Priorizando a educação de linguagem e de ciência
Aparentemente o ensino de ciências nos EUA se baseia em decorar fatos sobre o mundo natural e, com sorte os alunos realizam um ou dois experimentos. No caso de aulas de linguagem, os alunos lêem basicamente textos de ficção e redigem textos sobre suas leituras de maneira bastante “fossilizada”.
O número da revista Science indica que o ensino conjunto de ciência e língua promove um estímulo no aprendizado de ambos. Além disso, desenvolve o espírito crítico e a capacidade de formular questionamentos por parte do aluno. É importante que o aluno possa diferenciar textos informacionais (factuais) e ficcionais (narrativas), pois, em geral, texto científicos são do primeiro tipo. Sendo assim, é importante que os alunos possam conhecer este formato e apreciar sua leitura, para que possam ter um melhor preparo para ler e elaborar textos dessa natureza, que farão parte da futura vida profissional de muitos.
Re-pensar o ensino de ciências em salas de aula em conjunto com o aprendizado de comunicação e expressão deve muito provavelmente levar a um incremento do aprendizado de ciências para até 4 horas por semana. Em geral, na escola os estudantes dos EUA têm contato com ciências menos do que 1 hora por semana.
Uma segunda vantagem aparente de um sistema de tal natureza é que se poderia supor que favoreceria o desabrochar de capacidades individuais dos estudantes. Afinal a motivação e o interesse do estudante determinam, em boa medida, o bom desempenho dos mesmos nas disciplinas que cursam e na sua formação em geral. Adotando uma educação conjunta de ciência e linguagem/comunicação pode ser um desafio para os estudantes melhorarem suas capacidades de leitura e análise, de maneira a aumentar sua auto-confiança e conhecimento. Ou de melhorar sua capacidade de realizar manipulações experimentais em aulas de ciências. Penalizar alunos que não apresentam um bom desempenho em tais atividades pode ser extremamente danoso para seu futuro aprendizado e, consequentemente, para sua formação profissional. É melhor saber estimular em tais atividades.
O editorial pergunta quantos estudantes estão sendo mal aproveitados em escolas nas quais os professores avaliam a capacidade dos alunos em memorizar palavras científicas obscuras, e lendo somente estórias de ficção? Em vez disso, deve-se pensar em um ensino de ciências de qualidade, em conjunto com um ensino de linguagem e comunicação, através de um processo crítico e colaborativo.
Tais considerações parecem óbvias. Mas quão distantes também estão da nossa realidade brasileira, pergunto aos leitores? Os artigos deste número da Science sobre este assunto são indicados a seguir.
Alberts, B. (2010). Prioritizing Science Education Science, 328 (5977), 405-405 DOI: 10.1126/science.1190788
Taylor, J., Roehrig, A., Hensler, B., Connor, C., & Schatschneider, C. (2010). Teacher Quality Moderates the Genetic Effects on Early Reading Science, 328 (5977), 512-514 DOI: 10.1126/science.1186149
Osborne, J. (2010). Arguing to Learn in Science: The Role of Collaborative, Critical Discourse Science, 328 (5977), 463-466 DOI: 10.1126/science.1183944
Pearson, P., Moje, E., & Greenleaf, C. (2010). Literacy and Science: Each in the Service of the Other Science, 328 (5977), 459-463 DOI: 10.1126/science.1182595
Krajcik, J., & Sutherland, L. (2010). Supporting Students in Developing Literacy in Science Science, 328 (5977), 456-459 DOI: 10.1126/science.1182593
van den Broek, P. (2010). Using Texts in Science Education: Cognitive Processes and Knowledge Representation Science, 328 (5977), 453-456 DOI: 10.1126/science.1182594
Snow, C. (2010). Academic Language and the Challenge of Reading for Learning About Science Science, 328 (5977), 450-452 DOI: 10.1126/science.1182597
Webb, P. (2010). Science Education and Literacy: Imperatives for the Developed and Developing World Science, 328 (5977), 448-450 DOI: 10.1126/science.1182596
Hines, P., Wible, B., & McCartney, M. (2010). Learning to Read, Reading to Learn Science, 328 (5977), 447-447 DOI: 10.1126/science.328.5977.447
Schleicher, A. (2010). Assessing Literacy Across a Changing World Science, 328 (5977), 433-434 DOI: 10.1126/science.1183092
Discussão - 5 comentários
Algo como uma educação paulofreiriana substituindo o ti-jo-lo por mo-lé-cu-la?
[]s,
Roberto Takata
Eu não sei nada sobre o sistema educacional americano, mas, se apenas uma hora é dedicada ao ensino de ciência, o que eles fazem nas outras?
Caro Takata,
Não conheço a abordagem de Paulo Freire, confesso minha ignorância. Mas me pareceu uma boa idéia.
Caro João,
Boa pergunta. História? Geografia? Matemática? Esportes? Não conheço o sistema educacional americano, mas sei que existem problemas até de infra-estrutura (escolas velhas, mal cuidadas, com falta de carteiras, banheiros sujos, etc., para quem acha que isso só existe no Brasil)..
A abordagem de Paulo Freire propõe sair daquilo que o aluno conhece, para então ir construindo o conhecimento cientifico, entre outras coisas, obviamente
Oi Diego,
Obrigado pelos esclarecimentos.
Hum, acho que não é esta a proposta em discussão.
cordialmente,
Roberto