Como a mobilidade no Brasil está conectada com o meio ambiente e o racismo estrutural?

Foto: Roberto Moreyra/Agência O Globo

Mais expostos aos impactos da crise climática, pretos e pardos ainda têm pouca voz nos debates ambientais

A maioria dos passageiros de transportes públicos no Brasil, como ônibus, trens e outros modais, é formada por pretos e pardos, mas é notória a sua ausência quando o assunto é impacto ambiental da mobilidade urbana. De acordo com dados da fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) sobre desigualdades, a população negra representa menos de um terço dos 10% mais ricos do país e só 44% está na graduação.

Os automóveis são os principais poluidores na cidade de São Paulo. A queima de combustível produz diversos gases nocivos, como o CO (monóxido de carbono) e o NO (monóxido de nitrogênio). De acordo com o Instituto Energia e Meio Ambiente, 80% da poluição liberada pelo trânsito é proveniente dos escapamentos dos veículos, e apenas 15% de coletivos. Uma outra pesquisa realizada pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade revelou que a poluição mata mais do que acidentes de trânsito em São Paulo. Foram quase 16 mil vítimas de doenças oriundas da poluição atmosférica contra 8 mil do tráfego.

“Mesmo se a emissão de poluentes reduzisse em 5% ao ano, em 2030 a má qualidade do ar chegará a matar 256 mil paulistanos.”

Se considerarmos que os ônibus emitem 15% de poluentes, temos uma variável que indica que a emissão gases de efeito estufa (GEE) por deslocamentos de pretos e pardos é menor do que a gerada por brancos.

Alternativas coletivas

O investimento em transporte público é apontado como uma alternativa para reduzir a poluição nas grandes cidades. Um entrave é a baixa qualidade de serviços de ônibus, trem e outros modais que distanciam os motoristas dessa opção em detrimento do carro individual. 

O preço da tarifa também pode influenciar positivamente essa escolha. Passagens mais baratas tendem a atrair mais passageiros, reduzindo o número de carros e motos em circulação. O aumento da oferta de linhas de ônibus e metrô também otimiza a mobilidade por modais coletivos e contribuindo com a redução do volume de poluição emitido pelo transporte.

O gasto com mobilidade para famílias negras, maioria entre as mais pobres, representa a segunda maior despesa no orçamento (18%), atrás apenas de habitação (37%), de acordo com dados do IBGE. E é relevante destacar que a renda média mensal de negros equivale a 55,8% da média de brancos.

Além disso, como o acesso a serviços e equipamentos culturais tendem a ser centralizados em cidades como São Paulo, os custos da passagem de ônibus ou metrô encarecem a vida dos moradores de bairros periféricos, além de demandarem horas gastas no trajeto.

Jaqueline Nichi é jornalista e cientista social com mestrado em Sustentabilidade pela EACH-USP. Atualmente, é doutoranda no Programa Ambiente e Sociedade do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM-UNICAMP). Sua área de pesquisa é centrada nas dimensões sociais e políticas das mudanças climáticas nas cidades e governança multinível e multiatores.

1 Comentário

  1. Onde esta a mobilidade desse país? precisamos de ônibus melhores, linhas de ônibus com mais veículos para transportar pessoas sem a necessidade de apertar todos em uma so condução.

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