“Se as futuras gerações olharão para os tempos atuais com admiração ou desesperança, isso dependerá totalmente de nossa capacidade de aproveitar este momento.”
Alok Sharma, presidente da COP26, na carta de abertura do documento A COP26 Explicada
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) traz respostas para explicar o que se espera da Conferência das Partes que se inicia no próximo dia 31 de outubro, em Glasgow, no Reino Unido. O COP26 Explained é um guia prático e já está disponível em português.
Além de trazer a agenda de eventos pré-COP, a publicação também aponta as principais pautas de negociações, as evoluções desde a COP25, em Madri, Espanha, e o que estará em jogo nesta que é considerada a principal Conferência do Clima desde o Acordo de Paris, em 2015.
A expectativa em todo o mundo é que esta edição seja decisiva para a revisão do acordo de 2015, por isso, serão debatidos ajustes de texto e detalhes do conteúdo que precisa ser aprovado em consenso pelos 196 países e a União Europeia, apesar do jogo de interesses e forças envolvido.
O objetivo continua o mesmo: manter a temperatura do planeta baixo de 1,5º C e uma transição da economia para alcançar as emissões de carbono líquidas zero. O documento deixa claro que será necessário um esforço coletivo para frear o aquecimento global. As atuais metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) protocoladas pelos países dão conta de pouco mais de 1/3 do que é necessário, ou seja, já estão defasadas. Portanto, a demanda agora são metas mais ambiciosas. Até agora, mais de 80 países atualizaram formalmente suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
“Respondendo por cerca de metade da economia global, todos os países que compõem o G7 atualizaram suas metas para 2030, o que os posiciona para as emissões líquidas zero até 2050.”
Abaixo, um resumo de algumas das principais metas que se espera alcançar nessa direção, incluindo investimentos do setor privado e público para garantir as emissões líquidas zero no mundo:
_Metas mais ambiciosas de redução por parte dos governos. A atualização fecha o primeiro ciclo de cinco anos, desde o Acordo de Paris;
_Aceleração de medida para suprimir o carvão da matriz energética, estimular investimentos em energias renováveis, reduzir o desmatamento e agilizar a mudança para veículos elétricos;
_Mais financiamento de países desenvolvidos para a transição para a sociedade de baixo carbono;
_Bancos Centrais e os reguladores devem assegurar que os sistemas financeiros sejam capazes de suportar os impactos das mudanças climáticas e apoiar a transição para as emissões líquidas zero. Isso inclui bancos, seguradoras, investidores e demais instituições financeiras.
E o que avançou desde o Acordo de Paris, em 2015?
_O compromisso de cerca de 70% da economia mundial em alcançar as emissões líquidas zero;
_Apresentação de NDCs atualizadas para 2030 por mais de 80 países, incluindo todos os integrantes do G7;
_Investimentos em energias solar e eólica já estão mais baratos do que em novas usinas de energia a carvão e gás em 2/3 dos países;
_Mais de 20 países aderiram à Coalizão de Ações de Adaptação e criaram o documento Call for Action on Adaptation and Resiliency, em 2019, assinado por mais de 120 países;
_Mais de 1.500 empresas, investidores, regiões e cidades aderiram à Corrida para a Resiliência (Race to Resilience) para adotar medidas de adaptação;
_Mais de 40 países e organizações aderiram à Risk-Informed Early Action Partnership, comprometendo-se a dar mais segurança contra desastres a 1 bilhão de pessoas até 2025;
_17 Bancos Centrais comprometeram-se a submeter seus sistemas financeiros a testes de estresse contra os riscos climáticos e o Banco Central do Brasil é um deles.
O clima continua mudando com força e, nesse processo, os efeitos devastadores, serão sentidos pelos mais vulneráveis, justamente aqueles que menos contribuíram para a sua causa. Vamos torcer para que a COP26 seja decisiva para ações que adaptem e mitiguem esses efeitos e que a resiliência climática não seja apenas uma palavra da moda.
Mas, afinal, o que são emissões líquidas zero?
Muitos países se comprometeram a alcançar “emissões líquidas zero” até 2050, isso significa que a quantidade de gases de efeito estufa emitida não será maior do que a removida da atmosfera. Para se tornar carbono zero, os países e as empresas precisarão contar com métodos naturais, como florestas que capturam e armazenam carbono. Alternativas renováveis e verdes de energia, como a eólica e solar, e carros elétricos, por exemplo, são outras soluções possíveis já em desenvolvimento.
Jaqueline Nichi é jornalista e cientista social com mestrado em Sustentabilidade pela EACH-USP. Atualmente, é doutoranda no Programa Ambiente e Sociedade do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM-UNICAMP). Sua área de pesquisa é centrada nas dimensões sociais e políticas das mudanças climáticas nas cidades e governança multinível e multiatores.
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