Nosso país tem nome de árvore

Floração do pau-brasil

O pau-brasil é uma árvore brasileira que foi muito explorada ao longo dos séculos e está ameaçada de extinção. De madeira nobre e avermelhada, a espécie deu origem ao nome do nosso país (embora não seja totalmente consenso entre os estudiosos).

Pau-brasil é um nome popular

Os nomes populares das espécies variam de acordo com a região ou país, mudando conforme o idioma ou a cultura. Assim, uma mesma espécie pode ter muitos nomes populares. O pau-brasil também é conhecido por: arabutã, árvore-do-Brasil, brasilete, brasileto, ibirapita, ibirapitã, ibirapitanga, ibirapiranga, imirá-piranga, muirapitanga, muirapiranga, orabutã, paubrasilia, pau-de-tinta, pau-pernambuco, pau-rosado, pau-vermelho e sapão.

Por isso a importância dos nomes científicos das espécies, que são os mesmos em qualquer lugar do mundo. O nome científico do pau-brasil, por exemplo, é Paubrasilia echinata. Assim todos os cientistas terão um nome em comum para se referir à espécie, independentemente do país em que vivem ou do idioma que falem.

Mas isso também não quer dizer que os nomes científicos não possam mudar ao longo do tempo. O do pau-brasil era Caesalpinia echinata até 2016. No entanto, a partir de análises genéticas que o compararam com outras espécies, percebeu-se que o pau-brasil possuía características que o diferenciava das outras do gênero Caesalpinia a ponto de reclassificá-lo em um novo gênero, do qual é a primeira e única espécie.

Este episódio mostra o caráter dinâmico da ciência que, longe de trazer uma resposta definitiva de leitura do mundo, está em constante movimento, autoquestionamento e aprimoramento.

Minha terra tem palmeiras

Pindorama é o nome dado pelos indígenas à área onde hoje se localiza o Brasil. Significa terra das palmeiras. A abundância dessas plantas em nosso território é registrada na Carta de Pero Vaz de Caminha, em 1500, e declamada na Canção do Exílio, do poeta Gonçalves Dias, em 1843.

Ao longo dos séculos, as palmeiras foram se consolidando como um dos símbolos nacionais. Não a toa, em 1942, no contexto do nacionalismo varguista aqui no Brasil e do fascismo e guerra na Europa, o clube de futebol Palestra Itália teve que mudar seu nome para Palmeiras.

Uma importante representante desta família de plantas é a juçara (Euterpe edulis), espécie que dá frutos semelhantes ao açaí amazônico e um palmito saborosíssimo. No entanto, a extração do palmito resulta na morte desta palmeira. Não é difícil deduzir a espécie está ameaçada de extinção, na categoria Vulnerável, segundo o Centro Nacional de Conservação da Flora. Já o pau-brasil, está classificado como Em Perigo.

Não dá para negar que a natureza e espécies como essas constituem nosso imaginário sobre o Brasil. Fazem parte da nossa noção de nação. É curioso que, de uma forma de outra, nosso país tem nome de árvore (ainda que palmeira não seja tecnicamente árvore e ainda que essa terra tenha tido por períodos mais breves outros nomes além Pindorama e Brasil). E ambas essas espécies que disputam a designação nacional estão ameaçadas.

Protegê-las, portanto, não é importante apenas para salvaguardar a biodiversidade por conta das relações ecológicas nas quais estão inseridas. E não só por seus valores intrínsecos. Menos ainda por sua utilidade. Defendemos também nossa identidade em sua complexidade. Sem querer soar ufanista ou nacionalista, proteger nossas espécies é proteger nosso país.

 

Paulo Andreetto de Muzio é graduado em Relações Públicas (2005) pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP. Especializou-se em Jornalismo Científico (2016) pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo – Labjor, da Universidade de Campinas – Unicamp, e é mestre em Divulgação Científica e Cultural (2020), também pelo Labjor.

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