Biotecnologia de Insetos

Insetos são únicos, no seguinte sentido: sua principal forma de comunicação se baseia em substâncias químicas. Tais compostos orgânicos são comumente denominados de semioquímicos, ou mediadores de comunicação química. Estes incluem:
a) feromônios – substâncias químicas de comunicação entre indivíduos de uma mesma espécie.
b) alomônios – substâncias químicas produzidas por indivíduos de uma espécie que estimula uma resposta comportamental em indivíduos de outra espécie.
c) kairomônios – substâncias químicas que favorecem indivíduos que as recebem e prejudicam os indivíduos que as emitem.
Além de substâncias atratoras e repelentes, também. Insetos são verdadeiras fábricas de substâncias químicas, mas várias espécies acumulam estas substâncias de suas presas (que podem ser plantas, fungos, bactérias e até outros insetos).

Sabendo que insetos são ricos em substâncias químicas e, consequentemente, também em enzimas que participam na biossíntese destas substâncias, pesquisadores da Justus-Leibig-University Giessen e da Fraunhofer-Gesellschaft (Alemanha) decidiram estabelecer um programa de “Biotecnologia de Insetos”, para o qual já conseguiram 4 milhões de Euros. Desta maneira, esperam descobrir e desenvolver novos medicamentos, novos métodos para o controle de pragas, enzimas para utilização industrial, dentre outras aplicações.

Por exemplo, ao longo da evolução várias espécies de insetos desenvolveram a capacidade de biossintetizar ou acumular substâncias para evitar infecções bacterianas. Desta maneira, estas substâncias podem servir de modelo para a descoberta e desenvolvimento de novos antibióticos. Outras espécies de insetos desenvolveram substâncias que as tornam mais “competitivas” no seu ambiente, desfavorecendo outras espécies de insetos. Estas substâncias químicas podem ser utilizadas no controle de pragas, sem que afetem outras espécies, como abelhas, que são extremamente importantes para a polinização de flores e também para a produção de mel. Enzimas produzidas por insetos podem ser úteis para a degradação de lignina, o principal componente da casca de árvores (e extremamente útil para a indústria química). Enfim, a utilização e aplicações da química dos insetos pode ser extremamente abrangente.

Tive a oportunidade de realizar meu doutorado em um laboratório de química literalmente vizinho a um laboratório de entomologia. Os dois grupos estudavam ativamente a ecologia química de insetos como formigas, joaninhas, cupins, dentre outros. Meu orientador (Prof. Jean-Claude Braekman), juntamente com seu colega D. Daloze, publicaram dezenas de trabalhos sobre química de insetos com o prof. Jacques Pasteels (entomologista), todos da Université Libre de Bruxelles. É um dos inúmeros temas absolutamente fascinantes da química de produtos naturais.

Fonte da notícia: ScienceDaily. As fotos de J.C. Braekman (esquerda) e J. Pasteels (direita) foram obtidas na web. Infelizmente a foto de JCB não está muito boa. A de Pasteels o retrata em 1996.

Discussão - 2 comentários

  1. Embora a comunicação química seja, como se diz, ubíqua entre os insetos (e outros organismos), acho arriscado dizer que seja *a* principal forma. Há um uso intenso de informações visuais e mecânicas (vibrações e sons) tb.
    []s,
    Roberto Takata

  2. Roberto disse:

    Oi Roberto
    Tens razão. Talvez "uma das principais formas de comunicação" seja mais adequado.
    Brigado pela correção. Afinal, meu viés de químico... 🙂
    abçs,
    Roberto

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