Dia Mundial do Meio Ambiente e os marcos ambientais

Visita à Reserva de Desenvolvimento Sustentável Barra do Una, Peruíbe-SP / Foto: Felipe Zanusso

Hoje, 5 de junho, celebra-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. A criação da data comemorativa aconteceu em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia. O evento reuniu chefes de estado do mundo todo para discutir a degradação ambiental e buscar soluções. Há quem diga que o ambientalismo começou ali.

Para mim começou vinte anos depois, em 1992, na ocasião da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Rio-92 ou Eco-92. Ali, vários acordos ambientais importantes foram estabelecidos. O acontecimento foi amplamente noticiado nos veículos de comunicação e as questões ambientais também eram discutidas por alguns professores na escola. O fato é que o movimento não teve início no evento realizado na Cidade Maravilhosa, nem em 1972 na Escandinávia.

Acontecimentos como esses são marcos. E os marcos muitas vezes nos dão a impressão de que datam o início das coisas, como se nada tivesse acontecido antes, sendo que para se chegar até eles há muitas lutas, brigados processos de construção que os precedem e marcos anteriores que podem até acabar esquecidos.

Mas isso não quer dizer que os marcos não sejam importantes. É como fincar uma bandeira para marcar o território conquistado no campo do adversário. E segurar a posição é um desafio, pois o inimigo está sempre tentando roubar tua bandeira. Como a Monsanto, que lá pelos idos de 2016, antes de ser comprada pela Bayer em 2018, ostentava em seu site institucional alguma frase ou slogan do qual não me recordo exatamente mas dizia que a empresa era um exemplo de sustentabilidade. Logo eles que na década de 1960 foram protagonistas na perseguição a Rachel Carson por ela ter denunciado os males do pesticida DDT e outros agrotóxicos em sua obra Primavera Silenciosa (1962), outro marco do ambientalismo.

Acontecimentos internacionais, globais e com a ONU envolvida sempre acabam ficando marcados na memória coletiva. Em 1987 foi publicado o Relatório Bruntdland – Nosso Futuro Comum, que apresenta o conceito de desenvolvimento sustentável. Em 1988 foi criado o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que hoje reúne técnicos e cientistas de 195 países e é a maior autoridade mundial sobre o clima. Em 1989 aconteceu na Suíça a Convenção da Basiléia, que determinou que cada país é responsável pelos seus resíduos perigosos e não pode varrer o lixo para o quintal do vizinho pobre. Tanta coisa acontecendo no mundo naquele final de década e eu estava preocupado com a possibilidade do mico-leão-dourado ser extinto. Criança, não sabia que ele era um animal endêmico (nem o que era endemia) e que o fato dele ocorrer apenas em um ambiente restrito era o que o tornava vulnerável. Mas já me solidarizada. E isso também foi um marco.

Falava-se sobre efeito estufa, buraco na camada de ozônio e em 1995 aconteceu a primeira Conferência da ONU sobre o Clima (Conference of the Parties – COP). Assim como a Rio 92 teve suas sequências (Rio+5, Rio+10 Rio+ 20, algumas não realizadas no Rio de Janeiro e nenhuma tão memorável quanto a original), a Conferência sobre o Clima também teve outros episódios, talvez um dos mais marcantes em 2015, na COP 21, quando se firmou o Acordo de Paris, um tratado entre os países para a redução de emissão de gases a partir de 2020.

Para se chegar a essa articulação global teve muita gente trabalhando localmente e desde muito tempo atrás. O naturalista sueco Alberto Löfgren, por exemplo, já no século XIX alertava para os perigos do desmatamento no Brasil e em 1896, com a desapropriação do Engenho Pedra Branca, na capital paulista, criou aquilo que alguns consideram a primeira área protegida do país (a briga é boa) e que atualmente leva a denominação de Parque Estadual Alberto Löfgren. Se olharmos para o período do Brasil Império, no Rio de Janeiro, chegamos a Pedro II respondendo à crise hídrica com o reflorestamento para a proteção dos mananciais. E o que dizer das práticas dos povos indígenas, que foram apagadas, redescobertas e agora reaparecem como marcos…

Há marcos locais, como a figura folclórica do Curupira, que no estado de São Paulo é instituído por lei como protetor das florestas e dos animais, tendo sido erguida em 1970 uma estátua sua no parque que Löfgren criou. O monumento foi depredado e retirado do local, mas em 2019 os coletivos Amigos do Museu Florestal e Movimento Conservatio trouxeram uma nova imagem da entidade para aquela Unidade de Conservação. A escultura é uma cópia da estátua localizada no Parque Curupira, em Ribeirão Preto. São vários marcos.

Alguns são pessoais. Não necessariamente individuais, como a marca do Curupira que certamente compartilho com muitas outras pessoas de diferentes idades, origens e regiões.

Há quem tente forjar marcos plantando mudas em datas como a de hoje e deixando elas morrerem depois. Nem tudo que é marcante é uma boa referência.

Acredito que os que mais importam são os afetivos. A primeira visita a uma área verde, um livro, as palavras de uma professora, o encontro e a troca com colegas engajados… ou até mesmo uma data especial.

E você? O que marcou tua vida em relação ao meio ambiente?

 

Paulo Andreetto de Muzio é graduado em Relações Públicas (2005) pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP. Especializou-se em Jornalismo Científico (2016) pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo – Labjor, da Universidade de Campinas – Unicamp, e é mestre em Divulgação Científica e Cultural (2020), também pelo Labjor.

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