O cientista brasileiro é um forte

Por Cilene Pereira, via ISTOÉ.

Há pouco tempo, um pesquisador brasileiro envolvido em uma pesquisa sobre a Doença de Alzheimer fez um desabafo. O trabalho conduzido sob sua coordenação tinha levado o dobro do tempo que levaria um estudo do mesmo nível fora do Brasil. A pesquisa tinha qualidade internacional e trouxe à luz uma informação importante sobre a enfermidade, cujo impacto na saúde pública se agrava com o envelhecimento da população. Foi publicada em uma revista científica onde só entra gente grande, a “Nature”, e compartilhada por cientistas do mundo todo. Poucos deles, no entanto, sabiam das dificuldades que o time brasileiro enfrentou para finalizar as investigações.

A falta de verba para compra de insumos básicos, a improvisação com objetos levados de casa para o laboratório, a burocracia que trancava nos portos e aeroportos componentes importantes foram apenas alguns dos obstáculos. Roubando um pouco da inspiração de Euclides da Cunha, o cientista brasileiro é um forte. Está tão habituado a trabalhar nessas condições que continua seguindo, contrariando o bom senso. Esse pesquisador, por exemplo, mantinha a fé de que, um dia, entraria em atividade uma conta bancária aberta em 2014 para receber as verbas prometidas por uma fundação estadual de fomento à pesquisa. No final do ano passado, ele recebeu uma ligação do banco. O gerente perguntou se ele queria mesmo continuar com a conta aberta, mesmo sem ter pingado um centavo. Apesar de estar pagando do seu bolso o custo de manutenção, ele quis continuar. Quem sabe, um dia…

Olhando situações assim só nos resta pensar que País é esse que deixa laboratórios científicos abandonados, que permite que pessoas geniais sigam para fazer carreira e produzir conhecimento em outros lugares, já que aqui não encontram condições para trabalhar? Ostentamos a estatística vergonhosa de sermos uma das nações com maior número de mestres e doutores desempregados. Gente que passou a vida toda estudando e que agora vive de bicos ou nem isso.

No mundo, a taxa de desocupação entre essa população é de 2%. No Brasil, é de 25%. Quando nossa sociedade entenderá o valor da produção de conhecimento feita nas instituições brasileiras? A culpa não é apenas dos governos. É da sociedade, é de cada um de nós. Não damos a mínima para a educação. Achamos normal uma criança sair do ensino fundamental sem conseguir interpretar textos simples e pouco nos importamos se as baratas povoam os laboratórios caindo aos pedaços no Brasil.

No mundo, a taxa de desocupação entre mestres e doutores é de 2%. No Brasil, de 25%. A culpa é nossa, que não valorizamos o conhecimento.


 

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Sobre Harrson S. Santana

Doutor em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) com enfoque em Microfluídica, Simulação Numérica e Biodiesel. É também especialista em Impressão 3D de microdispositivos. • Atuou como Prof. Dr. da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) na área da Termodinâmica Aplicada e Operações Unitárias`; Foi Professor colaborador da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) na área de Microrreatores; Professor Visitante na Universidade de São Paulo (USP) e no Instituto ESSS. • Atuou como Pesquisador na UNICAMP nas áreas de Microfluídica, Manufatura Aditiva, Simulações Numéricas e Processos Químicos. • Ministrou Cursos e Workshops acerca de diversos temas, tais como Modelagem e Simulação de Dispositivos Microfluídicos e Impressão 3D de Dispositivos Microfluídicos, a convite de diversas instituições como Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal do Espírito Santo. Também foi palestrante convidado de diversas conferências nos temas de Biotecnologia, Energia, Microfluídica entre outros. • Foi editor dos livros "Process Analysis, Design, and Intensification in Microfluidics and Chemical Engineering" e "A Closer Look at Biodiesel Production". • Atualmente atua como editor convidado dos periódicos “JoVE Journal” e “Frontiers in Chemical Engineering”. • Participou até o momento de 18 projetos de pesquisa, como coordenador e integrante gerando como resultados 33 artigos científicos em importantes periódicos internacionais, 6 patentes depositadas e 7 programas de computador com registro no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). • É criador do blog Microfluídica & Engenharia Química, onde apresenta conteúdos dessas duas áreas e como elas influenciam a nossa sociedade. Seu interesse científico se concentra em fenômenos de transporte, engenharia das reações química, simulações numéricas de dispositivos microfluídicos aplicados em processos químicos, físicos e biológicos, impressoras 3D e bioimpressão, além de sistemas robóticos.

2 respostas para O cientista brasileiro é um forte

  1. Rafael Comparini diz:

    Professor, recebi um conselho de uma conhecida que tem um grande cargo na empresa que trabalho me dizendo para progredir na empresa antes de fazer uma pós-graduação. Lendo esse texto, percebo que não foi nada pessoal, foi uma imposição do mercado brasileiro, o qual, bem dito ali em cima, é culpa de todos nós.
    Enquanto uma pequena parcela do PIB brasileiro for destinada à pesquisa, caminharemos a passos de tartaruga para atingir os 98% de mestres e doutores empregados no Brasil.

  2. VINCENT LOUIS VIALA diz:

    Dr. Santana. Quem é o pesquisador citado neste blog???????

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