Comunicação: Animais, Humanos e ETs (Pint of Science)

língua polissintética
Um logograma poderia ser resultado de uma alielíngua polissintética?

Observação: Este post serviu de base para minha fala no Pint of Science Campinas 2017, no dia 17 de Maio, no Alzirão Empório Bar, Campinas-SP.

Se você gosta de comunicação, de ficção científica e de ler sobre a exploração do espaço pela humanidade, provavelmente também gostou bastante de “A Chegada”. Caso não conheça, o filme de Dennis Villeneuve foi inspirado no conto “História da sua vida” de Ted Chiang e fez sucesso recentemente, ao ponto de ganhar o Oscar de melhor edição de som. O roteiro do filme gira em torno do trabalho de uma linguista, Louise Banks, convocada pelo exército americano para decifrar ‘a linguagem’ dos visitantes alienígenas. Se você é entusiasta no tema, mesmo que não seja linguista ou não tenha gostado do filme, sugiro fortemente a leitura do conto. Ele é muito mais pé no chão, realizando a ligação entre a Física alienígena e sua língua (não, o Físico da história não é um “vice protagonista decorativo”), dando evidências para cada descoberta das dezenas de equipes de linguistas e de físicos ao redor do mundo.

1) Sobre as formas de vida no universo

Voltando ao tema da exploração espacial. Conforme nossa tecnologia nos permita o acesso físico ou de informações sobre os locais mais longínquos do universo, em algum momento  encontremos vida além das que conhecemos hoje na Terra. Estas formas de vida podem ser parecidas com as existentes em nosso planeta, organizadas em células, baseadas em água e carbono e com instruções registradas em DNA. Por outro lado, nada impede que outros planetas tenham desenvolvido outros tipos de vida, com organização diferente do que conhecemos hoje, assim como as pedras de Vênus em Chapolin. Podemos dizer o mesmo em relação à forma de comunicação entre estes seres.

Hoje, o sentido de comunicação no público comum está muito ligado às diversas faces da linguagem oral. Normalmente não falamos das outras formas de comunicação entre os seres vivos existentes no nosso planeta, cada uma mais fascinante do que a outra (voltarei a este ponto em breve). Assim, a comunicação alienígena pode acontecer de forma semelhante ao que observamos na Terra, mas também pode ter características completamente imprevisíveis. E será que os humanos seriam capazes de interceptar estas mensagens e compreendê-las?

2) Comunicação, Linguagem e Línguas

Em conversas do cotidiano, é comum escutar opiniões sobre a “linguagem de sinais” encadeada de falas sobre “a linguagem da Itália” e “a linguagem dos golfinhos”. Infelizmente, é possível identificar este achatamento terminológico até mesmo em veículos de divulgação científica como o SciCast #181 e o NerdCast #561. Entendo que a ideia da divulgação científica é passar informação de forma simples para o público leigo. Mas alguma definição é essencial.

Ambos os podcasts contaram com a participação de linguistas que, em algum momento, se enrolaram com alguma pergunta exatamente por não se preocupar com esta distinção. Então, para facilitar a compreensão, vou usar este espaço para garantir que “estamos falando a mesma língua”. Embora a definição específica possa variar de acordo com a vertente linguística do pesquisador, acredito ser possível fazer uma rápida definição, de forma que seja comum entre boa parte dos linguistas sem ser extremamente superficial.

a. Comunicação:

Termo mais geral que se refere a qualquer forma de troca de informação, independente do emissor, do receptor, do código e do meio utilizado para tal. É comum encontrarmos, em linguística, o termo ‘Comunicação Animal’, se referindo a qualquer forma de comunicação animal não humana, ou a comunicação entre máquinas como modelos ou metáforas da comunicação entre seres vivos.

b. Linguagem:

Em linguística, o termo linguagem é reservado para a comunicação humana. Alguns biólogos acreditam (e acusam) que os linguistas colocam os humanos num pedestal, o que não é verdade. Não se trata de defender que nossa comunicação seja especial em relação a de outras espécies, mas sim de definir que a comunicação animal ou entre computadores não é o objetivo final das pesquisas em Linguística. O uso do termo linguagem neste sentido se trata de uma delimitação do objeto de estudo da ciência linguística.

c. Línguas:

Apesar de termos uma forma de comunicação específica chamada linguagem, uma enorme capacidade de variação faz com que a linguagem seja realizada através de inúmeras estruturas diferentes, chamadas línguas. As línguas são expressas normalmente na modalidade falada/auditiva. Na ausência da audição, é comum usarmos línguas sinalizadas, na modalidade visual. As línguas têm como uma de suas características mais marcantes a modificação no tempo, o que garante a elas a sua própria Teoria da Evolução, à parte da Evolução da Linguagem e da Evolução das Espécies.

2.1 Comunicação dos insetos

Diversos seres, como as formigas, conseguem transmitir informação através de sinais químicos. Mesmo entre os animais, além da comunicação pela via auditiva, a comunicação de alguns aspectos da vida por via química ainda é bem marcante. Já as abelhas possuem uma dança milimetricamente calculada capaz de informar a posição do alimento para suas companheiras. Esta dança leva em consideração fatores ambientais como a distância e a posição do sol. Se estudarmos toda a biodiversidade e suas formas de comunicação, provavelmente encontraremos mecanismos cada vez mais impressionantes de comunicação.

2.2 Comunicação de primatas

Primatas não humanos possuem vocalizações que geralmente se dividem no tripé da vida: alimentação, sobrevivência e reprodução. Dentre estas três categorias, é possível encontrar uma variação nas vocalizações referentes a subcategorias. Por exemplo, se a comida é comum ou rara, ou se o perigo vem pelo alto (ex. aves de rapina), por terra (ex. onças) ou é rasteiro (ex. cobras). A forma da vocalização muda completamente o comportamento do grupo, que pode fugir subindo ou descendo das árvores. Isso indica que estas variações na informação são relevantes para a comunicação. Além disso, as variações ou são razoavelmente bem compreendidas por outros grupos da mesma espécie, ou usam uma mesma forma para novas funções.

2.3 Comunicação de humanos

Entre humanos como grupo social, podemos dizer que todos nós compartilhamos a capacidade de comunicação através de sons estruturados e composicionais. Estes sons se diferenciam uns dos outros através de pequenas variações dotadas de sentido (compare a diferença entre: [b]ia, [d]ia, [p]ia, [t]ia, [ch]ia, [r]ia, [v]ia, [l]ia etc). Apesar disso, nem todos compartilham a mesma língua, nem as mesmas formas com novos sentidos como parece acontecer em primatas. A comunicação humana através de linguagem pode ser impraticável se um falante de Karajá tentar se comunicar com um falante de Maori usando apenas suas línguas maternas. Se a necessidade e insistência forem grandes, porém, é possível que os indivíduos criem uma língua de contato.

3) Precisamos discutir o que é Linguística

Agora que fizemos a distinção terminológica entre comunicação, linguagem e línguas, vale a pergunta: o que, de fato, estuda a Linguística?

a) Resposta rápida e definitivamente imprecisa

Linguística é a área da ciência que estuda a comunicação humana! Porém, isso não explica como funcionam os estudos da linguagem. A linguagem é um objeto tão fluido que não basta uma ciência apenas para ela. É preciso estabelecer interfaces com outras disciplinas pertencentes às mais diversas áreas do saber.

b) Resposta mais longa e um pouquinho mais precisa

A linguagem é algo que ultrapassa suas características estruturais. Ela possui características sociais em suas entranhas e, ao mesmo tempo, depende de estruturas biológicas para ser utilizada. É possível realizar estudos descritivos sobre os níveis Acústico, Fonológico, Morfológico, Sintático, Semântico e Pragmático, estritamente relacionados à estrutura das línguas. Por outro lado, podemos pesquisar Sociolinguística, Linguística HistóricaPsicolinguística, Linguística Forense, Linguística Computacional, Análise do Discurso, Neurolinguística relacionada ao processamento linguístico ou ao discurso (Por favor! PNL não tem absolutamente NADA de Linguística!).

Desta forma, a Linguística é parte integrante e essencial para o conhecimento em outras disciplinas. Podemos dar o exemplo da Psicologia Cognitiva, das Neurociências, da Política, da Sociologia, da Antropologia, da História, do Direito e outras. A linguística é essencial até mesmo para as pesquisas sobre Inteligência Artificial, nas tarefas de tradução automática e nas tentativas de fazer um computador compreender e produzir “linguagem” como o CleverBot.

O que estuda a Linguística: Taí a resposta!
O que estuda a Linguística? Taí a(s) resposta(s)!

Além de todas estas especialidades, também existem os Linguistas de Campo. Estes pesquisadores utilizam todo o conhecimento destas áreas para aprender e documentar línguas que nunca passaram pelo processo de descrição. Assim como a biodiversidade está ameaçada, as línguas minoritárias do mundo estão em extinção e precisam ser preservadas, o que demonstra a relevância social e histórica dos linguistas de campo.

4) Sobre a diversidade da comunicação no Planeta Terra

Nim Chimpsky
Projeto Nim

Muitos biólogos dizem que os humanos ainda não conseguiram compreender o que dizem as baleias por conta de sua anatomia. Afinal, conseguimos entender razoavelmente bem as vocalizações de boa parte dos primatas, que são mais próximos na escala evolutiva.Por outro lado, todo o conhecimento sobre as vocalizações levou anos e anos de estudos para ser formado e ainda temos um longo caminho se quisermos de fato entender a comunicação primata. Enquanto isso, Karl von Frisch ganhou o Nobel por descrever minuciosamente o fascinante mecanismo da dança das abelhas, com anatomia muito diferente da nossa.

Minha opinião é que os Linguistas, que possuem melhores ferramentas para pesquisar comunicação, não têm a descrição da comunicação animal como fim, como discutimos anteriormente. Nenhum linguista dedicará sua vida a descrever a comunicação entre baleias. Este seria um objetivo muito mais factível para uma pesquisa em Biologia que, por sua vez, possui melhores ferramentas para, entre outros, descrever a fisiologia e a evolução dos mamíferos e de seus sistemas motores.

A descrição da comunicação entre baleias só seria possível com um esforço conjunto entre linguistas e biólogos.

Agora pense no contrário! Será que os animais poderiam compreender a comunicação humana?

Alguns estudos feitos com grandes primatas conseguiram estabelecer um determinado nível de compreensão em línguas sinalizadas, como é o caso do Projeto Nim. Duas das grandes diferenças da comunicação do chimpanzé Nim Chimpsky (reconhece este nome?) com a linguagem é que: (i) Nim conseguia produzir apenas sentenças demasiadamente simples, com até três ou quatro sinais correspondentes a sujeito, verbo e objeto e; (ii) embora alguns argumentem que sua produção se assemelha a das crianças, a distribuição dos sinais usados por Nim não obedeciam a Lei de Zipf. Além destes, existiram projetos como o dos chimpanzés Lana e Washoe, da gorila Koko e da bonobo Kanzi.

Distribuição de frequência pela Lei de Zipf (VSauce)
Distribuição de frequência segundo a Lei de Zipf (VSauce)

Com os golfinhos, as evidências coletadas indicam que eles são capazes de compreender uma gramática criada e ensinada a eles, mas não uma língua humana. A Gramática DTR (Destino, Transportado, Relação) permite que, seguindo esta sequência, possamos pedir para os golfinhos realizarem levarem algum objeto até determinado local na piscina. De qualquer forma, isso já demonstra uma capacidade impressionante de comunicação entre espécies.

5) Biolinguística

O fato de não compreendermos a comunicação das diversas espécies no planeta, a meu ver, está muito mais na falta de comunicação entre biólogos e linguistas do que na dificuldade de descrição. Ao menos, no que diz respeito a este objetivo em especial. A comunicação entre biólogos, antropólogos, psicólogos e linguistas tem se tornado um pouco  mais comum nos últimos anos, no que diz respeito à origem e evolução da linguagem. Esta comunicação deu origem a uma área interdisciplinar conhecida como Biolinguística.

Pelo contato, diversos termos linguísticos, dentre eles o termo linguagem, acabam sendo usados com sentidos distintos e causam um certo “borrão terminológico”. Enquanto uns preferem descrever o que é inovador na comunicação humana, dando a isso o nome linguagem, outros preferem dizer que linguagem inclui tudo o que também é compartilhado entre humanos e primatas. Em situações em que os debatedores não especificam seus termos, não é raro um criticar as ideias do outro e propor algo semelhante em seguida.

De qualquer forma, a Biolinguística é uma área de inúmeras interfaces nas Ciências Cognitivas e tem crescido bastante no mundo, apesar de ser virtualmente inexistente no Brasil. O grande impasse na área é que não existem fósseis linguísticos, tornando todos os caminhos de pesquisa um tanto nebulosos. Um conjunto de evidências paleontológicas ou de modelagem computacional consegue corroborar uma diversidade de hipóteses, muitas vezes contrárias entre si. Como diz um grande amigo e estudioso da área em sua (em breve) tese de doutorado:

No caso da área de estudos evolutivos sobre o Homo sapiens, a descoberta de um pequeno fóssil pode corroborar um número tão grande de hipóteses sobre o surgimento da linguagem quanto as estrelas da Via Láctea.
Fabio Mesquita (2017).

Por fim, assim como na história do universo, sabemos razoavelmente bem o que acontece com a linguagem e com as línguas assim que elas passaram a existir, mas muito pouco sobre como elas de fato surgiram.

6) Seria possível uma linguagem alienígena?

Neste ponto precisamos voltar as nossas definições de comunicação, linguagem e língua. Uma vez que ‘linguagem’ é utilizado para se referir à comunicação humana, seria contraditório falar em uma ‘linguagem alienígena’.

OBS.: A partir deste ponto, (quase) tudo o que eu disser não passa de pura especulação.

Ao encontrarmos vida extraterrestre, inicialmente, apenas os biólogos teriam interesse na descrição de suas possíveis formas de comunicação, assim como vimos com a comunicação animal. Os linguistas só despertariam interesse no caso se os ETs demonstrem algum nível de organização social que possa ser relacionado ao nosso. A razão para este interesse seria simples: já é relativamente difícil descrever a própria ferramenta que usamos para realizar esta descrição. Estamos sempre limitados a própria linguagem sem poder observá-la de fora. Uma vez que existe um outro sistema de comunicação entre seres vivos que se organizam socialmente de forma semelhante à nossa, este sistema servirá, no mínimo, como um excelente ponto de comparação. Esta comparação pode nos dar uma noção mais clara dos limites da comunicação humana, de mecanismos cognitivos que talvez não saibamos que usamos para usar linguagem, dentre outras vantagens comparativas.

7) AstroBioLinguística (ou a AstroLinguística?)?

Após toda a discussão sobre o que é Linguística, suas subáreas e a comunicação animal, fiquei imaginando como seria o trabalho de um linguista do futuro. Este novo linguista poderá explorar o universo descrevendo a linguagem de cada espécie alienígena. Alguém que inaugure esta subárea não seria um biolinguista. Ele seria muito mais próximo do linguista de campo, que busca descrever as línguas indígenas, africanas e aborígenes. Por outro lado, ao contrário do linguista de campo, este linguista precisaria também ter boas noções de biofísica para saber o que procurar nas línguas extraterrestes.

A esta junção entre um biolinguista e um linguista de campo, eu daria este nome pomposo, juntando três áreas da ciência: AstroBioLinguista.

Vale notar que existe, hoje, uma área semelhante, chamada Astrolinguística. Esta área, porém, é ligada à busca por inteligência extraterrestre. O Astrolinguista auxilia o desenvolvimento de mensagens que são enviadas ao espaço, como no SETI Institute. Particularmente, ainda acredito que eles estão mais próximos da matemática do que da Linguística, exatamente pela nossa distinção de objetivos. O objetivo do astrolinguista não é a comunicação humana. Já o AstroBioLinguista, além de documentar alielínguas, o fariam na intenção de fomentar comparações com nossas línguas. Sendo assim, prefiro manter o termo que inventei e seguiremos falando da AstroBioLinguística.

AstroBioLinguística da Fala

A primeira coisa que o astrobiolinguista precisará entender é a anatomia do sistema de comunicação das espécies observadas. Os ETs usariam fala? Ou talvez algum outro meio auditivo? Vale lembrar que a fala humana usa frequências que variam entre 50 e 3400Hz. Caso o extraterrestre use outras frequências, provavelmente não teríamos fácil acesso a sua produção linguística ou, no mínimo, precisaríamos de instrumentos para captar e decodificar estes sons.

É interessante observar a existência de uma síndrome rara e adquirida chamada Surdez para Palavras (Pure Word Deafness) que nos faz perder a capacidade de processamento de língua falada, mesmo que o indivíduo continue escutando normalmente e ainda consiga usar língua escrita. Isso indica a existência de algum sistema cognitivo de compreensão de linguagem oral que está danificado. Será que, no caso da linguagem alienígena, nós teríamos um sistema cognitivo capaz de tal compreensão?

AstroBioLinguística e Memória Cultural

Os ETs poderiam ter escrita como nós, humanos. Mas não podemos esquecer que, ao contrário da fala que surgiu de forma natural, a escrita é uma invenção cultural que mapeia os sons de sua língua em um registro físico. Isso é essencial para a disseminação cultural. Não precisamos mais de um orador como Homero que lembre de toda a história do seu povo e a repasse aos mais jovens. Podemos registrar nossas memórias culturais em um veículo externo aos próprios indivíduos. Os heptápodes do filme tinham uma escrita, mas seria ela natural ou um mapeamento para fins de registro?

Variação SocioAstroBioLinguística

Outra questão que certamente seria trazida pelo astrobiolinguista: a comunicação alienígena seria variável como a nossa? Por exemplo, os heptápodes de A Chegada teriam sotaques? Teriam dialetos? Teriam línguas? Estas línguas teriam uma história ou seria algo invariável desde que surgiu na espécie? Teriam registros formais para trabalho e informais para falar com sua família? Nada no filme ou no conto indicam a existência de variação, característica intrínseca da comunicação humana. Caso exista variação, seria válido dizer que se trata de linguagem?

Além destas questões linguísticas, fatores biológicos também seriam essenciais para compreendermos a comunicação alienígena. Nós sabemos as características e limitações do sistema fonador humano, mas quais as características e limitações dos grunhidos produzidos pelos heptápodes, mostrados à Louise Banks no início do filme?

Uma [[Gramática Universal] Universal]

Se pensarmos na evolução do sistema nervoso, Suzana Herculano em “The Human Advantage” explica que o mais interessante de estudar cérebros é observar a enorme variação. Os cérebros das diversas espécies podem variar em tamanho, tamanho do córtex, proporção anatômica, número e tamanho dos neurônios etc. Ainda mais impressionante é que, em meio a tamanha variação, sempre existe algo em comum. No caso do cérebro é o número de células gliais. Parece existir alguma limitação física ou biológica em que, independente do número e do tamanho do cérebro e de seus neurônios, o número de células gliais deve permanecer constante. Provavelmente existiu (e ainda existe) variação neste número, mas os indivíduos não sobrevivem muito tempo para contar história. Como diz a Suzana: “You don’t mess with the Glia!

Num caminho semelhante, uma das propostas mais conhecidas na linguística hoje é a chamada Gramática Universal, de Noam Chomsky, de certa forma retratada no livro de Louise Banks ao final de A Chegada. Uma vez que somos uma mesma espécie e partilhamos tanto os sistemas motores da fala quanto os sistemas cognitivos, é muito provável que, apesar da enorme variação entre as línguas do mundo, existam características das quais as línguas não consigam escapar. A princípio e sem ser muito técnico, é possível falar de estruturas simples como as sentenças de qualquer língua mapearem os eventos do mundo na forma verbo, sujeito, objeto, apesar da variação de ordem. Também é possível falar sobre as limitações físicas do sistema fonador humano, apesar de cada língua do mundo usar um conjunto dos sons possíveis. Por exemplo, o Português possui 14 vogais enquanto o francês tem mais de 20.

Caso seja tenhamos contato com uma forma de comunicação extraterrestre, ela compartilharia alguma característica com a linguagem ou com a comunicação animal? Ou será que seria completamente diferente de tudo o que conhecemos?

8) Considerações Finais

Embora seja especulação, acredito que no futuro a AstroBioLinguística será uma realidade, mesmo que porventura seja batizada de outra forma, como a atual Astrolinguística, que estuda formas de enviar mensagens para o espaço, na busca por vida inteligente e capaz de decodificá-las.

O contato com espécies alienígenas é questão de tempo e, muito provavelmente, outras formas impressionantes de comunicação serão encontradas e descritas. Infelizmente eu não estarei aqui para ver este importante passo da humanidade. Infelizmente também, independente das formas mais incríveis possíveis de comunicação existentes no universo, o Heptápode B é muito mais exagerado do que a minhas especulações. Será então impossível estudar HBLE (Heptápode B Língua Estrangeira) para poder enxergar o futuro.

Espero que, ao final deste texto, os leitores entendam um pouco mais sobre o que é Linguística e, quem sabe, se animem a estudar a ciência mais incrível e interdisciplinar do planeta Terra. Só não me arrisco a dizer que é a mais incrível do universo pois ainda faltam alguns anos para a AstroBioLinguística se tornar realidade.

OBS.: Agradeço a Josie Siman, Daniel Negrea, Fernando Sabatini e Niasche Moraes e pela ajuda e pelos comentários sobre o roteiro.

vídeo gravado por Rafael Bento Soares: www.instagram.com/rafael_rnam

1 Comentário

  1. A comunicação se dá de duas formas: entre o animal e a coisa, ou entre o animal e outro animal da mesma espécie. A comunicação extraterrestre só se pode dar entre o animal e a coisa, e a gente vai ter que supor que somos a coisa (dada a suposição de que estes seres, extraterrestres, nos são superiores intelectualmente).
    Entre extraterrestres e terrestres - no caso, nós, os humanos, os únicos que podem perceber "ALGO ALÉM" -, não há, exatamente, comunicação, mas apenas a relação simples entre o ser e a coisa, quando o ser procura entender a coisa (e a coisa somos nós).

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