Evento traz abordagem científica e antropológica de psicodélicos

Psicodélico é, resumidamente, o nome dado a substâncias que tem a capacidade de causar modificações físico-químicas no cérebro que alteram percepções sensoriais da realidade e processos cognitivos, afetando a própria consciência.

Dentro desse tema, teve lugar no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL/UNICAMP), de 09 a 11 de agosto, a Jornada “Plantas Sagradas em Perspectiva”. O evento reuniu pesquisadores de diversas áreas para abordar e discutir esse tema bastante amplo, complexo e – não há como não dizer – polêmico, sob perspectivas científicas.

Apesar do nome, o evento abordou também substâncias não advindas de plantas, como o LSD, a psilocibina dos cogumelos “mágicos” ou o kambô (resina retirada do sapo amazônico Phillomedusa bicolor). As temáticas foram abordadas por biólogos, antropólogos, historiadores, médicos, psicólogos entre outros.

No que diz respeito a abordagem antropológica, algumas apresentações buscaram realçar a importância de diversas plantas psicodélicas na cultura e religião de muitos povos tradicionais indígenas; como essas plantas são tratadas hoje no contexto proibicionista de guerra às drogas e como os direitos humanos indígenas podem ser ameaçados por políticas restritivas. Foram traçadas, ainda, análises de como se deu o surgimento e dispersão de religiões modernas embasadas nas plantas ditas sagradas, como as religiões daimistas, por exemplo. Também o contexto histórico em que a proscrição de plantas psicoativas, como a Cannabis sativa, se deu foi debatido.

Do ponto de vista médico e psicológico, buscou-se estabelecer paralelos entre conhecimentos etnobiológicos e biomédicos. As apresentações pautaram-se nas mais avançadas pesquisas realizadas a partir de enteógenos (nomenclatura alternativa também bastante utilizada), focadas no tratamento de quadros clínicos severos de depressão e ansiedade, dependência química, e nos cuidados paliativos voltados a pacientes terminais.

Outros aspecto importante ressaltado foi a preservação de espécies que, por força das leis de proibição, acabam sendo ameaçadas em seus contextos ecológicos. Um exemplo é o do cacto norte-americano Lophophora williamsii, o Peiote (foto de capa), que se encontra próximo de ser considerado em risco de extinção, enquanto se vê em meio a imbróglios jurídicos quanto ao seu uso ritualístico por nativos e não-nativos.

Longe de buscar advogar a favor da liberação total e consumo irresponsável de toda e qualquer substância psicoativa, o evento buscou trazer o tema à pauta das discussões científicas. Ao invés de simplesmente esconder o fato de que as drogas existem nas sociedades modernas assim como sempre existiram em sociedades tradicionais, uma abordagem do assunto pautada no método científico pode ter muito valor em relação à formulação de políticas públicas. Tendo em vista que o abuso ou uso inadequado de qualquer substância desse tipo pode ser perigoso, tanto fisiológica quanto psicologicamente, trazer a discussão para níveis acadêmicos pode fomentar uma cultura de maior informação e atenção para com essas plantas, fungos, etc.

Crédito da imagem: Harry Harms

Sobre Gustavo 29 Artigos
Cientista de Alimentos e Mestre na mesma área. Especialista em Jornalismo Científico pelo LABJOR/UNICAMP, dedicando-se a atividades de divulgação científica.

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