O mundo está entrando em colapso. E não é uma afirmação só do Papa.

Imagem de Martin Link por Pixabay

A encíclica Laudate Deum (Deus Seja Louvado) foi lançada em outubro como um alerta do Papa Francisco sobre um possível “ponto de ruptura” do planeta causado pelas mudanças climáticas. A publicação acontece oito anos após o lançamento da Laudato Si (Louvado Seja), carta na qual o Papa Francisco já questionava os rumos da sociedade para conter a crise climática. O documento atualizado defende a eliminação dos combustíveis fósseis como fonte de energia e maior conexão entre os humanos e a natureza.

A declaração é significativa ao ser lançada no ano mais quente em 125 mil anos, e pouco antes da COP28, que será realizada em Dubai, entre 30 de novembro e 12 de dezembro. A próxima Cúpula do Clima está envolta em controvérsias, pois os Emirados Árabes é um dos grandes produtores de combustíveis fósseis, contrariando a necessidade de uma transição energética limpa.

“Os seres humanos devem ser reconhecidos como parte da natureza”, Papa Francisco no Laudate Deum.

O colapso climático, um dos maiores desafios humanitários da história da civilização, fez com que a Igreja Católica reforçasse o que foi manifesto em 2015. A encíclica está dividida em seis capítulos e 73 pontos baseados em informações científicas, incluindo o relatório-síntese do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU.

O primeiro capítulo, intitulado “a crise climática global” reforça que os negacionistas climáticos ou aqueles que relativizam ou minimizam os impactos do clima não podem ignorar os fenômenos extremos recentes, como as fortes ondas de calor, as secas, as tempestades, e outros fenômenos naturais intensificados pela ação do homem.

O Papa Francisco também lembrou que ao contrário de um crescimento econômico ilimitado, processo que está na base da degradação ambiental, um ambiente saudável é também produto da interação humana com o meio ambiente, a exemplo dos indígenas.

Imagem de Mikdev por Pixabay

Uma crítica à política internacional aparece no terceiro capítulo, em que a encíclica convida a sociedade civil a ajudar a criar dinâmicas que compensem as deficiências da comunidade internacional participando ativamente das tomadas de decisões a partir do diálogo e da democracia. Igualmente, no quarto capítulo, dedicado às Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), o pontífice comenta que os acordos firmados não foram suficientes: “As negociações internacionais não avançam significativamente devido às posições dos países que privilegiam os seus interesses nacionais sobre o bem comum global.”

Ao fim, o líder de 86 anos faz um apelo ao mundo e incita os leitores, católicos e de outras religiões, a poluírem menos, a reduzirem e consumirem conscientemente. Com isso, seria possível gerar uma nova cultura, pois a mudança de hábitos pessoais, familiares e comunitários, mesmo em menor escala, tem o potencial de contribuir com os grandes processos de transformação da sociedade.

______________________________________________________________________________________________________________

Jaqueline Nichi é jornalista e cientista social. É doutora em Ambiente e Sociedade pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM-UNICAMP) e mestre em Sustentabilidade pela EACH-USP. Sua área de pesquisa é centrada nas dimensões sociais e políticas das mudanças climáticas nas cidades e governança multinível e multiatores.