O dia “D”

No último dia 12 de abril, o município de Pelotas e todas as escolas do estado do Rio Grande do Sul suspenderam suas aulas para “executar” o tal dia “D”. O objetivo era introduzir discussões concernentes à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e ao Referencial Curricular Gaúcho (RCG). Também deveria-se responder a um questionário online. Neste havia questões sobre a formação dos professores, seus conhecimentos sobre a BNCC e RCG, entre outras coisas.

Inicialmente, pode nos parecer interessante a proposta. Entretanto, em se tratando do município de Pelotas, o que percebi enquanto professor foi uma extrema falta de comunicação e desorganização das secretariais e/ou órgãos envolvidos na estruturação deste dia. Vamos, didaticamente, aos motivos.

Primeiro, as escolas municipais não foram avisadas com antecedência sobre o dia “D”. Isto é, não estava programado no calendário escolar. Fomos avisados dois dias antes que, na sexta-feira (12/04), tínhamos de dedicar o dia para a reunião e discussão da BNCC e RCG. Isso se tornou um problema. Muitos podem estar perguntando a razão, ou então supondo uma possível intenção de polemizar do professor que aqui escreve. Pois, de antemão, respondo que não. E o motivo é simples: a escola tem suas atividades. Seja trabalhos e provas já programadas/marcadas pelos professores; seja de reuniões agendadas com os pais dos alunos; ou qualquer outra ação.

No momento em que, “de última hora”, nos chega essa informação, temos que interromper nosso trabalho, remarcar datas, cancelar atividades… Para aqueles que ainda não sabem, explico. A educação se dá por meio de planejamento, construção, de um processo contínuo de formação e ampliação do conhecimento. Qualquer coisa imposta, às pressas, sem as devidas orientações, se torna, por questões que pairam o óbvio, um problema.

O segundo ponto de minha crítica está com o “fornecimento” dos materiais. Explico melhor. Para realizarmos as atividades programadas para o dia “D”, precisávamos saber o que exatamente iríamos fazer. Porém, se olharmos o site da UNDIME (União dos Dirigentes Municipais de Educação), temos a informação que o acesso aos materiais do “DIA D” só estariam disponíveis a partir das 17h do dia 11 (saiba mais acessando aqui). Lembrando que a reunião foi 12, ou seja, no dia seguinte. Ora, se estes órgãos se propõem a realizar um dia “D”, o mínimo a ser feito era subsidiar as coordenações pedagógicas das escolas com antecedência. Munindo-as, assim, com todas as informações e orientações necessárias para a realização de um dia mais produtivo.

O terceiro e último ponto, perpassa pelo processo formativo. Quando documentos como a BNCC e o próprio RCG são apresentados, precisamos de reuniões e orientações que extrapolem os muros da escola. Pois a educação não se faz somente com aulas, mas com a capacitação de professores, com leitura e discussão, por fim, com estudo… Por isso, precisamos enquanto docentes comprometidos com o processo educativo, de apoio, incentivo e tempo para tal.

Com o intuito de não me estender, finalizo extrapolando este “acontecido” em Pelotas e no estado do Rio Grande do Sul a todo o País. Políticas públicas e ações de última hora são recorrentes, e a organização, por vezes, parece inexistente. Talvez, quem sabe, já tenha passado da hora de levar a educação a sério. Talvez seja hora de começar a pensar e propor, juntamente com os professores, ações que, de fato, possam contribuir no processo de escolarização.

Para saber mais:

Site da UNDIME

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