Lixo não existe!

A expressão que dá nome ao texto já está bastante disseminada por aí – o que é muito positivo – e sua autoria é incerta. No entanto, é válido um olhar mais atento sobre a questão e entender o que essa frase quer (e não quer) dizer.

Em primeiro lugar, é preciso dizer, lixo existe, sim! Pelo menos quando levamos em conta resíduos que não tem qualquer utilidade prática, nem possibilidade de transformação e que, muitas vezes, são muito nocivos ao ambiente e à saúde humana. Os exemplos mais palpáveis são os rejeitos que ensejam riscos biológicos, como lixo hospitalar e laboratorial, cujo único destino aceitável e recomendável é a poluente incineração, alguma classes de substâncias químicas sintéticas e – talvez o mais problemático de todos – o lixo radiativo, para o qual não existe alternativa conhecida ao armazenamento por tempo indeterminado em local estritamente seguro.

Em segundo lugar, lixo existe, sim!, mas não deveria. É este o sentido da frase expressa no título. O raciocínio é o de

que praticamente tudo que consideramos lixo porque jogamos fora não deveria, efetivamente, ser jogado fora e, portanto, não deveria ser considerado lixo. A real intenção da expressão é dizer que tudo o que hoje é descartado, seja no âmbito doméstico, industrial, comercial, ou no campo, poderia receber outra aplicação que não fosse a destinação a lixões ou aterros sanitários sem qualquer tratamento. Como todos sabemos, no entanto, a maior parte do que consideramos lixo ainda recebe esse destino no Brasil e em grande parte do mundo.

O que fazer com o lixo pra ele deixar de ser lixo?

O primeiro passo, é evitar que ele se torne lixo. Isso está diretamente relacionado com fatores como desperdício e consumismo.

O desperdício de alimentos, por exemplo, atinge níveis alarmantes e inaceitáveis para um planeta no qual a insegurança alimentar ainda é uma realidade para quase um bilhão de pessoas. Os levantamentos mais recentes trazem a informação de que 30 à 40% de todo alimento produzido no mundo não chega a ser consumido (e o Brasil não ostenta melhor cenário). Por se tratar de um problema amplo e complexo, não só os cidadãos devem se

Desperdício de alimentos no Brasil. Crédito: Estúdio Urbano
Desperdício de alimentos no Brasil. Crédito: Estúdio Urbano

conscientizar a não desperdiçar alimentos, quanto os órgão públicos e universidades devem se voltar mais a pesquisas que levem à diminuição destes números ao longo da cadeia produtiva.

Evitar usar copos descartáveis, canudos plásticos, papel toalha em excesso, por exemplo, são outros meios de se evitar o desperdício de materiais.

O consumismo exacerbado da atualidade – infelizmente incentivado em contextos como a publicidade, música ou mesmo nas relações sociais – faz com que compremos muitas coisas que não nos são realmente necessárias e que, invariavelmente, serão descartadas e se tornarão lixo. O chamado lixo eletrônico ou lixo tecnológico é a face mais visível desse problema, e traz consigo riscos à saúde relacionados com os materiais (metais pesados, por exemplo) que constituem os componentes de computadores, celulares, etc.

Uma vez que os produtos já foram adquiridos e utilizados é importante darmos aos resíduos o destino correto. Restos de alimentos podem ser direcionados à compostagem, processo através do qual se obtêm composto orgânico que pode ser utilizado na adubação de hortas e plantações. O processo é totalmente viável a nível doméstico, entretanto, políticas públicas que tratem os resíduos orgânicos desta maneira a nível municipal são indispensáveis. (Nota: Resíduo específico, o óleo de cozinha merece destino adequado, através de coletores especializados, e não deve ser descartados na pia.)

Outra maneira importante de redução da produção de lixo é a reutilização de materiais, como garrafas, recipientes, caixas, roupas velhas, etc para empregá-los numa variedade de outras formas.

Os materiais não orgânicos devem ser totalmente destinados à reciclagem, o que, ainda não é uma realidade no Brasil. No caso de materiais complexos e de resíduos com potencial poluente (utensílios tecnológicos, pilhas, lâmpadas fluorescentes, óleo lubrificante, etc), deve-se empregar o processo de logística reversa, que depende grandemente da iniciativa das empresas em trazer de volta e dar o destino adequado a seus produtos. O site e-cycle, é uma ferramente bastante útil para saber, em sua cidade, onde estão os pontos de coleta para cada material.

Todas estas informações são bastante úteis para reduzirmos o lixo produzido, a poluição ambiental e a extração de recursos do ambiente. Elas se resumem na conhecida regra dos 4 R – reduzir, reutilizar, reciclar e – mais importante – repensar.

Crédito da imagem de capa: Eduardo Cuducos

Sobre Gustavo 29 Artigos
Cientista de Alimentos e Mestre na mesma área. Especialista em Jornalismo Científico pelo LABJOR/UNICAMP, dedicando-se a atividades de divulgação científica.

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