A conservação da biodiversidade é possível?
Segundo Escobar, na crescente perda de diversidade biológica “pesam os impactos cada vez mais severos das mudanças climáticas, da pesca predatória, da disseminação de espécies invasoras, do desmatamento e do consumo de recursos naturais (como água e solo) por uma população global cada vez maior e mais consumista.”
Aparentemente o Brasil tem atuado de maneira relativamente positiva, criando novas áreas de conservação e reduzindo a taxa de desmatamento. Segundo a reportagem, o Prof. Carlos Joly, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas, dá nota 7 para a atuação do Brasil junto à CDB.
foto: cortesia do Dr. Eduardo Hajdu (Museu Nacional, UFRJ)
O artigo de Escobar n’O Estado de São Paulo inclui uma análise de Matt Foster, Diretor da ONG Conservação Internacional e co-autor do trabalho publicado na Science. Segundo Foster, “Uma nova visão para a conservação da biodiversidade é necessária. Os líderes mundiais precisam ser mais ambiciosos nos seus esforços para proteger a natureza e todos os bens que ela nos provê via itens essenciais, como água limpa, ar puro, remédios e alimentos. Alguns países têm feito a lição de casa e estão adotando respostas adequadas, mas ainda há um longo caminho pela frente. O Brasil, por ser um dos países com a maior diversidade do mundo, tem a oportunidade e a responsabilidade de liderar o caminho.”
Este assunto já foi por mim abordado no blog “Química de Produtos Naturais” mais de uma vez (vejam aqui, aqui e aqui), e manifesto novamente aqui minhas observações. Na verdade, a questão da conservação da biodiversidade será realmente enfrentada somente quando o desenvolvimento econômico começar a ficar comprometido tanto para países desenvolvidos como para os países em desenvolvimento. Questões sobre conseqüências para a saúde, recuperação de áreas degradadas que têm impacto direto sobre as atividades humanas (como recifes de corais, por exemplo, que servem de berçário para várias espécies de peixes), sobre a importância em melhor se conhecer para se explorar de maneira racional os recursos naturais, são todas questões secundárias, que não estão incluídas na agenda da maioria dos governos e empresários. Mesmo daqueles que se dizem “defensores da preservação natural”.
A manutenção da biodiversidade, por si só, não interessa dirigentes políticos, empresários, banqueiros e outros setores da sociedade a favor do desenvolvimento a qualquer preço. A propaganda com “atitudes ecologicamente responsáveis”, “desenvolvimento sustentado”, “práticas verdes”, estão longe, muito longe de resultarem em ações efetivas que minimizem de fato a perda de biodiversidade e promovam não somente a manutenção como a recuperação de ecossistemas-chave para a manutenção da diversidade biológica. Tanto isso é verdade que os resultados estão disponíveis, no artigo de Escobar e no artigo publicado na Science.
Após 8 anos, o que se tem a dizer sobre a atual conservação da biodiversidade? Que é uma vergonha. Leia o artigo de Herton Escobar aqui.
Butchart, S., Walpole, M., Collen, B., van Strien, A., Scharlemann, J., Almond, R., Baillie, J., Bomhard, B., Brown, C., Bruno, J., Carpenter, K., Carr, G., Chanson, J., Chenery, A., Csirke, J., Davidson, N., Dentener, F., Foster, M., Galli, A., Galloway, J., Genovesi, P., Gregory, R., Hockings, M., Kapos, V., Lamarque, J., Leverington, F., Loh, J., McGeoch, M., McRae, L., Minasyan, A., Morcillo, M., Oldfield, T., Pauly, D., Quader, S., Revenga, C., Sauer, J., Skolnik, B., Spear, D., Stanwell-Smith, D., Stuart, S., Symes, A., Tierney, M., Tyrrell, T., Vie, J., & Watson, R. (2010). Global Biodiversity: Indicators of Recent Declines Science DOI: 10.1126/science.1187512
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