Carreira em Ciências Biológicas em ascensão?!

Ouvi dizer que uma pesquisa feita pela Folha indicou as carreiras em ascensão no Brasil. Qual não foi minha surpresa ao perceber que Ciências Biológicas foi citada!

Ciências biológicas compreenderia Biologia, Medicina, Ciências agrarias, Engenharia Florestal, etc… Provavelmente todas estas estão inclusas, porque só a boa e velha biologia não consegue segurar essa pressão. Afinal desde os anos da minha graduação, começada em 2000, a biologia é a “ciência do futuro”. O problema é que este futuro nunca chega. Os biólogos que estão sendo absorvidos pelo mercado são os que trabalham com Estudos de Impacto Ambiental na sua maioria. De resto sobram duas opções para o recém-formado: dar aulas ou pós-graduação.


Aulas não têm brotado como nos foi prometido pelo mercado. E a pós-graduação se torna uma opção para poucos que conseguem entrar em boas faculdades que possuam centros de pesquisa. Mesmo estes poucos pós-graduandos têm poucas garantias de absorção pelo mercado. Uma barreira que parece intransponível é a do final do doutorado. O que fazer depois? Realmente há pesquisa de ponta sendo realizada no país, mas há empresas de ponta para empregar este conhecimento e esta mão-de-obra extremamente especializada? O formado novamente se depara com a opção de dar aulas e com as promessas de absorção pelas várias faculdades particulares que abrem a todo instante no país. Mas histórias de doutores ou pós-doutores mandados embora de faculdades por serem qualificados demais têm me deixado um pouco descrente.

Agora, se as carreiras em Ciências Biológicas estão em ascensão deve ser mesmo por englobar várias disciplinas além da jovem e eternamente promissora Biologia.

Dez mandamentos contra o câncer e a modernidade

Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro

Agência FAPESP

(…)Esses são alguns dos alertas do relatório Alimentos, Nutrição, Atividade Física e Prevenção do Câncer: uma perspectiva global, lançado há duas semanas pelo Fundo Mundial para Pesquisas de Câncer e apresentado no 2º Congresso Internacional de Controle do Câncer, que terminou nesta quarta-feira (28/11), no Rio de Janeiro.

As recomendações do Fundo Mundial para Pesquisas de Câncer para prevenção da doença são:

  1. Mantenha-se o mais magro possível, sem ficar abaixo do peso.
  2. Mantenha-se fisicamente ativo, por pelo menos 30 minutos todos os dias.
  3. Evite bebidas açucaradas e limite o consumo de alimentos de alto valor calórico.
  4. Coma mais alimentos de origem vegetal, como hortaliças, frutas, cereais e grãos integrais.
  5. Limite o consumo de carnes vermelhas e evite carnes processadas.
  6. Se for consumir bebidas alcoólicas, limite-as a duas doses ao dia se for homem e a uma dose se for mulher.
  7. Limite o consumo de alimentos salgados e de comidas industrializadas com sal.
  8. Não use suplementos alimentares para se proteger contra o câncer.
  9. Lembre sempre: não fume.
  10. Amamente as crianças até os seis meses. (…)”

Parece que nada de novo aparece nesta lista. Nada que já não tenha sido amplamente divulgado na mídia e nos consultórios médicos. Mas porque tudo que é bom engorda? A pergunta certa na verdade é: porque gostamos tanto de coisas que engordam se elas nos fazem mal?

O funcionamento de nosso corpo muitas vezes nos parece perfeito, harmônico, regulado e sincronizado. E realmente ele é. O problema é que ele está sincronizado com outro fuso-horário alguns milhares de anos atrasado.

Nosso corpo, sua fisiologia, genética e comportamento foram moldados por milhares de anos por um ambiente hostil, onde a comida era difícil (1- Mantenha-se o mais magro possível, sem ficar abaixo do peso), se comia o que se achava por perto (4- Coma mais alimentos de origem vegetal, como hortaliças, frutas, cereais e grãos integrais), ou se andava por milhas para achar o que comer, pois não existia agricultura ou pecuária (2,3,5,7), muito menos bebidas alcoólicas, cigarro ou mamadeiras (6,9,10). Nosso corpo é sim perfeitamente adaptado, mas adaptado para a vida de “homem das cavernas”.

Engraçado pensar também que os homens das cavernas também estavam perfeitamente adaptados, mas apenas para o ambiente de seus antecessores. Este anacronismo é característico do processo evolutivo não só do homem, mas de todas as espécies. Não podemos nos adaptar ao que ainda nem aconteceu. Vivemos a vida inteira com o que ganhamos do ontem e tentando nos adaptar ao hoje. Mas quem sabe o que o amanhã nos reserva?


Experimentação em animais: emendando com ementas.

Parece que resolveu-se este problema da experimentação animal no Rio de Janeiro de uma forma simples: constatando que não havia problema! Alguém talvez desavisado da importância do assunto esqueceu de grampear na papelada os anexos que diziam que a proibição vale EXCETO para fins científicos!

Então melhor esquecer o fato, águas passadas.

Mas se tudo não passou de um mal-entendido, como interpretar as ações do vereador Cavalcanti, preponente do projeto de lei, que já uma outra vez tentou proibir o uso de animais em pesquisa? E as alegações de sua mulher, chefe de seu gabinete e ex-secretária de Proteção e Defesa dos Animais Maria Lúcia Frota: “A nossa plataforma política é a defesa dos direitos dos animais, que devem ser tratados como sujeitos de direito e não apenas como coisas. A intenção da lei foi abranger qualquer tipo de maus-tratos contra esses seres. Pesquisas com animais estão obsoletas e podem ser substituídas por outros recursos”?

Lei de experimentação animal

Claro que por trabalhar com ciência achei um absurdo a proibição no Rio de Janeiro do uso de animais em experimentos. A alegação de que há outros meios de se pesquisar sem o uso de animais não tem fundamento. Modelos de computador estão muito, mas muito longe de serem úteis em testes de drogas. Além disto, acho que seria uma inversão ética muito grande querer testar drogas ou procedimentos diretamente em humanos. E olha que esta que não parece tão absurda para alguns defensores dos direitos animais.

Agora uma outra inquietação me incomoda, não como cientista, mas como cidadão. Qual a diferença entre o sacrifício dos animais de experimentação e os animais de criação pecuária?

Nas suas condições de criaturas não se pode diferenciar um do outro, e há quem diga até que nem nós humanos podemos nos diferenciar muito desta condição, mas para algum damos a liberdade, e para outros a pena de morte. Os preponentes da lei parecem estar certos do sofrimento dos camundongos de laboratório, mas será que eles sabem do que se passa também no âmago de um boi no matadouro?

Longe de mim, carnívoro que sou, querer o fim também da pecuária. Só não pode haver hipocrisia. O dever do Estado de dar de comer é tão importante quanto o de tratar de doenças, assim devemos exigir o bom-senso em ambos, mas sem proibições inconseqüentes.

Farejando cânceres e fontes

Desculpe a redundância de assunto, mas peço que não me culpe. Culpe sim as agências de notícias nacionais e mundiais. Mais uma reportagem com informações incompletas, sem link para fontes, e fontes que mesmo com eforço não pude achar.

‘Nariz artificial’ permitirá encontrar tumores cancerosos

E desta vez percebi que quase todos os sites de notícias mais importantes (globo, uol, terra, folha) simplesmente recortaram e colaram a notícia de uma fonte (EFE), que a copiou de outra fonte (Yedioth Ahronoth, site de notícias israelense no qual não achei a referida reportagem).

Será que só eu fiquei curioso em saber o COMO do funcionamento do tal aparelho, ou é o tipo de informação que não poderia faltar nesta notícia?

Tequila contra câncer. Um brinde ao sensacionalismo!


Não precisa ser nenhum biólogo ou médico oncologista para sentir um leve incômodo com o titulo da reportagem da folha online desta semana: Tequila diminui risco de câncer. Assim que li percebi que tinha algo estranho nisso. Fico imaginando o que levaria um pesquisador a jogar tequila nas plaquinhas de células ou a dar de beber a seus camundongos. Indo a fundo, percebi que a folha simplesmente repassou a informação de outra agência de notícias, a ANSA. Esta, por sua vez, cita um artigo de uma tal Associação Americana de Química, que com certa dificuldade fui descobrir que se trata da American Chemical Society.
Claro que ao ler o artigo original descubro que os pesquisadores usaram apenas o extrato da Agave, planta da qual se faz a tequila (e a relação do trabalho com a tequila termina aqui), para utilizar como carregador de medicamentos e fazer com que estes passem pela acidez do estômago.
Vários são os problemas que podemos encontrar nesta reportagem e que estão muito presentes nesse tipo de notícia online:
– bom, o título é uma pérola, reflete o erro da informação da reportagem em nome do sensacionalismo;
– nenhum link direto para a fonte foi disponibilizado, o que dificulta a confirmação e o aprofundamento na notícia;
– o nome da fonte original foi traduzido de uma maneira que não permite procurá-lo com facilidade em sistemas de busca como o Google, sendo o melhor deixar o nome original;
– a aparente falta de comprometimento das agências de notícia em confirmar as informações técnicas de suas notícias, sendo a solução um consultor técnico da área (com tantos biólogos desempregados por aí).
Assim como não precisa ser biólogo ou médico para perceber esses disparates, também não é preciso diploma para relatar erros ou confusões e exigir uma posição das agências de notícias. Neste caso a Folha e a ANSA já foram notificadas. Claro que um puxão de orelha a mais é sempre bom, portanto se sintam a vontade para enviar suas impressões e reclamações a ambas.

Meu genoma, minha privacidade


Estamos cada vez mais perto de um dos sonhos da medicina: a medicina personalizada. A idéia é simples, conhecer cada pessoa, sua fisiologia, psicologia e genoma, e prevenir ou tratar cada um de acordo com as suas características especificas. Afinal somos diferentes uns dos outros, temos resistências diferentes a doenças e respondemos de maneiras diferentes aos tratamentos. Os seqüenciamentos pessoais de genoma terão um papel essencial nessa nova medicina.

Hoje em dia ainda é demorado e caro fazer seqüenciamento de um genoma inteiro, mas a perspectiva de isso vir a ficar mais fácil é clara. Recentemente um grupo anunciou o seqüenciamento de dois cromossomos de um indivíduo. O líder do grupo, que teve seus cromossomos 23 seqüenciados descobriu algumas coisas interessantes com isso: a seqüência de seu gene ABCC11 indica que ele tem tendência a ter cera de ouvido úmida ao invés de seca; uma repetição de quatro seqüências antes de seu gene MAOA indica um comportamento social normal, já que a presença de apenas três dessas seqüências ocorre em muitas pessoas com comportamento anti-social. Também algumas informações preocupantes foram descobertas. O seu gene APOE está associado a maior risco de doenças cardiovasculares e Alzheimer, e a sua variação do gene SORL1 também está ligado a Alzheimer.

Ótimo saber tudo isto certo? Agora podemos estar mais atentos e prevenir este cara contra estas doenças indicadas pelos seus genes! Mas vamos nos por no lugar do cidadão que foi seqüenciado. Essa tendência a Alzheimer não deve ser fácil de esquecer. Como lidar com esta situação? Muita gente pode se derrotar ou ficar com aquele fantasma da doença que pode aparecer a qualquer momento. Afinal não há ainda cura para isto. Devemos ter claro que estas ligações entre genes e doenças são produto de pesquisas que comparam seqüências de genes de pessoas que tem e não tem Alzheimer, por exemplo. Algumas variações podem estar muito ligadas à doença, e vão aparecer bastante no grupo dos doentes e não muito nos saudáveis. Mas não há um fatalismo, nada é certo. Alguns doentes podem não ter a variação e não-doentes podem possuí-la.

Além do peso psicológico que estes seqüenciamentos pessoais carregam há ainda outras questões em jogo. Como uma empresa de seguros agiria tendo em mãos o perfil genético de seus clientes? Fica claro que a chance de quererem cobrar de forma diferenciada, simplesmente com base nas tendências, é grande. Cobrar por doenças que ainda não surgiram se é que vão surgir. O mesmo vale para a contratação em empresas. Além de provas, entrevistas e dinâmicas, uma gota de sangue poderia ser parte da seleção, e a contratação dependeria de seu perfil genético. Claro que isto seria a base para a descriminação genética, já imaginada no filme “Gattaca“. Mas a sociedade parece estar se prevenindo. Leis que proíbem o uso de informações genéticas por empresas e que garantem a liberdade do indivíduo querer saber ou não essas informações estão sendo aprovadas nos Estados Unidos e discutidas por todo o mundo.

Referências:

Your Genes and Privacy – Louise M. Slaughter, Science 11 May 2007: Vol. 316. no. 5826, p. 797

All about Craig: the first ‘full’ genome sequence – Heidi Ledford,Nature Vol 449|6 September 2007

Artigo deste blog publicado!

É com grande satisfação que informo que um artigo baseado em um post deste blog foi publicado.

A revista PSIQUE se interessou pelo post “Genoma do homem de neandertal, e daí?” e pediu um artigo ampliado desenvolvendo o tema. O resultado é o artigo “Humano demasiado humano” publicado na edição 21 da revista Psique, neste mês de setembro. Esta pode ser encontrada numa banca de jornal perto de você.