desenvolvimento para investir mais em proteção da vida selvagem e disse que as Nações Unidas deveriam criar um órgão para reiterar os argumentos científicos em prol do salvamento de espécies da flora e da fauna.

Os pesquisadores dizem que preservar a natureza é crucial para combater as mudanças climáticas e avisam que a atividade antrópica está acelerando a extinção das espécies. Eles também argumentam que o estilo de vida das pessoas depende de recursos naturais valiosos.

As taxas de extinção aumentaram em mil vezes o seu ritmo natural por conta das ações humanas, dizem os estudos. De acordo com os cenários traçados pela ONU, três espécies desaparecem por hora no mundo. “Preservar a diversidade biológica é tão importante quanto proteger o planeta das alterações climáticas”, disse Merkel na segunda-feira (11.01) em um evento de lançamento do Ano da Biodiversidade das Nações Unidas. “Precisamos de uma mudança global. Aqui, agora, imediatamente – não em algum momento futuro”, afirmou ela. “Precisamos aproveitar este ano para relançar esta idéia”. A Alemanha é a sede da Convenção de Biodiversidade da ONU. Merkel disse que os países deveriam investir mais dinheiro na proteção das espécies e criar uma rede de áreas protegidas.

Ela também sugeriu o estabelecimento de um novo organismo para lidar com a ciência da biodiversidade, parecido com o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU. “Seria interessante ter uma interface entre os políticos e os cientistas para repassar e integrar conhecimento, como o IPCC faz com a questão da mudança climática”, disse ela, explicando que um organismo como esse poderia ajudar na instituição de políticas públicas.

Achim Steiner, director executivo do Programa Ambiental das Nações Unidas concordou, completando que o esta é a hora de fazer algo semelhante ao IPCC no âmbito da biodiversidade.

Mais de um quinto de plantas e animais correm risco de extinção, de acordo com os especialistas, e as nações perderam a oportunidade de frear esse processo na Convenção de Biodiversidade (CBD) de 2002.

Ahmed Djoghlaf, secretário executivo da CBD, disse que é essencial estabelecer novas metas este ano. “Nós estabelecemos uma meta e não a cumprimos… temos de aprender a lição para garantir que, em 2020, nós não estejamos nos lamentando novamente por termos perdido a oportunidade”, reflete.

“A estratégia não deve se limitar ao estabelecimento de uma meta, mas também deve contemplar a implementação, o monitoramento e a evolução  de metas integradas em planejamentos  nacionais”, disse Djoghlaf.

No evento de Curitiba, assisti às apresentações públicas do prefeito de Curitiba Beto Richa; da Vice-Ministra do Meio Ambiente, Sra. Izabella Teixeira; do Chefe da Missão Nave Oceanográfica SEDNA IV, Jean Lemire; de Eric Blencowe, representante do Governo do Reino Unido no evento; e do Secretário Executivo da Convenção de Diversidade Biológica, Dr. Ahmed Djoghlaf.

Richa destacou, de maneira extremamente clara e objetiva, a importância do tema e do destaque da cidade de Curitiba no cenário nacional e internacional de urbaização e conservação da biodiversidade. Atualmente Curitiba abriga 34 parques e bosques, num total de 2 milhões de metros quadrados de área verde. A Sra. Teixeira fez uma longa apresentação e explanação das conquistas do governo federal na área de conservação ambiental no Brasil. Já o Sr. Lemire fez uma apresentação piegas e cheia de efeitos dramáticos sobre sua expedição à Antártida (ou Antártica?), a qual foi inclusive ironicamente comentada pelo representante inglês, Eric Blencowe. Deste, outra apresentação clara, suscinta e objetiva sobre a importância do tema e o apoio que o governo do Reino Unido oferecerá, quando da celebração dos 350 anos da Royal Society neste ano. Por fim, as palavras do Dr. Djoghlaf ressaltam que a relevância do tema não deve se limitar às discussões e aos eventos, mas resultar em ações efetivas de conservação da biodiversidade e diminuição de sua taxa de desaparecimento.

Será mais um ano de muitos eventos, em todo o mundo. A programação completa pode ser visualizada na página da Convenção da Diversidade Biológica das Nações Unidas. Todas as iniciativas são excelentes, como não pode
riam deixar de ser.

Mas em que tais eventos resultarão? Espero, sinceramente, que não em mais um fiasco como o da COP-15. Muito há para se fazer, e é possível de ser feito.

Discussão - 1 comentário

  1. italo disse:

    adorei essa matéria .me ajudou muito brigadão!

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