Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental debate enfrentamento ao obscurantismo

Nos dias 09 e 10 de agosto de 2019, aconteceu na capital paulista o Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental. O evento ocorreu no espaço Unibes Cultural e foi realizado pelo Instituto Envolverde e pela Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental. Teve o apoio de um monte de parceiros bacanas, como o Iniciativa Verde, e o patrocínio de algumas grandes empresas que nem vou citar, porque eles não precisam da minha propaganda.

Os debates foram pautados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na transição tecnológica (migração do público para o meio digital) e no atual cenário político nacional, onde jornalismo, ciência e meio ambiente vem sendo constantemente depreciados pelos ocupantes das mais altas instâncias de poder.

Os ODS são um plano de metas e diretrizes estabelecido entre os países membros das Organizações das Nações Unidas (ONU). O objetivo é de, até o ano de 2030, equilibrar as diferentes dimensões do desenvolvimento: econômico, social e ambiental. É um compromisso que o governo federal parece não estar muito disposto a cumprir.

“O Brasil não perdeu o protagonismo internacional. Mas tornou-se protagonista da agenda antiambiental”, afirmou Carlos Ritll, secretário-executivo do Observatório do Clima que esteve presente no evento.

Enfrentando o negacionismo e o obscurantismo

Na mesa de abertura, o presidente da Rede Brasileira de Jornalistas de Ciência, André Biernath, lamentou o fato de que com tantas descobertas interessantes acontecendo nas instituições de pesquisa do país, temos ainda que mostrar a importância da vacinação ou defender que a Terra é redonda. “A coisa se institucionalizou de uma maneira bizarra”, exclamou por conta da adesão de membros do alto escalão do governo federal a correntes negacionistas.

Durante o evento, foi bastante debatida a exoneração de Ricardo Galvão do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE) após a divulgação de dados sobre o desmatamento da Amazônia. Também foram criticadas as nomeações de militares para comandar este e outros órgãos públicos.

“O atual governo toma medidas que promovem a devastação ambiental. Ele milita para que não tenhamos dados para compreender nossa realidade”, complementou Paulo Zocchi, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo.

Alguns dos participantes do Congresso atuam na linha de frente na Amazônia, território onde a informação circula de forma e ritmo diferentes. Eles denunciaram em suas falas a violência que a floresta e as populações indígenas vem sofrendo.

Bater, ignorar ou sensibilizar?

A relação abusiva do agronegócio com as populações es ecossistemas, assim como a liberação acelerada de veneno foi tema bastante constante nas discussões. Mariana Campos, jornalista do Greenpeace Brasil, mostrou em sua apresentação que já foram permitidos o uso de 290 novos agrotóxicos em 2019.  Ela apresentou notas mentirosas que o governo tem soltado justificando que não há risco para as pessoas, apenas benefícios. Segundo Mariana, há uma guerra de narrativas e é preciso tomarmos lado.

O Congresso possibilitou que jornalistas, cientistas e ambientalistas debatessem como reagir aos ataques sofridos no campo da informação, principalmente no que se refere às fake news. De fato estamos perdendo a batalha no momento. Alguns creem que devemos seguir reagindo com dados e fatos, informações embasadas. Outros que devemos ir além e aperfeiçoar as técnicas de sensibilização.

Para Ulisses Capozzoli, a academia se ressente de um positivismo arcaico e que remete ao passado escravagista do país. “Numa sociedade escravagista a ciência não tem valor”, afirmou o jornalista científico. Ele defende que o papel da ciência é o enfrentamento poético, lúdico, intelectual e espiritual do desconhecido.

Ninguém solta a mão de ninguém

Ao longo dos dois dias de evento, repetiu-se o mantra de que os profissionais de jornalismo nunca foram tão atacados e desvalorizados como hoje. Mas também que o jornalismo nunca antes foi tão necessário. Além disso, o governo vigente, apesar de todos os pesares, tem feito com que as temáticas ambientais recebam destaques diários nos meios de comunicação.

Esta foi a 7ª edição do evento, que não acontecia há quatro anos. Para André Trigueiro, foi a mais importante da história do Congresso. “…por estarmos aqui, neste importante momento da história do país, trocando ideias e contatos”, explicou o jornalista.

O Congresso reuniu ainda outros grandes nomes do jornalismo de ciência e meio ambiente, como Maurício Tuffani (Direto da Ciência), Herton Escobar e Carlos Fioravanti. Também teve a presença de importantes pesquisadores científicos, como Pedro Jacobi, da Universidade de São Paulo, e Carlos Nobre.

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